Arkade VR: Zenith – The Last City não é perfeito, mas tem a magia dos MMORPGs

19 de julho de 2022
Arkade VR: Zenith - The Last City não é perfeito, mas tem a magia dos MMORPGs

Desde quando os primeiros games em realidade virtual começaram a se popularizar, muito se pediu por uma experiência de MMORPG para este nicho da indústria. Zenith – The Last City surgiu justamente dessa demanda, através inicialmente de um projeto independente que angariou fundos pelo Kickstarter e depois de anos de desenvolvimento chegou aos consumidores.

Assim, depois de muitos protótipos e testes betas, temos em mãos talvez o primeiro lançamento oficial de um MMORPG em realidade virtual. O game desenvolvido pela empresa independente Ramen VR é claramente um game de escopo pequeno, mas que já traz muito da experiência dos MMOs para o mundo da realidade virtual. Mesmo com alguns bugs notáveis e inconstância de texturas no PlayStation VR, Zenith consegue causar uma excelente impressão em sua primeira versão. Vamos para a nossa análise?

Arkade VR: Zenith - The Last City não é perfeito, mas tem a magia dos MMORPGs

A última cidade

Importante ressaltar, antes de mais nada, que Zenith nem de longe pode ser comparado aos atuais MMORPGs referência do mercado atualmente. Nada de Elder Scrolls Online, Final Fantasy XIV, Lost Ark ou World of Warcraft em nossas comparações. Isso porque, como citei há pouco, o escopo do jogo é infinitamente menor do que esses mega projetos e, além disso, suas referências são bem mais antigas e próximas aos clássicos do gênero.

Assim, é muito mais fácil comparar o que vi e joguei durante dezenas de horas em Zenith – The Last City com ícones mais antigos dos RPGs online como Ragnarok Online, Perfect World, RuneScape e Phantasy Star Online Episode I&II. Isso porque o game soa quase nostálgico em seu ritmo, sua narrativa, sua estética e seus desafios. Nada de árvores de skills muito complexas cheias de variáveis, classes quilométricas e foco em sair passando de níveis o mais rápido possível.

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Mesmo com traços simples, o mundo de Zenith é muito belo.

Em Zenith a ideia é convidar o jogador a conhecer um novo mundo mágico de RPG online, mas com uma aura de encantamento muito mais próxima do que tínhamos na época que desbravávamos nossos primeiros mundos online. E ele consegue fazer isso muito bem, principalmente pelo fato de estarmo em realidade virtual. É sim um novo mundo, algo que nunca fora experimentado nesse escopo. E o pessoal da Ramen VR soube resgatar bem essa aura de nostalgia com uma baita inovação aqui.

Assim como estes jogos mais antigos, a lore está ali para quem quiser e tiver curiosidade. Mas ela é bem vaga e espassada na jogatina. Somos habitantes da chamada “última cidade” que dá o subtítulo ao game. Como membros da cidade e bons aventureiros, temos o “dever” de ajudar em inúmeras situações a fim de ajudar habitantes e resolver determinados problemas. Nada muito inovador, como eu disse. Mas é executado de um modo que agrada bastante mesmo assim.

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Você pode dar “tchau” com a mão para abrir um diálogo com os NPCS.

Visual nostálgico que agrada

Zenith – The Last City nos leva a um mundo de magia e tecnologia bem encantador que conversa muito bem com o seu visual. Mesmo que tenha uma aparência bem simples à primeira vista, nada ultrarrealista ou estonteante demais, o toque oriental nos traços do game agrada bastante. Além de ser mais uma referência aos MMORPGs clássicos.

Esses traços mais cartunescos também auxiliam em outro fator: tornar o mundo do jogo mais crível para se jogar em realidade virtual sem necessariamente torná-lo realista, o que exigira muito mais programação e processamento. Isso faz com que as versões do jogo para PCVR e Meta Quest 2 se tornem muito belas e coloridas mesmo com traços simples e com pouco polimento.

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As texturas no PSVR são bem mal otimizadas…

Porém, vale ressaltar que a versão de PlayStation VR tem prejuízos nesse quesito visual. Provavelmente devido às limitações de hardware já gritantes no óculos de realidade virtual do PS4, Zenith – The Last City funciona em configurações abaixo das mínimas do PC no console. O resultado são texturas mal carregadas e recursos como o de carregamento do mapa por área, que precisa ser desativado manualmente nas configurações do game.

Isso não inviabiliza jogar Zenith no PSVR, porém torna a experiência bem inferior se comparada à das demais versões do MMO. Principalmente se pensarmos que o jogo é completamente cross-play e cross-save, o que é excelente em certos quesitos, mas que acaba deixando os jogadores em pé de desigualdade de acordo com o hardware que está sendo utilizado para jogar.

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Em compensação, o jogo brilha bastante no Quest 2 e no PC.

