Análise Arkade – God of War Ragnarok: apocalíptico e emocionante
Está chegando a hora! Na semana que vem, enfim será lançado God of War Ragnarok, para encerrar a épica jornada de Kratos e Atreus pela mitologia nórdica. Já jogamos o game e viemos te contar em primeira mão nossas impressões sem spoilers!
Antes de mais nada…
É bom deixar uma coisa clara: esta análise de God of War Ragnarok não vai trazer spoilers da trama do novo jogo. Porém, para falar dele, vamos precisar abordar acontecimentos do God of War de 2018.
Então, fique avisado de que teremos que trazer alguns spoilers do primeiro jogo, simplesmente porque as revelações do final dele servem de estopim para o que acontece aqui.
Vale ressaltar que há uma breve retrospectiva dos acontecimentos do jogo anterior em God of War Ragnarok. É tudo beeem resumido, mas relembra os pontos chaves da trama. Falando nisso, se quiser saber o que achamos do God of War de 2018, confira nossa análise.
Impedindo o fim do mundo
A Wikipedia define Ragnarok como “uma série de eventos que conduziriam ao fim do mundo” (na mitologia nórdica). Este é o plot de God of War Ragnarok. As ações de Kratos e Atreus no primeiro jogo emputeceram certos deuses asgardianos, e quando o novo jogo começa, já podemos ver as consequências disso.
Para quem não lembra, em God of War, Kratos e Atreus acabam matando os filhos de Thor, Magni e Modi. Isso faz o deus do trovão em pessoa aparecer na casa dos protagonistas para um acerto de contas. Para piorar, ainda temos Freya na nossa cola: a ex-esposa de Odin também quer vingança por Kratos ter matado seu filho, Baldur.
Outro ponto importante para a trama do novo jogo: em God of War, descobrimos que Atreus (filho de um deus grego com uma giganta) é conhecido entre os gigantes como Loki. Se você conhece um pouco de mitologia nórdica — ou assistiu aos filmes da Marvel — tem uma vaga ideia de quem é Loki e quem são seus parentes, né?
Em God of War Ragnarok, Atreus, agora um adolescente, quer respostas. Ele quer entender quais são seus poderes (afinal, ele é meio deus, meio gigante) e como essa história de Loki afeta quem ele é. Acredita que é possível “negociar” com os deuses para impedir o pior. E está frustrado por seu pai não confiar nele. Para piorar, há uma profecia antiga que previu certos acontecimentos — inclusive o próprio Ragkarok –, e nosso jovem Atreus/Loki quer fazer de tudo para evitar que ela se concretize… mas será que é possível fugir do seu próprio destino?
Neste panorama familiar complexo, Kratos quer evitar um eventual banho de sangue. Ele não quer sucumbir à raiva, não quer voltar a ser o assassino de deuses de outrora (da trilogia God of War original). O Kratos de hoje quer paz. Porém, o Fimbulwinter (inverno prolongado que prenuncia o Ragnarok) já está rolando, e, obviamente, fugir dos deuses não é tão simples quanto parece, e eles vão mandar tudo que é monstro ao seu encalço:
Quando fica claro que fugir não é uma opção, é preciso bolar um plano para tentar evitar o o fim do mundo. God of War Ragnarok é sobre isso: uma grande busca por alianças e maneiras de lidar com a fúria de Thor, Odin e outros figurões do panteão dos deuses nórdicos. O problema é que Kratos e Atreus têm ideias diferentes de como lidar com isso, o que abala as (frágeis) estruturas da relação dos dois.
As novidades de God of War Ragnarok
A dinâmica complicada entre Kratos e Atreus apresenta uma das primeiras novidades de God of War Ragnarok: desta vez, Atreus é um personagem controlável. Em diversos momentos, os caminhos de pai e filho irão se separar, e poderemos controlar o jovem guerreiro nos momentos em que ele trilha sua própria jornada.
Enquanto o combate com Kratos continua essencialmente o mesmo, Atreus é mais ágil e possui sua própria árvore de habilidades, focada em ataques com seu arco. Confira um pouco de gameplay com ele em combate no vídeo abaixo:
Como este é um jogo onde sempre estamos acompanhados, nas vezes em que Kratos e Atreus se separam, novos coadjuvantes aparecem. Por exemplo, podemos ser acompanhados por um dos anões ferreiros, Sindri e Brok. Curiosamente, Tyr, que é o deus da guerra da mitologias nórdica, e foi parte importante da divulgação do jogo, é um “pacifista”, e praticamente não se envolve nas aventuras, ainda que seja uma parte importante da trama.
