Análise Arkade: Wild Hearts é uma boa ideia que tentou ser grande demais

2 de março de 2023
Análise Arkade: Wild Hearts é uma boa ideia que tentou ser grande demais

Lançado no dia 16 de fevereiro pela EA em parceria com a Omega Force e a Koei Tecmo, Wild Hearts vem com a proposta de ser uma alternativa (e quem sabe uma concorrência digna) para os amantes da franquia Monster Hunter. Com uma temática bastante apoiada num estilo japonês feudal bem característico, o game nos leva a um mundo repleto de criaturas mágicas conhecidas como kemonos.

Sua principal tentativa de diferencial em relação à conhecida franquia Monster Hunter é a capacidade de construir mecanismos de madeira e magia que permitem diversas habilidades e golpes diferentes contra os ditos kemonos. Entretanto, será que um visual de primeira e uma mecânica de construção diferenciada são o suficiente para fazer deste um rival digno de Monster Hunter? Vem descobrir comigo nessa análise.

Análise Arkade: Wild Hearts é uma boa ideia que tentou ser grande demais

Um caçador em sua jornada

A história de Wild Hearts é um tanto quanto clichê para os moldes do subgênero comandado pela já citada franquia de caçadores de monstros da Capcom. Aqui, assumimos o papel de um caçador de kemonos que está em sua jornada pessoal de autoconhecimento até que esbarra com algumas vítimas de um ataque a caminho da cidade de Minato.

Após enfrentar os desafios envolvidos no ataque e resgatar alguns sobreviventes, você acaba finalmente chegando à grande cidade de Minato. Lugar isolado de criaturas, mas que precisa da sua ajuda para se reerguer como um centro comercial importante para toda a região, uma vez que se encontra sob um novo e inexperiente comando.

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Assim, cabe a você completar diversas missões e enfrentar inúmeros desafios para trazer glória ao lugar, ao mesmo tempo que entendemos um pouco mais sobre a história do nosso protagonista. A história serve bem de desculpa para caçar os monstrengos batizados de kemonos. Porém carece totalmente de originalidade ou até de carisma.

A premissa de início lembra bastante uma versão “adaptada” do enredo inicial de Monster Hunter World, lançado em 2018. Mas a narrativa truncada, personagens completamente gen´éricos e nada carismáticos e um enredo previsível para qualquer um que já jogou algum Monster Hunter não torna a experiência agradável pela história. Sobra, assim, o combate contra monstrengos gigantes para prender os jogadores a Wild Hearts.

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Já vi isso em algum lugar…

Sabe aquele velho meme do “copia, mas não faz igual” ? É impossível jogar Wild Hearts e não lembrar dele. Isso porque o pessoal da Omega Force e da Koei Tecmo nem tentaram disfarças suas “inspirações” em Monster Hunter. Claro que no mundo atual nada se cria, tudo se copia. Entretanto, podemos dizer que Wild Hearts “passou do ponto” em vários momentos, o que torna a experiência pouquíssimo original.

A movimentação do seu personagem é totalmente semelhante ao que vemos na franquia da Capcom, com exceção do mais novo game da franquia, Monster Hunter Rise. Movimentos pesados, esquivas que gastam stamina, corrida lenta. Até a maior parte das — poucas — armas disponíveis no game são semelhantes em aparência e jogabilidade ao que vemos em Monster Hunter.

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As diferenças aqui são bem sutis, como a recuperação de vida que são itens que não precisam ser craftados como as poções de MonHun. Ou então a possibilidade de construir acampamentos em pontos específicos do mapa para servir de base temporária, seja para uso de fast travel ou então para confeccionar itens e armaduras. Isolados, esses pontos são até interessantes, mas não dão conta de desprender a imagem de Wild Hearts do seu concorrente direto.

A maior diferença da jogatina de Wild Hearts para Monster Hunter talvez seja a mecânica dos chamados karakuri, que é justamente a capacidade de usar uma força primordial para construir artefatos mecânicos elaborados para diversos usos tanto durante o combate como fora dele.

