Análise Arkade: Song of Horror nos consoles é assustador, mas tem sérios problemas
Lançado originalmente em 2020 para PC, Song of Horror, da Protocol Games e da Raiser Games, chegou no fim de maio para o Playstation 4 e Xbox One. E vamos então conferir como a versão de consoles acabou se saindo!
A maldição de uma caixinha de música
Song of Horror é ambientado lá no início dos anos 90 e segue Daniel Noyer, um homem com uma vida miserável. Divorciado de sua esposa, ex-alcoólatra e que trabalha quase como faz tudo numa editora de livros. Numa tarde sexta-feira, seu chefe o liga, logo após o final do expediente e o pede para procurar o maior escritor da editora, que aparentemente desapareceu.
Totalmente contrariado, Daniel é obrigado a ir até a casa do escritor, Sebastian P. Husher, para ver se ele está lá. E nesse momento, seu maior pesadelo começa. Ao explorar a casa, ele começa a ouvir uma estranha música, vinda de algum lugar ali dentro. Até que ele é capturado por alguma entidade sombria que de alguma forma está ligada a uma caixinha de música.
E assim se inicia a história, seguindo Daniel e apresentando muitos outros personagens numa saga dividida em capítulos. Todos esses personagens, se encontrando em diferentes momentos, acabam sendo envolvidos nesse mesmo pesadelo, que envolve essa caixa de música, o escritor desaparecido e muito mais.
Mas não apenas isso, há um terrível mal perseguindo a todos, uma entidade conhecida apenas como “A Presença“, que se manifesta de diferentes formas e está literalmente caçando todos que ouviram a música da caixa e todos aqueles que direta ou indiretamente estão envolvidos com aqueles que ouviram a música. E sua missão é chegar até o fim dessa história, tentando deixar o máximo de personagens vivos no caminho.
Um game de terror muito criativo
Song of Horror é um game muito interessante, criativo e assustador. Esse é um game 100% focado em resolução de puzzles, não possuindo combate. Dividido em capítulos, cada um deles é ambientado num local único, começando com a casa de Husher e seguindo para outros locais que tem algum envolvimento com o escritor, como uma loja de antiguidades, uma universidade e etc.
Cada capítulo possui um conjunto único de personagens. Cada um possui seus próprios status e itens pessoais, que podem ser ativos ou passivos. Como por exemplo um policial que possui uma pistola, mas só a usa em momentos muito específicos, ou uma mulher que tem um walkman (lembra deles?) e escuta música nos momentos de terror. E por aí vai.
Como já dito, o game é focado puramente na resolução de puzzles, então você explorará cada área para cima e para baixo em busca de itens e documentos que expandem a história, além de fornecer informações usadas em determinados puzzles. Sendo assim, há bastante backtracking aqui.
Mas o ponto forte do game é que seu terror é baseado puramente em eventos aleatórios. Sons de passos, madeira e metal rangendo, portas batendo são um simples exemplo. Mas há muito mais, como objetos do cenário que ligam ou desligam randomicamente, e o pior evento de todos, as aparições sobrenaturais.
De repente, sem aviso algum, a sala em que você está pode ficar completamente fria ou sombras passam a voar a seu redor, te obrigando a fugir dali o quanto antes. Mas pode piorar ainda mais, pois a própria Presença pode te perseguir. A cada novo capítulo, ela ainda aprende uma nova forma de tentar te matar. E toda vez que a Presença aparece, você precisa vencer um puzzle, ou seu personagem morrerá na hora.
Diversas mãos monstruosas podem tentar abrir a porta do local em que você está, e você deverá lutar contra essa força para manter a porta fechada. Tudo a seu redor pode começar a ficar distorcido, e você será obrigado a encontrar um local para se esconder e controlar seu medo.Uma enorme massa de escuridão e mãos pode te puxar para dentro do chão, e você precisa escapar rápido. Uma criatura decrépita, porém cega, pode aparecer bem na sua frente e você deverá usar os botões de seu controle para controlar a respiração e não fazer nenhum som. Isso e muito mais.
Nenhum desses eventos são scriptados. As únicas instâncias em que um evento de terror é programado para acontecer é se estiver relacionado a um puzzle, ou se for numa cutscene. De resto, é você por conta própria realmente tentando sobreviver a tudo o que pode aparecer em sua frente. E para sobreviver o jogador precisa de inteligência e muita percepção.
Seus olhos, ouvidos e intuição são seus melhores amigas
No game, o único personagem que precisa permanecer vivo é Daniel. Se ele morrer, você precisará recomeçar o capítulo em que está do começo. Porém todos os outros personagens podem morrer. E se isso vai acontecer ou não dependerá somente de você.
O game possui muitas armadilhas bem sutis e escondidas. E por armadilhas eu digo coisas que podem matar seus personagens instantaneamente. Para que isso não aconteça você precisa prestar muita atenção a seus arredores.
Em vários momentos você encontrará situações que você não sabe o que poderá acontecer. Por exemplo, encontrar uma pia cheia de um líquido escuro, encontrar uma porta entreaberta, ver algo escondido dentro da boca de uma estátua. Nessas ocasiões você deverá decidir se fará algo ou não. E que o pode acontecer, você não vai saber até tentar.
O game possui diversas dicas de jogo em suas telas de loading. E algumas delas dizem para confiar na sua intuição e usar bem seus ouvidos. Nas situações descritas acima, você pode não fazer nada. Podendo voltar depois para arriscar novamente, se quiser. Alguns desses eventos darão itens ao jogador (que podem ou não ser necessários na história), ou matarão o personagem na hora.
