Análise Arkade: Explorando os sentimentos em Life is Strange: True Colors
A série Life is Strange está de volta com mais uma aventura! Pela primeira vez fora do sistema de lançamentos por episódios (até que enfim!) e apresentando todo um novo núcleo de personagens, novos locais e é claro, novos poderes em Life is Strange: True Colors!
Vamos acompanhar então essa nova saga dentro da série e ver como ela acaba se saindo em comparação com seus antecessores. Então, vamos mergulhar no mundo dos sentimentos e conhecer Alex Chen e seu poder de empatia!
A jornada pelas emoções humanas
Life is Srange: True Colors é ambientado no ano de 2019, muito possivelmente para situar a história num contexto anterior à pandemia. Apesar de ser uma história fictícia, Life is Strange sempre contou com referências diversas de elementos da vida real, então isso acaba fazendo sentido.
A história acompanha Alex Chen, uma mulher que passou a infância e adolescência em orfanatos e que passou por diferentes famílias adotivas, sem nunca ter sido aceita por nenhuma delas. Pela primeira vez em muitos anos, ela conseguiu reencontrar seu irmão, Gabe Chen, que a fez uma proposta irrecusável, morar com ele na cidade de Haven Springs, nas montanhas do Colorado, EUA.
Tudo começa no momento em que Alex chega a cidade e reencontra seu irmão, dando início a um novo capítulo em sua vida, numa cidadezinha pacata, mas cheia de vida.
Alex, desde que se lembra, possui uma habilidade estranha, ela consegue ver os sentimentos das pessoas, que se manifestam como auras coloridas ao redor delas. E quando esses sentimentos, normalmente negativos, são muito fortes, acabam invadindo-a, fazendo com que ela sinta o mesmo que outras pessoas, seja raiva, medo, tristeza e etc.
E finalmente, quando sua vida parece que enfim vai se situar e ela poderá ser feliz, algo terrível acontece. Seu irmão Gabe acaba morrendo em um deslizamento de pedras causado por explosões agendadas por uma mineradora. Porém, há muitas coisas estranhas sobre essa explosão, pois ela não deveria ter acontecido.
Alex então inicia uma investigação contra a empresa mineradora Typhon para descobrir a verdade sobre a morte “acidental” de Gabe, conhecendo várias pessoas diferentes pelo caminho e usando seus poderes para ajudá-las a lidar com seus próprios sentimentos, bem como usando esses poderes para desvendar segredos sobre o caso.
O poder da empatia em um estilo “detetive”
Life is Strange: True Colors resgata a ideia original do primeiro game da série, que é a investigação de um segredo com suas pistas espalhadas pela cidade. Dessa forma, o poder de empatia acaba sendo uma forma muito interessante de descobrir segredos das pessoas e também de objetos.
Ao segurar um botão, Alex entra em modo “detetive”, com isso, ela consegue enxergar as auras sentimentais em pessoas e objetos. Com isso, basta aproximar-se e segurar um outro botão para interagir com essas auras, entendendo as causas de seus sentimentos e desbloqueando memórias de objetos.
Com isso, é possível também ajudar os personagens do game. Em diversos momentos importantes, algum personagem sentirá alguma emoção de forma muito intensa, e Alex precisará agir. Nessas ocasiões, os sentimentos são tão fortes que alteram a própria realidade em si, pois Alex passa a ver o mundo pelos olhos da outra pessoa.
Com isso, ela deve investigar o que está acontecendo e entender melhor a pessoa, assim desbloqueando opções de diálogos para que o jogador possa tentar ajudar. E isso é algo que funciona não apenas com personagens importantes, mas até em cenas breves. Há em alguns momentos a possibilidade de ver os sentimentos de uma pessoa que está com medo, tristeza ou raiva, o que desbloqueia uma nova opção de diálogo que tem muito mais efeito ao ajudar.
O sistema de decisões em comparação com o resto da série
Em minha análise de cada capítulo de Life is Strange 2, minha principal reclamação era que o sistema de decisões parecia não ter peso algum. Eu tentava tomar as decisões mais amigáveis e compreensivas, para 5 minutos depois o game decidir por conta própria que nada importava. Com isso, as decisões afetavam principalmente os episódios 4 e 5 do game, deixando três capítulos em que parecia que nada tinha real significado.
É claro que há a discussão sobre até onde o jogador realmente tem poder de decisão sobre a narrativa, e sempre que entro nesse assunto, relembro de The Banner Saga, que é a melhor série que já joguei na vida em termos de decisão e consequência. Mas não estamos falando dessa série. E em Life is Strange: True Colors, suas decisões realmente tem peso, ainda que superficialmente.
O game possui seis opções de finais, baseados principalmente em suas decisões de romance e baseadas principalmente na escolha final do game. Sendo assim, há 2 finais possíveis se você não engatar nenhum romance, 2 finais se você namorar Steph (e ela é a escolha certa de romance! Nesse ponto eu me arriscarei em colocar minha opinião totalmente acima da imparcialidade!) e 2 finais se você namorar Ryan.
Porém, cada um desses finais possui variações dependendo do relacionamento que você construiu com os outros moradores de Heaven Springs. Dessa forma, suas decisões realmente importam em curto e longo prazo, afetando como os personagens a sua volta veem Alex e como o game termina.
