Arkade VR: Meta Quest 2 e o tão esperado avanço da realidade virtual
Lançado oficialmente em outubro de 2020 em duas versões (64 e 256 Gb de armazenamento) sob o nome de Oculus Quest 2, este é o mais recente óculos de realidade virtual lançado no mercado. Ainda mais recente é a sua terceira versão, lançada em agosto de 2021 com espaço de armazenamento intermediário entre as duas versões anteriores (128 Gb). E finalmente tenho o meu em mãos para a confecção desse texto!
Atualmente chamado de Meta Quest 2 — por conta da mudança de nome da antiga Facebook –, este é o aparelho de realidade virtual que prometeu popularizar a tecnologia para mais pessoas. Com alguns diferenciais bem relevantes, como a ausência de cabos e o fato de funcionar de forma autônoma, é possível dizer que estamos realmente com a tão esperada evolução e popularização da tecnologia em mãos? Vamos descobrir um pouco nessa matéria!
Uma aura futurista e elegante
Ao abrir a caixa do Meta Quest 2, a primeira expressão que me veio à mente foi “menos é mais”. Além do design simples da própria embalagem, temos também uma ausência incrível de “firulas” como encartes, plásticos, caixinhas e afins. As pilhas AA já vem dentro dos controles com apenas um plástico separando-as dos receptores, o óculos em si vem com algumas proteções e nada mais.
Os próprios avisos de instruções vêm nas proteções do aparelho de forma bem simples, além dele já vir com carga para uso. Logo, é muito simples você abrir a caixa, remover as proteções e já começar a usar o aparelho. Essa simplicidade traz uma aura de elegância muito satisfatória, além do aparelho em si ter um design minimalista e futurista sem precedentes.
A coloração branca e cinza com detalhes pretos é muito elegante e bem discrepante do seu modelo anterior, o Oculus Quest, que era totalmente preto. A mudança de cor traz uma leveza ao aparelho que corrobora a experiência também: com apenas 503g de peso total, o aparelho é incrivelmente mais leve que o seu antecessor, que pesava 2.7kgs. A título de comparação, o PlayStation VR pesa 600g excluindo-se seus cabos.
Por fim, talvez a única escolha não tão interessante no design tenha sido a cor das faixas utilizadas para prender o aparelho à cabeça do usuário. Isso porque o branco gelo (ou cinza claro, não sei) vai acabar encardindo bastante com o passar do tempo. Principalmente se o usuário tiver preferência por jogos mais aeróbicos como Beat Saber, Drums VR e Box VR. Talvez uma faixa um pouco mais escura resolvesse o problema removendo a aparência de “suja” que a fita elástica tende a apresentar com o tempo.
A tão desejada autonomia
Após algumas configurações básicas e a utilização obrigatória de uma conta do Facebook para usufruir de tudo que o Meta Quest 2 tem a oferecer, já dá pra ter um gostinho do quão avançado esse aparelho de fato é. Utilizando um sistema de rastreamento com seis graus de liberdade orientado por quatro câmeras e alguns sensores localizados na parte frontal do aparelho, ele não necessita de nenhum cabo ou aparelho externo para funcionar, apenas um ambiente minimamente iluminado.
Seus controles, igualmente sem fios, são incrivelmente leves e podem ser fixados à mão através das tradicionais cordinhas de segurança para fixá-los nos pulsos (o Nintendo Wii realmente deu diversos exemplos da necessidade dessas cordinhas lá em 2006). A combinação de controles leves e fáceis de usar com um óculos incrivelmente leve e que dispensa qualquer aparato que não seja exclusivamente ele gera uma sensação de liberdade sem precedentes na realidade virtual.
A autonomia do Meta Quest 2 é real e surpreende muito. Inclusive, o aparelho possui diversos mecanismos de segurança para evitar possíveis e prováveis acidentes por conta de tanta liberdade que apresenta. Uma das mais surpreendentes e verdadeiramente úteis é a possibilidade de criar uma área de segurança chamada de “Guardião”, como se fosse uma gaiola virtual delimitada pelo próprio usuário. Assim, ao chegar próximo das bordas dessa “gaiola”, ela se tornará visível ao usuário independe do que esteja sendo utilizado.
Além disso, caso atravesse essa “gaiola”, as câmeras externas do Quest 2 servirão de olhos para o usuário, que poderá ver o ambiente ao seu redor em câmeras preto e branco sem a necessiade de remover o aparelho para isso (surreal, não é mesmo?). Soma-se a isso o incrível áudio 3D do aparelho que praticamente dispensa fones de ouvido e só atrapalha o ambiente externo caso o volume do óculos fique próximo ao máximo.
