Análise Arkade: This Land is My Land tem furtividade e estratégia no mundo indígena

28 de outubro de 2021
Análise Arkade: This Land is My Land tem furtividade e estratégia no mundo indígena

Em acesso antecipado desde 2019, This Land is My Land é um projeto independente da Game-Labs que traz ideias bem interessantes. O jogo, que tem estética semelhante à franquia Red Dead Redemption, nos coloca na pele dos índios norte-americanos durante a expansão para o oeste. A temática em si não é necessariamente original, mas algumas de suas mecânicas com certeza o são.

Com um sistema de stealth que lembra vagamente um certo credo de assassinos, mecânicas de sobrevivência básica e uma boa dose de estratégia em tempo real, This Land is My Land surpreende em vários aspectos. Infelizmente, o jogo também apresenta alguns deslizes e pontos inacabados que mancham a experiência. Saiba mais em nossa análise completa.

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A resistência contra o homem branco

O enredo de This Land is My Land nos coloca na pele de um guerreiro nativo norte-americano, preso durante a invasão e consequente expansão para o oeste. Liberto após uma fuga, precisamos unir nosso povo que está espalhado por um vasto território, a fim de estabelecer uma resistência contra a invasão do homem branco.

O jogo estabelece algumas histórias no decorrer da jogatina, mas elas são bem pano de fundo pra justificar a jogatina de sobrevivência e furtividade. No fim das contas, temos em mãos um bom jogo de survival com mecânicas stealth e de estratégia, mas não procure-o pensando em uma história envolvente.

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A introdução do jogo é bastante imersiva, fazendo você criar seu índio através de uma conversa.

O interessante do enredo é que estamos, em This Land is My Land, completamente imersos na perspectiva indígena. Assim, assentamentos, madeireiras, fortes e outros elementos que em outros jogos seriam amistosos, aqui são os locais mais hostis. Por sua vez, grandes vastidões de natureza se tornam bem mais aconchegantes. Essa inversão é interessante de ser sentida durante a jogatina.

Mas talvez o elemento que mais chame a atenção nessa “imersão indireta” seja a coleta de recursos. Isso porque os insumos de que precisamos não ficam sinalizados no mapa nem tem nenhum indicativo na tela. Nós acabamos treinando nosso olhar para perceber certas plantas, flores, fungos e arbustos passíveis de serem coletados. Mas aqui não teremos ferramentas para cortas árvores ou fazer mineração pesada. Somos índios lutando pela nossa terra.

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A vegetação densa agrada bastante, principalmente pelo realismo.

Um mundo exuberante a ser reconquistado

À primeira vista, uma das coisas que mais chama a atenção em This Land is My Land é o seu mapa. Toda a jogatina acontece num grande mapa de mundo aberto localizado no meio oeste norte-americano, com desertos, descampados, montanhas e bosques. A vegetação é bem viva e cheia de movimento, o que torna a experiência de jogo algo intermediário entre o primeiro e o segundo Red Dead Redemption.

A vida selvagem presente no game agrada igualmente. O comportamento dos animais nem de longe se iguala ao memorável game de faroeste da Rockstar, mas agrada mesmo assim. São várias manadas de búfalos, grupos de javalis, alcateias de lobos e bandos de cervos por território adentro, além de alguns animais menores como coelhos e pássaros.

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Toda essa fauna e flora rica concedem uma imersão interessante ao jogo. Principalmente por termos uma grande quantidade de coletáveis nos dois escopos de formas de vida. Infelizmente, a interação com essas coletas não é nada imersiva, o que quebra um pouco o clima com o mundo do jogo. Mas é algo que pode muito bem ser ajustado futuramente.

Fora isso, outro ajusto neces´sario é em relação às mudanças climáticas do game. Os efeitos em si são muito agradáveis, com chuvas bastante realistas e efeitos de partículas e névoa criando cenários bem deslumbrantes. Entretanto, a mudança climática é repentina demais, com chuvas despencando “do nada” e podendo sumir de repente com apenas dois passos.

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Furtividade limitada, mas divertida

É bem difícil jogar This Land is My Land e não lembrar em alguns momentos da franquia Assassin’s Creed. Seja pela escolha de alguns ícones do jogo ou até pelas mecânicas de furtividade, me veio várias vezes a lembrança de Assassin’s Creed III, por exemplo. Entretanto, infelizmente, temos algumas limitações no survival indígena que deixam ele bem abaixo dos padrões da franquia da Ubisoft.

