Análise Arkade: Forspoken, um RPG em um mundo genérico e com problemas de timing

9 de fevereiro de 2023
Análise Arkade: Forspoken, um RPG em um mundo genérico e com problemas de timing

Certos jogos criam hype mais por conta do que prometem do que por qualquer outra coisa. É o caso de Forspoken, mais novo lançamento da SqaureEnix, cuja análise você confere agora.

Anunciado como Project Athia lá em junho de 2020, Forspoken chamou a atenção por dois motivos: primeiro, por ser uma nova IP da SquareEnix, produtora que não andava saindo muito de sua zona de conforto. E segundo, claro, por ser um anúncio exclusivo para a nova geração, construído em cima da ainda pouco utilizada Luminous Engine.

Análise Arkade: Forspoken, um RPG em um mundo genérico e com problemas de timing

Pois bem, após alguns adiamentos, o jogo enfim foi lançado em 24 de janeiro, e eu passei os últimos dias “perdido” pelo mundo de Athia para lhe trazer um review completo e honesto sobre Forspoken. Bora lá?

Um isekai sem muita criatividade

Quem curte animes e mangás sem dúvida está familiarizado com o termo “isekai”, que define obras nas quais o protagonista é transportado para um mundo diferente do seu, e vai precisar provar o seu valor por lá.

Forspoken parte desta mesmíssima premissa. A protagonista, Frey Holland, é uma jovem de Nova York que está passando por maus bocados, quando encontra um bracelete falante (?!) que a leva para o mundo mágico de Athia.

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Frey e a “Algema”

Chegando lá, Frey descobre que sua nova amiga (o bracelete, que ela logo apelida de Algema) lhe concede poderes mágicos. O que vai ser muito útil, uma vez que, se quiser voltar para casa, ela terá que ajudar a livrar o mundo de Athia da Ruptura, uma espécie de corrupção que está transformando pessoas e animais em monstros.

Para piorar, o mundo de Athia está sob a regência das Theias, poderosas guerreiras que, corrompidas pela Ruptura, passaram a governar com punho de ferro, e estão destruindo tudo o que outrora protegiam. E é claro que teremos que caçar e eliminar cada uma delas.

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As Theias

Fala sério, quantos mundos fantásticos dominados por uma corrupção misteriosa você já viu no mundo dos games? Apesar de batido, o tema pode render boas histórias — caso do incrível Okami, por exemplo — mas Forspoken se esforça muito pouco para fazer com que o jogador realmente se importe com seu mundo e os personagens que nele vivem.

Não ajuda em nada o fato de que Frey é uma personagem um tanto quanto detestável. Tenho a impressão de que eles queriam que ela fosse “badass”, mas exageraram um pouco na atitude da moça. O resultado é uma personagem difícil de gostar, pois ela soa babaca e pedante na maior parte do tempo, e parece estar “c*gando” para tudo o que acontece ao seu redor.

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Saca a cara de marrenta

Enfim, o fato é: se você está esperando uma boa protagonsta vivendo uma grande história em um mundo de fantasia, não é o que vai encontrar em Forspoken. Tudo aqui é bastante insosso, a protagonista é chata e o mundo em si é tem uma vibe “fantasia medieval” bastante genérica.

Forspoken = Parkour e magia

Felizmente, as coisas melhoram um pouco no que tange o gameplay. Ainda que não seja um primor, as mecânicas de jogabilidade de Forspoken são divertidas, o que torna especialmente a exploração do mundo bastante agradável.

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Parkour arcano

A começar pela mobilidade: no mundo de Athia, Frey adquire uma habilidade chamada “parkour arcano“, que basicamente lhe permite correr, saltar e fazer acrobacias insanas em alta velocidade. Um jogo de mundo aberto não é nada sem uma boa movimentação, e nesse ponto, o parkour mágico de Forspoken cumpre seu papel.

O parkour arcano consome um medidor próprio de stamina, que, felizmente, se regenera bem rápido. Conforme avançamos na história, vamos aprimorar essa habilidade, podendo içar a personagem para certas formações rochosas, vencer grandes distâncias em um pulo ou mesmo deslizar sobre a água! O parkour também é útil nos combates, uma vez que faz as vezes de esquiva.

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Magia de terra carregada

Para atacar os monstros corrompidos pela Ruptura, podemos usar diversos tipos de habilidades mágicas. Frey pode disparar projéteis de pedra, criar vinhas que prendem os inimigos, conjurar espadas de fogo, atirar flechas de água, levantar barreiras de rocha, emitir raios elétricos e fazer brotarem plantas que cospem sementes nos inimigos.

Confira um pouco de combate (com direito a um mini-chefe) no vídeo abaixo:

Claro que ela não é poderosa desse jeito já de cara. A primeira magia que temos, de energia roxa, é a da terra. Só depois de várias horas de jogo teremos acesso aos poderes de fogo. É possível alternar livremente entre os elementos, o que é uma mão na roda, uma vez que os botões que usamos para magias ofensivas é sempre o mesmo (R2), o que tam´bém se aplica às magias defensivas ou de suporte (L2).

Os dois parágrafos acima dão um panorama geral das habilidades que Frey pode desbloquear ao longo das cerca de 20 horas de campanha de Forspoken. O problema é o timing do jogo. Falemos mais sobre isso.

Forspoken e seu problema de timing

Se você jogou a demo de Forspoken, deve se lembrar de que Frey já começava com uma boa variedade de magias e poderes. Pois bem, na versão final do jogo, você vai passar mais de 10 horas com as habilidades iniciais da personagem (as magias do tipo roxo, de terra, que envolvem pedras e plantas).