O sistema de evolução foi levemente reformulado. Com Kratos, temos, novamente, árvores de habilidade distintas para cada uma de suas armas. Além disso, sua famosa Fúria de Esparta (que no jogo anterior o transformava praticamente em um pugilista) ganha variações, e agora pode até servir para autocura, não para atacar inimigos. Se o personagem em si não “sobe de nível” da forma tradicional, conforme evoluímos nossas armas e armaduras, aumentamos as estatísticas do espartano.
God of War Ragnarok é aquele tipo de sequência que não reinventa a roda, mas expande os conceitos e o universo já estabelecido. O que neste caso é um elogio, uma vez que o mundo de mitos e lendas nórdicos criado para o jogo é fascinante.
Por exemplo: o primeiro jogo se passava quase todo no Lago dos Nove, e a mobilidade se dava, na maior parte do tempo, por barco. Aqui a maior parte do jogo se passa em outras regiões/reinos, mas, quando revisitamos o Lago, ele está congelado, por conta do Fimbulwinter. Isso muda não só a paisagem, mas também a nossa forma de locomoção, que agora se dá por um trenó puxado por lobos — mas o barco segue presente em reinos que não estão congelados.
Os puzzles também ganham novas nuances. Agora vamos usar as chamas das Lâminas do Caos para acender piras, ou o gelo do Machado Leviathan para congelar gêiseres ou interromper o fluxo de um duto de água. Novos tipos de flechas rúnicas “transportam” propriedades elementais, permitindo que o fogo e o gelo de nossas armas chegue mais longe.
God of War Ragnarok é assim: novo, mas familiar. Vamos fazer coisas que já fizemos e revisitar alguns lugares conhecidos, mas nada vai estar exatamente como era antes. E, claro, também vamos passar por muitos lugares novos, como cidades de anões, florestas perdidas e a própria morada dos deuses nórdicos. Tudo incrivelmente lindo e detalhado.
Essas não são todas as novidades de God of War Ragnarok, mas eu não quero entregar demais aqui. Afinal, esse é um jogo muito esperado, e eu não quero estragar a sua experiência entregando spoilers que, mesmo pequenos, são mais legais de serem descobertos jogando.
Tá, mas e a história é boa?
Sim, mas um pouco confusa. Não complicada, mas meio enrolada, sabe? O primeiro jogo era muito direto ao ponto: nosso objetivo era levar as cinzas da mãe de Atreus até o cume da montanha mais alta. Todo o resto acontecia “ao redor” dessa premissa simples.
Aqui temos muito mais camadas, muitos núcleos de personagens. Isso deixa as coisas um pouco “emboladas”, mas também dá espaço para os excelentes coadjuvantes brilharem ainda mais.
Em algumas missões secudárias, vamos ajudar o carismático Mimir a consertar alguns erros de seu passado. Em outras, vamos conhecer segredos sombrio dos irmãos Brok e Sindri. Por meio de sonhos e flashbacks, conhecemos Kratos na época em que Faye (mãe de Atreus) ainda era viva. Tudo isso torna os personagens ainda mais interessantes, mais humanos (ainda que não sejam realmente humanos, mas você entendeu).
A evolução de Kratos, sem dúvida, é a estrela deste God of War pós-reboot. Nos tempos do Playstation 2, ele era uma máquina de matar, passava o tempo todo esbravejando, era movido pela raiva. O Kratos de hoje é um pai que tenta não perder o controle, justamente porque conhece as consequências do seu descontrole. Ele ainda é um baita guerreiro, mas sabe que a guerra não é a única opção.
A apoteótica treta entre Kratos e Thor — prenunciada pelo final do jogo anterior — tem uma dinâmica similar à de Kratos e Baldur. Até porque, quando Odin entra em cena, cego por uma obsessão de seu passado, fica claro que as proporções do conflito são ainda maiores. Estamos falando do fim do mundo, afinal de contas.
Sem spoilers, o que posso te dizer é que, em termos de história, o que temos aqui é uma continuidade digna da trama do jogo de 2018. Um pouco confusa e embolada em alguns momentos, mas interessante e cheia de personagens memoráveis e momentos grandiosos.
Audiovisual
Rodando no Playstation 5, God of War Ragnarok é deslumbrante. Embora o Playstation 4 ainda seja uma “âncora” que limita um pouco o potencial do jogo, ele sem dúvida chega com audiovisual espetacular na nova geração, onde suporta diferentes modos de exibição. Não é um jogo totalmente “next gen”, mas isso nem de longe é um problema, pois ele está lindo.
A direção de arte do jogo segue sendo um espetáculo à parte. O brasileiro Rafa Grassetti, talentoso diretor de arte do jogo, segue entregando uma visão muito única e original da mitologia nórdica. O já famoso Thor “gordo” é apenas um exemplo de como personagens famosos estão diferentes da visão mais mainstream que conhecemos. O todo poderoso Odin é um senhorzinho magrelo e caolho que, em uma primeira olhada, não representa a figura imponente que ele deveria ser.