O básico da furtividade está aqui: andamos agachados para fazer menos barulho, atacamos inimigos por trás para imobilizá-los ou matá-los com um golpe. Além disso, podemos nos esconder atrás de objetos ou dentro de moitas, e existe um medidor do nível de percepção do inimigo frente à nossa presença. Entretanto, as possibilidades de jogatina param por aí.

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A furtividade funciona bem, mas podia ser melhor trabalhada.

Talvez a mecânica que se mostra mais necessária (e que, infelizmente, não existe no jogo) seja o pulo/escalada. Talvez por já estar acostumado com o parkour de outros jogos furtivos, senti muita falta de subir em árvores ou construções e atacar por cima em This Land is My Land. Além de não podermos passar por baixo de objetos como carroças por exemplo, embora possamos usar pás para cavar por baixo de cercas. A qualidade da furtividade no jogo, no geral, é bem inconstante.

Felizmente, por ser inconstante, possui pontos altos também. Conseguir se pendurar ao lado do seu cavalo para andar furtivamente mesmo montado nele é um adendo interessante. Além disso, a possibilidade de desmaiar, assustar ou interrogar inimigos ao invés de matá-los também rende algumas possibilidades extras de jogatina. Porém, o resultado final ainda soa um tanto incompleto e cru, mesmo sendo divertido.

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Alguns inimigos terão informações valiosas a oferecer em troca da própria vida.

Mecânicas de sobrevivência de primeira

This Land is My Land apresenta como espinha dorsal do seu gameplay suas mecânicas de sobrevivência. Seja uma sobrevivência mais individual, no modo de jogo chamado Survival, seja na sobrevivência da tribo como um todo no modo Clássico. Nesses diferentes modos de jogo, você terá preocupações ligadas à clássica coleta de recursos e sistema de crafting de diversos itens.

O interessante dessas mecânicas em This Land is My Land é o fator comunitário que o jogo possui. Este não é um jogo multiplayer propriamente dito. A desenvolvedora se mostra firme no posicionamento quando jogadores questionam sobre a possibilidade de jogar com amigos: o multiplayer aqui é simplesmente um sistema de troca e comércio de recursos. Cada jogador está em seu próprio território e não possui nenhuma forma de interação direta com outro jogador além do chat.

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Você pode encontrar acampamentos destruídos, que garantem itens grátis e um pouco de ódio extra contra os invasores.

Entretanto, o game nos dá a possibilidade de recrutar índios aprisionados, fechar alianças com acampamentos menores e assim crescer cada vez mais nosso assentamento. Essa mecânica não se resume a firmar alianças: também podemos dar ordens e equipar individualmente cada um dos guerreiros indígenas que se juntam à nossa causa.

Desse modo, o que começa com um único índio coletando gravetos para fazer um arco, se transforma num serviço comunitário de grande escala, passando a incluir grupos de coleta, guerreiros indígenas que podem fazer patrulhas junto com você, executar ataques coordenados e ajudar na dominância de territórios. Essa mecânica talvez seja a mais criativa e interessante de todo o jogo, além de servir como uma das partes mais importantes da jogatina.

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Montar suas tropas de índio é um dos pontos mais interessantes da jogatina.

Combates divertidos, mas repetitivos

This Land is My Land tem um início lento. Mas no decorrer das dezenas de horas de jogatina, você começa a entender o real objetivo do jogo. Fortalecer sua tribo, ao mesmo tempo em que coleta pontos de experiência para as habilidades do seu índio e coletar/administrar recursos para todos (incluindo armas, comida e munição). Tudo para garantir a expansão do seu próprio território frente à expansão dos forasteiros.

Tudo isso, claro, tem como ápice os combates. Estes, tanto diretos quanto furtivos, possuem seu quê de diversão. Principalmente porque há um fator estratégico envolvido: encarar um acampamento madeireiro recheado de homens armados durante o dia, de peito aberto, pode aumentar drasticamente o desafio e se mostrar uma tarefa quase impossível. Entretanto, se você chamar aliados e preparar um ataque furtivo durante a noite, pode garantir o sucesso da missão.