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Prepare-se para usar as magias roxas até enjoar…

Só depois de vencer a primeira Theia — algo que , para mim aonteeu ali pelas 12 horas de jogo — ganhamos acesso aos poderes de fogo. E daí o jogo meio que acelera, apresentando as próximas Theias e concedendo acesso a novas magias em ritmo acelerado.

É esquisito, como se a primeira metade do jogo fosse arrastada demais, e a segunda, muito apressada. E, ao deixar o jogador “preso” aos poderes iniciais por tempo demais, o combate do jogo acaba não valorizando as diversas possibilidades que chegam com as habilidades mais avançadas.

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Dominar o fogo é libertador!

Veja bem: o combate do jogo não é ruim. Mas é fato que ele fica repetitivo depois das primeiras horas, justamente por nos deixar tempo demais preso às habilidades de terra. Se a cadência da campanha nos permitisse “brincar” com fogo, água e luz mais cedo, Forspoken seria muito mais divertido.

O mais bizarro é que, depois da primeira Theia, o jogo mal nos dá tempo de explorar a árvore de evolução de cada novo tipo de magia que habilitamos. Felizmente, é possível “desaprender” magias já aprendidas para recuperar a Mana previamente investida — o que acaba sendo a melhor maneira de conhecer melhor todo o arsenal mágico que conquistamos na segunda metade do jogo.

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Cada tipo de magia tem sua própria árvore de habilidades

O que quero dizer com isso é: o timing de Forspoken “joga contra” o jogo. As primeiras dez horas de jogo podem ser enfadonhas e repetitivas. E, quando o jogo realmente mostra a que veio, e nos dá mais poderes, as coisas acontecem rápido demais. Se há um conselho a ser tirado disso é: não desista de Forspoken nas primeiras horas. Demora, mas ele melhora. Nunca fica incrível, nem nada assim, mas melhora.

Audiovisual

Rodando na pouco utilizada Luminous Engine — engine criada pela SquareEnix que até agora só havia sido utilizada em Final Fantasy XV –, Forspoken é um jogo bonito, mas que definitivamente sofreu um considerável downgrade. Ele parecia muito mais bonito nos trailers.

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O mundo de Forspoken é bonito, mas genérico

Não me entenda mal: Forspoken é bonito, e há muitos efeitos e detalhes que concedem uma “vibe” de next gen ao jogo. Porém, a direção de arte não é particularmente criativa, e o já mencionado mundo de fantasia medieval genérico deixa tudo… bem, genérico.

Os modelos de personagens são bonitos e bem construídos, mas carregam o mesmo estigma do visual genérico. Claro que Frey e uma meia dúzia de coadjuvantes de luxo são bem mais expressivos e interessantes, mas eles são a exceção, não a regra.

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O design as Theias é especialmente interessante

Por ser exclusivo da nova geração, Forspoken faz um bom uso do hardware do PS5. O jogo praticamente não tem loadings, e mesmo ao morrer, o reinício é praticamente imediato. Ironicamente, porém, diálogos com NPCs ou mesmo as conversas entre Frey e sua Algema são meio travadas, e ocasionalmente demoram mais do que deveriam para começar.

O feedback háptico do DualSense é bem utilizado, mas não é algo que transforme a experiência. Os gatilhos responsivos ganham destaque, mas certos tipos de magias acabam cansando o dedo do jogador, uma vez que nem toda magia possui rapid fire — em certos casos, manter o botão pressionado carrega o ataque.

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O Photo Mode até ajuda a conseguir boas fotos <3

Forspoken conta com 3 tipos de apresentação: desempenho, qualidade e ray tracing. Recomendo o modo desempenho, uma vez que a fluidez dos 60 fps realmente faz diferença — e é possível rodar o jogo em até 120 fps em televisores/monitores compatíveis.

O jogo chega parcialmente localizado para o nosso idioma, com menus e legendas em português brasileiro. Aliás, é curioso como as legendas conseguem deixar Frey ainda mais grosseira. Se, no áudio em inglês, a personagem diz algo como “I’m sorry” — que poderia ser traduzido como “me desculpe” ou “sinto muito” –, a legenda tranforma isso em algo tipo “não estou nem aí”.Pois é, conseguiram tornar a Frey uma personagem ainda mais babaca em português.

Conclusão

Se você abrir um agregador de notas, vai perceber que a nota média de Forspoken está na casa dos 6,5 (de 10). E é exatamente isso que ele é: um jogo nota 6,5. Está longe de ser excelente, mas também não é ruim a ponto de ficar abaixo da média.

Análise Arkade: Forspoken, um RPG em um mundo genérico e com problemas de timing

Com uma história clichê e um mundo que simplesmente não é interessante, o maior trunfo do jogo sem dúvida é seu gameplay. Porém, o jogo meio que se sabota ao deixar o jogador “preso” aos poderes iniciais por mais de 10 horas.

É a questão do timing que falei antes. Com uma cadência melhor planejada, Forspoken poderia ser um jogo nota 8,0. Mas ele segura o cabresto por tempo demais, e quando afrouxa, o restante da campanha parece apressado. Falta equilíbrio.

Análise Arkade: Forspoken, um RPG em um mundo genérico e com problemas de timing

No mais, eu me diverti com Forspoken, mas esse definitivamente não é um jogo do qual eu vou me lembrar daqui alguns meses. Ele nunca se esforça para ser criativo ou fora do padrão. Isso faz dele um produto genérico, e como tal, facilmente esquecível.

Forspoken está disponível para PC e Playstation 5 (versão analisada). O jogo possui menus e legendas em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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