Análise Arkade – Paper Mario: The Origami King é uma grande aventura (com combates chatos)

8 de agosto de 2020
Análise Arkade - Paper Mario: The Origami King é uma grande aventura (com combates chatos)

Paper Mario é uma série curiosa. Ela nasceu como um RPG — produzido por uma das maiores experts do assunto, a SquareEnix –, mas aos poucos foi se afastando do gênero, sempre optando por um tom mais leve, mais family-friendly.

Apesar dessa mudança de approach, os jogos sempre mantiveram algo intrínseco dos jogos de RPG: o combate por turnos. Paper Mario: The Origami King segue esta mesma receita, ou seja, não é realmente um RPG, mas mantém as batalhas por turnos. Ok, mas ele é um bom jogo? Vamos descobrir!

O Rei Origami

Paper Mario: The Origami King se passa no bom e velho Reino do Cogumelo, mas ele está um pouco diferente do que conhecemos. os irmãos Mario e Luigi foram convidados pela Princesa Peach para prestigiar um Festival de Origami que está rolando perto de seu castelo, mas ao chegar lá, eles percebem que alguma coisa está errada.

Análise Arkade - Paper Mario: The Origami King é uma grande aventura (com combates chatos)

Enquanto Mario, Luigi e alguns coadjuvantes de luxo continuam planos como folhas de papel, outras criaturas estão “dobradas” em estilo origami. Isso inclui Goombas, Shy Guys, alguns Toads… e a própria Princesa Peach, que é quase assustadora em sua versão origami, com olhos vazios e uma vibe meio zumbificada.

Logo descobrimos que tudo isso é um plano maquiavélico do Rei Olly, o tal Origami King, que planeja “origamizar” todo o mundo. Após resgatar Bowser e uma fadinha tagarela — Olivia, que é irmã do Rei OllyMario vê todo o castelo ser “raptado” em meio a fitas coloridas, e levado para o alto de uma montanha. Se quiser salvar Peach e todo o Reino, ele precisa dar um jeito de chegar lá.

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A história do jogo é simples, mas divertida, e tem aquele charme Nintendo que todo mundo gosta, com diálogos engraçadinhos e situações tão bobinhas quanto fofas. É um jogo do Super Mario, afinal de contas, e ainda que ele não fale, a fadinha Olivia é boa (até demais) em ser a voz que leva a história para frente — sério, ela fala muito.

A exploração

No que diz respeito à exploração, Paper Mario: The Origami King é um jogo bastante simples. No ~papel~ do Mario (sacou?), vamos passar por diversos cenários e dungeons, resgatando centenas de Toads, remendando partes rasgadas do cenário — usando um saquinho de confetes que podem ser coletados pelo mundo — e cortando as fitas coloridas que aprisionam o castelo.

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Os cenários são super variados e coloridos: vamos passar por florestas, desertos, templos, cidades e planícies congeladas. Chegar até o castelo envolve ajudar diversas outras criaturas espalhadas pelo mundo, bem como conhecer criaturas elementais — os Vellumentals — que emprestarão seu poderes para Olivia. Ocasionalmente o jogo até brinca de mundo aberto, mas no geral o ritmo da aventura é majoritariamente linear.

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Um detalhe interessante é que certos selos mágicos concedem habilidades únicas para o Mario. O selo “1000-Fold Arms“, por exemplo, transforma os braços do Mario em grandes fitas dobradas (imagem acima), que ele pode usar para mover certos objetos, bater em inimigos e interagir com elementos do cenário.

O combate

Os combates aqui são por turnos, com um toque de puzzle… e, sinto dizer, correspondem à parte mais chatinha do jogo. Felizmente, é possível (tentar) evitar boa parte dos combates, e como aqui não há pontos de experiência, nem nada do tipo, foi o que eu fiz na maior parte do tempo, depois que as batalhas me encheram o saco.

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Nas batalhas comuns, Mario fica no centro da arena

Para entrar em uma batalha, basta tocar (ou ser tocado) por um inimigo durante a exploração. Em batalhas comuns, Mario fica no centro de uma arena circular, e possui dois ataques básicos: um que acerta em linha (pular na cabeça de até 4 inimigos), outro que acerta em área (uma marretada que atinge 4 inimigos dispostos em um quadrado, dois na frente, dois atrás) de até 2 inimigos.

Claro que os inimigos não ficam automaticamente em linha, esperando para apanhar: eles se espalham de maneira desordenada, e aí entra o lado puzzle das batalhas (que eu achei pentelho): para causar mais dano, você deve “alinhar” os inimigos, girando as partes da arena.

Acho que é mais fácil demonstrar na prática como isso funciona, né? Dá o play aí embaixo:

Nos chefes, a situação se inverte: eles ficam no meio da arena, e a gente precisa se mover pelo círculo, organizando setas direcionais para avançar pelos quadrantes e alinhar Mario com ícones de ação que lhe permitam atacar. Acho que essas batalhas são ainda mais chatas do que as comuns, e se alongam por vários minutos, uma vez que é difícil você conseguir realizar mais de 2 ataques em um único turno.