Poucas classes, mas com possibilidades

Falando propriamente da jogabilidade do título, temos combates que lembram bastante o esquema visto em outros RPGs em realidade virtual, como o próprio Skyrim VR. Mas com algumas otimizações e melhorias de jogabilidade que tornam os combates mais imersivos e interativos que a maioria dos games com temática parecida com a de Zenith disponíveis atualmente.

São basicamente duas classes básicas no jogo: Blade Master e Mage. Obviamente sendo separadas pela distância do combate, com os Blade Masters voltados para o combate corpo a corpo enquanto os mages trabalham mais à distância. Entretanto, essa separação se torna menos estática quando vemos as especialidades que cada uma das classes possui.

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Isso porque cada uma das duas classes possui três árvores de especialização que funcionam de modo distinto uma das outras. Sendo cada uma dessas focada em uma função PVP/PVE: tanque, dano ou suporte. O interessante é que o jogo te permite trocar livremente entre as três especializações durante o game. Porém, os pontos de experiência acumulados em cada uma das especializações fica fixo nela.

Assim, na prática, mesmo que você esteja no nível 40 como um Blade Master Tank, você precisará começar o jogo do zero com novos equipamentos e progressão caso queira trocar para a especialização Suporte por exemplo. Caso chegue ao nível 30 de suporte e queira voltar para a build Tank, seu nível 40 estará lá te esperando intacto. Isso evita a necessidade da criação de diversos personagens, precisando apenas de dois para alcançar as seis possibilidades de build existentes no momento.

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A próprias habilidades são equipadas e recebem melhorias.

Interação imersiva cheia de comandos práticos

Essas diferenças entre Blade Masters e Mages não giram em torno apenas do distanciamento do combate e equipamentos. Na verdade, toda a dinâmica de jogabilidade de cada um é diferente, devido ao modo como batalhamos no game. Zenith – The Last City pega emprestado o conceito de estamina que ficou bem popular em soulslike para regular o limite de esquivas e defesas que o jogador pode fazer antes de se recuperar um pouco.

Isso por si só já torna os combates bem mais táticos e estratégicos do que a maioria dos games em realidade virtual possui atualmente, sem perder ritmo de luta. Porém, o que mais chama a atenção nos combates de Zenith são as movimentações necessárias para desferir golpes e habilidades. Um Blade Master maneja duas espadas de várias formas ativando habilidades especiais que são exclusivas de cada especialização.

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Esses movimentos podem ser cortes laterais, transversais, verticais ou estocadas. Além de poder carregar suas espadas para uma habilidade ultimate exclusiva. Por sua vez, magos funcionam de forma semelhante na lógica, mas com movimentos bem distintos que envolvem a troca entre armas e as mãos nuas, essas últimas para a invocação de magias como chuva de gelo, bolas de fogo, campos de debuff e muito mais.

O resultado final é uma jogabilidade bem fora da caixinha que tira o jogador da zona de conforto obrigando-o a fazer movimentos distintos para que o combate funcione da melhor forma possível. Além disso, simplesmente balançar controles para causar dano não funciona muito aqui, evitando que o jogo se torne ridiculamente fácil siplesmente por balançar rápido demais as armas (algo muito criticado em Skyrim VR por exemplo).

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Progressão até onde sua paciência alcançar

Toda essa imersão em combates torna os embates bem interessantes e divertidos, com o jogador aprendendo de forma bem orgânica qual é o melhor combo não somente de habilidades, mas de movimentos físicos a serem feitos para que o combate se torne cada vez mais fluído e otimizado. Esse senso estratégico se torna ainda mais desafiador quando enfrentamos hordas muito grandes de inimigos ou então bosses de mapa.

Mas os combates sozinhos não poderiam sustentar dezenas de horas de jogo sem um cansaço por parte dos jogadores. Daí entram as missões de mapa. Aqui, Zenith – The Last City não foge nem um pouco do tradicionalismo das missões principais, secundárias e diárias já conhecidas de outros RPGs online. Porém temos algumas críticas nesse ponto.

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Acontece que Zenith não só referencia os RPGs online dos anos 90 e 2000 como também compartilha alguns dos seus principais defeitos. Entre eles, podemos citar dois como os que mais me incomodaram durante a jogatina: inimigos repetitivos e ritmo de progressão maçante. A começar pelos inimigos, estes possuem uma variação razoável, mas não vemos mais do que duas ou três variações por região, tornando os mapas um tanto cansativos quando você se demora demais neles.

Mas essa falta de diversidade de adversários não seria nada incômodo se não tivéssemos também uma monotonia nas missões. As clássicas missões de “fale com fulano” ou “colete 10 itens para beltrano” ou até as terríveis “mate 30 inimigos” só são quebradas por raras missões de parkour onde o jogador precisa voar, escalar ou nadar para alcançar determinados locais ou chaves. Estas sim, são missões criativas e desafiadoras, mas que infelizmente não são tão presentes como eu gostaria na jogatina.

