Análise Arkade – Hypercharge: Unboxed, os Pequenos Guerreiros dos videogames

31 de maio de 2024
Análise Arkade - Hypercharge: Unboxed, os Pequenos Guerreiros dos videogames

A ideia de Hypercharge: Unboxed, de brinquedos ganhando vida, como vemos em e vivendo suas próprias aventuras de forma autônoma sempre me fascinou. Não por acaso, filmes como Toy Story e Pequenos Guerreiros têm um lugarzinho especial na prateleira “nostalgia” da minha lembrança.

Hypercharge: Unboxed meio que pega esse conceito e traz para o mundo dos videogames. Não é a primeira vez que vemos essa ideia transformada em um game: de Toy Soldiers a Micro Machines, passando por jogos de Hot Wheels e Lego, brinquedos reais invadem, desde sempre, o mundo digital.

Análise Arkade - Hypercharge: Unboxed, os Pequenos Guerreiros dos videogames

O que parecia ser o principal diferencial de Hypercharge: Unboxed era justamente o seu foco em construir uma narrativa mais na linha de Pequenos Guerreiros. Um grupo de brinquedos do bem enfrentando um grupo de brinquedos do mal, em cenários que são totalmente comuns, como uma cozinha ou um quarto de criança. E nisso o jogo acerta a mão.

Mocinhos x bandidos

Ainda que tenha foco em jogatina cooperativa, a campanha de Hypercharge: Unboxed pode ser jogada em modo solo. A história acompanha o corajoso Sargento Max Ammo em sua empreitada para proteger um artefato — o Hypercore que, se destruído, fará com que a humanidade se esqueça de seus brinquedos favoritos — do vilanesco Major Malvado e seus comparsas.

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A estética dos quadrinhos é cheia de estilo

A história pode ser bobinha — o Hypercore é uma mera desculpa para justificar o quebra pau dos brinquedos — mas é apresentada em uma charmosa arte com cara de história em quadrinhos. Tudo muito nostálgico e alinhado com a estética do que a molecada dos anos 80 e 90 gostava.

Se Hypercharge: Unboxed tem história, tem campanha… né?

Sim e não. Existe uma campanha em Hypercharge: Unboxed… mas ela é apenas uma sucessão de fases no estilo “horda”, ou seja, temos que enfrentar ondas de inimigos e evitar que eles destruam pontos de interesse que precisamos defender.

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Tiroteio no quintal

Embora o foco do jogo seja tiroteio e ação, ele também flerta com tower defense: entre uma wave e outra, temos um tempinho posicionar cercas, gosmas grudentas e outras armadilhas que vão dificultar a passagem dos invasores.

Ainda que esse tipo de experiência tenha seu valor, eu acho que funcionaria se isso fosse um extra, não o modo principal de jogo. Tipo os zumbis de Call of Duty, saca? Eles nunca são o prato principal, mas um adendo bem-vindo que aumenta a vida útil do jogo.

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No fim das contas, embora a historinha seja interessante de acompanhar e o jogo tenha algumas boas boss battles aqui e ali, o fato é que a repetição inerente a essa estrutura de hordas tende a deixar tudo meio chato.

Perspectiva, customização e inimigos

Apesar da temática “brinquedos ganhando vida”, na prática, Hypercharge: Unboxed é um jogo de tiro bem tradicional. Ele pode ser jogado em primeira ou terceira pessoa. Preferi jogar em primeira para ter uma maior precisão nos meus tiros, mas dava uma espiadinha na visão em terceira pessoa sempre que queria admirar o visual do meu bonequinho.

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Detalhe da dobradiça no cotovelo do boneco

Esse é um aspecto muito interessante do jogo: além de contar com diversos bonecos diferentes, todos eles podem ser customizados com itens cosméticos desbloqueáveis, como variações de roupas, armas e cabeças. É possível até customizar a embalagem do seu brinquedo! De luchadores mexicanos a lobisomens e soldados, há muitas opções legais.

O cuidado que os desenvolvedores tiveram com os bonecos sem dúvida é um dos pontos altos do jogo. Não temos brinquedos reais licenciados em Hypercharge: Unboxed, mas diversos personagens se parecem com aqueles “genéricos” que a gente podia comprar em lojas de R$ 1,99. Aliás, o jogo é cheio de piadinhas e easter-eggs com marcas e produtos reais.

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Pegou a referência?

A variedade de inimigos é mais um destaque: além de outros bonecos, vamos ter que lidar com tanques, mini-drones, fidget-spinners, bolinhas saltitantes, piões descontrolados, dinossauros de controle remoto e muitos outros perigos.

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Dinossauros no jardim

Por ser um jogo que pode ser jogado tanto sozinho quanto em equipe — até 4 jogadores, tanto online quanto em tela dividida –, Hypercharge: Unboxed nivela o desafio da experiência de acordo com o número de jogadores. Encontrar pacotinhos colecionáveis escondidos pelas fases libera novos bonecos e peças.

O simpático audiovisual de Hypercharge: Unboxed

Hypercharge: Unboxed traz uma estética condizente com sua temática. Os bonecos são coloridos e usam roupas extravagantes, mais ou menos como os brinquedos dos anos 80 e 90. Os cenários potencializam a nostalgia, com batalhas ocorrendo em quintais, banheiros e corredores de lojas de brinquedos.

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Só pelas referências, esse sem dúvida é um dos melhores mapas do jogo

uma simplicidade inerente ao visual do jogo, mas que parece ser mais uma decisão estética do que uma limitação técnica. É verdade que a movimentação é meio desajeitada, mas o jogo parece ter escolhido com cuidado o que deveria ser priorizado, tecnicamente.

A proporção do mundo é algo muito importante nesse tipo de jogo. Afinal, somos pequenos brinquedos guerreando em um mundo de gigantes. Hypercharge: Unboxed faz um trabalho competente em nos fazer sentir pequenos diante de ambientes comuns, mas gigantescos.

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Olha o tamanho dessa pilha

O jogo possui menus e legendas em português (que parece de Portugal, não brasileiro), mas a qualidade da localização é variável. Em mais de um caso, vi frases surgindo em inglês no meio de um diálogo. Não é nada que estrague a experiência, mas deixa claro que faltou um pouquinho mais de atenção (ou verba) durante a tradução.

Conclusão

Hypercharge: Unboxed parte de uma premissa que muito me agrada, mas acaba se perdendo em sua própria fórmula. Falta variedade de missões, tudo se resume a enfrentar hordas e levantar defesas, o que rapidamente se mostra cansativo.

É impossível não se encantar pela ideia, pela ambientação. Mas, falta um loop de gameplay que seja divertido, engajante. Se por um lado ele faz um excelente trabalho em criar sua ambientação, por outro, sua estrutura como jogo é repetitiva e pouco inspirada.

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Hordas e mais hordas…

Se você dizer alguns amigos para jogarem contigo — batendo papo e falando bobagem online — Hypercharge: Unboxed pode até ser recomendável. Mas se sua ideia é se aventurar sozinho, melhor buscar algo melhor. A falta de criatividade compromete bastante o que poderia ser uma experiência nostálgica e muito divertida.

Anteriormente lançado para PC e Nintendo Switch, Hypercharge: Unboxed agora também está disponível para Xbox One e Xbox Series X|S (versão analisada).

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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