Cine Arkade: A jornada pelos jogos eletrônicos em Video Games: The Movie

18 de outubro de 2014

Cine Arkade: A jornada pelos jogos eletrônicos em Video Games: The Movie

Mais um documentário sobre games surge após a campanha de sucesso pelo Kickstarter. Será que vale a pena assistir ou é melhor deixar o filme pra lá? Confira nossas impressões de Video Game: The Movie na matéria a seguir.

Em meados de 2013, o projeto Video Games: The Movie surgiu no Kickstarter comandando pelo cineasta independentes, Jeremy Snead. A ideia do projeto era trazer um documentário que conte a história dos videogames e explore o seu futuro (como seria o videogame daqui 20 anos? O filme apresenta suas teorias). O filme intitulado Video Games: The Movies já estava quase pronto, porém o documentário necessitava de uma melhoria na edição e finalização, assim Snead criou o projeto com a meta de 60 mil dólares, mas o resultado surpreendeu: 100 mil dólares. Com isso, músicas licenciadas e uma narração feita por alguém de renome poderia estar no projeto, além de melhorias no próprio material já pronto.

Logo após a sua chegada em alguns cinemas no Estados Unidos meses atrás, Video Games: The Movie está disponivel pela Netflix brasileira e por isso decidimos vê-lo e dar a nossa opinião, se ele cumpre o que foi proposto, se é de fato bem feito e se realmente cumpre sua promessa de adicionar algo em nossa cultura em geral.

Cine Arkade: A jornada pelos jogos eletrônicos em Video Games: The Movie

De acordo a Snead, o documentário se divide em três partes: uma introdução para a história dos videogames, explicando um pouco sobre cada videogame, dos clássicos aos mais atuais; Seus criadores e as empresas por trás destes consoles e jogos; E por último, apostas de um futuro tecnológico gamer, com diversas personalidades e desenvolvedores no mundo dos jogos dando suas opiniões e compartilhando histórias que envolvem as pessoas e situações relacionadas a esta subcultura.

Video Games: The Movie como documentário consegue evoluir sem tropeçar, com exceção ao lidar com o quão denso é a nossa sub-cultura mesmo vivendo em tão pouco tempo. Videogame é uma forma de arte extremamente nova se compararmos a filmes, quadrinhos e obviamente, de onde tudo se inspirou, em obras de arte e produções literarias do passado. E mesmo assim este é um documentario que não cabe em uma hora e quarenta minutos, especialmente quando vemos que algumas partes cruciais desta cultura são deixadas de lado ou simplesmente mencionadas rapidamente para não perder a viagem.

Esta situação se torna evidente justamente no começo, quando vemos todos os consoles da Nintendo sendo referenciados, além de alguns da Sony e Microsoft, no entanto a Sega foi completamente removida na “História dos Videogames”, com poucas menções visuais ao ouriço azul e somente duas referencias ao brutalmente honestos comerciais do Mega Drive durante a guerra dos consoles com a Nintendo. O que é uma pena quando lembramos o impacto que a Sega trouxe na indústria dos videogames.

Cine Arkade: A jornada pelos jogos eletrônicos em Video Games: The Movie

Neste segmento conseguimos ver a maioria da história sendo contada corretamente, com relatos de Nolan Bushnell e vários outros criadores que são considerados como os elementos principais durante o processo de criação do primeiro console já feito. E mesmo pela falta da Sega durante a linha do tempo, com certeza é apreciado o tempo tomado aos PCs, com desenvolvedores da antiga Westwood mencionando um pouco dos jogos de estratégia e o FPS que se criou longe dos consoles.

O restante desta porção é bem contada mas não chega a inovar ou explicar algo que alguém já dentro desta cultura não saiba, temos a lição de história e mistério durante a quase destruição dos videogames em 1983, quando muitos jogos de baixa qualidade começaram a inundar o mercado, incluindo a adaptação do famigerado E.T. O Extra-Terrestre para Atari; A salvação e revitalização dos videogames graças a Nintendo; e ainda vemos um pouco da disputa ferrenha entre a Microsoft e Sony, que é levada até hoje. Tudo isto é altamente informativo e recomendo para qualquer um que queira saber mais da história desta nossa subcultura, no entanto, para os mais conhecidos, ela se torna um pouco repetitiva e os únicos pontos que salvam o possível tédio são os comentários destas personalidades já mencionadas e o trabalho espetacular de edição.

