Cine Arkade: A iminente saturação dos filmes de super-heróis

22 de agosto de 2015

Cine Arkade: A iminente saturação dos filmes de super-heróis

Na Cine Arkade desta semana vamos trazer uma crítica a um problema que está cada vez mais evidente nos filmes de super-heróis hoje em dia. Vamos falar sobre o pior vilão que assombra os nossos queridos super-heróis: a saturação.

Já faz algumas décadas que os longas-metragens sobre super-heróis estão na indústria do cinema, desde quando os cineastas ainda não sabiam exatamente o que fazer com aquele personagem e como adaptar seu universo para as telonas, mas ainda assim investiam em produções de qualidade variável e criavam um nicho de mercado que atualmente está mais vivo do que nunca.

Porém, muita coisa mudou desde então, e hoje em dia estamos recebendo filmes que realmente estão dando certo, deixando fãs, críticos de cinema e as grandes distribuidoras bem felizes pelo (enorme) sucesso financeiro e por levar personagens dos quadrinhos  de maneira fiel e respeitosa às telonas.

O caminho de lá para cá foi tortuoso e a dificuldade de trazer filmes de qualidade com as limitações de décadas atrás, além da forma errônea dos cineastas lidarem com personagem dos quadrinhos, foi um gigantesco obstáculo que só de uns anos para cá estamos conseguindo superar.

Mas será que não estamos extrapolando demais?

Cine Arkade: A iminente saturação dos filmes de super-heróis

Não me leve a mal, acho filmes de super-heróis extremamente interessantes e defendo que merecem toda a atenção que estão recebendo atualmente. Porém, estamos entrando em um caminho complexo que pode culminar no maior vilão de todos. O simples tédio e desinteresse por esse filmes causados pela iminente saturação do gênero.

Talvez tudo estivesse certo se fosse somente uma empresa lançando estes filmes. A Marvel, por exemplo, foi relativamente comedida  e ousada ao apostar em heróis pouco conhecidos do grande público e seguir um cronograma de no máximo dois filmes por ano que só será quebrado em 2017, quando teremos três filmes – Guardiões da Galáxia Vol.2, Homem-Aranha e Thor: Ragnarok.

Mas isto não quer dizer que a Marvel está isenta de qualquer culpa, muito pelo contrário na verdade, lembrando que o “cansaço” de super-heróis se situa no cinema há um bom tempo, desde os tempos em que sete, oito filmes de diferentes estúdios saiam em um único ano.

Cine Arkade: A iminente saturação dos filmes de super-heróis

Porém, a Marvel merece crédito por ter trazido uma fórmula que os antigos filmes não haviam encontrado até então, criando um plano de negócios que unisse todos os seus filmes em um único e ambicioso universo, assim como as próprias revistas em quadrinhos fazem ao unir diferentes super-heróis em diversas edições e sagas épicas.

Este universo – que depois foi chamado de MCU, sigla para Marvel Cinematic Universe – trazia a tão esperada união de vários super-heróis após a devida introdução de cada um deles: tivemos histórias apresentando Homem de Ferro, Thor, Capitão América, Hulk (e a própria S.H.I.E.L.D.) para só então eles se tornaram o que são hoje em dia, Os Vingadores.

Assim começou a Fase 1 do MCU, iniciada no primeiro Iron Man e terminando com Os Vingadores. Agora que estava tudo definido, era hora de continuar a história e trazer o verdadeiro vilão que estava por trás de tudo, prometendo mais duas fases que explicassem e concluíssem o arco contado, isso para não mencionar inúmeros curtas, séries de TV e animações que expandem o universo apresentado nos cinemas.

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A Fase 2 começou em 2013 com Homem de Ferro 3 e terminou neste ano com o Homem-Formiga, finalizando mais um arco e abrindo espaço para a Fase 3, em que veremos algumas das histórias mais interessantes desde então, como a Guerra Civil, a introdução de Homem-Aranha (agora by Marvel) e a concepção dos Inumanos, personagens que já deram as caras — mesmo que sutilmente — na série Agents of S.H.I.E.L.D.

No papel tudo parece extremamente interessante e a premissa indica que tudo pode dar certo, especialmente quando olhamos lá em 2008 e vemos como estes personagens se desenvolveram. Porém, as coisas não estão muito legais na prática, com Vingadores: A Era de Ultron mostrando algumas “rachaduras” que parecem cada vez mais visíveis na estrutura do MCU.

