Cine Arkade Review – O Ano Mais Violento / Velozes e Furiosos 7 / Vício Inerente

3 de abril de 2015

Cine Arkade Review - O Ano Mais Violento / Velozes e Furiosos 7 / Vício Inerente

Cine Arkade Review está de volta após algumas semanas sem grandes lançamentos, porém o inicio de Abril chegou com tudo! Confira as análises de O Ano Mais Violento, Velozes e Furiosos 7, e Vicio Inerente.

O Ano Mais Violento

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Escrito e dirigido por J.C. Chandor (All is Lost), O Ano Mais Violento segue a história de Abel Morales e sua luta para manter um negócio de petróleo para prédios e casas que utilizam fornalhas e caldeiras no ano considerado como o mais violento de Nova Iorque, 1981.

A estética impecável se equipara à atuação do casal Abel e Anna Morales – interpretados por Oscar Isaac e Jessica Chastain – que acompanham um universo vívido que coloca o clássico inverno nova iorquino com referências aos filmes de gângsteres dirigido por Scorcese. Mas a beleza encontrada em O Ano Mais Violento é justamente como ele quer fugir do tema enquanto se alia a todos os elementos que vemos em filmes de máfia.

Esta fuga não é somente do diretor, mas também do nosso protagonista em sua constante luta por manter sua moralidade e o senso de justiça em uma cidade tão implacável e sombria quanto seus próprios competidores. Abel sofre com roubos de seus caminhões e o subsequente terror dos motoristas para dirigi-los; suporta o constante assédio de investigações minuciosas feitas pela polícia para encontrar qualquer falha e ter sua empresa acusada por quebrar a lei; e ainda por cima tem que lutar com a dualidade do que é certo e errado nesta vida, com sua esposa se tornando aquele “demônio” que fica em seu ouvido, sussurrando ideias e atos sugestivos e ilegais para arruinar a sua honestidade.

Cine Arkade Review - O Ano Mais Violento / Velozes e Furiosos 7 / Vício Inerente

Pela forma que a descrevi você pode até achar que ela é um demônio, mas Anna faz uma papel marcante para a vida de Abel ao mostrar a realidade nua e crua em que vivemos, onde nem sempre a escolha mais honesta é necessariamente a melhor quando se tem que sobreviver utilizando tudo que tem. Porém, nós vemos esta demonização porque o longa-metragem nos coloca em torno da visão pura e comedida de Abel e em sua luta para não adentrar no rápido declínio da sociedade sobre o conceito sugestivo de ser honesto que temos hoje em dia.

Este acaba sendo um dos maiores problemas do filme: focando em um personagem que não consegue cativar os espectadores 100% e prolongando o filme a ponto dele se tornar maçante em alguns momentos. A sensação que tenho vendo O Ano Mais Violento é como ele seria uma boa minissérie e nem tanto como um filme; o universo em torno de Abel é tão bem trabalhado que eu quero ver mais dele, mas passamos tanto tempo “presos” ao protagonista que não conseguimos ver mais daquilo que gostaríamos.

E isso não quer dizer que Oscar Isaac faz um mal trabalho, muito pelo contrário, O Ano Mais Violento mostra como ele seria ótimo em um filme de gângster. Mas o que diminui Abel não é o seu ator, e sim Anna, com Jessica Chastain fazendo um trabalho estupendo para o filme. O verdadeiro problema é que uma interpretação melhor de seu coadjuvante acaba ferindo o filme quando temos um excesso do protagonista, o que mais uma vez mostra como este filme se beneficiaria mais se estivesse nos moldes prolongados de uma minissérie.

Como um todo, J.C. Chandor faz um ótimo trabalho ao injetar personalidade no filme e mostra como O Ano Mais Violento é impecável em vários aspectos. Os pequenos problemas estão relacionados pela forma que o tempo do filme é utilizado, trazendo momentos cansativos que podem tirar a atenção de quem está vendo.

O Ano Mais Violento estreou em todo o Brasil no dia 2 de Abril.

Velozes e Furiosos 7

Cine Arkade Review - O Ano Mais Violento / Velozes e Furiosos 7 / Vício Inerente

As vezes, um filme precisa ser analisado para que possamos entender ele por completo, seja por todo o mistério em torno dos personagens ou pela trama querendo transmitir uma mensagem que acabou ficando nebulosa no decorrer do longa, acidentalmente ou propositalmente. Mas as vezes esquecemos do outro lado da moeda e vemos que a diversidade em gêneros e estilos de filmes é uma das coisas que mais precisamos ter como experiência no cinema, e Velozes e Furiosos 7 é exatamente isso.

Por este ser o sétimo filme , nós já meio que sabemos o que esperar. Com explosões absurdas, veículos “pulando de paraquedas” e carros saltando de um prédio para outro e, claro, um desfecho para o personagem do falecido ator, Paul Walker.

Velozes e Furiosos 7 é um filme surpreendente e com muita bagagem emocional envolvendo sua produção. A química entre os atores é bem visível por todo este tempo em que eles estão juntos participando da franquia – o primeiro filme saiu em 2001 – e isto se estende aos personagens, deixando cada um com uma certa importância e impacto para a trama continuar divertida e interessante.

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Em se tratando de elenco, a maior mudança em Velozes e Furiosos 7 toma forma como o aliado Frank Petty, servindo como um tapa buraco de Hobbs que aparece em poucos mas excitantes momentos no filme, e também do antagonista Deckard Shaw, vindo com sede de vingança após os eventos do sexto filme e se tornando o vilão que quer acabar com o grupo.