Esses artefatos ajudam a causar dano nos kemonos, mas ambém expandem o potencial de movimentação de nosso personagem e até sua defesa, em certas ocasiões. Apesar de tudo isso, os karakuri talvez não tenham o foco que deveriam ter na jogatina como um todo.

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Mecânicas de combate datadas

Eu acabei de citar algumas das semelhanças exageradas que Wild Hearts possui com Monster Hunter. O lance é que essas semelhanças são com a franquia como um todo e não com os últimos jogos.

O problema disso é que Mosnter Hunter é uma franquia longa, que atravessa gerações. E, ela evoluiu, claro, mas alguns elementos de títulos anteriores soam datados atualmente. Dito isso, durante boa parte de Wild Hearts, me senti jogando uma mescla de Monster Hunter World com algumas mecânicas mais datadas de jogos anteriores da franquia.

Isso porque a evolução natural de Monster Hunter enquanto franquia de RPG de ação focado em caçar monstros gigantes foi a obtenção de cada vez mais variedade de armas, aumento das movimentações e habilidades dos personagens e otimização da locomoção a fim de tornar os combates cada vez mais dinâmicos e ágeis.Essa evolução é notável tanto nas jogatinas solo quanto nos combates com até quatro jogadores.

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Aqui em Wild Hearts a sensação é de estarmos indo na contramão do que seria a evolução desse subgênero. Isso porque a variedade de golpes é baixa, as esquivas e locomoções dos personagens são pesadas demais e a mecânica de construção — que deveria trazer um ar de novidade para a jogatina — na maior parte do tempo, não funciona bem.

Ora, basta a gente pensar em Fortnite para entender qual é o problema de Wild Hearts. Para que a mecânica de construção de artefatos e objetos se mescle de modo orgânico aos combates, é crucial que ela seja fluida e instintiva. Duas coisas que definitivamente não temos no game. Assim, com exceção de momentos muito específicos de alguns combates, construir os artefatos karakuri acaba gerando mais problemas do que soluções durante as batalhas.

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Visual x performance: o que vale mais?

No ano passado, enquanto eu analisava o lançamento de Monster Hunter Rise para os PCs, lembro de ter comentado como a franquia optou por visuais menos fotorrealistas para focar em uma performance melhor, prioziando a jogatina dinâmica e leve que a franquia pedia. Assim, os gráficos não eram tão pesados quanto os de MH World, mas em compensação o gameplay era infinitamente mais fluido.

Wild Hearts mais uma vez vai na contramão focando em visuais fotorrealistas incríveis e cheio de cores. O que seria um posicionamento válido, até para focar mais no p´´ublico ocidental amante do subgênero. Entretanto, o jogo chegou pessimamente otimizado em seu lançamento, com quedas de taxas de frames brutais até nas placas de vídeo mais robustas. E antes que vocês pergunte, mesmo com as últimas atualizações feitas no game até a data dessa análise, nada ainda foi melhorado no que tange sua performance.

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Em locais fechados o jogo alcança os 60 frames por segundo em máquinas mais potentes, mas em locais abertos com muita vegetação o framerate cai para menos de 30. Já nos momentos mais intensos de combates contra os monstrengos, temos quedas que chegam a alcançar os 10 fps, deixando todo o jogo em câmera lenta por alguns segundos.

Nada que se faça nas configurações do jogo resolve isso — no máximo alivia um pouco. Isso torna a jogatina ainda mais pesada e díficil, mas pelos motivos errados. Com esse paralelo que fiz inicialmente com Monster Hunter Rise, fica impossível não fazer o questionamento: será que vale mesmo a pena priorizar gráficos ultrarrealistas em detrimento de uma performance satisfatória?

