Análise Arkade – Oceanhorn 2 no Nintendo Switch: um bom RPG (genérico)
No final do ano passado, com o lançamento do serviço Apple Arcade — serviço de assinatura gamer da Apple –, Oceanhorn 2 foi lançado, exclusivamente para os aparelhos da maçã.
Demorou quase um ano para ele enfim chegar a outra plataforma, que também flerta com o mobile: já tem um tempinho que Oceanhorn 2 chegou ao Nintendo Switch, e eu tive que jogá-lo em doses homeopáticas, visto que estava dividindo meu tempo com outros jogos bem relevantes.
Pois bem, para quem não conhece, Oceanhorn é uma série que nasceu fortemente inspirada em Zelda, e evoluiu bastante de um jogo para o outro: o primeiro é um joguinho de aventura e exploração com visão isométrica que lembra bastante o clássico Zelda Wind Waker (relembre aqui minha análise).
O novo jogo, bem mais ambicioso, é um RPG mais ou menos de mundo aberto em terceira pessoa, que claramente se inspira em Zelda Ocarina of Time. Ambientado mil anos após o primeiro game, ele conta a história clichê de um jovem guerreiro que “sem querer” torna-se o escolhido, e vai sair pelo mundo para encontrar um punhado de artefatos mágicos que lhe ajudarão a deter um vilão malvado — no caso, o Mago Mesmeroth.
Falando assim parece que estou fazendo pouco caso do game, mas esta não é a intenção. É só que, já vimos essa história antes. Oceanhorn 2 é o típico “RPG de fantasia” padrão, que ocasionalmente demonstra um pouco de carisma, mas no geral não tem lá muita personalidade. Quando comparamos ele com sua grande inspiração — The Legend of Zelda –, ele definitivamente não se destaca, ainda que tenha seus méritos.
Explorando o mundo
Oceanhorn era a jornada de um herói solitário, mas nesta sequência o trabalho em equipe chega como uma das melhores novidades. Nossos companheiros Trin, neta do líder de Arcadia, e Gen, um robô cheio de boa vontade, são muito úteis não só em combate, mas também ajudando a resolver puzzles.
A presença desta party não só deixa o andamento do jogo mais animado — afinal, eles conversam e interagem uns com os outros — como também adiciona uma camada de estratégia ao conjunto da obra: você pode dar ordens para eles tanto em combate quanto na exploração, podendo, por exemplo, posicioná-los em cima de um botão. A jogabilidade foi muito bem adaptada para os controles com botões, e acho que até poderiam ter mantido a tela touch para navegarmos pelos menus (o que não acontece).
No que tange o protagonista, a falta de pulo causa estranheza de início, mas isso faz parte do design do jogo. Na hora da pancadaria, ele se vira muito bem com sua combinação clássica de espada + escudo, e ainda conta com uma poderosa “pistola de feitiços“, que pode ser carregada com munições elementais variadas. Os combates tendem a ficar repetitivos — especialmente pelo excesso de monstrinhos comuns, como os pentelhos besouros Scarabaras — mas em muitos casos é possível simplesmente passar correndo e evitar o confronto.
O mundo de Gaia é repleto de cavernas e segredos. Ocenahorn 2 é um jogo que exige bastante resiliência dos colecionistas, e, infelizmente, nem sempre é bom em premiar o seu esforço. É normal passarmos um perrengue para chegar até um baú que tem apenas uma tranqueira inútil — tão inútil que é automaticamente convertida em dinheiro, nem vai para o inventário.
Ambição demais é um problema?
Oceanhorn 2 claramente se esforça para ser um jogo maior que seu antecessor em todos os aspectos. O problema é que, nesta empreitada, os game designers esqueceram que menos pode ser mais. Digo isso porque o jogo parece não comportar seu próprio escopo, e sua grandiosidade é cheia de áreas vazias que não agregam nada à jornada.
Exemplificando: aqui não temos aquele mundo aberto tradicional cheio de side missions e objetivos aleatórios. O mapa do mundo serve basicamente para separar as cidades e dungeons principais… e simplesmente transitar por ele é algo que fica cansativo rapidamente. Ocasionalmente podemos alugar uma hoverbike ou usar um barco, mas há muita exploração feita na base da sola de sapato.
Que fique claro que esta é uma queixa puramente pessoal: quando estamos efetivamente explorando dungeons e resolvendo puzzles, é que Oceanhorn 2 brilha. A questão é só a “logística” entre estes lugares, que dá uma canseira na gente.
A beleza de um mundo genérico
Mesmo tendo nascido como um jogo mobile, Oceanhorn 2 é um jogo de visual muito caprichado, que não deve muito para outros jogos. Sua paleta de cores é muito rica, e as paisagens que ele apresenta são incríveis.
Acho que o principal problema aqui é, novamente, a falta de personalidade: Gaia é o típico “mundo de fantasia genérico”, com bosques, vilarejos, fortalezas e cavernas. Nada ali é único, genuinamente criativo, e talvez por ter Zelda como grande influência, as comparações tornem-se inevitáveis… e até um pouco injustas.
O mesmo pode ser dito do departamento sonoro: a trilha sonora é boa, sem parecer realmente inspirada ou marcante. As dublagens são competentes e, como já dito, ajudam a injetar um pouco de carisma aos personagens — exceto no caso do protagonista, que se limita a gemidos e gritos.
o desempenho do Nintendo Switch para rodar o jogo é muito satisfatório, até porque o jogo nasceu em uma plataforma um pouco mais “limitada” do que os consoles. Rodando em modo portátil ou no dock, ele flui suavemente — mas consome bastante bateria no modo portátil, fique ligado!
Conclusão
Talvez esta minha análise tenha sido um pouco injusta com Oceanhorn 2. Meu camarada Junior Candido analisou o jogo no iPhone ano passado e foi bem mais elogioso do que eu. E, não me leve a mal, Oceanhorn 2 não é um jogo ruim, muito pelo contrário. O problema dele é o fato de ser genérico.
A indústria dos videogames tem esse problema recorrente: quando algo faz sucesso, é copiado exaustivamente. Vemos isso o tempo todo em Souls-likes e em outros títulos que copiam Zelda. E quando um jogo é genérico, ele tende a ser esquecível, não te marca, nem te emociona.
Só para dar um exemplo pessoal: eu amo Okami, e sei o quanto ele também “inspira-se” em Zelda. Mas ele faz isso com estilo e personalidade muito próprios. Tem muito carisma, ótimos personagens e um mundo denso, cheio de segredos e mistérios. E, além de uma arte surrealmenter bela, ele também agrega algo novo á fórmula; o Celestial Brush e seus poderes “artísticos”.
Claro que essa percepção varia muito de acordo da “bagagem” do jogador, e talvez Oceahorn 2 seja um jogo incrível para você. Para mim, ele só foi genérico. Isso não quer dizer que ele é ruim, eu só não vou me lembrar dele daqui a uns meses. O pessoal da Cornfox & Bros tem talento de sobra, mas talvez devesse se aperfeiçoar em criar mais e “copiar” menos.
Oceanhorn 2 está disponível para iPhone e Nintendo Switch. O game possui menus e legendas em português brasileiro.