Outro recurso interessante é poder ouvir através de portas. Sabe aquele negócio de filmes de terror em que há uma porta completamente suspeita na frente do personagem e mesmo assim ele abre e acaba morrendo? Bom, você pode (e deve) conferir antes de abrir qualquer porta!
Ao encostar seu ouvido, você ouvirá do outro lado. Se não ouvir nada, só barulho de vento, você está seguro para seguir. Mas qualquer barulhinho que seja que você escute do outro lado é um grande alerta de perigo. Em minha jogatina eu perdi três personagens por puro descuido. Abrindo portas sem ouvir através delas antes e interagindo com um desses eventos de tomada de decisão. Com isso, aprendi a tomar mais cuidado.
Aliás, o game possui três modos de dificuldade. No fácil, se algum personagem morrer, você pode recomeçar o capítulo com ele, assim não perdendo ninguém. No normal, se um personagem morrer, ele morre pra sempre. E no difícil é o mesmo que o normal, mas a Entidade atacará com muito mais frequência.
Audiovisual
Song of Horror possui um visual bem simplista. Seus cenários são bem construídos, com profundidade e bastante detalhes, mas seus personagens possuem visuais um tanto estranhos e com animações bem duras.
Algo bem legal e nostálgico é a câmera fixa do game, lembrando os primórdios de Resident Evil e mais até Silent Hill, com câmeras fixas, mas que acompanham o jogador em locais maiores, como corredores e áreas abertas.
Todo o game num geral é bem escuro, pois todos os seus capítulo se passam durante a noite (esse pessoal em histórias de terror precisa aprender a fazer as coisas de dia!), mas felizmente todos os personagens possuem alguma fonte de luz, seja uma lanterna, vela ou isqueiro. E o melhor de tudo é que as fontes de luz não acabam! Então não precisa se preocupar em ficar sem baterias ou combustível!
Na parte sonora o game é realmente incrível. Os efeitos sonoros possuem profundidade, parecendo mais perto ou mais distantes de forma muito eficaz. O game possui uma trilha sonora não que se faz muito presente, principalmente pois os sons ambientes são muito importantes para a criação de medo.
E as vozes dos personagens possuem altos e baixos, mesmo em inglês. Alguns personagens, como Daniel, são bem interpretados, enquanto alguns ficaram bem estranhos. De qualquer forma, nós só realmente ouvimos as vozes de personagens em cutscenes, com eles soltando apenas falas curtas, grunhidos e gritos durante o gameplay.
Infelizmente o game não conta com localização em português brasileiro, então você precisará ser bom em inglês ou espanhol para jogar.
Sérios problemas de performance
Infelizmente o game possui problemas muito sérios que comprometem totalmente a experiência. Essa review foi escrita com base na versão de Playstation 4 do game e eu não fui capaz de finalizá-lo por conta de um bug realmente péssimo.
O game conta com um recurso de autosave que salva o seu progresso toda vez que você interage com uma porta. Ou seja, sempre que você abre uma porta, seu progresso é salvo e você voltará para a sala em que estava antes de abri-la quando der load.
Porém, pelo menos no Playstation 4, o salvamento é feito utilizando o sistema de saves do console, que hoje em dia praticamente nunca se vê. Esse menu é mais familiar para os jogadores de Playstation 3, que abria um menu do próprio console para escolher um arquivo para salvar ou carregar. Dito isso, muitas vezes o autosave abria e fechava esse menu em uma fração de segundo e muitas vezes isso travava o meu console. Chegando até mesmo a desligá-lo por completo.
E não, meu console não possui defeito, pois esse bug não acontece com nenhum outro game, somente em Song of Horror. E esse problema era constante, as vezes chegava a acontecer a cada meia hora de jogatina, o que era muito frustrante.
Mas o pior aconteceu quando eu estava no capítulo 4, provavelmente já perto do final do game. Num desses salvamentos automáticos algo aconteceu e meu save foi corrompido. E ao sair para o menu principal, meu save simplesmente desapareceu. Com isso, todo o meu progresso foi perdido e não fui capaz de terminar Song of Horror.
Eu poderia ter feito backup do save? É claro que poderia. Mas perda de save é um erro que jamais deveria ser esperado. Perder um save pq a luz acabou e o console desligou no meio de um autosave eu entendo (e já me ocorreu), mas não por causa de um glitch.
Talvez esse tenha sido um caso isolado apenas comigo, e honestamente o melhor é que realmente tenha sido isso. Mas se você for jogar esse game nos consoles, fique ligado para não passar pelo mesmo terrível problema que eu passei.
Conclusão
Song of Horror é um game que já possui uma base de fãs sólida e foi bem sucedido em seu lançamento nos PCs, sendo uma game bem popular e uma experiência de terror muito boa, com uma ótima história, muitos sustos e uma aventura bem envolvente.
Mas nos consoles, pelo menos na versão de Playstation 4, há problemas sérios que precisam de correção. Sendo problemas que comprometem a experiência geral que eu tive, apagando todo o meu progresso perto do fim.
Apesar disso, esse é um game de terror muito competente, que assusta, tem uma atmosfera bem tensa e consegue surpreender com seus puzzles bom pensados e complexos, além de seus eventos aleatórios que sempre me pegavam de surpresa.
Song of Horror foi lançado no dia 28 de maio no Playstation 4 e Xbox One. Também estando disponível para PCs.