Chumbawamba, a banda que você conhece por causa do World Cup ‘98 (e do Homer Simpson)
Se você jogou World Cup ’98, o jogo oficial da Copa do Mundo da França, com certeza você se lembra da música de abertura. Desde que foi possível incluir músicas nos games, a EA adotou a estratégia de adicionar músicas em seus games, incluindo os de esportes. E, para o game que traria todos as seleções e estádios do mundial disputado em solo francês, a música escolhida foi um hit daqueles dias: Tubthumping (I Get Knocked Down), do álbum Tubthumper da banda Chumbawamba, lançado em 1997.
Trata-se do que conhecemos como um “One Hit Wonder”, ou seja, a música que representou um único grande sucesso para um artista ou banda. Mas este “único sucesso” não ficou preso no tempo, já que até hoje é lembrado, e até Homer Simpson já curtiu a música, no vigésimo episódio da décima terceira temporada, que estreou originalmente em 2002, quatro anos após o lançamento do FIFA especial:
A música segue fazendo sucesso até hoje, a ponto da própria banda, em pleno 2024, pedir para o o vice-primeiro-ministro da Nova Zelândia, Winston Peters, parar de usar a canção em comícios e eventos públicos porque o grupo se opõe veementemente à agenda conservadora do político.
Mas o Chumbawamba, a banda que toca tal música, não era uma novata naqueles dias. A banda nasceu em 1982, em Burnage, Manchester, e desde cedo trouxe uma proposta mais experimental, com influências do punk, funk e pop, misturando tudo em um som único. Apesar da música que os colocou no topo das paradas ser bem dançante, na verdade a banda sempre teve uma postura política forte, com o posicionamento na anarquia.
Apesar de Tubthumping não ser diretamente politizada, a frase inicial mostra um pouco do espírito da banda, ao cantarem “Eu fui derrubado / Mas eu me levanto novamente / Você nunca vai me deixar para baixo”. Assim, a a história do Chumbawamba é rica em ativismo, mudança e uma resistência constante contra o status quo. Questionar as estruturas sociais e políticas, em plena era Margaret Thatcher no poder quando começaram a tocar, era uma das bandeiras do gripo.
Mas, diferente de bandas mais politizadas, o som do Chumbawamba não era tão sério. Na verdade, a música do grupo, apesar de sempre falar de temas como direito dos trabalhadores, feminismo e a luta contra o capitalismo, era mais enérgica e repleta de sátiras. A banda também era forte crítica da indústria musical, com álbuns como como Pictures of Starving Children Sell Records (1986) e Slap! (1990) conhecidos por suas fortes críticas, e cheias de energia.
Por causa desta visão mais crítica, incluindo a indústria musical, a banda seguiu vivendo de forma independente, até chegar 1997 e o Tubthumper começar a atingir o too das paradas. A música, que tem toda uma vibe enérgica e alegre, na verdade fala sobre resiliência e espera de “dias melhores”. Apesar de seguir o tom da banda, fãs mais tradicionais da banda torceram o nariz para o hit, por acreditarem que isso fez a banda “se tornar comercial”, algo que sempre foi rejeitado por seus integrantes.
Falando em “tornar comercial”, foi a música escolhida por uma corporação, a EA, para ser a música título do World Cup ’98, provavelmente pelo seu começo que diz: “Nós estaremos cantando / Quando nós estivermos ganhando”, uma frase que inspira vitória e triunfo, a mensagem principal de uma Copa do Mundo. Mas engana-se quem acha que tal música fez do Chumbawamba uma banda “da MTV” por causa disso.
Em 1998, durante a cerimônia do BRIT Awards, quando a banda já estava no topo das paradas, a vocalista Danbert Nobacon jogou um balde de água em John Prescott, então Vice-Primeiro-Ministro do Reino Unido, para protestar contra a política do governo de seu Partido Trabalhista, um partido de centro-esquerda. E, apesar da música parar no game da EA, a banda rejeitou muitas ofertas de grandes corporações para usar sua música em comerciais.
Passado o “hype”, a música do Chumbawamba continuou, de volta ao underground, mas incorporando ainda mais elementos de pop e folk. E, mesmo com a breve visita ao mainstream, eles nunca perderam de vista suas raízes políticas. A banda seguiu lançando seus álbuns, que experimentaram diferentes estilos musicais, como o trabalho seguinte ao Tubthumping, o The Boy Bands Have Won de 2000, que revisitava o pop com uma crítica social.
E, em 2012, após 30 anos de atividade, o Chumbawamba anunciou o fim de suas atividades. A banda, que nunca se importou com o sucesso e sempre preferiu experimentar e criticar ao invés dos holofotes, acabou tendo o seu “dia de glória”, embora nunca tenham o perseguido. Tubthumping continua, até hoje, sendo uma música de sucesso e vira e volta a gente ouve ela por aí. E a banda, com o seu jeitão irreverente e crítico, segue influenciando e conquistando novos fãs, até hoje.
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