CEO da Activision Blizzard é acusado de total cumplicidade nos casos de abusos denunciados
A situação da Activision Blizzard, em relação aos diversos casos de abusos sexuais denunciados, tornou-se muito pior após o Wall Street Journal publicar um artigo em que acusa a companhia, e principalmente seu CEO, Bobbt Kotick, de total cumplicidade em todos esses casos.
O artigo, que entrevistou advogados de mulheres vítimas de assédio dentro da companhia, inclusive levando os casos à justiça americana, detalham diversos casos envolvendo o CEO diretamente, datando desde o ano de 2006.
Em 2006, Kotick ameaçou matar uma assistente via telefone. Essa assistente fez uma denúncia contra isso, com Kotick resolvendo a situação fora do tribunal. A própria Activision Blizzard confirmou que isso de fato aconteceu, comentando, em uma declaração em resposta ao artigo da Wall Street Journal, que Kotick desculpou-se na ocasião por essa sua conduta agressiva, arrependendo-se profundamente do que falou à assistente.
O artigo segue mencionando múltiplos casos de assédios e abusos que foram denunciados internamente na Activision Blizzard, que foram ignorados ou tratados de forma branda pelo CEO. Entre os casos descritos, há alguns como um em 2007, em que Kotick demitiu uma assistente de voo de seu jato particular que contou a ele que o piloto do próprio jato a assediou. Segundo o artigo, ele chegou a dizer “eu vou destruir vocês” para a assistente de voo e seus advogados. Esse caso foi encerrado em 2008, com ele tendo que pagar 200 mil dólares de indenização.
Outros casos mencionado incluem o de Dan Bunting, ex-co-diretor da Treyarch e Activision, que assediou uma funcionária em 2017 após consumo de bebidas alcoólicas. Uma investigação sobre o caso só foi conduzida internamente em 2019, com a conclusão de que a melhor ação seria demitir Bunting, porém Kotick não permitiu isso, mantendo-o na companhia e apenas punindo-o com sessões de aconselhamento. E agora, após o artigo da WSJ vir a tona, Bunting deixou seu posto na Activision.
Em 2017 outros casos graves, envolvendo estupros, foram denunciados contra o supervisor da Sledgehammer Games, Javier Panameno. O caso foi levado à polícia, mas não resultou em nenhuma condenação. Somente em 2018, após a saída da funcionária que fez as denúncias, os casos foram informados à Activision, resultando na demissão de Panameno. No entanto, em 2017 o setor de Recursos Humanos da Sledgehammer recebeu a denúncia da funcionária, com nenhuma ação sendo tomada em relação a isso.
É importante notar como nessa linha do tempo, somente a partir de 2018 que os acusados e abusadores passam a efetivamente receberem punições, mesmo que sejam meramente demissões, sem maiores repercussões legais. Entre outro nome demitido em 2018 está o de Ben Kilgore, antigo chefe de tecnologia da Blizzard, que recebeu inúmeras denúncias de assédio ao longo de vários anos, mas somente em 2018 foi demitido.
Uma denúncia grave que o artigo faz é em relação à polêmica envolvendo Frances Townsend, Diretora de Conformidade da companhia. Em julho, veio a tona um e-mail assinado por ela em que chama o processo movido pelo Governo da Califórnia contra a companhia de “representar uma imagem inverossímil e distorcida da Activision Blizzard“. Acontece que esse e-mail não foi escrito por Townsend, mas sim pelo próprio Kotick.
Bobby Kotick escreveu o e-mail, aprovou-o e ordenou que fosse repassado por Townsend em seu nome. Após o e-mail ser duramente criticado, gerando um abaixo-assinado de milhares de funcionários e o início de uma série de greves, Kotick veio a público desculpar-se pela mensagem “escrita” por Townsend, considerando-a inadequada. Mas, agora sabe-se que ele próprio escreveu o e-mail e condenou-o publicamente. A informação de que ele próprio escreveu o e-mail foi confirmada pela própria companhia, que urgiu para que Townsend não fosse mais tida como culpada por ele.
A WSJ ainda entrou em detalhes sobre a saída de Jennifer Oneal do cargo de co-presidente da Blizzard após 3 meses no posto. Ela assumiu o cargo junto de Mike Ybarra em agosto, deixando o cargo no início de novembro, alegando que o motivo não era relacionado a decepção com a companhia, mas para buscar oportunidades na luta pelo direitos das mulheres na indústria de video games. Segundo o artigo, não foi esse o motivo.
Em setembro, ela enviou um e-mail para um advogado da Activision anunciando sua intenção de sair, dizendo: “está claro que a companhia nunca priorizaria nosso povo do jeito certo”. Ela menciona que foi vítima de assédios anteriormente, além de que seu salário era menor que o de Mike Ybarra, mesmo com ambos ocupando o mesmo posto na presidência da Blizzard. Sua saída foi sim motivada por decepção, discriminação, assédios e sexismo.
Em vista de tudo isso, os funcionários da Activision Blizzard organizaram uma nova greve, contando com mais de 100 funcionários que estiveram presentes ontem na frente da Blizzard demandando a demissão de Bobby Kotick de seu posto de CEO. Novos protestos e greves também estão sendo organizadas.
Kotick e a Activision Blizzard condenaram duramente o artigo da Wall Street Journal, considerando-o mentiroso e exagerado. Além disso, ambos mais uma vez comprometeram-se em trabalhar para eliminar completamente a cultura machista e opressora dentro de seus estúdios, numa nova política de tolerância zero. Já os funcionários e vítimas, torcem para que essas novas denúncias sejam a gota d’água para os investidores enfim tomarem uma ação contra o CEO.
Se quiser acompanhar todo o caso da Activision Blizzard, confira nossos artigos relatando toda a história desde o começo.