Análise Arkade: Ultra Age, um hack ‘n slash inspirado em Devil May Cry e Nier Automata

9 de setembro de 2021
Análise Arkade: Ultra Age, um hack 'n slash inspirado em Devil May Cry e Nier Automata

Se tem um gênero que eu adoro — mas que anda cada vez mais sumido em meio a tantos Rogue-likes e Souls-likes — é o hack ‘n slash. Existe um efeito catártico em macetar botões para fatiar inimigos com armas afiadas e combos devastadores. Ultra Age, que chega hoje, peca pela repetição, oferece uma experiência de combate muito intensa e divertida.

Hack ‘n slash futurista

Ultra Age é uma produção de dois estúdios independentes — o Visual Dart e o Next Stage — que está sendo distribuído pela publisher coreana Intragames.

Sua história de ficção científica se passa no ano 3174 (?!) e é um bocado rocambolesca e um pouco confusa: envolvendo facções distintas que se se separaram depois que a Terra tornou-se inabitável. Nosso protagonista, Age, é um jovem explorador que “cai” na Terra pós-apocalíptica e logo acaba envolvido na missão de encontrar a solução para a inevitável extinção da raça humana.

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Helvis (o robô) e Age

Embora o roteiro do game seja cheio de nomes estranhos e revelações “bombásticas”, não espere nada muito cinematográfico: há poucas cutscenes aqui, e quase tudo o que descobrimos vem por meio de conversas com nosso companheiro robótico Helvis, ou com algum dos antagonistas.

Essa não é uma maneira particularmente empolgante de contar uma história sci fi. O lado “bom” é que a história não é o foco aqui: a conversa e os termos pitorescos que aparecem aqui e ali são só pano de fundo. O que realmente importa em Ultra Age colecionar espadas para fatiar inimigos!

Colecionando (e trocando) espadas

Enquanto eu jogava Ultra Age, eu ficava o tempo todo com Devil May Cry na cabeça. Mais especificamente o excelente Devil May Cry V — e mais especificamente ainda o gameplay do Nero.

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Explicando: logo no início do jogo, Age quebra sua espada… porém, ele é capaz de “absorver” certos cristais, que se transformam em lâminas temporárias no cabo de sua arma. É uma mecânica que lembra um pouco a troca de braços biônicos do Nero em DMC V.

Existem basicamente dois tipos de inimigos em Ultra Age: os robôs e as criaturas orgânicas. O gimmick de gameplay aqui é que existem espadas que são mais eficazes contra as máquinas, e outras que causam mais estrago em monstros de carne e osso. Também existe uma ou outra arma “coringa”, que pode ser utilizada contra ambos os tipos de inimigos.

Confira abaixo um pouco de gameplay contra um punhado de robôs:

Podemos equipar quatro espadas diferentes simultaneamente — para trocar, basta usar o botão R1 — então, na hora dos combates, cabe ao jogador agilidade nos dedos para alterar entre suas espadas equipadas, a fim de causar mais dano em diferentes tipos de inimigos.

Sendo bem honesto, o jogo nem mistura tanto assim criaturas vivas e robôs, mas existe um motivo extra para você alternar entre as espadas: cada arma possui seus próprios combos e até sua própria árvore de habilidades.

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Esta é a árvore de habilidades de UMA das espadas

Ou seja, ainda que o jogo não conceda “pontos de estilo”, trocar de arma é fundamental para quem quer “jogar bonito”. E, certas armas possuem habilidades específicas, como a Lightning Blade, capaz de eletrocutar os inimigos, ou a Gunblade, que também dispara projéteis.

Mais pontos em comum com Devil May Cry V: podemos usar um arpão para puxar inimigos — ou içar Age até eles. Ah, e assim como o Nero pode explodir seus braços cibernéticos, em Ultra Age as espadas têm durabilidade limitada: quando elas estiverem prestes a quebrar, podemos “sacrificá-las” para aplicar um poderoso golpe final.

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Calma que isso não quer dize que você vai ficar desarmado no meio do combate: é possível carregar cerca de 15 lâminas de cada tipo, e o jogo é generoso nos pontos de recarga. Então, quando quebrar uma arma, é bem provável que outra já “brote” automaticamente do seu estoque.

Helvis e a viagem no tempo inútil

Nosso companheiro robótico nesta jornada é Helvis, e ele lembra um pouco os fantasmas de Destiny. O robozinho tem alguma personalidade e conversa bastante com Age ao longo do jogo. Na prática, porém, ele se mostra um grande aliado, especialmente no calor dos combates.

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Logo no início da aventura, Helvis absorve um cristal que lhe concede quatro habilidades especiais, ativadas pelas quatro direções do direcional digital. Ele pode curar o protagonista — essa é a única forma de se curar, inclusive –, coletar cristais que os inimigos dropam e ativar o Critical Rage, habilidade que deixa os ataques de Age muito mais poderosos por algum tempo.

Ele também nos permite viajar no tempo, mas a utilidade deste recurso é extremamente limitada. Funciona assim: os cristais e outros recursos que absorvemos do cenário tem um longo tempo de cooldown para serem reaproveitados.

