Análise: XCOM: Enemy Unknown (PC, PS3, X360): lidere as defesas da Terra
XCOM: Enemy Unknown revive uma série que começou há quase 20 anos com o cultuado UFO Defense, clássico game de ficção científica que virou referência para jogos de estratégia e combate em turnos. O novo título chega com a missão nada simples de agradar fãs veteranos e ao mesmo tempo atrair novos jogadores. Acredite: ele foi muito bem sucedido nesta missão!
Para quem não conhece: XCOM: Enemy Unknown é um jogo de estratégia de estilo único, onde você assume o controle de uma agência secreta que deve defender a Terra de uma invasão alienígena. Essa agência – chamada XCOM – é financiada por um grupo de 16 países, em troca de proteção contra a ameaça extraterrestre.
No papel do comandante da XCOM, o jogador precisa usar sabiamente seus recursos para recrutar soldados, comprar armas, posicionar satélites de vigilância, aumentar a base de operações e pesquisar novas tecnologias, além de controlar diretamente os soldados durante as missões de combate.
Esta definitivamente não é uma tarefa fácil. Abduções, massacres em grandes cidades, pânico generalizado: os extraterrestres são implacáveis e têm um arsenal muito superior ao nosso.
Para piorar, conforme o nível de pânico mundial aumenta, os países financiadores começam a abandonar o projeto e a grana para de entrar. Quando oito ou mais nações te abandonam, o programa XCOM é encerrado definitivamente, a humanidade é derrotada e o jogo acaba. Cabe a você evitar este final trágico, se virando para administrar seus recursos, derrotar os aliens e salvar a humanidade de uma vez por todas.
Nesse sentido, XCOM: Enemy Unknown é brilhante, e segue fielmente a fórmula de sucesso do original. Tanto no modo estratégico da base como nas batalhas com os alienígenas, é preciso muito sangue frio para tomar as decisões certas. Poucos jogos conseguem criar uma sensação de urgência tão bem como este. Com países deixando de apoiar o projeto, soldados morrendo e invasores cada vez mais poderosos, as decisões se tornam ainda mais interessantes e desafiadoras, e todas elas influenciam diretamente no avanço do jogo.
Dê uma de Rambo com um de seus soldados e ele certamente acabará morto, deixando o resto do esquadrão em desvantagem. Gaste recursos apenas com armas e você pode acabar sem dinheiro para lançar novos satélites – essenciais para detectar as naves alienígenas e mandar aviões para derrubá-las antes que descarreguem mais invasores. Atenda a um chamado de socorro na China e veja a Europa inteira entrar em pânico. O game se concentra nestas escolhas cruéis, que garantem uma experiência tensa, mas gratificante.
O jogador vai passar boa parte do seu tempo na base do projeto XCOM, a central de comando onde é possível monitorar a situação do planeta e tomar suas decisões. A base (apelidada de Ant Farm, ou fazenda de formigas) é vista de lado, o que gera um visual interessante, mostrando os detalhes de cada andar e reforçando bem a ideia de uma base secreta subterrânea, no melhor estilo Area 51.
A interface do jogo ficou bem acessível. Cada menu é representado graficamente na base, como os laboratórios para pesquisas e autópsias, a sala de engenharia para produzir armas e equipamentos e, claro, a sala de controle, onde o jogador monitora a situação do mundo através do icônico Geoscape (uma versão holográfica do Terra), derruba naves alienígenas e envia seus soldados para as missões.
E é justamente nas missões de combate que o jogo atinge seu ponto alto e até supera o original. Ao invés de deixar o jogo menos interessante, como muitos temiam antes do lançamento, as inovações vieram para tornar as batalhas mais dinâmicas e divertidas.
Com a limitação de duas ações por soldado em cada turno e o novo sistema de proteção (cover) a premissa de um esquadrão bem treinado, que calcula todos os seus movimentos para avançar até a posição do inimigo foi muito bem realizada. A equipe da Firaxis que produziu o jogo caprichou nas opções táticas, no design dos cenários e na inteligência artificial dos alienígenas, o que garante combates épicos, emocionantes e desafiadores.
Para aumentar ainda mais a tensão, XCOM: Enemy Unknown traz variados tipos de missões. As novas operações de resgate ou de desarmar bombas, por exemplo, dão um ritmo diferente ao combate e são inovações muito bem-vindas.
Os cenários ficaram muito interessantes e bem elaborados, mas infelizmente são limitados, ficando um pouco repetitivos no decorrer da campanha. Outro problema é a falta de ambientes regionalizados: os mapas serão sempre os mesmos, independente se a missão acontece no Brasil, nos Estados Unidos ou no Japão.
Assim como na base, todas as decisões em combate têm um impacto enorme no desenrolar da campanha. Mais uma vez, o game manda muito bem nisso. Usar explosivos, por exemplo, é uma maneira muito eficaz de trucidar aliens, mas, além de mandar os invasores de volta para o espaço, granadas e foguetes também destroem os artefatos deles, itens que poderiam ser recuperados e usados em armas e tecnologias melhores pela XCOM.