O jogo também tem QTEs que aumentam o dano dos seus golpes — basicamente aperte o botão na hora certa — e diferentes tipos de botas e marretas, que possuem propriedades específicas: você precisa de uma bota de aço para pular sobre inimigos que têm espinhos, por exemplo. Estes equipamentos mais fortes devem ser equipados e se desgastam conforme o uso. Também é possível utilizar itens, como a boa e velha flor de fogo.

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Já nos chefes, ele fica na borda e precisa chegar até o centro

Nas primeiras horas de jogo, você até se diverte com essas mecânicas de puzzle… mas elas prolongam demais os combates, e são muito repetitivas. E o pior: esbarrar em um inimigo abre uma batalha contra uns 8 (ou mais) deles, não apenas um — e ainda há as “wave battles”, que trazem mais de uma horda de inimigos para serem vencidos. Mesmo os inimigos mais comuns rendem batalhas que podem durar vários minutos, o que é bem chato.

Então, ainda que eu respeite a criatividade envolvida na concepção do sistema de batalhas do jogo, não consegui gostar delas por serem longas e repetitivas demais. Considerando que este é um jogo com mais de 20 horas de duração, o excesso de batalhas invariavelmente se torna um problema, especialmente pela falta de uma recompensa que justifique o esforço.

O poder do capitalismo

Como assim “falta de recompensa”? Lembra que eu te falei que não há pontos de experiência aqui? Pois é. O que a gente ganha nas batalhas são moedas… mas isso a gente também ganha fazendo praticamente qualquer outra coisa no jogo, então não é lá muito recompensador encarar um monte de confrontos maçantes só para ganhar um punhado de moedas, sendo que há moedas dando sopa por todos os cantos.

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Aí entra um detalhe interessante: conforme você resgata Toads, eles vão formando uma torcida, para assistir suas batalhas e lhe incentivar. E eles podem “subornados” para te ajudarem nas batalhas. Sim, há um botão apenas para atirar moedas aos Toads, que, em troca, irão deixar os inimigos parcialmente alinhados, além de lhes causar algum dano. Os Toads podem até jogar itens de cura para o Mario, o que faz esse suborno valer ainda mais a pena. Ao subornar os Toads, você perde o bônus por completar o puzzle ao fim da batalha… mas né, o bônus são apenas mais moedas, então…

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Aqui vemos os Toads sendo subornados

Todos esses puzzles de alinhar inimigos ou planejar a rota até um chefe têm um tempo cronometrado para serem cumpridos… mas não se desespere, pois também há um botão que permite ao jogador transformar moedas em tempo extra neste cronômetro! Sem zoeira, o jogo está o tempo incentivando o jogador a usar o “poder do capitalismo” — moedas — para ajudar a resolver problemas.

Sem pontos de experiência ou recompensas melhores do que (mais) moedas — que, lembrando, você ganha a rodo por fazer diversas outras coisas –, a pentelhice das batalhas me parece obtusa, desnecessária. Engraçado como o elemento mais característico dos RPGs que foi mantido aqui (as batalhas por turnos), conseguiu ser estragado por um mix de mecânicas chatas + falta de recompensas.

Audiovisual

Aqui, não há do que reclamar: Paper Mario: The Origami King é um jogo lindíssimo, com uma trilha sonora incrível e um mundo que esbanja carisma.

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As releituras de personagens famosos em suas versões “origamizadas” são muito criativas, e o jogo ainda vai além, introduzindo grandes inimigos feitos de papel machê e outras novidades. Tudo é apresentado com o capricho extremo que é típico dos exclusivos da Nintendo, e ver ela transformar itens ordinários — como uma caixa de lápis de cor, ou um rolo de fita adesiva — em chefes é algo que deixa claro como houve carinho na concepção deste universo. Há até números musicais no jogo, e todos eles são incríveis.

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O que ela ainda não aprendeu a caprichar é na localização: Paper Mario: The Origami King é mais um exclusivo do Switch que chega sem qualquer tipo de tradução, então prepare-se para encarar toneladas de diálogos e menus em inglês. Há ótimas piadinhas e comentários espirituosos sendo feitos o tempo todo, mas a barreira do idioma precisa ser vencida por quem planeja realmente aproveitar tudo isso.

Conclusão

Paper Mario: The Origami King é uma mistura inconstante: ele não é nem jogo de plataforma, nem RPG, ficando num meio termo um tanto confuso entre os dois gêneros, e sem representar nenhum deles muito bem.

Análise Arkade - Paper Mario: The Origami King é uma grande aventura (com combates chatos)

uma jornada interessante e uma história super bonitinha sendo desenvolvida — e ela se passa em um mundo lindo e carismático que dá gosto de explorar… mas esse mundo também é cheio de batalhas mecanicamente chatas, longas e que não dão recompensas dignas ao jogador.

Não é de hoje que a série Paper Mario não sabe bem o que quer ser, e ainda não foi desta vez que a franquia encontrou sua identidade. Este passeio pelo Reino do Cogumelo “origamizado” aquece o coração da gente com sua fofura… mas também testa nossa paciência com seus combates.

Paper Mario: The Origami King está disponível exclusivamente para o Nintendo Switch. O jogo está 100% em inglês.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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