Análise Arkade – Horizon: Forbidden West oferece um “mais do mesmo” refinado

14 de fevereiro de 2022
Análise Arkade - Horizon: Forbidden West oferece um "mais do mesmo" refinado

Na próxima sexta, dia 18/02, o mundo enfim vai acompanhar as novas aventuras de Aloy em Horizon Forbidden West, sequência direta do elogiado Horizon Zero Dawn. Tivemos acesso antecipado ao game, e agora você confere nossas impressões!

Antes de mais nada…

Horizon Zero Dawn está para completar cinco anos de vida, e ainda é um jogo muito especial para muita gente. Nosso camarada Junior Candido escreveu uma análise bastante elogiosa dele lá em 2017, na qual afirmou que o jogo é “uma aula de como fazer videogame”.

Confesso que não sou um fã tão ardoroso da primeira aventura de Aloy, mas sou capaz de enxergar as qualidades do jogo, claro — especialmente no que diz respeito à sua narrativa e à construção de seu universo. E, considerando que Forbidden West é uma sequência narrativa direta do primeiro jogo (e leva em consideração a DLC Frozen Wilds), é bom avisar que “pegar o bonde andando” pode ser meio confuso.

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Felizmente, há um bem-vindo (mas superficial) “recap” no início da campanha, útil para nos deixar a par dos pontos principais da história e de alguns nomes e personagens importantes que dela fazem parte, como Elisabet Sobeck, Sylens, o protocolo Zero Dawn, GAIA, HADES, e por aí vai. Nosso camarada Paulo Montanaro recentemente nos trouxe um resumão da história que vale a leitura.

Fiz este adendo apenas para deixar claro que este não é um jogo que “funciona de forma independente”. Sua história se passa cerca de 6 meses após os acontecimentos do primeiro game, e conhecer tudo o que aconteceu lá é importante para entender o que acontece aqui. Você até pode vir direto para Forbidden West sem ter jogado Zero Dawn, mas provavelmente vai ficar boiando em muita coisa.

O que rola é que a tal da salvação do mundo planejada no primeiro jogo não deu o resultado esperado: novas máquinas continuam surgindo e uma espécie de corrupção está se espalhando pelo planeta, envenenando todo o ecossistema e deixando as criaturas cada vez mais agressivas. Sem entregar spoilers, o que posso adiantar é que a nova missão de Aloy envolve buscar uma forma de “resetar” o processo de terraformação. E é esta busca que irá levá-la ao tal Oeste Proibido que dá nome ao game.

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Rumo ao Oeste Proibido

Claro que isso é uma forma bastante superficial de abordar o assunto, mas, como o jogo ainda não saiu, não vou me aprofundar muito na trama. Posso adiantar, porém, que a qualidade narrativa se mantém, e é legal vermos que a Aloy aqui é menos individualista, está mais disposta a confiar em seus aliados. O que vai ser importante, afinal, como os trailers entregaram, há novas tribos e personagens importantes no Oeste Proibido. Como a presença deles afeta a missão de Aloy e como estes novos relacionamentos se desenvolvem é algo que você terá que jogar para descobrir. 😉

Mais do mesmo, refinado

Não venha esperando uma revolução em termos de mecânicas: Horizon: Forbidden West traz de volta praticamente tudo o que foi testado e aprovado no primeiro jogo, acrescentando sutis novidades que não têm o propósito de revolucionar a experiência, mas de refinar o core do gameplay.

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Detalhe para os belos reflexos e efeitos na água

Isso quer dizer que este ainda é um RPG com um mundo aberto enorme, focado em exploração e coleta de recursos. Também quer dizer que você vai passar muito tempo agachado no meio do mato, escananeando criaturas robóticas e catando pedras, galhos e plantas para criar flechas, armadilhas e poções.

Não acho esta fórmula particularmente incrível, mas sei que ela funciona para muita gente. Este é o ponto com Horizon Forbidden West: se você gostou do primeiro jogo, com certeza vai gostar do segundo. No meu caso, ainda que tenha minhas ressalvas com as mecânicas básicas do jogo (acho um saco esse stealth de ficar “agachado no matinho”), o mundo dele — tanto esteticamente quanto narrativamente — é extremamente imersivo e me cativa demais.

Dentre as principais novidades, o lança gancho e o paraglider (fortemente inspirado por Zelda Breath of the Wild) agregam variedade e verticalidade à exploração, mas não reinventam a roda. São basicamente novas ferramentas para você utilizar, implementadas de forma criativa — especialmente nas dungeons mais elaboradas e missões principais roteirizadas.

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Aloy e seu paraquedas holográfico

Uma coisa bem legal é como este novo jogo arrumou uma saída elegante para “esconder” pontos de escalada no cenário. Aloy pode escalar diversos tipos de paredes, mas só vemos os pontos de apoio se utilizarmos seu Foco para escanear os ambientes. O uso do Foco, aliás, segue fundamental para o sucesso, tanto na exploração quanto no combate.