Por outro lado, a vida dos soldados depende muito dos investimentos que o jogador escolheu fazer, e você pode ter problemas sérios se enviar tropas mal equipadas para o combate, e assim por diante. Essa é uma das maiores qualidades de XCOM: Enemy Unknown: fazer com que estratégia e ação funcionem como uma coisa só, mantendo o jogador ligado o tempo todo.
Os soldados continuam desempenhando um papel crucial nessa versão, e agora o jogador tem várias opções de personalização, podendo escolher seus nomes, aparências e outros detalhes. A princípio, todos eles são novatos, erram mais que acertam e têm um dom peculiar de servir de alvo para raios plasma inimigos. Com o avanço do jogo, porém, eles começam a se tornar personagens com vida própria, e viram peças fundamentais na luta contra os extraterrestres.
A narrativa heroica de cada um é montada durante o próprio game, destacando aquele soldado que sobreviveu a uma granada e conseguiu salvar seu esquadrão inteiro, ou o outro que sempre errava os tiros, mas na hora em que tudo parecia perdido tinha um lança-foguetes guardado na mochila. Isso é muito legal, e fica melhor ainda conforme as tropas ganham experiência e adquirem novas habilidades – outra inovação que funciona extramente bem em XCOM: Enemy Unknown.
O game traz de volta os vilões em grande estilo, recriando boa parte dos extraterrestres originais. Eles são muito perigosos em combate, e vão usar habilidades próprias, procurar proteção e tentar flanquear suas tropas, deixando as batalhas bastante imprevisíveis e desafiadoras.
Alguns defeitos menores aparecem nas missões: a câmera se atrapalha as vezes, os soldados e aliens atiram por dentro de objetos em alguns momentos e, pelo menos no PC, o controle poderia ter uma resposta um pouco mais rápida. Felizmente, no geral esses pequenos defeitos não chegam a atrapalhar a experiência de jogo.
A história do jogo não chega a ser ruim, na verdade ela é até interessante. O problema é que ela é muito curta, com poucos eventos principais levando à conclusão do game. Essa falta de elaboração da campanha se junta com outro detalhe para formar o grande problema de XCOM: Enemy Unknown: ele perde o gás muito rápido.
Exemplificando: quando se atinge um certo ponto do jogo, toda a tensão de decidir como proteger os países e vencer os alienígenas nas batalhas cede espaço à uma situação estranhamente calma. Uma reação mais agressiva dos inimigos nos estágios finais do jogo, quando o projeto XCOM atinge força total, seria muito bem-vinda para tirar o jogador de sua zona de conforto e fazê-lo perceber que os aliens também evoluíram.
Com a falta disso, os jogadores que postergarem a missão final para segurar um pouco mais o game – afinal, ele é muito bom -, acabam sem ter muito o que fazer, e a situação deixa de ser desafiadora para se tornar repetitiva e previsível.
XCOM: Enemy Unknown também apresenta um modo multiplayer, mas ninguém realmente tinha grandes expectativas para ele. É uma experiência divertida, mas não memorável, com dois jogadores se enfrentando em um combate por turnos. Cada um monta seu time misturando alienígenas e soldados humanos com vários equipamentos disponíveis,de acordo com um sistema de pontos.
É possível criar jogos privados, em LAN, ou competir com outros jogadores em partidas ranqueadas. O modo cooperativo que alguns esperavam infelizmente não saiu, e o mutiplayer não salva o game da falta de mais conteúdo, pois falta o lado estratégico e emergencial que é a grande estrela da campanha principal.
XCOM: Enemy Unknown se sai muito bem comparado com outros remakes e sequências de séries famosas, e não é a toa que ele vem sendo muito bem recebido pela crítica. Afinal, o que dizer de um jogo cujo principal defeito é ele não ser maior, para nos proporcionar mais horas de diversão? XCOM: Enemy Unknown é assim.
As inovações no visual e na jogabilidade vieram para modernizar o game e torná-lo ainda melhor que o original, mais prático e acessível, sem desrespeitar o que deu certo no título original.
Acima de tudo este é um legítimo XCOM, um game divertido e desafiador, onde cada centavo investido, cada decisão, cada tiro, pode ser a diferença entre a salvação e o fim da vida na Terra. Se tivesse mais conteúdo (mais eventos na campanha, mapas, raças de alienígenas, missões), a vida útil do game aumentaria consideravelmente, e consequentemente, nossa diversão também.
Do jeito que está XCOM: Enemy Unknown oferece uma experiência tão boa que é triste que seja tão curta. Fica a satisfação de ver que a Firaxis fez um bom trabalho, e está com uma promissora nova franquia XCOM nas mãos. Que a Terra seja invadida diversas vezes em jogos bons como este!
http://youtu.be/O08TIyE9FsA
Você já jogou XCOM: Enemy Unknown? O que os fãs das antigas acharam? E o pessoal que não conhecia a série, gostou? Deixe sua opinião nos comentários!