Arkade Entrevista: O Projeto Entre as Estrelas, com o diretor Guille Hiertz

5 de maio de 2023
Arkade Entrevista: O Projeto Entre as Estrelas, com o diretor Guille Hiertz

Nos últimos meses, um novo projeto de game brasileiro chamou bastante a atenção de interessados e entusiastas seja pela técnica apurada, pelo estilo artístico encantador ou mesmo pela temática tão própria da nossa cultura.

Entre as Estrelas (Among the Stars), proposto pela renomada Split Studios (que é responsável por algumas das animações mais prestigiadas da atualidade, como Richy and Morty e Turma da Mônica), depois de uma campanha bem sucedida no Catarse, volta ao financiamento coletivo em formato Late Pledge e busca viabilizar a aventura completa tal como idealizada.

Tivemos a honra de conversar, em uma entrevista exclusiva, com o diretor do game, Guille Hiertz, para saber um pouco mais sobre o processo, o que eles estão idealizando e outros detalhes sobre a obra. Aproveite!

Arkade Entrevista: O Projeto Entre as Estrelas, com o diretor Guille Hiertz

Arkade: Antes de mais nada, muito obrigado pela oportunidade de podermos trocar algumas ideias e ouvi-los sobre Entre as Estrelas, um projeto muito promissor e, se me permite dizer, bem ousado para os dias atuais. Você poderia nos contar sobre como surgiu a premissa e o porquê do estúdio decidir investir em um game para contar essa história?

Guille: Nós é que agradecemos a oportunidade! Quanto mais divulgação tivermos pra esse projeto, mais chances temos de conseguir tirá-lo do papel da forma como idealizamos.

O projeto chegou na Split por meio do Renan Reixach, o criador original do jogo. Ele inscreveu o projeto num edital em 2018, junto com a Split, e nós chegamos a vencer esse edital, mas ele foi cancelado algum tempo depois, e desde então nós estivemos procurando outras formas de financiamento, porque temos muito interesse e vemos muito potencial nesse projeto.

Talvez pela nossa formação em cinema, aprendemos que as melhores histórias são aquelas que colocam o dedo na ferida e que, além de entreter, também conscientizam… pensamos “pq não colocar isso em um jogo também?”. Além disso, nossa história e do nosso povo é muito rica e pouco explorada para o tamanho que tem.

Lá fora, seja em cinema ou games, o público global quer saber o quê os brasileiros tem a agregar, que universos podem mostrar para o resto do mundo. e se pensamos objetivamente em trazer essa resposta, creio que olhar para nossos povos originais se torna uma decisão bastante óbvia.

Arkade: A Split Studios tem se consolidado no mercado de animações no Brasil e no mundo desde o seu surgimento, ainda que também já tenha se dedicado a outros formatos e linguagens. Na sua visão, quais são as maiores diferenças no processo de produção quando se compara filmes ou séries animadas e videogames?

Guille: No videogame, pelo menos na nossa experiência, a gente vê o produto final nascer mais rápido porque a etapa de programação começa cedo. Além disso, temos que nos preocupar com a interação do nosso público e listar todas as coisas que ele pode vivenciar (inclusive bugs!) ao experimentar a obra. É uma relação mais próxima e um feedback mais direto e imediato. No audiovisual, o público é muito mais passivo.

Arkade: Entre as Estrelas está, neste momento, em processo de busca por financiamento no estilo “late pledge” em formato flex até o fim de 2023 e desde já fica a nossa torcida para que alcance as metas projetadas. Produzir cultura e arte no Brasil, nos diferentes estilos, sempre tem se mostrado um desafio inclusive no que se refere a viabilidade financeira. Como você vê o cenário atual do modelo de produção por aqui agora e como projeta os próximos anos?

Guille: Sim! Mesmo já tendo batido nossa meta inicial, abrimos a campanha late pledge para dar uma nova oportunidade às pessoas que não conseguiram apoiar o projeto durante os dois meses da campanha inicial, e ficaremos até o final do ano.