E, acima de tudo, diferente de Life is Strange 2, True Colors não toma decisões arbitrárias ignorando o que você, jogador, decidir fazer. Isso por si só torna esse game excelente, principalmente por possuir uma história com muitos personagens carismáticos e momentos memoráveis.
Nesse sentido, apesar de diferente, True Colors tem um “clima” bem semelhante ao primeiro Life is Strange, com a história de Max e Chloe. Porém, enquanto o primeiro game tinha uma temática mais “adolescente-adulta”, a aventura de Alex Chen é muito mais madura, mas sem perder o bom humor, o carisma e a sensação de familiaridade.
Todos os personagens do game são carismáticos e com personalidades bem distintas. Isso contribui muito para tornar o game ainda mais agradável de se jogar, principalmente pela protagonista, Alex, que tem uma história muito rica e cheia de nuances interessantes. É muito fácil gostar dela e torcer por ela conforme o game progride.
Vale a pena mencionar que apesar do game não estar sendo lançado em formato episódico, sua estrutura ainda é a mesma, com a história dividida em 5 capítulos. Cada capítulo é curtinho, contando com objetivos principais e secundários, mas bem rápidos de se terminar. Nesse ponto, a duração do game é relativamente pequena, se o jogador tomar seu tempo para explorar Heaven Springs, terminará o game em cerca de 5 a 10 horas.
Audiovisual
Esse game apresenta um enorme salto de qualidade visual em comparação a Life is Strange 2. Os gráficos ainda estão no mesmo estilo característico, com personagens bem modelados e elementos do cenário mais simplificados, mas o game não esconde essa disparidade visual, e nem faz parecer que são defeitos visuais (apesar de haver sim alguns defeitos).
As animações dos personagens são incrivelmente realistas, principalmente em seus movimentos faciais. O movimento dos olhos, pele, sobrancelhas, boca e etc, tudo foi construído de forma incrível, dando muito realismo a esses personagens. Cada personagem tem seus sentimentos visíveis não só por suas auras, mas por suas feições que são realmente incríveis.
Os defeitos mencionados são poucos, mais relacionados a performance do game. Jogando no Playstation 4, há cenas em que metade da tela fica preta por poucos segundos, normalmente antecipando alguma cena de tomada de decisões. Em outros trechos, os modelos dos personagens não carregam direito e ficam em modo A-pose, até voltarem ao normal. E em uma ocasião, vi uma personagem caminhando em pleno ar, cerca de 2 metros acima do chão.
Os problemas são pontuais, mas presentes. Não atrapalham o andamento do game, mas no caso da tela ficando preta podem ser bem incômodos. Felizmente a Deck Nine, produtora desse game (e também de Before the Storm), já estão trabalhando no feedback dos jogadores para consertar esses erros.
Na parte sonora, bem, se você já jogou Life is Strange então já sabe o que esperar. A trilha sonora composta por músicas de bandas reais, principalmente do cenário indie, está bem presente aqui. Aliás, música é um dos temas mais fortes do game, de forma que não decepciona em seu repertório, possuindo até mesmo algumas músicas clássicas que qualquer um que viveu o começo dos anos 2000 identificará com facilidade.
O game conta com dublagens em inglês, num excelente trabalho de interpretação de vozes em combinação com as animações de personagens. E o game conta com localização em português brasileiro em seus menus e legendas. Há alguns pequenos erros de tradução, mas mínimos, e num geral o trabalho de localização é muito bem feito, com palavrões e gírias bem encaixadas.
Conclusão
Life is Strange: True Colors possui muitas qualidades e uma história muito cativante. As decisões que você toma no game realmente tem impacto, mesmo que dentro do limite de o quanto essas decisões realmente influenciam na narrativa.
Ainda assim, esse game é uma muito bem vinda evolução para a série, entrando em um terreno mais maduro que aborda assuntos como sexualidade, drogas, emoções e preconceitos de forma mais pessoal. Menciono esse ponto pois, em relação a Life is Strange 2, que também aborda esses temas, a forma como eles são apresentados é bem diferente. É claro que há diferentes contextos nessas representações, principalmente pois em Life is Strange 2 os temas são abordados de forma mais pesada, focando na parte ruim da vida real. Mas em minha opinião True Colors faz isso de uma forma mais adulta.
Talvez o game tenha uma duração muito menor do que as pessoas estejam acostumadas atualmente, porém, da forma que o game foi criado não há muita enrolação, como por exemplo passar por diversas quests para preencher tempo até a história realmente engrenar. De qualquer forma, apresentar a história inteira em apenas um game, ao invés de separadamente por episódios, foi algo que pessoalmente me agradou muito (e se não ficou claro, eu realmente não gosto do “formato Telltale”).
Se você é um fã da série, então com certeza será cativado facilmente. E se você nunca jogou Life is Strange e não está muito inclinado a começá-la pelo começo, então True Colors pode ser uma ótima porta de entrada, apesar de infelizmente aqui no Brasil o game estar num preço muito salgado (como a maioria dos lançamentos, o que é algo bem entristecedor).
Life is Strange: True Colors foi lançado no dia 9 de setembro com versões para PC, Playstaton 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X e Nintendo Switch.