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Entretanto, seja de um jeito ou de outro, os combates são bastante simplórios e tendem a se mostrar repetitivos com o passar do tempo. Isso porque, mesmo que tenhamos uma grande variedade de armas, munições e estratégias de combate, os inimigos em si não pedem tanta variedade assim. Demora bastante para realmente termos acesso a alguns assentamentos mais elaborados, com homens melhor armados e estruturas que dificultam a invasão.

No geral, temos fazendas, casas, madeireiras, fortes e outras construções que tem por dificuldade basicamente a quantidade de homens a serem subjugados/mortos. A inteligência artificial é bem mediana: os inimigos até se escondem e fogem das nossas , mas também apresentam comportamentos altamente previsíveis e repetitivos, que diminuem o “fator surpresa” dos confrontos.

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This Land is My Land e seus problemas técnicos

This Land is My Land estava em acesso antecipado desde 2019, tendo seu lançamento oficial se concretizado recentemente, em 20 de outubro de 2021. Tendo sido criado pelo estúdio independente Game-Labs, é de se esperar que não estamos lidando com um projeto de grande porte como o de grandes empresas. Entretanto, mesmo após dois anos de desenvolvimento aberto, ainda temos uma quantidade frustrante de bugs na sua versão “final”.

Durante as mais de 10 horas de jogatinas foram observados comportamentos problemáticos de NPCs, como por exemplo o clássico “andar agarrado em uma parede”. Os NPCs aliados não ficam longe disso também, com alguns comandos táticos não respondendo muito bem, ou um índio aliado acabar matando um de nossos cavalos simplesmente por ele não ter desviado do animal para atirar nos inimigos.

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Se ao menos nosso personagem escalasse…

Em outro momento de jogatina, utilizando a câmera em terceira pessoa enquanto assaltava uma carroça de mantimentos, acabei de um jeito muito hilário, conseguindo acertar flechas na minha própria nuca (?!). Não me pergunte como, mas virei um porco-espinho-humano e quase morri com isso, sem nem entender o que aconteceu. XD

Já no mapa, não são poucas as construções humanas fora do chão ou com ausência total de acabamento. Além disso, declives pequenos podem causar grandes quantidade de dano, e as carroças podem ficam presas em locais curiosos. Todos esses detalhes são aceitáveis em um jogo indie em construção, mas esperava-se um trato melhor em sua versão “de lançamento”.

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Difícil a vida do carroceiro…

Um jogo (ainda) em construção

This Land is My Land é um projeto incrível e com muito potencial. A ideia de colocar os jogadores na pele dos nativos norte-americanos com o intuito de resistir à invasão europeia é um acerto e tanto. Além disso, algumas mecânicas como a de coordenar suas aldeias e administrar taticamente vários índios NPC também são muito boas. Entretanto, a execução de tudo isso demonstra que o estúdio acabou dando vários passos maiores que as próprias pernas.

Mesmo já tendo sido lançado oficialmente, This Land is My Land ainda está em desenvolvimento. São muitos erros a serem corrigidos, mecânicas a serem otimizadas e problemas técnicos que devem ser melhorados. Falta polimento, falta aparar as arestas e consertar muita coisa. Considerá-lo como um jogo completo pode ser possível pelo seu conteúdo, mas visivelmente ele está longe de ser de fato uma versão final, pronta para consumo.

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Mas isso não faz do projeto um fracasso, muito pelo contrário. O pequeno porte do estúdio, combinado com sua dedicação e criatividade, podem garantir que o game venha a ter uma vida útil interessante no futuro. Afinal, outros jogos do gênero já foram lançados completamente bugados e quebrados — como Conan Exiles e Ark: Survival Evolved — e posteriormente acabaram virando grandes ícones do gênero.

Fica inclusive o questionamento do quão incrível seria um jogo como This Land is My Land, mas com tribos Tupi-Guarani na América do Sul, combatendo a invasão portuguesa às nossas terras… mas isso já é uma outra história.

This Land is My Land foi lançado oficialmente no dia 20 de outubro de 2021, para PC (via Steam) e, infelizmente, não recebeu localização para o nosso idioma. Jogamos o game em um notebook gamer com processador i5-9300, 24GB de memória, placa de vídeo GTX 1650 de 4GB e SSD de 450 GB.

Gilson Peres

Gilson Peres é Psicólogo, Mestre em Comunicação e aqui no Arkade fala principalmente sobre Realidade Virtual, jogos de PC e novas tecnologias desde 2019.

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