Análise Arkade: Voice of Cards, um JRPG em um mundo feito de cartas
Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é um JRPG no qual os jogadores assumem o controle de um grupo de personagens e navegam por um mundo de fantasia realizando missões variadas.
Esta descrição poderia ser aplicada a centenas de outros jogos, mas aqui, há um porém: em Voice of Cards, tudo — as interações entre os personagens, o mapa do mundo e o sistema de batalhas — é representado por meio de cartas.
Desenvolvido pela Alim e publicado pela Square Enix para PlayStation 4/5, Nintendo Switch e PC, Voice of Cards usa a estética de um RPG de mesa para colocar o jogador no meio de uma grande aventura que envolve o reaparecimento de um dragão lendário.
A equipe criativa do jogo inclui vários veteranos das séries Drakengard e Nier, incluindo o diretor criativo Yoko Taro, o produtor executivo Yosuke Saito, o compositor Keiichi Okabe e o artista Kimihiko Fujisaka. O jogo inicialmente seria um social game para celulares, mas durante o desenvolvimento, acabou virando um título mais denso, para consoles.
História
O jogo começa com a apresentação do Game Master: tal qual em um RPG de mesa, ele é uma espécie de personagem que estará presente por todo o jogo. Ele também é o narrador que dá voz as cartas e ações durante o gameplay.
Após a apresentação do Game Master, vamos conhecer os 3 guerreiros que fazem parte da Ordem do Marfim (The Ivory Order), e estão em uma missão dada pela rainha: um dragão foi acordado de seu sono ancestral e está ameaçando a vida de todos no reino. A rainha reuniu vários heróis, mercenários e caçadores de recompensas para enfrentar a fera, oferecendo em troca uma bela recompensa.
Após a audiência com a rainha somos apresentados ao personagem que iremos controlar: um mercenário cuja única motivação é a recompensa que ganhará e o reconhecimento que virá com isso.
Um mundo de cartas
O mundo de Voice of Cards é inteiramente criado por cartas numa espécie de tabuleiro. Controlamos um “peão”, uma peça típica de jogos de tabuleiro, enquanto exploramos o mundo do jogo. À medida que andamos, as cartas vão sendo desviradas, nos apresentando ao mundo propriamente. É um conceito bem interessante e diferente do que vemos em outros games.
Dentro de cidades temos uma exploração mais contida, mas praticamente tudo o que temos em RPGs mais tradicionais também se faz presente aqui: temos o armeiro, a estalagem, o apotecário , as lojas de itens, e por aí vai.
Esta apresentação diferenciada sem dúvida é um dos pontos fortes de Voice of Cards. Ele não é um RPG de cartas no estilo deck builder, mas incorpora as cartas em cada detalhe de seu mundo. É criativo, inovador e muito interessante.
Combates e aspectos audiovisuais
O jogo usa um sistema de batalha baseado em turnos, acionado por meio de encontros aleatórios e lutas contra chefes. A cada turno, cristais são gerados, e eles serão utilizados para desencadear habilidades especiais, algumas das quais também dependem do rolar de dados para mensurar sua efetividade.
Vale ressaltar que, embora seja “um RPG de cartas”, Voice of Cards não é um card game como Yugioh ou Magic, ou outro deck builder qualquer. A estética do jogo é que se utiliza das cartas, e o jogo como um todo carrega esse vibe de jogo de tabuleiro.
A jogabilidade é simples e intuitiva, mas isso não é um demérito, pois torna a experiência acessível e prazerosa. Por utilizar esta estética muito particular de cartas, todo o visual do jogo é diferenciado, e a forma como as cartas interagem com o jogador conforme ele se aproxima cria momentos de muita imersão.
Sempre que entramos em batalha uma mesa diferente é colocada “sobre” o mapa de exploração, onde se passa a parte de exploração do jogo. É sobre esta mesa que os combates se desenrolam: o jogador tem cartas de ataque à sua disposição, bem como magias e habilidades especiais.
Mesmo que não seja particularmente complexo, o sistema de combate demanda atenção e estratégia do jogador. Devemos sempre antecipar o que faremos, pois algumas magias precisam de cristais para serem utilizadas, e pode levar alguns turnos até que seja viável utilizá-las.
Joguei o game no Nintendo Switch e acho que a experiência nesta plataforma talvez seja a mais imersiva, uma vez que, em modo portátil, ele faz excelente uso da tela touch do console. Jogar com toques na tela funciona tão bem que nem é preciso utilizar os joy-cons. Considerando que ele foi inicialmente pensado como um jogo mobile, isso até faz sentido, mas é um recurso que no PS4, por exemplo, não deve ser muito bem aproveitado (talvez use o touchpad, mas ele não costuma ser bem utilizado).
A trilha sonora, composta por Keiichi Okabe que também produziu a trilha dos jogos Nier e Nier Automata e também Drakengard 3, e ela segue o mesmo estilo, misturando temas épicos com outros mais experimentais — a trilha sonora deve agradar principalmente os fãs de Nier e Nier Automata.
O artista responsável pela arte do game é o Kimihiko Fujisaka, responsável por vários outros jogos como Terra Battle, Drakengard, The Last History e Fire Emblem: Awakening. Seu traço delicado e caprichoso combina perfeitamente com a estética do game.
Conclusão
Voice of cards é um game que traz uma nova linguagem visual para os RPGs por turnos, e faz isso com muita propriedade. As cartas compondo cada aspecto da aventura, aliadas à presença do Game Master, que nos faz companhia e narra os eventos, cria uma experiência muito única, que soa como uma nova forma de fundir o jogo eletrônico com o de tabuleiro.
Talvez o maior pecado do jogo seja sua curta duração. Quando se fala em JRPGs, geralmente esperamos por grandes jornadas, que podem oferecer mais de 80 horas de jogatina. Considerando que este é um jogo lançado pela Square Enix — que tem franquias como Final Fantasy e Dragon Quest em seu portfólio — seria natural esperarmos algo nessa linha.
Apesar disso, Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é um belo jogo, que subverte as expectativas do jogador e nos leva para um passeio por um mundo diferente, mas cheio de estilo.
Voice of Cards: The Isle Dragon Roars foi lançado em 28 de outubro para Playstation 4 e 5, Nintendo Switch (versão analisada) e PC. Infelizmente o jogo não foi localizado para o nosso idioma — menus e legendas estão em inglês.