Análise Arkade: Rustler, o “GTA medieval” cheio de humor e boas referências

18 de setembro de 2021
Análise Arkade: Rustler, o "GTA medieval" cheio de humor e boas referências

A franquia GTA foi ficando mais cinematográfica com o tempo, mas seus primórdios foram bem mais modestos: com visão de cima e muito menos verba, a fórmula era meio que a mesma e as polêmicas já estavam lá, mas sem todo o glamour que veio a partir do terceiro jogo.

Pensando em resgatar esse “GTA moleque” com visão de cima — dentro de um contexto histórico bem menos atual, mas igualmente interessante –, chega Rustler, da Jutsu Games. As comparações são inevitáveis, uma vez que o jogo é divulgado sem rodeios como um “GTA Medieval”.

Um cara sem nome

O protagonista de Rustler chama-se Guy (que é, literalmente “cara” em inglês), um sujeito beberrão e sem grandes ambições na vida que só quer saber de farra. Porém, quando surge a oportunidade de participar de um Grande Torneio que pode lhe render a mão da princesa e as graças do Rei, ele decide arrumar um dinheiro para participar.

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A abertura em live action do jogo é maravilhosa, assista aqui

Esta é, digamos, o fio condutor da campanha de Rustler. Para conseguir entrar no tal Torneio, nosso amigo Guy vai precisar de grana. Para isso, ele começa a fazer uns servicinhos aqui e ali — as missões secundárias do jogo –, depois resolve testar suas habilidades em um Clube da Luta, e por aí vai.

Não espere uma grande história: Rustler quer saber de bagunça, não de narrativa. Esse é aquele tipo de jogo que preza pela narrativa emergente, ou seja, você faz a sua história, seus momentos épicos. Como falei no início, ele puxa mais do GTA das antigas, que era menos cinematográfico, mas tão caótico quanto os jogos atuais da série.

Fora da lei medieval

Rustler é um jogo de mundo aberto com um mapa relativamente grande para explorarmos. Somos livres para fazer basicamente qualquer coisa, mas, como em GTA, nossas ações têm consequências: se você simplesmente “tocar o terror” pelo reino, vai acabar sendo perseguido pela polícia.

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O gameplay é simples e intuitivo: a movimentação é livre, e podemos rolar, correr, interagir com elementos do cenário e, claro, golpear. É possível sair na mão com praticamente qualquer NPC do jogo, mas para encarar a polícia ou as missões mais cabeludas, o ideal é juntar um bom arsenal — há lanças, espadas, machados, escudos e bestas à disposição. Na hora da porrada, miramos com o analógico direito, em um esquema meio twin stick shooter, e devemos cuidar com a barra de stamina, que é consumida quando atacamos, corremos ou esquivamos.

Como na vida real, ganhar dinheiro é um de nossos principais objetivos em Rustler. Felizmente, há diversos NPCs espalhados pelo mapa que irão nos pedir coisas em troca de pagamento. E é uma galera super eclética: um padre, um coveiro, um açougueiro, e por aí vai. Claro que todos são figuras com uma moral um tanto… questionável — o que rende missões tão divertidas quanto malucas.

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Confira abaixo uma das missões para o coveiro, onde devemos nos vestir de morte para assustar uma galera na praia:

A vida de “fora da lei medieval” é até bem movimentada: vamos roubar cavalos e barris de vinho, conseguir carne para o recheio de tortas (?!) e corpos para o cemitério, queimar uma suposta bruxa, escavar um suposto tesouro, angariar fieis para uma igreja, disputar corridas de cavalo… tanto as missões principais quanto as secundárias têm objetivos absurdos, sempre mantendo o nível de zoeira do jogo em alta.

Conforme exploramos e cumprimos missões, podemos melhorar os atributos de Guy — trocamos ferraduras por upgrades e novas habilidades –, bem como comprar roupas e armas para ele. Também é possível investir em imóveis, que vão nos render determinada quantia de ouro ou algum outro benefício com o passar do tempo.

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O loop de gameplay segue aquele estilo GTA: passeie pelo reino, cause um pouco de confusão, fuja da polícia, cumpra uma missão, e por aí vai. Veja abaixo a missão do Clube da Luta — bote um reparo especial na tela de “missão cumprida”, super chupinhada de GTA, com musiquinha e tudo:

Despistar a polícia dá um bocado de trabalho, mas, como estamos na era medieval, podemos simplesmente arrancar os pôsteres de “Procurado” espalhados pela cidade para diminuirmos a força policial em nossa cola.