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os traços amarelos são os pontos de escalada, mas eles só aparecem se usamos o Foco

A alardeada exploração subaquática agrega (com o perdão do trocadilho) mais profundidade, mas na prática, não é tão nova, assim. Existem colecionáveis subaquáticos e lugares que você só acessa mergulhando, mas não espere por nada transformador, que mude drasticamente a experiência. Não há combate debaixo d’água — só podemos evitar e fugir das criaturas quando estamos sob a água.

Ou seja: há novidades, mas elas não transformam a experiência. O feeling de jogar ainda é meio que o mesmo. Por isso, reforço o que já disse: se você curtiu Zero Dawn, vai curtir Forbidden West. Ele é “mais do mesmo”, mas refina e amplia tudo aquilo que já conhecíamos.

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A exploração subaquática não muda drasticamente o jogo

Explorando o Oeste Proibido

Embora jogos com mapas cada vez maiores me deem um pouco de preguiça (simplesmente não tenho mais tempo para eles), houve um esforço consciente em tornar a nova jornada de Aloy um pouco menos cansativa — tal qual The Witcher 3, agora temos até um jogo de tabuleiro para aliviar a tensão, e NPCs ávidos por nos desafiar neste simples, mas engenhoso mini-game.

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Ataque das Máquinas é o jogo de tabuleiro que podemos aprender no novo Horizon

O mapa do jogo é colossal, e nos leva por um passeio por áreas “reais”, dos EUA, como São Francisco e Las Vegas. Há muito o que se ver e descobrir no Oeste Proibido, e embora haja muita coisa “requentada” — tipo os Campos de Caça e as escaladas dos Pescoções — houve um esforço consciente em agregar valor narrativo e variedade às sidequests.

Não sei você, mas eu odeio NPCs que me pedem coisas tipo “encontre minha frigideira”. Claro que ainda existe esse tipo de missão em Horizon Forbidden West, mas elas estão melhor contextualizadas. Por exemplo: o cozinheiro da taverna perdeu sua grelha, mas você não vai atrás dela, vai dar um jeito de arrumar uma placa de metal (de uma criatura) para substituir o utensílio. Meio que faz sentido dentro deste universo onde a humanidade vive sucateando e reaproveitando peças de máquinas, saca?

Embora o mundo não seja particularmente vivo e orgânico como o que vemos em outros jogos do gênero (não rolam muito daqueles eventos aleatórios durante a exploração, como em Red Dead Redemption 2, por exemplo), ele é cheio de lugares legais para visitar e pontos de interesse para explorar. Apesar do mundo aberto, a narrativa embutida quase não dá espaço para que narrativas emergentes se destaquem, mas isso não chega a ser um problema, é a proposta do jogo. Quem realmente se dedicar vai encontrar muita coisa legal: há novos desafios de panoramas holográficos, corridas e environmental puzzles bastante engenhosos, conteúdos dos mais variados que vão testar a habilidade (e talvez a paciência) do jogador.

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Certos puzzles envolvem levar baterias até terminais que desencadeiam hologramas

E, não podemos deixar de falar, claro, dos novos perigos que Aloy vai enfrentar: criaturas como as enormes serpentes robóticas Rastejadores, ou os enormes Tremodontes e os “velociraptors de metal” Garravelozes são alguns dos novos perigos que a ruiva vai ter que encarar, e cada um deles demanda uma estratégia própria para ser derrubado.

Combate & Evolução

Por falar nisso, o sistema de combate segue o mesmo esquema do jogo original: as criaturas podem ser “desmontadas” e possuem pontos fracos que facilitam a vida do jogador. Destaque para certos reservatórios que podem ser explodidos para causar dano em área ao redor de um inimigo.

O combate pode ser um tanto punitivo se o jogador for muito afoito, exigindo que, mesmo no confronto direto, você saiba agir de forma tática, espalhando armadilhas pelo campo de batalha e mantendo uma distância segura dos inimigos. A abordagem stealth sempre facilita a vida da gente — ainda que o eu ache o stealth de “se agachar no matinho” um saco –, e o game inclusive permite que você evolua a Aloy de acordo com o seu estilo de jogo.

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Cada árvore de evolução é focada em uma coisa: combate, sobrevivência, sabotagem, etc.

Aqui não temos uma nem duas, mas seis árvores de habilidades distintas (imagem acima), cada uma focada em um grupo específico de vantagens e habilidades. Você pode, por exemplo, priorizar o combate à distância, ou as armadilhas, em detrimento dos golpes corpo a corpo. E — novidade — cada uma dessas skill trees traz duas habilidades únicas, os chamados Ímpetos de Bravura, que podem ser ativados em combate para conceder ótimas melhorias por tempo limitado, e podem ser equipadas pelo menu, conforme a necessidade.

A evolução das armas e trajes, por sua vez, tornou-se um pouco mais trabalhosa. Ainda temos as bobinas, mas agora os espaços para acoplar bobinas estão “travados”, e só são liberados depois que você melhora aquele equipamento. Quanto mais raro é o equipamento, mais ele pode evoluir. Aí entra o crafting, uma vez que evoluir as armas não demanda experiência, mas peças específicas.