Portátil sim, fraco jamais!
Um ponto que vale a pena ser citado quando diz respeito ao Meta Quest 2 é que, quando falamos de seus aspectos “mobile”, nem de longe assuma que isso deixa o aparelho defasado no que diz respeito à potência. Com um processador Qualcomm Snapdragon XR2, 6Gb de memória RAM, uma resolução nativa de 1832 x 1920 para cada olho em LCD e suportando taxas de atualização de 60Hz, 72Hz e 90Hz, o aparelho rivaliza com modelos robustos como o Valve Index por exemplo.
Se o aparelho bate de frente com modelos de óculos de realidade virtual que ultrapassam os 10 mil reais e exigem PCs robustos para funcionar, o que dizer então da sua comparação com os aparelhos de entrada que pretendia rivalizar, como o GearVR e o PSVR? Bom, como uma imagem costuma valer mais que mil palavras, trago um print do site Versus.com comparando vários elementos dos três modelos:
Toda essa qualidade de processamento, imagem, monitoramento, som e mobilidade é realmente sentida pelo usuário final de modo muito gratificante. Tudo é muito fluido desde o carregamento do sistema operacional dos óculos até os jogos e vídeos que são vistos nele. Toda essa fluidez e qualidade de imagem permitem que utilizemos, por exemplo, nosso computador dentro de um ambiente virtual, ou então assistamos filmes e vídeos sem prejuízo nenhum de qualide de imagem!
E por falar em possíveis aplicações e usos que o Meta Quest 2 pode ter, durante minha semana inicial de testes e explorações pude me surpreender bastante. Principalmente por ter acesso a elementos do aparelho que não estavam presentes em seu lançamento mas que agora funcionam com qualidade ímpar. Vamos falar do principal deles pra mim agora.
O Quest 2 como PCVR?
Talvez uma das mais relevantes funcionalidades do Quest 2 seja o Air Link, que permite conectar seu Quest 2 ao seu PC via conexão Wi-fi 5G. Essa conexão só era possível por cabos USB-C em seu lançamento, mas agora já é fluida o suficiente via 5G. E para que serve essa conexão? Bom, além de você poder mexer em seu PC tranquilamente em ambiente virtual, com este recurso você tem acesso a várias funcionalidades extras e até um teclado virtual bem confortável… e também pode jogar games de PCVR pelo Quest 2.
Acontece que ao conectar seu Quest 2 em um PC, o sistema do Steam VR enxerga ele como um Oculus Rift e daí todas as funcionalidades da plataforma passam a ser acessíveis, incluindo todos os games disponíveis no PC, seja por Steam VR ou outros meios. Claro que estes games estarão rodando no seu PC e “streamados” para o óculos, o que demanda um PC potente para a tarefa. Mas o resultado final é incrível.
Além disso, mesmo que ainda exija configurações acima da média para rodar os jogos, é importante citar que ele continua sendo o PCVR mais acessível possível. Já que pode ser conectado até a um notebook sem maiores empecilhos, por utilizar apenas a conexão Wi-fi ou então um cabo USB-C. Outros óculos PCVR exigem muito mais entradas e conexões, com alguns modelos precisando ser conectados diretamente na placa de vídeo para funcionar.
Em meus testes, consegui jogar muito bem games como Beat Saber, Zenith: The Last City, Subnautica, Elite Dangerous, Shadow Legends VR, Everspace, Hellblade: Senua’s Sacrifice VR Edition e alguns outros.
Vale ressaltar que, nestes testes, utilizei o mesmo notebook gamer que uso para analisar jogos aqui para o site — e que conta com um processador I5 e placa de vídeo ainda da geração GTX, ou seja, mesmo que tenha uma configuração acima da média, está longe de ser um modelo de última geração. E tudo funcionou consideravelmente bem!
Para um milhão de perfis de uso!
É importante lembrar que, mesmo que meu foco particular de uso do Quest 2 seja principalmente os games, o potencial do aparelho vai para muito além disso! É completamente viável trabalhar com ele, assistir filmes, acessar redes sociais, navegar pela internet, usar o PC para diversas funções e muito mais.
Atualmente é possível dizer que a maior parte do público que adquiriu o Quest 2 foi para jogar. Entretanto, as funcionalidades do óculos principalmente para setores da arquitetura, engenharia, tecnologia, marketing e mídias são incríveis. Se você atua em uma dessas áreas, vale a pena dar uma pesquisada sobre tudo que existe no mercado de softwares de realidade virtual compatíveis com o Quest 2 — e que pode ser útil para você.