Aliás, falando em escapar da polícia, aqui vai mais uma sacada divertida de Rustler: se em GTA podemos mudar a cor de um carro para despistar os tiras, aqui temos as oficinas “Pimp A Horse”, que literalmente mudam a cor do cavalo que estamos montando!

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Um jogo que não se leva a sério

Eu já falei em várias oportunidades como eu gosto de jogos que sabem rir de si mesmos, e não se levam a sério. E Rustler é um desses jogos. Bebendo na fonte de clássicos do humor nonsense como Monty Python, esse é um jogo que abusa do humor referencial, e usa isso para apresentar uma releitura bastante divertida dos tempos medievais.

Ele tem piadas que literalmente foram tiradas de Monty Python (o cavaleiro desmembrado dá as caras por aqui) , mas o que eu achei mais legal no jogo é como ele atualiza certos conceitos. Por exemplo, os bardos do jogo podem simplesmente tocar violão, como é de se esperar… mas eles também podem fazer beatbox!

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As tiradas inesperadas são a melhor coisa do jogo, e arrancam risadas quando a gente menos espera. Por exemplo, os cavalos da polícia realmente têm as tradicionais luzes vermelhas e azuis. O FBI aqui é o Federal Bureau of Inquisition (Departamento Federal de Inquisição), um grupo de radicais religiosos que está sempre caçando hereges e pecadores.

Tem uns detalhes bobos que são super engraçados. Há placas de trânsito e estacionamentos para cavalos nas áreas urbanas. Quando você dá ré com uma carroça ou carruagem, ela faz aquele “pi… pi… pi” como se fosse um caminhão manobrando.

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Repare no ‘semáforo” rústico XD

E não para por aí: as conquistas/troféus fazem alusão a bandas e músicas famosas. É possível arremessar vacas em catapultas. E, claro, há um dose de humor escatológico: temos um botão só para arrotar e peidar no jogo, e uma das “armas” que podemos atirar nos adversários é bost* de cavalo.

Audiovisual

Rustler não vai ganhar nenhum prêmio de jogo mais bonito do ano, mas ele é bem resolvido, artisticamente falando. Nunca vemos os personagens de perto, mas nos diálogos, o visual de seus avatares é muito bacana, com um traço de história em quadrinhos que cai bem no jogo.

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Os personagens tem vozes, mas não falam de verdade: ouvimos apenas resmungos, naquele estilo meio Katamari ou Okami. A trilha sonora é bastante incidental, mas ganha força nas missões principais para coroar perseguições e outros momentos intensos.

Embora o jogo esteja disponível para diversas plataformas, a versão que testei foi a de PS5. Ela não faz feio, mas o jogo tem muitos probleminhas pentelhos de colisão e uma inteligência artificial um tanto burra.

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É meio normal seu cavalo ficar preso em uma cerca de madeira ordinária, ou você acabar enroscado entre as lápides do cemitério. Além disso, faltam recursos simples de qualidade de vida, como a possibilidade de colocar pins no mapa, ou mesmo uma interface mais bonitinha para a tela de upgrades.

Conclusão

Rustler tem lá seus problemas, mas cumpre muito bem a proposta de ser um “GTA Medieval”, que rende umas boas horas de diversão descompromissada pra maiores — afinal, como em GTA, aqui temos violência e muitos palavrões, todos devidamente localizados para o nosso idioma.

Existem jogos que se inspiram em GTA para criar algo novo — caso do excelente Sleeping Dogs, por exemplo. Rustler não é assim: ele segue uma vibe mais Saints Row, está mais preocupado em parodiar o gênero do que em ser inovador ou disruptivo.

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E não há nada de errado nisso. Falta um pouco de polimento aqui e ali, mas, no geral, Rustler é divertido, cheio de boas referências e com um humor nonsense que muito me agrada.

Já que a Rockstar não parece estar com muita pressa de lançar um novo GTA — pelo contrário, ela vai é lançar GTA V DE NOVO –, que venham bons jogos inspirados na franquia. Nem que seja só pela zoeira.

Rustler está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5 (versão analisada), Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch. O jogo tem menus e legendas em português brasileiro, mas a tradução dá umas escorregadas.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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