Cine Arkade: A Regra dos 15 Anos
A Cine Arkade de hoje entra em um DeLorean e viaja no tempo para tirar o pó de filmes antigos que venceram (ou não) o desafio da temível Regra dos 15 Anos!
A rede Cinemark possui uma programação especial chamada Cinemark Clássicos, que passa filmes antigos nas telonas, para que fãs, jovens entusiastas e saudosistas tenham a experiência de vê-los no cinema. Por conta disso, recentemente tive oportunidade de rever dois dos meus filmes favoritos na telona: De Volta Para o Futuro e De Volta Para o Futuro II.
Mesmo já tendo assistido cada filme dezenas de vezes — tanto na Sessão da Tarde com a dublagem “clássica” quanto em DVD/Blu-Ray — ver estes filmes no cinema foi algo mágico! E cara, como eles continuam bons! O primeiro filme completa 30 anos este ano, e, mesmo com seus efeitos especiais pra lá de datados, ele continua incrível no conjunto da obra.
Não é legal quando a gente revê um filme que marcou nossa infância e percebe que ele continua tão legal quanto era naquela época? Por conta disso, surgiu a ideia de uma Cine Arkade especial sobre a famigerada Regra dos 15 Anos.
Mas afinal, o que é A Regra dos 15 Anos?
Eu não sei exatamente quem criou A Regra dos 15 Anos — a primeira vez que ouvi sobre ela foi em um NerdCast já bem antigo –, mas em todas as fontes, a descrição dela é essencialmente a mesma:
Se você assistiu a um filme antes dos seus 15 anos, curtiu muito e resolver assisti-lo novamente “depois de velho”, pode acabar se decepcionando, pois ele talvez não seja tão bom quanto você lembra.
Eu não sei qual é a sua idade, mas eu já estou com quase 30, então posso dizer que já tenho certa “bagagem” para ponderar um pouco sobre os filmes que fizeram minha alegria na Sessão da Tarde no início dos anos 90.
Mas antes disso, devemos entender por que, afinal, existe essa problemática da Regra dos 15 Anos? A resposta consiste em basicamente 2 palavras:
Saudosismo e Nostalgia
Sabe como nossos avós falam que “no tempo dele, as coisas eram melhores”? Pois bem, não são só eles que têm essa mania, nós também fazemos isso. Todo mundo faz, muitas vezes sem querer ou sem ter consciência disso.
E não há nada de errado nisso. A infância e a adolescência (geralmente) são fases extremamente intensas e divertidas de nossas vidas, e a gente sempre tende a lembrar desse tempo com certo saudosismo, muitas vezes “maquiando” (nem sempre conscientemente) a realidade para que ela pareça mais legal do que realmente foi.
E neste escopo, entra tudo o que nos acompanhou em nosso amadurecimento: aquela marca de salgadinho com brinde (ah, os Tazos da Elma Chips!), aquele chiclete com as figurinhas mais legais (Ping Pong!), aquele chocolate com animais em relevo e cartões colecionáveis (Surpresa!), aquele desenho animado (Caverna do Dragão! Doug! Thundercats! He-Man!) e, claro, os filmes que passavam na Sessão da Tarde!
Por tudo isso, a gente lembra com carinho e nostalgia de todos esses elementos, mas quem é de outra geração e cresceu cercado de outras referências, pode se entediar com Caverna do Dragão, mas vibrar com Ben 10. Eu tenho um sobrinho que ficou realmente chocado quando eu disse a ele que não tinha internet, smartphones ou Youtube na minha infância (?!) . É tudo questão de referência.
Exemplos práticos que passam na regra dos 15 anos
É muito fácil definir filmes que passam de boa pela Regra dos 15 Anos. Sem muito esforço, eu consigo enumerar pelo menos 10:
- De Volta Para o Futuro (1985)
- Jurassic Park (1993)
- Os Caçadores da Arca Perdida (1981)
- Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança (1977)
- Robocop (1987)
- O Exterminador do Futuro (1984)
- Alien (1979)
- O Milagre Veio do Espaço (1987)
- Edward Mãos de Tesoura (1988)
- Coração Valente (1995)
Veja bem, eu não estou dizendo que só esses filmes se salvam. Essa é uma lista totalmente pessoal que fiz em um minuto, só com filmes que me vieram à cabeça. Existem centenas de outros filmes que também são tão bons hoje quanto foram na época de seus lançamentos, e muitos têm sequências que também passam pela Regra dos 15 Anos tranquilamente.
Em boa parte dos casos acima, os efeitos especiais já estão bem ultrapassados e tudo parece meio “tosco“, mas o conjunto da obra — roteiro, elenco, trilha sonora — faz a experiência valer a pena. Star Wars já está quase completando 40 anos, e continua sendo um marco da ficção científica, e a trilogia “clássica” é muito superior à “nova“, ainda que os efeitos dos episódios I, II e III sejam infinitamente melhores.