Uma das maiores reclamações dos últimos filmes que foram lançados é a constante obrigação que os cineastas têm de unir suas respectivas histórias, enfiando agressivamente situações, referências e pontes que não combinam com o enredo já construído para aquele filme, o que pode arruinar até mesmo um bom roteiro.

Por outro lado, temos filmes e séries que são excelentes justamente por não precisarem de trazer tantas conexões ao universo: Guardiões da Galáxia estava tão à margem do MCU que a sua conexão — ainda que importante — era delicada, maleável, e justamente por isso o filme surpreende por conseguir manter sua essência e sua personalidade  ao mesmo tempo em que “mantém a bola rolando” para complementar eventos que ainda irão acontecer daqui a alguns anos no cinema.

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O mesmo pode ser dito do Demolidor, série da Netflix que está pavimentando um caminho para Os Defensores, formado pelos super-heróis Jessica Jones, Punho de Ferro, Luke Cage e claro, Demolidor, todos personagens que irão receber respectivas séries da Netflix, em um formato bem diferente do que estamos acostumados a ver nos cinemas.

Porém, mesmo que a Netflix faça um bom trabalho com os outros personagens (como fez com Demolidor), ainda continuo com medo desse exagero, especialmente após essa “nova” vertente de super-heróis em séries de TV (outro formato que, como os cinemas, já dá indícios de estar exagerando na dose).

Enquanto a Marvel lida com a enorme bola de neve que é seu MCU, ainda temos mais duas empresas buscando seu lugar ao sol. A primeira é a 20th Century Fox, responsável pelas adaptações dos X-Men e suas infrutíferas tentativas de levar O Quarteto Fantástico para as telonas, incluindo aí o recente tiro pela culatra que foi o reboot.

O lado positivo é que a 20th Century Fox encontrou seu rumo após Dias de Um Futuro Esquecido ter corrigido alguns dos problemas que a primeira trilogia dos mutantes causou. Em sua estrada pela redenção ela ainda tem na fila o muito aguardado Deadpool, bem como mais um filme dos X-Men em produção.

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A segunda empresa que está nesta briga é a DC Entertainment, que chega devidamente acompanhada pela Warner Bros. e procura trazer mais seriedade aos seus filmes, que também está investindo tanto em seriados quanto em filmes, e em 2016 vai atirar para todo lado, colocando Batman, Superman, Mulher Maravilha e Aquaman em um único filme, além de levar o nem tão famoso Esquadrão Suicida para as telonas, que chega encabeçado por um Coringa totalmente novo e diferente na pele de Jared Leto.

Admito que continuo interessado em todas estas produções e acredito que a DC Entertainment trará um pouco mais de contraste ao mercado atualmentedominado pela Marvel. No entanto, não consigo tirar esse receio da minha cabeça, pois termos ainda mais heróis simultâneos nas telonas (e nas telinhas) aumenta a possibilidade de nos cansarmos disso pelo excesso.

Assim como nos videogames, os excessos e o “mais do mesmo” tende a cansar o público-alvo e o resultado é um declínio de vendas, fruto do desinteresse, pelo menos até que apareça algum elemento realmente novo para revitalizar um nicho.

Há alguns anos, era raro vermos um filme de super-herói sendo “levados a sério”, e hoje estamos em um nível onde os maiores lançamentos do ano são esses filmes, o que faz a indústria produzir mais e mais deles. O problema é que nem todos são bons, pois há tanta gente querendo uma fatia deste bolo que as vezes as produções acabam pecando em originalidade, em respeito à obra original, em execução, em roteiro…

Cine Arkade: A iminente saturação dos filmes de super-heróis

O irreverente (e sangrento) filme do Deadpool promete mais um respiro neste cenário saturado, mas um filme diferente a cada dez filmes “iguais” não é o bastante, e acredito que a qualquer momento entraremos na fatídica situação que a exagerada quantidade de filmes de super-heróis atinja um limite que não terá mais volta, e o resultado disso tudo ainda é imprevisível, mas tenho certeza que não será um resultado positivo para a indústria, nem para os personagens e muito menos para nós, fãs.

Arte da capa por Andrew Meinerding.

Henrique Gonçalves

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