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Uma completa falta de personalidade

De tudo que Wild Hearts tem de falho, talvez a coisa mais irreparável seja a sua falta de personalidade. O que é uma pena, visto que o subgênero de caçada de monstros gigantes é dominado há vinte anos pela franquia que o criou. Mas as criaturas de Monster Hunter possuem nomes, hist´órias, biologias e comportamentos muito bem definidos e descritos nos games.

A história nunca foi o foco de MonHun, mas sim a sua jogatina e seu mundo. Conhecer novos biomas, entender o comportamento das criaturas e descorir como derrubá-las são elementos que fizeram a franquia ser única, para além da jogatina de cair na porrada com os monstrengos. E em Wild Hearts falta quase tudo isso. Pode parecer bobo da minha parte, mas é como se as criaturas “não tivessem alma” no game da EA.

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Para jogadores de longa data de Monster Hunter, falar de criaturas como Zinogre, Rathalos, Kushala Daora, Diablos e dezenas de outras evoca sentimentos, lembranças de grandes momentos que mesclam admiração, frustração, emoção e divertimento. Isso pra falar o mínimo. Já as criaturas de nomes genéricos de Wild Hearts são basicamente animais gigantes como ratos, lobos, macacos e águias. Todos revestidos de algum elemento específico.

Consequentemente, essa falta de personalidade vaza para as armas e armaduras que podemos confeccionar no jogo. Todas com mecânicas que são versões simplificadas porém idênticas ao que vemos na franquia da Capcom. E isso se repete também na história, no visual do mundo e nos personagens que conhecemos durante a jornada. Tudo muito belo com gráficos que devem ficar lindos rodando em um PS5, mas só isso e nada mais. Muita forma, pouco conteúdo.

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Um passo maior que a perna

A Omega Force, que é a subsidiária americana da Koei Tecmo, é bastante conhecida no gênero musou com suas franquias “alguma coisa Warriors”. como Dinasty Warriors, Samurai Warriors e Hyrule Warriors. Entretanto, um primeiro passo num subgênero tão bem estabelecido com uma única franquia precisava de mais cuidado e, principalmente, mais humildade em seu escopo.

A sensação que eu tive ao jogar Wild Hearts é a de que a Omega Force — agindo sob o selo EA Originals — tentou dar um passo maior que a própria perna, ao querer iniciar uma nova IP para concorrer com o bem estabelecido Monster Hunter de igual para igual. O jogo tem a pompa de um projeto nível AAA sem de fato possuir a qualidade que se espera desse tipo de jogo.

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Talvez se esse projeto não almejasse ser tão grandioso e, ao invés disso, não se levasse tão a sério, ele poderia ter mais personalidade e cometer menos equívocos no que tange seu desenvolvimento. Muitas vezes menos é mais e com Wild Hearts definitivamente não é diferente. Temos em mãos um jogo que pretendia ser épico, sério e robusto, cheio de criaturas magníficas e gigantescas em um universo estonteante e cheio de cores.

Mas, no final, o que recebemos foi um mundo insosso, com criaturas genéricas, gameplay truncado e mecânicas até criativas, mas que simplesmente não se encaixam bem umas nas outras.

Por tudo isso, Wild Hearts parece mais uma tentativa desesperada de se fazer dinheiro às custas das boas ideias da concorrência do que qualquer outra coisa. Uma pena, pois o projeto tinha potencial para algo muito melhor.

Wild Hearts foi lançado no dia 16 de fevereiro de 2023 e está disponível para PlayStation 5, Xbox Series S e X e PC (via Steam e Epic). Ele possui apenas menus em português com legenda.

Para esta análise, rodamos o game em um notebook gamer com processador i5-9300, 24GB de memória, placa de vídeo GTX 1650 (4GB) e SSD M2-2280 de 512gb.

Gilson Peres

Gilson Peres é Psicólogo, Mestre em Comunicação e aqui no Arkade fala principalmente sobre Realidade Virtual, jogos de PC e novas tecnologias desde 2019.

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