Análise Arkade: Song of Iron, um intensa jornada nórdica produzida por um homem só
No cenário indie, já é quase normal vermos games desenvolvidos por apenas uma pessoa. Alguns fizeram imenso sucesso, como Undertale, Axiom Verge e Iconoclasts. Song of Iron é mais um indie game todo produzido por um cara só — Joe Winter –, e agora você vai saber o que achamos dele.
Uma história nórdica
Song of Iron nos apresenta a um guerreiro viking que viu seu vilarejo ser invadido e sua esposa ser assassinada. Em seus últimos momentos de vida, ela dá a ele um colar, que pode representar a salvação de seu povo.
Porém, se quiser ter alguma chance contra os invasores, nosso protagonista sem nome terá que encarar uma dura viagem até a Morada dos Deuses — contando inclusive com uma ajudinha deles.
Determinado e implacável, o guerreiro vai ter que escalar montanhas, desbravar cavernas, pântanos e florestas, enquanto lida com armadilhas, inimigos e muitos outros perigos. “O homem, o monstro e a própria natureza tentarão impedi-lo”, diz o release do game, e isso não é um exagero.
Song of Iron não traz uma narrativa super elaborada. Seguindo a linha de jogos como Inside e Little Nightmares, temos aqui mais um pretexto, uma motivação, do que uma história propriamente dita. O foco aqui está na jornada.
Jornada Implacável
Song of Iron é um jogo de progressão lateral com visual 2.5D e grande ênfase nos combates, que podem ser contra humanos, orcs ou mesmo ursos e outras feras. Há muito “peso” em Song of Iron: os movimentos são lentos, pesados e brutos, talvez para evidenciar o esforço quase sobre-humano do protagonista.
Apesar disso, Song of Iron é um jogo ligado no 220V. Quase não existem pausas, momentos de respiro. O loop de gameplay envolve correr (geralmente para a direita), ocasionalmente escalando alguns obstáculos, mergulhando ou arrastando caixas para alcançar um lugar mais elevado. Invariavelmente, encontramos um grupo de inimigos e temos que sair na porrada com eles. Batalha vencida, seguimos em frente. Incansáveis. Irrefreáveis.
Confira abaixo um trecho bem típico de Song of Iron, envolvendo um pouco de correria e um pouco de porrada:
Nas áreas abertas, o jogo se resume a seguir em frente, topando com acampamentos e grupos de inimigos aqui e ali. Em cavernas e templos, a exploração ganha alguma verticalidade, e há inclusive pêndulos, pedras rolantes e outras armadilhas, e dão ao jogo uma vibe meio Prince of Persia (o clássico, de 1989).
Embora seja bastante linear, a curiosidade pode levar o jogador até áreas secretas que expandem as possibilidades de exploração. Por exemplo: ali pela metade da campanha eu matei o Rei dos Orcs e isso me rendeu uma conquista rara. Isso me leva a crer que é possível passar por aquela área sem matá-lo — de fato, eu fui topar com ele em um caminho secundário.
Então, não se engane: Song of Iron definitivamente não é um MetroidVania, e sua estrutura é muito linear. Porém, ocasionalmente podemos sair dessa “linha reta” e encontrar alguns segredos.
Combate brutal
Há muitos perigos no mundo de Song of Iron. Felizmente, nosso protagonista é bom de briga. Ele não carrega uma arma própria, mas pode se valer de escudos, espadas, lanças, machados e outras armas deixados pelos adversários caídos. Aliás, os escudos se quebram, então esteja sempre trocando o seu por um “novo”.
Um recurso muito útil é arremessar a arma nos inimigos. isso costuma matar mesmo os inimigos mais blindados. Porém, isso aqui não é God of War: se você tacar seu machado em um inimigo, ele vai ficar preso no crânio do cadáver, e não vai voltar para a sua mão feito um bumerangue. Ainda que o protagonista se garanta com os punhos, os inimigos estão sempre estão bem equipados, então “ir na mão” nunca é a melhor estratégia.
O combate é lento, cadenciado e brutal. Há um medidor de stamina, que é consumido quando corremos, atacamos ou nos esquivamos, então não basta martelar o botão de ataque, afinal, este não é um hack ‘n slash. Há um elemento tático em cada confronto: é preciso saber quando recuar, usar o arco, abrir a defesa do inimigos. Ser cauteloso é fundamental, pois os adversários são ferozes e a morte chega rápido.
Confira abaixo meu breve duelo com um chefe. Repare que ele quebra meu machado ali pelo meio do confronto, me obrigando a apelar para o arco e flecha:
Conforme avançamos na jornada, vamos descolar alguns “favores” dos deuses. É possível, por exemplo, atear fogo em nossa arma, ou deixá-la eletrificada. Isso é útil não só nos combates, como também para abrir caminho, pois há portas seladas que só se abrem mediante certas condições.
Na prática, o jogo se resume a isso. É meio que uma mistura da correria de Inside com um combate que não é exatamente Souls-like, mas bebe um pouco dessa fonte — especialmente pelo peso dos movimentos e pela importância da esquiva.
Audiovisual
Song of Iron é o tipo de jogo que fica lindo nas screenshots, mas quando vemos ele em movimento, sua “crueza” pode acabar incomodando. Digo isso porque os cenários são bonitos, com ótimo uso de parallax para conceder profundidade aos ambientes e belos reflexos e efeitos de iluminação… mas a movimentação é um tanto dura e desajeitada.
O peso dos combates não é totalmente proposital: as animações são meio truncadas, e há muitos erros de colisão. Não me entenda mal: tudo funciona, mas nada é fluído, responsivo, “gostoso de jogar”. Song of Iron não é mal feito, mas precisava ficar mais algum tempo no forno para receber um polimento.
Digo isso até pela duração do jogo: se você souber o que está fazendo e não ficar “travado” em alguma parte, a campanha não chega a durar três horas. São três horas bastante intensas, mas também muito formulaicas: é correria, combate… e só.
No departamento sonoro, o jogo é bem resolvido: a trilha sonora é minimalista em alguns momentos, épica em outros. Os sons de batalha e do ambiente também cumprem seu papel. Não há muitas vozes aqui, mas os gritos de batalha também são bons. Ah e o jogo tem menus e legendas em português brasileiro (com alguns errinhos, mas nada que chegue a atrapalhar).
Conclusão
Song of Iron é um jogo relativamente audacioso, se considerarmos que foi produzido por apenas uma pessoa. Tal qual o protagonista, nosso amigo Joe Winter sem dúvida foi incansável para desenvolver tudo sozinho e, no geral, eu diria que ele deve ficar orgulhoso, pois alcançou um resultado bastante decente.
Infelizmente, porém, a falta de polimento é perceptível e constante. O jogo como um todo parece algo “mal acabado”, que precisava de um pouco mais de capricho. Fazendo uma analogia ruim, ele não traz o corte preciso de uma lâmina polida e bem afiada, mas a pancada dura de um machado cego.
Apesar disso, é um esforço louvável, breve e visceral, que deve ser especialmente aproveitado pelos “tupinivikings” que se identificam com a cultura e a mitologia nórdica.
Song of Iron foi lançado em 31 de agosto, e está disponível para PC, Xbox One e Xbox Series X|S (versão analisada).