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Atividades extras imersivas

Que Zenith é bastante focado em grind e ações repetitivas, isso já deu pra entender. Porém, nem só de repetição o game da RamenVR funciona. Isso porque, felizmente, foram incluídas algumas mecânicas de movimentação e crafting no jogo que dão um respiro muito gratificante para o rimo cansativo de progressão de nível.

Entre essas mecânicas, temos duas principais que chamam muita atenção já nas primeiras horas de jogo: o crafting de comidas e poções e a movimentação de voo. A começar pela cozinha, temos uma bancada com panelas, frigideiras e armários que podemos utilizar em qualquer lugar do mapa. Lá fritamos panquecas jogando-as pra cima, fervemos leite em panelas na temperatura certa, picamos frutas e carnes e cozinhamos massas.

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Essas receitas são obtidas através de uma sequência de missões próprias e garantem os mais variados buffs temporários para o jogador entre aumento de vida, aumento de mana, aumento de estamina, escudo extra entre outros. Essas receitas, inclusive, podem se tornar mais ou menos eficientes de acordo com o preparo, o que foi um baita acerto da RamenVR para criar uma mecânica de jogo bem interessante, divertida e relevante para a jogatina.

Já na movimentação aérea, precisamos abrir os braços enquanto estamos no ar para planar e mover suavemente as mãos para direcionar o voo. Parece um pouco estranho no início, mas a curva de aprendizado é bem rápida e torna o game ainda mais divertido. Juntamente com uma mecânica de escalada baseada na estamina que lembra muito Zelda Breath of the Wild e algumas outras mecânicas detalhadas que são muito gratificantes, como o nado debaixo d’água feito com movimentos de braço por exemplo.

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Uma experiência social mais que um jogo

Além da progressão, grind e possibilidades de crafting que o jogo possui, Zenith – The Last City chama mais a atenção por conta das suas possibilidades de interação social. Desde um chat de voz aberto opcional que funciona muito bem e permite uma interação orgânica entre jogadores desconhecidos até a possibilidade de curar amigos dando comida em suas bocas, tudo em Zenith proporciona uma interação muito bacana entre os jogadores.

Como o game é completamente voltado para conteúdo PVE, é muito bom ver que as mecânicas de interação foram pensadas justamente para otimizar esse tipo de comportamento cooperativo. E como estamos falando de um RPG online, obviamente é muito mais divertido de ser jogado em equipe, seja com desconhecidos ou combinando de jogar com amigos em conjunto.

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Meus amigos se despedindo para deslogar de Zenith hahaha

E mesmo que Zenith não possua algumas mecânicas de outros MMORPGs como o chat privado por exemplo, temos outros artifícios que compensam isso, como a possibilidade de se teleportar para perto de um amigo online sempre que quiser. Por tudo isso é válido dizer que Zenith pode não ser o melhor MMORPG para se jogar solo, mas acerta onde vários jogos modernos do gênero erram: em incentivar a interação entre jogadores.

Com isso, me peguei diversas vezes tendo interações divertidas e únicas com jogadores num ritmo que mais me lembrava jogos sociais como ChatVR ou Rec Room do que um MMO hardcore como Lost Ark por exemplo. E isso por si só me disse muito do que é a experiência de jogar Zenith – The Last City. A progressão maçante e conteúdo levemente repetitivo é bastante suavizado pelas interações sociais e mecânicas secundárias criativas.

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Um novo mundo de maravilhas

Zenith – The Last City, apesar de seus defeitos, é sem dúvidas uma das melhores experiências em realidade virtual que eu já tive. Ele se junta a ícones como Pixel Ripped 1995 e EmuVR como um jogo que te abraça e te transporta para uma verdadeira realidade alternativa. Os problemas de ritmo do jogo nem de longe impedem Zenith de ser um dos melhores jogos em realidade virtual do ano!

E para além do conteúdo mais “casual” e social que ele possui, jogadores amantes de conteúdo “pós-game” podem se deliciar com os conteúdos periódicos que a RamenVR está soltando para o jogo. Além de uma terceira classe base prometida para o próximo ano, já temos o primeiro conteúdo relamente grante liberado, focado justamente no end game de Zenith, com a inserção do Trono Celestial.

Zenith – The Last City foi lançado em 27 de janeiro de 2022 para PCVR (via SteamVR), Meta Quest 2 e PSVR. Para esta análise, jogamos o game em sua versão de PSVR e PCVR utilizando um Quest 2 com Air Link, totalizando mais de 100 horas de jogatina em dois personagens diferentes.

Gilson Peres

Gilson Peres é Psicólogo, Mestre em Comunicação e aqui no Arkade fala principalmente sobre Realidade Virtual, jogos de PC e novas tecnologias desde 2019.

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