Arkade Séries: Five Came Back e uma grande aula sobre cinema e a Segunda Guerra
A Netflix tem oferecido bastante conteúdo nos últimos meses, e, especialmente, neste começo de 2017. Entre novas temporadas e séries novas, a provedora de conteúdo por streaming vai se firmando cada vez mais como uma grande produtora de mídia, sendo presença constante entre as séries preferidas dos dias de hoje. 13 Reasons Why, a segunda temporada de The Get Down e Punho de Ferro são apenas um dos vários exemplos deste crescimento, que ainda terá Better Call Saul, Stranger Things e House of Cards para manter a empresa entre as gigantes do entretenimento.
Mas, no meio de tantas opções, a Netflix nos presenteou com um documentário em forma de série no qual lendas vivas como Steven Spielberg, Guillermo del Toro, Francis Ford Coppola, Lawrence Kasdan e Paul Greengrass compartilham conosco a vida e história de seus colegas cineastas que viveram durante a Segunda Guerra Mundial e decidiram servir os Estados Unidos, deixando Hollywood para trás para produzir documentários e vídeos institucionais para os soldados em suas operações na Europa e no Pacífico.
A riqueza de conhecimento, unida ao talento de nomes gigantes do cinema nos oferecem mais do que “imagens da guerra”, nos trazendo também uma verdadeira aula, oferecida por grandes mestres, de hoje e de ontem.
Capra, Houston, Wyler e um novo mundo
O documentário segue muito da linha que o próprio Spielberg segue quando quer contar histórias reais, e mais especificamente, sobre a Segunda Guerra. Assim como em O Resgate do Soldado Ryan, Band of Brothers e The Pacific, a Segunda Guerra tem seus contornos muito bem explicados, mas com o foco nos homens e mulheres que participaram do confronto. Assim, somos apresentados de maneira bem organizada aos cineastas, que envolvem suas vidas antes da guerra, o que passaram durante a presença de ambos e o preço que pagaram por participarem de um conflito que tirou aproximadamente 85 milhões de vidas.
Com vídeos dos diretores mencionados, nós ganhamos uma aula de criação de filmes, como composição, edição e fotografia, para citar alguns exemplos. Os participantes do documentário são cineastas, então é comum que eles comentem muito sobre a parte técnica dos filmes dos soldados-cineastas. Mas a história não fica de lado, pois somos levados por França, Alemanha, Japão e tantos outros lugares em que ocorreram conflitos na companhia destes diretores, acompanhando suas trajetórias, suas funções específicas quanto as Forças Armadas dos EUA e o papel que desempenharam na informação da população de seu país, já que os cinemas eram quem tinham o papel de levar informação em vídeo em uma época sem TV e Internet.
Com a voz de Meryl Streep, vamos, episódio a episódio, nos aprofundando mais na vida destes homens, conferindo suas conquistas profissionais, discussões constantes com superiores, problemas com censura, mostrando que filmar uma guerra não é apenas filmar uma guerra. E, no contexto da época, a missão destes homens, junto com a de diversos outros cineastas, independente de suas nacionalidades, foi a de documentar tudo o que aconteceu naqueles lugares. Tudo bem que cada país vai contar a história a partir do seu ponto de vista, mas o que vale aqui é a riqueza de detalhes de uma sociedade muito diferente da nossa.
O formato episódico também foi muito bem explorada, pois, além de organizar o conteúdo em antes-durante-depois, também serviu para deixar todos os envolvidos mais a vontade quanto ao tempo de produção. Assim, um documentário de três horas e meia fica mais convidativo para espectadores com cada vez “menos tempo” e que aos poucos, estão transformando os seriados em sua principal forma de entretenimento, ultrapassando os filmes e seus “demorados” 120 minutos de duração. E, com isso, podemos ver como não só o mundo, mas o cinema mudou com tudo isso, entendendo o legado que todos estes homens deixaram para a sétima arte.
Além da série, a coragem
Além da série, outra coisa bem interessante que a Netflix oferece em seu catálogo são os filmes que foram mencionados pelo documentário, o que mostra uma coragem da produtora em oferecer este tipo de conteúdo. Os vídeos eram produzidos para serem exibidos para o público no cinema antes do filme o qual iriam assistir, ou para serem exibidos para os soldados, como instrução para a batalha.
Os vídeos para os soldados que contam com maior grau de polêmica, pois contam com a posição dos Estados Unidos quanto a guerra. Assim, o difícil Know Your Enemy: Japan, no qual os japoneses são retratados de uma maneira extremamente preconceituosa e desumana (e que nos faz refletir as razões que levaram aos EUA explorirem duas bombas atômicas por lá) foi polêmico já em sua época, piorando sua situação no contexto em que vivemos. Mesmo assim, é um sinal de coragem mantê-lo em seu catálogo, junto com outros clássicos contemporâneos, como Memphis Belle, que mostra uma batalha da Força Aérea, Let There be Light, que apresenta os soldados que sofreram psicologicamente com o confronto, ou The Negro Soldier, que buscava convencer os negros a se alistarem ao Exército.
Todo este material apresenta um rico conteúdo histórico, e cinematográfico, pois podemos conferir de maneira completa o trabalho destes diretores, assim como conferir em imagens com a melhor definição possível para um filme dos anos 40 como era o mundo daquela época.
A casa das séries também pode ser a casa dos documentários
A Netflix já se estabeleceu como uma grande produtora de seriados. Todos os dias vemos nossos amigos comentando sobre alguma de suas séries no Facebook ou no Twitter. Mas os documentários também são bem vindos. Apesar de contar no catálogo com bastante documentários de outras produtoras, a Netflix entendeu com Five Came Back como oferecer um material completo, organizado e bem feito, explorando o conceito de seriado com direito aos filmes mencionados como um “extra”. Pode ser a deixa para que vários documentários novos possam ser encorajados e desenvolvidos, de preferência com a mesma qualidade e competência deste que estamos comentando.
Five Came Back e todos os filmes mencionados no documentário estão disponíveis na Netflix.