Exemplos práticos que não passam na regra dos 15 anos
Assim como existem filmes que passam tranquilos pela tal regra, existem também aqueles que não são mais tão épicos quanto foram outrora. Não vou me aprofundar muito aqui, mas recentemente reassisti a Um Dia de Fúria (1993) e… bem, só o que posso dizer é que a aventura em modo berserk do Michael Douglas era bem mais empolgante na minha cabeça.
O mesmo vale para Batman Returns (1992), O Feitiço de Áquila (1985), As Tartarugas Ninja (1990), Moonwalker (1988), Remo – Desarmado e Perigoso (1985) e (polêmica) até o filme do Street Fighter (1994) não é lá essas coisas. Quer dizer, todos eles pareciam realmente legais na minha infância, mas ao revê-los, percebi que era melhor tê-los mantidos na generosa gaveta dos fundos da minha memória, onde tudo fica para sempre legal.
Lamento se as listas acima não fazem jus às suas preferências cinematográficas mas lembre que 1) gosto é que nem impressão digital, cada um tem a sua e 2) esta é a minha lista, pessoal e elaborada para fins de exemplo. No hard feelings, ok? 😉
O oposto também acontece
Já falamos de filmes que continuaram legais, de filmes que eram legais na infância mas não envelheceram bem e temos ainda um terceiro caso: filmes que achávamos ruins quando crianças, mas depois percebemos que eles são bem maneiros!
O melhor exemplo disso para mim é Forrest Gump (1994). A primeira vez que o assisti achei o filme um saco, e desconfio que nem tive paciência de terminá-lo. Eu devia ter uns 10, 11 anos na época, e só o que eu via no filme era um cara meio lesado contado histórias bobas em um banco.
Ok, Forrest Gump é basicamente sobre um cara meio lesado contado histórias em um banco, mas na época eu não tinha “bagagem” para absorver todas as referências contidas em suas histórias. Eu não saquei de primeira a magnitude dos fatos e da própria vida do personagem… e na realidade ele mesmo parece meio alheio à tudo o que conquistou.
De maneira descompromissada, Gump nos conta que ele praticamente ensinou Elvis Presley a dançar. Ele também mostrou o traseiro em rede nacional para o 36º presidente dos EUA ao voltar da Guerra do Vietnam — onde foi um herói, aliás! Ele foi zoado por John Lennon na TV. Ele ajudou (sem querer) a resolver o Caso Watergate, escândalo político que derrubou o presidente Nixon. Ele viu o surgimento da AIDS, a chegada do homem à Lua (ok, essa ele não viu, estava jogando ping-pong na hora), e o início do fim da segregação racial. Ele investiu em ações da Apple (“alguma empresa de frutas”) antes dela estar no hype, e ele ainda ajudou a criar a famosa carinha Smile. Forrest Gump é o cara!
O que quero dizer é que eu precisei crescer, amadurecer e ter um pouco mais de bagagem histórica/cultural para absorver tudo o que o excelente roteiro de Forrest Gump deixava subentendido. E assim, um filme que me fez bocejar de tédio “antes da Regra dos 15 Anos“ acabou se tornando um dos meus filmes favoritos depois que eu consegui absorver (quase) tudo o que ele queria me mostrar.
Outro filme que só fica realmente bom depois que a gente envelhece é O Poderoso Chefão (1972). Ainda que todo aquele clima mafioso e a célebre cena da cabeça de cavalo sejam legais em qualquer idade, a real magnitude do filme e dos ritos e tradições da família Corleone ganham muito mais peso conforme a gente envelhece.
O próprio Clube da Luta (1999) é um filme que fica mais legal se assistido “depois de velho“. Nosso camarada Henrique já falou um pouco sobre o simbolismo e as teorias mirabolantes de fãs envolvendo a aventura testosterônica de Tyler Durden em outra Cine Arkade. Quando a gente é moleque, fica mais ligado na pancadaria e na violência e acaba deixando passar as sutilezas que rolam nas entrelinhas.
Laranja Mecânica (1971) entra um pouco nessa mesma linha: a violência nos empolgava quando éramos moleques, mas toda a mensagem social e psicológica implícita no filme podia passar meio batida quando éramos menores.
Por fim, temos dramas como Beleza Americana (1999), A Vida é Bela (1997) e Rain Man (1988), filmes com forte carga emocional que podem parecer chatos quando somos jovens, mas que ganham nova profundidade quando assistimos cada um deles depois de termos um pouco mais de experiência de vida.
Agora é a sua vez!
E esta foi a minha breve viagem no tempo por alguns dos filmes que me marcaram (por bem ou por mal) na minha pré-adolescência e envelheceram bem (ou não).
E você? Já fez algum filme que marcou a sua infância passar pelo teste da Regra dos 15 Anos? Qual filme foi? Ele continuou bom, ou acabou perdendo sua magia? Vamos debater o assunto nos comentários!