Apesar do iminente fim do mundo, God of War Ragnarok transborda vida. Há besouros e lagartos por todo canto e pássaros em revoada. Em Vanaheim, veremos macaquinhos se dependurando por cipós e plantas disparando veneno. O(s) mundo(s) do jogo estão mais vivos e orgânicos do que nunca. E isso contribui muito para a imersão do jogador. O design das armaduras, a arquitetura das construções, a exuberância da natureza… a direção de arte como um todo é espetacular.
Falando especificamente do Playstation 5, joguei no modo performance, focando em uma taxa de frame rate mais alta, e o jogo rodou bem, sem engasgos nem telas de loading. Os recursos do DualSense são bem utilizados, mas não trazem nada que seja realmente disruptivo.
Aos amantes da cinematografia do jogo, fico feliz em dizer que aquele interessante conceito de “plano sequência” que vimos no jogo original — onde tudo acontece sem cortes, de forma contínua, e que será replicado no remake de Dead Space — segue presente aqui. E deve ter sido ainda mais desafiador fazer o jogo assim, uma vez que agora lidamos com sonhos, flashbacks e personagens que estão em lugares diferentes. A direção é esperta, e traz boas sacadas de câmera nas transições entre Kratos e Atreus (quando estão separados).
Embora eu aprecie a qualidade da dublagem brasileira, nesta primeira campanha, optei pelas vozes originais (tinha acabado de rejogar o God of War de 2018, e as vozes estavam frescas na cabeça). O elenco segue entregando interpretações brilhantes, e não duvido que os brasileiros Ricardo Juarez e Lipe Volpato capitaneiam um time no mesmo nível de qualidade que vimos em 2018. Quando for rejogar, darei preferência para as vozes brazucas. 🙂
Aliás, é interessante reparar como esse Kratos está mais falante que o de 2018. Talvez por estar um pouco “amolecido”, ele agora interage muito mais com outros personagens, e até relembra seu passado. Em determinado momento, Kratos resume sua trágica histórica familiar (quando foi enganado por Hades e matou a própria família) em uma conversa, em outro, fala sobre criaturas da “sua” mitologia, como as górgonas. O tom do jogo pode ser apocalíptico, mas seu mundo ainda é vivo e todos parecem um pouco mais tagarelas, o que é muito legal.
A trilha sonora segue tão grandiosa quanto minimalista. Quando se faz necessária, em batalhas contra chefes e momentos épicos, a música é retumbante… mas em muitos momentos não ouvimos nada além dos sons da natureza. Menos pode ser mais, e God of War Ragnarok sabe disso.
E por falar em “mais”, é interessante como este jogo resgata um pouco da brutalidade da série original. No reboot de 2018, a maior parte dos inimigos comuns eram “homens-planta” que não sangravam de verdade. Aqui, temos muitos inimigos de carne e osso, e ao quebrar a barra de postura deles, vemos Kratos partindo-os ao meio ou arrancando suas cabeças em finalizações gloriosas. Tipo assim, ó:
Não é visceral como as tripas dos minotauros que víamos nos jogos antigos, mas é fato que este jogo está mais violento que o de 2018 — e praticamente qualquer tipo de inimigo pode ser finalizado de formas sangrentas e brutais!
Conclusão
God of War Ragnarok é mais God of War. E isso é ótimo, afinal, estamos falando da sequência do Jogo do Ano de 2018!
Evoluindo sua história, seu mundo, e principalmente seus personagens, esta é uma sequência indispensável para todos que se apaixonaram pela corajosa releitura do personagem que nos foi apresentada no reboot.
O triste é que, conforme já era sabido, este é o último jogo desta nova fase da franquia. Não teremos uma trilogia, nem uma grande saga com vários jogos. A história iniciada em 2018 se encerra aqui. Levei quase 30 horas para zerar God of War Ragnarok, e ao final fica um sabor agridoce: a jornada foi incrível, mas é triste saber que não veremos mais esses personagens.
De qualquer jeito, isso é assunto para nossa coluna “Depois do Fim“, onde poderemos conversar sobre o jogo — com spoilers — algumas semanas depois do lançamento, quando você já tiver jogado. Até lá repito o que já disse ali em cima: God of War Ragnarok é mais God of War. E isso é ótimo.
God of War Ragnarok será lançado em 9 de novembro, com versões para Playstation 4 e Playstation 5. O jogo está 100% localizado para o nosso idioma.
Agadecemos à Sony Playstation Brasil, por nos ceder uma cópia antecipada do game para esta análise.