O jogo será lançado de qualquer forma, mas quanto mais arrecadarmos, mais completa e aprofundada será a versão disponibilizada para o público. No que se trata do cenário atual, vejo que as empresas brasileiras, especialmente as pequenas, precisam usar muita criatividade para levantar um projeto.

Não há muitos recursos e incentivos disponíveis para a produção no mercado, mas o mercado de games está crescendo ano a ano graças à força de vontade dos nossos artistas, desenvolvedores e criadores. Imagino que essa indústria, no Brasil, só vai crescer nos próximos anos e atrair capital externo para financiar suas produções.

Arkade Entrevista: O Projeto Entre as Estrelas, com o diretor Guille Hiertz

Arkade: No que se refere ao estilo do jogo, percebe-se que há uma preocupação interessante em relação ao estilo da animação e da construção de personagens e ambientes tanto visualmente quanto no conceito da narrativa e do tema abordado. Quais são as maiores inspirações audiovisuais do projeto e o que podemos esperar em termos de mecânicas e interatividade?

Guille: Entre as Estrelas é jogo 2D full animation de plataforma e aventura, com combate e resolução de puzzles, com uma história se divide em duas narrativas. Com Ari, a irmã mais nova, o jogador explora o mundo espiritual e as formas do Encantado que protege as florestas, em um formato de plataforma, ação, aventura e puzzle, que tem como inspiração “Ori” e “Hollow Knight”.

Já com Tai, a mais velha, o foco é em stealth, e o jogador deve usar sua engenhosidade para combater a invasão dos grileiros de forma furtiva, sabotando e destruindo as máquinas dos equipamentos. A trilha de Tai tem como inspiração jogos como “Valiant Hearts” e “Inside”, e será lançada apenas se uma das metas extras da campanha for atingida.

Arkade: Muito se tem falado recentemente de questões como o acesso e a universalidade de projetos com um apelo cultural tão intrínseco, e um grande exemplo atual pode ser visto, por exemplo, em Tchia, que traz ao grande público uma história baseada em uma cultura ainda pouco difundida dentro do que se convencionou chamar de mídia de massa. Entre as Estrelas é um jogo pensado para dialogar especificamente com o público brasileiro ou tem um objetivo de criar conexões com outras pessoas em diferentes realidades da nossa?

Arkade Entrevista: O Projeto Entre as Estrelas, com o diretor Guille Hiertz

Guille: É claro que Entre as Estrelas tem um grande foco no Brasil, afinal um dos objetivos do projeto é trazer luz para conflitos reais e contribuir ativamente com a luta dos povos originários do nosso país. Ainda assim, acreditamos que a história de duas irmãs enfrentando os mais diversos desafios para se reencontrarem pode emocionar e envolver qualquer pessoa de qualquer local do mundo.

Queremos, justamente, usar o entretenimento e o storytelling para apresentar esse universo baseado no Pantanal para a maior quantidade possível de pessoas, disseminando nossa cultura, gerando oportunidades e trazendo reconhecimento para o Brasil no mercado internacional de games. Inclusive, temos intenção de abrir uma campanha internacional no ano que vem.

Arkade: Uma vez mais, agradecemos pela entrevista e pela atenção, e estamos na expectativa de ver o jogo pronto o quanto antes. O hype já começa alto! Desejamos muito sucesso nesta e nas próximas realizações do estúdio.

Guille: Ficamos muito felizes com o convite! Pode acreditar que estamos ainda mais na expectativa do lado de cá. Queremos entregar o melhor produto final possível para as pessoas que já se encantaram com o projeto, e não vemos a hora de compartilhar as próximas etapas com vocês.

Arkade Entrevista: O Projeto Entre as Estrelas, com o diretor Guille Hiertz

Quer saber mais sobre o projeto Entre as Estrelas? Quer saber como contribuir para o financiamento coletivo? Todas as informações estão disponíveis na página oficial do game lá no Catarse: https://www.catarse.me/entreasestrelas

Abaixo, o vídeo que abre a campanha, com algumas ótimas referências também de gameplay e outros detalhes estéticos bem bacanas:

Paulo Roberto Montanaro

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