A segunda parte do documentário foca em seus criadores e lá, na minha opinião, é onde o longa brilha de verdade graças a histórias contadas pelos desenvolvedores, jornalistas e até personalidades de TV, como Zach Braff (que está creditado como produtor executivo ao lado do criador de Gears of War, Cliff Bleszinski) e Donald Faison, estes dois conhecidos em seus respectivos papéis na serie de comédia Scrubs, como J.D. e Turk. Além deles temos o escritor da Gearbox Interactive, Mikey Neumann, que conta a tocante história sobre como videogames salvou a sua vida.

Cine Arkade: A jornada pelos jogos eletrônicos em Video Games: The Movie

A ultima parte trabalha com o futuro dos videogames, vendo o que temos em nossas mãos neste momento e que teremos daqui a 20, 30 e até 100 anos, algo que deixa curiosidade se levarmos em conta o quanto que progredimos tecnologicamente em tão pouco tempo e assim como o documentário faz questão de mostrar, temos um grande futuro a frente com o aperfeiçoamento da possibilidade de termos algo como a Realidade Virtual e formas inventivas de se aprofundar cada vez mais em um jogo com o corpo e com a mente.

Como falei anteriormente, Video Games: The Movie faz um ótimo trabalho em sua edição, com infográficos, imagens e videos explicativos complementando os momentos mais complexos que o narrador explica, um exemplo é bem no começo quando uma metralhadora de informações é atirada ao espectador, tentando falar um pouco de tudo em base de estudos e informações que foram pesquisadas e adquiridas nos últimos vinte anos. Este segmento pode ser um pouco confuso mas o seu trabalho visual dá uma grande ajuda em algo que poderia tirar a vontade de ver da grande parte do público que não esta familiarizado com videogames.

Outro fator impressionante do filme é a música licenciada, elemento que está no longa só porque ele conseguiu atingir uma das metas estipuladas no Kickstarter. Duas músicas fazem um ótimo trabalho para a animar o espectador, sendo a Don’t Stop Me Now, do Queen e a Can You Feel It, dos Jackson Five. E eu digo que é impossível de não dar um pequeno sorriso ao ver estas duas musicas em ação ao lado de cenas de diversos videogames, especialmente de uma forma tão bem casada como foi neste documentário.

No fim Video Games: The Movie inova algo? Infelizmente não, mas eu nao posso negar do quão este documentário é divertido e informativo, com uma visão mais abrangente para o público que não está acostumado com jogos eletrônicos e para aquelas pessoas que estão interessadas mas não sabem tanto sobre esta mídia.

Enquanto Indie Game: The Movie foca em uma jornada emocionante dos maiores desenvolvedores independentes da época, o seu “irmão” que fala sobre videogames em geral tenta se espalhar em todos os assuntos e temas que já vimos até agora nos videogames, como o foco de seus criadores, a história, o poder independente, o futuro tecnologico e por ai vai, e por isso mesmo ele acaba pecando em tentar agradar a todos com pouco tempo de filme, imaginando que ele pode se beneficiar muito mais como uma minisserie, e não como um longa-metragem.

De qualquer jeito, recomendo Video Games: The Movie para quem tem o minimo de interesse em videogames é quer saber um pouco mais desta excitante subcultura graças ao belo trabalho na produção e pela direção mais aberta e expicativa que o documentário toma. No entanto, fãs mais hardcores podem se sentir um pouco deixados de lado por saber praticamente tudo que está sendo informado no filme, mas não muda o fato que ele continua sendo um divertido documentário que coloca um imenso valor desta paixão que temos aos videogames.

Henrique Gonçalves

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