Arkade Entrevista: Henrique Alonso, do estúdio Pocket Trap (Dodgeball Academia)

11 de setembro de 2021
Arkade Entrevista: Henrique Alonso, do estúdio Pocket Trap (Dodgeball Academia)

No início de agosto, um joguinho brasileiro muito peculiar foi lançado, e chamou a atenção da mídia nacional e internacional. Estamos falando de Dodgeball Academia, do estúdio paulista Pocket Trap, uma mistura pra lá de maluca de queimada com RPG que esbanja carisma e brasilidade.

Batemos um papo com Henrique Alonso, sócio do estúdio e um dos desenvolvedores responsáveis pela mistura maluca de RPG com queimada, para entendermos de onde surgiu a ideia do game, suas inspirações e muito mais.

Confira esta divertida entrevista na sequência!

De onde surgiu a ideia de criar um RPG de esporte – e mais especificamente, de queimada?

“A ideia surgiu a partir de conversas informais entre nós da Pocket Trap e do co-criador do jogo, Ivan Freire. Um dia, estávamos conversando numa sorveteria em Piracicaba (terra dos meus sócios) sobre jogos que amávamos quando éramos criança e que sentíamos falta hoje em dia. Entre eles falamos muito sobre o Mario Tennis de GBC – que foi provavelmente o primeiro RPG de esporte que joguei na vida e o Ivan trouxe especificamente um jogo de Neo Geo chamado Super Dodgeball.

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Mario Tennis
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E Super Dodgeball foram as principais influências do game

A partir daí começamos a debater sobre a ideia de criar um jogo que misturasse ambos os gêneros, com um toque moderno e pessoal!”

É impossível não sentir uma vibe de Pokémon no jogo. O jogo foi uma inspiração para vocês? Se não, quais foram as referências?

“Acabei respondendo um pouco dessa pergunta na resposta anterior (risos). Pokémon definitivamente foi uma das nossas muitas inspirações “naturais”, pois é um dos jogos preferidos de muitos da equipe. Amamos jogos da Nintendo, Capcom e outros clássicos.

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Por falar em Capcom, rola até Hadoken no jogo

Acredito que a influência desses títulos é bem visível no nosso trabalho. No entanto, se eu fosse citar inspirações específicas para o jogo, eu com certeza diria Mario Tennis do Game Boy e Super Dodgeball do Neo Geo!”

Dodgeball Academia transborda estilo e carisma. O visual do jogo parece ter sido pensado para virar uma série animada. Existe a possibilidade dele seguir os passos de Ninjin?

Um dos nossos sonhos na Pocket Trap é desenvolver jogos que tenham justamente essa característica e possam transitar entre várias mídias como séries animadas e histórias em quadrinhos. No caso do Dodgeball, acho que muito vem do nosso parceiro e co-criador do projeto, Ivan Freire. O Ivan tem um histórico muito forte no mercado de animação e criação de personagens, então esses aspectos do jogo vieram de forma meio natural.

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Ninjin é o outro jogo da Pocket Trap que já tem série animada (e review aqui no site)

Acredito que o jogo tem total capacidade de se tornar uma série animada sim, vamos trabalhar pra que isso aconteça um dia!”

O jogo é cheio de iguarias brasileiras no “cardápio”. O público internacional vai entender o que é coxinha, pão de queijo, brigadeiro?

“Apesar do jogo se passar em um universo fantasioso, queríamos muito inserir elementos da nossa cultura e vivência como brasileiros dentro dele. Crescemos jogando jogos japoneses onde os personagens coletavam comidas como onigiris para se curar, e por mais que eu tenha levado um tempo para descobrir e provar o que era um onigiri, aquilo nunca prejudicou nossa experiência. Acho que esse também é o caso do nosso jogo.

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Os gringos sabem o que é coxinha?

Talvez uma parte do público não entenda exatamente o que são algumas das comidas, mas acredito que isso seja interessante para que eles possam descobrir culturas diferentes.

Fiquei imensamente feliz ao assistir brasileiros ou até mesmo um público internacional se sentindo representados através do cardápio do jogo (risos). Recebemos mensagens de jogadores árabes elogiando a presença de kibes no jogo, por exemplo, e achei isso fantástico!”

Este é o segundo jogo que envolve queimada/dodgeball lançado este ano (a EA lançou Knockout City em maio). O que vocês acham que causou este boost na relevância do esporte nos videogames?