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Os reloginhos mostram que os recursos vão se renovar em 24 horas

Apressar o tempo faz basicamente com que esse cooldown diminua, o que ajuda a acumular recursos — algo que nem é tão necessário assim, não é como se faltassem espadas no jogo. Então, o recurso de viagem no tempo acaba sendo bem inútil, e merecia ser melhor aproveitado, especialmente nos combates ou na exploração.

Audiovisual

Ultra Age tem a maior pinta de jogo “double A”: não tem o cacife de um AAA, mas também tem mais verba do que um jogo independente tradicional. E ele fica confortável nesse meio termo: a versão PS4 (rodando no PS5) flui muito bem e oferece uma jogatina ágil e fluída, sem engasgos nem quedas de framerate e com poucos loadings.

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Onde o jogo mais peca é no level design. Para “economizar”, alguém teve a ideia de fazer com que 70% da campanha se passe dentro do mesmo tipo de cenário “base inimiga genérica”. Isso faz com que a cadência do jogo seja quase a de um jogo de arena: passe por um corredor e chegue em uma sala. Uma sirene vai soar, inimigos vão surgir. Elimine todos, colete os espólios, passe por outro corredor, chegue em outra sala… repita o processo ad infinitum.

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Prepare-se para ficar de saco cheio desse tipo de “paisagem”

Entendo que esta decisão deve ter sido tomada para cortar custos, mas é fato que o jogo merecia mais cores, mais variedade de ambientes. A campanha até começa em uma selva bonita, mas o jogo vai ficando cada vez menos interessante visualmente ao longo da campanha. Há poucas áreas abertas, e mesmo quando não estamos em uma base, estamos em algo igualmente sem graça, tipo um deserto.

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O início da campanha traz os cenários mais bonitos

Há muitas “paredes invisíveis” aqui para delimitar os cenários, e este “recurso” deixa o jogo bem datado: paredes invisíveis eram “normais” até o início da geração Playstation 3, mas nos últimos anos os designers aprenderam a mascarar isso com escombros, árvores, etc. Aqui falta essa finesse.

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A área mais aberta do jogo é este deserto

Curiosamente, embora o jogo seja um pouco “tosco” em alguns aspectos, ele é até bem arrojado em outros: o trabalho de câmera é bastante elaborado e cheio de efeitos legais. De vez em quando a câmera se afasta, ou nos deixa acompanhar a ação como se o jogo fosse em 2.5D. Sabe o que Nier Automata faz? É quase a mesma coisa — ainda que nem tão bem executado.

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Um dos momentos 2.5D do jogo

O lado bom é que, mecanicamente, o jogo funciona: a jogabilidade é fluída e divertida o bastante para segurar a onda ao longo das cerca de 8 horas que Ultra Age dura. Porém, ela não mascara a falta de polimento do jogo, e a escassez de ambientes é realmente gritante. Até o personagem sabe disso: ali pelo meio do jogo, Age solta uma frase tipo “quantas bases dessas eles construíram?”. É quase metalinguístico. 😛

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Pois é…

O design dos personagens e inimigos não é realmente inspirado, mas cumpre seu papel. Age, com suas espadas enormes, parece o típico herói “edgy” de JPRG e muitos dos inimigos que enfrentamos também parecem refugos de um RPG japonês genérico — os felinos enormes com cristais nas costas parecem muito algumas versões dos Behemoths de Final Fantasy.

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A trilha sonora traz um mix de rock industrial com músicas mais ambientais, que estão ali apenas para preencher o silêncio. Nas dublagens, a voz norte americana de Age é um pouco forçada e canastrona, enquanto Helvis e os (poucos) coadjuvantes que encontramos fazem um trabalho ok. O jogo não recebeu tradução para o nosso idioma, mas salvo por uma história meia-boca e um punhado de tutoriais, quem não entende inglês não estará perdendo muita coisa.

Conclusão

Sei que enalteci muitos pontos negativos de Ultra Age, mas a verdade é que, apesar disso, me diverti bastante com o jogo. Talvez isso se deva ao fato de que há poucos hack ‘n slashes sendo lançados hoje em dia, o que faz mesmo um jogo mediano do gênero se destacar, simplesmente porque há poucas opções.

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De qualquer modo, acredito que o saldo final é positivo: a dinâmica de espadas intercambiáveis consegue manter os combates divertidos, e as interessantes mecânicas do arpão e da esquiva acrescentam um tempero tático à receita.

O fato de cada arma ter seus próprios combos e aprimoramentos deixa as batalhas mais densas do que elas aparentavam ser em uma primeira olhada — e nem falei das boss battles, ms há algumas muito boas aqui!

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Um dos destaques é esta enorme serpente robótica

Faltou polimento (e orçamento) para Ultra Age atingir seu verdadeiro potencial e poder figurar ao lado de jogos como Bayonetta e Devil May Cry. Eu diria que, dadas as suas claras limitações, Ultra Age é meio que “o primo pobre” de Devil May Cry.

Mas, seu coração sem dúvida está no lugar certo: seu gameplay é muito satisfatório, e, no fim das contas, este é um jogo sobre mecânicas, sobre reflexos rápidos e combates frenéticos. A qualidade da pancadaria ofusca (mas não esconde) todos os pequenos defeitos que o jogo tem.

Ultra Age está sendo lançado hoje (09/09), com versões para PC, Playstation 4 (versão analisada) e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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