Ambos personagens são boas adições ao longa e trazem ótimas cenas, Frank Petty, interpretado por Kurt Russel, é um personagem carismático e lidera a segunda parte do filme. Enquanto o personagem de Jason Statham, Deckard Shaw, nos oferece cenas empolgantes e cheias de adrenalina com sequências de luta que poucos atores conseguem fazer hoje em dia.

O infeliz problema encontrado em Velozes e Furiosos 7 é o seu confuso e estranho enredo, que deixa a estranha sensação de que são dois filmes completamente diferentes, só que unidos em um só. Um dos maiores motivos deste problema foi obviamente a perda do ator principal, Paul Walker, que faleceu durante as filmagens, o que obrigou o diretor James Wan a reescrever boa parte do roteiro para encaixar o restante do filme e desenvolver uma conclusão decente para o personagem de Walker.

Outro empecilho encontrado é pelo claro uso de efeitos especiais para mascarar a perda do ator nas gravações do filme. Os irmãos de Paul Walker foram chamados para as gravações, e eles passaram por uma “maquiagem digital” para trazer o ator a vida. Este problema era inevitável, pois não era possível tirar o personagem Brian do filme de uma hora para outra dada sua importância para a história… infelizmente a solução encontrada não convencer, e mesmo a melhor tecnologia não conseguiu conceber qualidade ao “disfarce”.

E esta sensação de perda emana em Velozes e Furiosos 7, especialmente nas cenas regravadas após o trágico acidente do ator. No entanto, este sentimento de luto é rapidamente subvertido para algo mais esperançoso, de modo que o filme se torna uma homenagem emocionante e extremamente tocante para qualquer um, seja fã da franquia ou não.

Velozes e Furiosos 7 atinge tudo que necessitava para ser um filme divertido, cheio de adrenalina, e com várias cenas que te deixam com um imenso sorriso no rosto. Seu maior problema se encontra no roteiro “remendado” que tentar consertar os problemas encontrados durante a filmagem, mas isto não muda o fato de que Velozes e Furiosos 7 trouxe um bom desfecho para o personagem de Paul Walker, tanto ao público quanto aos colegas de trabalho que estavam ao seu lado há mais de uma década nesta franquia.

Velozes e Furiosos 7 estreou em todo o Brasil no dia 2 de Abril.

Vício Inerente

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Psicodelia e muita maconha fazem parte deste caso investigativo dirigido por Paul Thomas Anderson (The Master, Boogie Nights, Magnólia). Vício Inerente tem uma trama intensa que se alia a uma lista surpreendente de atores, porém o seu caos e confusão atrapalha mais do que ajuda o enredo.

Seguimos Larry “Doc” Sportello, um detetive particular hippie que recebe dois trabalhos diferentes que acabam se unindo a um único nome, Mickey Wolfmann, o dono de uma grande corporação imobiliária. A história continua com a apresentação de diversos outros personagens; temos o policial linha dura que odeia maconheiros, a ex-namorada de Doc que o coloca nesta investigação, a cliente que era usuária de heroína e pede para Doc encontrar o marido dela, e um mistério em torno de algo chamado Golden Fang.

Paul Thomas Anderson é conhecido pelo seu trabalho nada ortodoxo e Vício Inerente continua esta tradição entregando um enredo complexo envolvendo uma gama de personagens tanto presentes quanto desaparecidos. Este lado caótico, porém, se torna um incômodo quando a complexidade se torna confusa e você não consegue acompanhar todos os personagens mencionados no diálogo, deixando a espectador perdido e indagando nos momentos que funcionam como ramificações dos eventos passados.

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A estética e o tema inteiro do filme se complementam perfeitamente, utilizando efeitos alucinógenos da maconha que Doc usa frequentemente como um arquétipo tão vívido quanto seus personagens e o estado hippie que os Estados Unidos estava vivenciando na época. Este mesmo tema se torna a parte humorística de Vício Inerente, com momentos engraçados que tornam o longa divertido e animado mesmo com uma história tão dramática (e confusa) se desenrolando.

A melhor forma que posso descrever Vício Inerente é pela sua inspiração de filmes noir, com o investigador participando de um trama maior do que ele imaginava e envolvendo pessoas desaparecidas em uma imensa teia de mistérios e conspirações. Porém, o ingrediente secreto desta receita é a quantidade insana de drogas que acrescentam o “sabor” de alucinação que permeia Vício Inerente como um todo.

Mas este artifício faz Vício Inerente ser um filme bom? Na verdade sim, a psicodelia em torno de uma trama tão intensa ajuda o desenvolvimento do filme e nos deixa pensando em o que é verdadeiro ou somente uma alucinação de Doc, algo interessante e complexo, assim como muitos outros filmes de Paul Thomas Anderson.

Vício Inerente nos dá uma mescla engenhosa de temas clássicos que estamos bem familiarizados em cima de um tema peculiar, o resultado é um filme engraçado, intenso, complexo e muitas vezes, confuso (talvez até demais). Todos os atores fazem um ótimo trabalho, incluindo aqueles que tiveram um tempo mínimo de tela, enquanto a estética e a apresentação toda é fiel e acrescenta toda a sensação surreal que se mantém do começo ao fim.

Vício Inerente estreia em todo o Brasil no dia 9 de Abril.

Henrique Gonçalves

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