Fora isso, desde que a Meta adquiriu a Oculus o foco de Mark Zuckerberg com a tecnologia visivelmente está voltado para a sociabilidade. Desde que o famigerado Metaverso caiu na boca do povo, muitos se perguntam quando isso vai finalmente vingar. Minha resposta? O Metaverso já está em andamento e já é possível sentir o gostinho dele. O Meta Quest 2 tem tudo para ser a porta de entrada deste universo virtual.
Sob a marca “guarda-chuva” Horizon, a Oculus oferece diversos aplicativos para coworking, interação social, reuniões e eventos — tudo em um ambiente virtual imersivo gratificante, o chamado Metaverso. Atualmente temos o Horizon Workrooms bastante funcional para ajudar a focar no trabalho e fazer reuniões online em ambiente virtual. Por sua vez, o Horizon Venues possui ambientes para interação social e eventos como apresentações de artistas entre outros. Já o Horizon Worlds, que estará disponível provavelmente ainda esse ano, promete ser a união de tudo isso.
As limitações que impactam o Quest 2
Entretanto, aqui entra um dos principais pontos negativos do Meta Quest 2 para nós brasileiros: mesmo com o site todo em português e o idioma presente nativamente no sistema, o produto não foi lançado oficialmente no Brasil. Isso impacta em várias questões, como seu valor no mercado, direitos como garantias de fábrica e, principalmente, sua loja online.
Como ele possui um sistema operacional próprio baseado em Android, o Quest 2 também possui uma loja online com diversos jogos (muitos deles exclusivos) e vários aplicativos pagos com diversas funcionalidades diferentes. O problema nisso? Essa loja está toda em dólar! É isso mesmo, não existe uma equivalência da loja para valores em real, além de somente cartões internacionais funcionarem nela.
Isso atrapalha bastante a utilização da loja em terras tupiniquins, principalmente com o atual valor da moeda fazendo com que paguemos quase cinco vezes o valor de cada aplicativo ou jogo da loja.
Felizmente, o Meta Quest 2 possui uma arquitetura aberta, permitindo que qualquer usuário faça um cadastro como uma espécie de desenvolvedor e possa instalar diversos aplicativos direto do PC no óculos, utilizando plataformas como o SideQuest, que traz vários programas em acesso antecipado ou em desenvolvimento de forma gratuita.
E por falar em limitações, temos a mais significativa de todas: sua bateria. Não me entendam mal: a duração da bateria do Quest 2 é satisfatória para o que ele propõe: com duração de duas a três horas dependendo do uso. Porém, para usos mais prolongados como o relacionado a games, esse tempo é muito curto, mesmo conectando o aparelho no carregador. Isso porque o carregador não impede que ele descarregue enquanto está ligado, só atrasa o processo. É o preço da mobilidade ilimitada e sem cabos…
A esperada acessibilidade da realidade virtual
Mas para além de qualquer infelicidade relacionada à loja online ou sua bateria, o Meta Quest 2 alcança patamares que óculos de realidade virtual algum ameaçou alcançar antes dele. O salto tecnológico do aparelho supreende bastante, principalmente quando comparamos com seu valor de mercado. No Brasil, ele costuma ser vendido por algo entre R$2500,00 e R$3500,00 na data que este texto está sendo escrito.
Claro que é um valor salgado, ainda mais em tempos de crise. Porém, se formos comparar com o valor dos consoles de última geração, que chegam a quase 5 mil reais, esse preço se torna (um pouco) mais palatável. Além disso, podemos comparar o mesmo valor com o custo atual para se obter um PlayStation VR, que beira os dois mil reais (e você ainda vai precisar de um PS4 ou PS5 para conectá-lo, o que faz o valor subir para bem mais do que o valor do Quest 2).
Sendo assim, levando em consideração tudo que o Quest 2 pode oferecer atualmente e todo o potencial que ele tem a médio prazo, é muito seguro dizer que, sim, ele representa uma evolução há muito esperada na tecnologia da realidade virtual.
Imersão incrível, liberdade de movimentação, praticidade de uso, desempenho excelente e autonomia são todas características que, mescladas ao preço (consideravelmente) acessível do aparelho, fazem com que ele seja o primeiro passo para uma realidade talvez um pouco mais parecida com a do livro Jogador Nº 1.
Ainda vamos falar muito sobre o Meta Quest 2 e alguns de seus jogos por aqui, então fique ligado!