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Os enormes Rastejadores são imprevisíveis e duros na queda

Repito: não espere grandes novidades. Horizon Forbidden West basicamente aprimora e aprofunda a fórmula que foi estabelecida no primeiro jogo. Se isso é bom ou ruim, depende do quanto você curtiu a experiência do jogo original.

Audiovisual e Acessibilidade

Horizon: Forbidden West é, desde já, um dos jogos mais bonitos do ano. Uma parte disso, claro, é relativo à parte técnica, mas boa parte deste mérito é fruto da direção de arte fantástica do game, que já era primorosa em Zero Dawn, e segue afiadíssima por aqui.

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Os Pescoções seguem imponentes

Jogos pós-apocalípticos tendem a ser obscuros e cinzentos, mas o “pós-pós-apocalipse” da série Horizon é florido, colorido e vibrante. E isso muito me agrada. O céu desse jogo é espetacular, e as ruínas da civilização tomadas pela natureza só não são mais bonitas do que as construções tribais — Sonora parece uma cidade toda feita de palha trançada, e seu visual é maravilhoso.

Só posso falar da versão Playstation 5 — que foi a que joguei — e ela não só é deslumbrante, como também roda suave, sem engasgos nem problemas técnicos. na nova geração, os recursos hápticos do DualSense cumprem seu papel, mas não espere nada no nível de Astro’s Playroom. Os loadings ainda existem, mas no geral não duram mais do que 5 segundos, o que garante fluidez à exploração.

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O visual do jogo é deslumbrante

Joguei no Modo Desempenho, que prioriza uma taxa de framerate mais alta (60fps) em detrimento da resolução, que não fica em 4K e torna-se dinâmica — mas, mesmo assim, o visual é simplesmente incrível. A trilha sonora dá o tom épico que o jogo merece, e o áudio 3D realmente faz diferença, especialmente nos confrontos contra grupos de máquinas.

O jogo chega 100% localizado para o nosso idioma — com dublagens, menus e legendas em português brasileiro. A qualidade da dublagem é equivalente à do primeiro jogo, o que é um elogio, visto que a Sony há anos vem caprichando no trabalho de localização de seus jogos por aqui. Aloy solta comentários espontâneos se está suada, ou com frio — detalhes que parecem bobos, mas humanizam a personagem.

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A localização torna o jogo mais acessível, e não faltam opções de acessibilidade em Horizon Forbidden West. A dificuldade é altamente customizável, permitindo que jogadores de diferentes níveis de habilidade tenham uma experiência satisfatória. Desde a quantidade de informações no hud à falta de obrigatoriedade de “desmontar” inimigos para conseguir componentes, você escolhe como (e quão desafiadora) quer que sua jornada pelo Oeste seja.

Ah, e só para completar, ouso dizer que este é o jogo que tem os seres humanos mais realistas que já vi. Os olhos estão especialmente caprichados, acabando com aquela estranheza que sentimos quando vemos personagens digitais — o famigerado uncanny valley. Os NPCs mais importantes, com os quais conversamos, possuem feições (e olhos) muito impressionantes, e não parecem meros bonecos feitos por computador.

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Os olhos dos personagens estão muito vivos e expressivos

Conclusão

Pelo tom desta análise, creio que você meio que já sabe o que esperar de Horizon Forbidden West, não é? Ele é mais Horizon, e com certeza vai agradar quem quer mais Horizon.

Isso é bom? Depende das suas expectativas e do seu carinho pela franquia. Horizon Forbidden West não é particularmente inovador, mas é um ótimo jogo, que conta uma boa história, e entrega um final que é satisfatório, ao mesmo tempo em que se mantém aberto o bastante para justificar uma possível (e provável) sequência.

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É o famoso “em time que está ganhando, não se mexe”. A Guerrilla Games manteve-se dentro de uma zona de conforto, mas teve o cuidado de lapidar ao máximo a fórmula que fez do primeiro jogo um sucesso. E arrumou tempo para aprofundar a lore deste universo que é tão incrível quanto misterioso, trazer novas máquinas e novas ferramentas para o jogador utilizar.

Resumindo: se você curtiu HZD, pode embarcar em HFW sem medo — mas venha com suas expectativas devidamente ajustadas, sem esperar por algo revolucionário. Até porque, convenhamos, nem toda obra precisa se reinventar — especialmente se o material original já era bom. Lapidar o que já funcionava acaba gerando experiências que até são familiares, mas conseguem ser ainda mais satisfatórias.

Mesmo sem ousar muito, Horizon: Forbidden West consegue manter o nível da franquia acima da média entre os RPGs de mundo aberto — e faz isso sendo tecnicamente impecável, envolvente e imersivo.

Horizon Forbidden West será lançado em 18 de fevereiro de 2022, com versões para Playstation 4 e Playstation 5.

Este review foi feito com base na versão PS5 do game, que recebemos antecipadamente da Sony.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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