“Sinceramente, eu não faço a menor ideia (risos). Acredito que nenhuma ideia seja totalmente exclusiva e também estamos sempre sujeitos a vermos jogos semelhantes aos nossos serem lançados enquanto ainda estamos em produção. A ideia pro Dodgeball Academia surgiu lá em 2016, em um ano que não tínhamos nem o Golf Story lançado ainda, por exemplo.

Não vejo conexão do nosso projeto com Knockout City, mas fico muito feliz em ver esse gênero de “esportes inusitados” ganhar relevância! Eu particularmente não vejo problema algum e quero muito jogar todos!”

A linguagem do jogo conversa muito com o público jovem brasileiro, ao usar expressões como “tiozão”, “contatinho”, ou mesmo alguns regionalismos, como “arretado”. Como foi o processo de criação do texto? Foi muito difícil adaptar essa linguagem para o público internacional?

Como brasileiros, para nós era muito importante que o jogo tivesse uma boa localização e conversasse diretamente com o nosso público. Tivemos a felicidade de contar com o Tiago Rech para escrever tanto o roteiro em inglês quanto a localização para o português. Não foi muito difícil adaptar essa linguagem para o público internacional porque o jogo na realidade foi escrito primeiro em inglês (risos).

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Acredito que o tom coloquial dos diálogos tenha sido um enorme acerto da nossa parte e me sinto muito feliz e orgulhoso quando vemos screenshots dos diálogos sendo compartilhados pelos jogadores. Gosto muito de dizer que a versão em PT-BR contém a experiência definitiva!”

O jogo é cheio de personagens interessantes: tem os fofinhos, os esquisitos, os bizarros, todos com visual único e muita personalidade. Como foi o brainstorm para criar um elenco tão diverso?

“Nessa questão todos os méritos são do Ivan, que criou todo o elenco. Diversos personagens já existiam visualmente antes do projeto existir, pois vieram de rascunhos e outras ideias dele que acabaram encontrando um lar na Dodgeball Academia (risos).

O Ivan possui um repertório muito forte de criação de personagens e acredito que ele tenha puxado inspirações de muitas fontes diferentes… vivência própria nos tempos da escola, desenhos e jogos que ele ama, pessoas queridas e por aí vai. O nosso protagonista por exemplo tem a mesma personalidade e nome do Otto, o amado cachorrinho do Ivan que infelizmente nos deixou durante a produção do jogo.

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Procuramos desenvolver um elenco variado tanto visualmente quanto em suas personalidades e alguns passaram por mudanças durante o desenvolvimento e as necessidades da história ou da gameplay. Tínhamos alguns perfis que sabíamos que não podiam faltar, como o bully, a tia da cantina e o rival… mas no geral o processo de criação deles foi bem orgânico!”

Algum dos personagens (incluindo os professores e funcionários da escola) é inspirado em alguém real, que marcou a vida de alguém da equipe?

“Ops… mais uma vez acabei antecipando a pergunta! (risos)

Sim, além do Otto temos alguns outros personagens que carregam características e nomes de pessoas marcantes na vida do Ivan e de outros membros da equipe. Nenhum personagem tem uma inspiração tão direta quanto o Otto, mas temos o Tonhão por exemplo, que é inspirado naquela figura mais velha que repetiu de ano várias vezes e conhece a escola e seus funcionários como ninguém.

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Até mesmo os diálogos de alguns NPCs muitas vezes tem relação com pessoas ou situações que fizeram parte das nossas vidas durante a infância.”

Para finalizar, uma pergunta muito séria: entre os desenvolvedores, como fica a questão da pizza? Abacaxi ou ketchup?

“(Risos) Essa questão é bem interessante e foi algo que o nosso game designer, Renato, trouxe pro jogo. Acho que sempre temos essas discussões que muitas vezes estão ligadas a região, como o clássico “é biscoito ou bolacha”? Achei uma boa sacada trazer esse debate da pizza para o jogo!

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A treta de abacaxi x ketchup na pizza é um dos momentos hilários do jogo XD

Em relação ao sabor da pizza… não posso responder por todos da equipe, mas eu particularmente não gosto de nenhum dos dois haha. Acho que a parte paulista da equipe vai concordar que ketchup, jamais (risos).”

Epílogo

A Arkade agradece ao Henrique pela sua disponibilidade e simpatia em responder às nossas perguntas, e deseja todo o sucesso do mundo para toda a galera do Pocket Trap em suas futuras empreitadas. 🙂

Ah, e só para lembrar, temos uma análise completa de Dodgeball Academia disponível neste link. O jogo está disponível para PCPlaystation 4Xbox One (no Game Pass, inclusive) e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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