Apesar de Interlagos “atrapalhar”, o autódromo viu o The Town ter a sua aura de “Rock in Rio” em SP
Fui dois dias ao The Town. No dia 7 de setembro, dia em que a atração principal era o Macron 5, e no dia 9, quando foi a vez do Foo Fighters subir ao palco. E com o The Town, as coisas foram diferentes na hora de observar o evento, pois apesar de ser a primeira edição, trata-se de um festival que é praticamente um Rock in Rio em São Paulo, mas com outro nome.
Quem já foi no Rock in Rio nos últimos anos, não teve grandes dificuldades de entender o The Town. Shows revezando pelos palcos, estandes de patrocinadores pra todo o lado, vários palcos com diversas atrações e a aura de parque de diversões com tirolesa, roda gigante e outros brinquedos.
O que mudou, claro, é o local. E eu nem digo a cidade em si, mas tudo o que envolve as diferenças entre a Barra, local do Rock in Rio, e o Autódromo de Interlagos, local do The Town. Curiosamente, os dois eventos acontecem em locais envolvendo automobilismo, já que onde hoje é o Centro Olímpico do Rio, no passado foi o Autódromo de Jacarepaguá, que sediou a F1 até 1988, quando Interlagos assumiu até hoje as corridas da categoria.
Mas o Centro Olímpico é plano, e Interlagos é uma colina, em um circuito cheio de subidas e descidas. Isso fez com que a organização quebrasse a cabeça para “colocar o Rock in Rio” dentro do circuito. E apesar de tudo estar bem distribuído, o circuito não ajudou muito. Começando pelo principal: o palco Skyline, o “palco Mundo” do festival.
O Palco Mundo fica num local lá na Barra em que praticamente qualquer pessoa consegue ver ele. Seja a turma da grade, ou quem gosta de soltar um tapete e ver lá atrás a atração, a vista é privilegiada. Já o Skyline ficou próximo ao S do Senna, entre esta área (que é uma descida) até a área de lazer do circuito, que foi convertido em Área VIP.
Isso trouxe problemas: dependendo do lugar em que estava, era praticamente impossível ver o artista no palco, salvo pelos telões. Além disso, o espaço ficou apertado, espremendo o público por vários momentos, o que rendeu um problema ainda pior: na troca de atrações nos palcos, um vai e vem rendia uma aglomeração bem apertada de pessoas, que rendeu problemas até como furtos de celulares.
Já o palco The One, que ficou de costas para a reta oposta, estava muito melhor localizado. Inclusive, ali deveria ser o lugar ideal para o palco principal, e deveria ser trocado em uma próxima edição. No The One, por estar em uma região mais plana, qualquer lugar era lugar para ver a atração.
Os outros palcos também agradaram muito, mas eu destaco demais a São Paulo Square, já que ela foi uma recriação caprichada do centro da cidade, com direito a Catedral da Sé, Pinacoteca, Teatro Municipal e Estação da Luz. E como o The Town não tem “Rock” no nome, a direção pode variar bem o cardápio musical, sem ninguém enchendo o saco por causa do nome.
O que eu, particularmente, gosto. Apesar de não gostar do estilo de muitos que se apresentaram lá, gosto da variedade, que deixa mais gente feliz. Sei que o Rock do Rock in Rio tem mais a ver com atitude do que com o gênero, e também sei que já existem atualmente festivais mais focados a este público, então tá tudo bem como está.
Já sobre os acessos… como Interlagos atrapalha tudo. O entorno do autódromo não foi feito para as Olimpíadas (caso do Rock in Rio), que receberam milhares de pessoas, e sim para a Fórmula 1, cujos frequentadores, em sua maioria, dispensam o transporte público e coisas do tipo. Isso significa que, por mais que o evento tenha feito o possível, a região não ajuda.
Ônibus em volta era missão complicada, e a estação Autódromo, a mais próxima, não é das maiores para o tanto de gente que dependia dos trens, como é a Jardim Oceânico, no Rio de Janeiro. Mas ao menos a boa intenção de manter os metrôs e trens abertos 24 horas ajudaram muito a mandar as pessoas pra casa.
Pelo menos a chuva, velha conhecida dos fãs da Fórmula 1, não fez uma presença tão marcante quanto a esperada. Sim, choveu, mas nem de longe perto de algumas corridas caóticas as quais nós já presenciamos neste circuito ao longo dos anos.
Outro acerto do festival foi em relação à cidadania. No evento tinha Poupatempo, pra pessoas que ocasionalmente perdessem documentos, pudessem emitir um novo, no próprio festival. Além de assistência a pessoas que sofressem qualquer tipo de abuso no festival. Apesar dos furtos, também tinha base da Polícia no local, o que ajudava na emissão de Boletins de Ocorrência e suporte.
No geral, o saldo do primeiro The Town é positivo. O festival trouxe o seu “Rock in Rio” para dentro de São Paulo, com iniciativas que valorizaram a cultura da cidade. As atrações agradaram, e bons momentos foram registrados. Problemas sempre existem, mas a organização precisará identificá-los, para trabalhar em soluções, sendo as mais urgentes, na minha opinião, a solução do “aperto” do palco Skyline, a solução dos mesmos apertos em determinados momentos, que abriram brecha para furtos de celulares em massa, e uma revisão do espaço utilizado no autódromo, especialmente nos locais de show.
Já as boas ideias deveriam ser mantidas, inclusive para incentivar outros festivais a fazerem o mesmo, como o suporte do Poupatempo, a variedade musical (embora senti falta do “dia do metal”) e das portas abertas para vários artistas poderem se apresentar.
O The Town volta em 2025, enquanto o bastão volta para o Rock in Rio, que já se prepara para a sua próxima edição, no ano que vem.