Cine Arkade Review – A Teoria de Tudo
A tocante e comovente história biográfica de Stephen Hawking e de sua esposa, Jane Wilde Hawking é apresentada em A Teoria de Tudo. Confira a nossa resenha em mais um Cine Arkade Review!
A Teoria de Tudo segue a veia de um filme biográfico ao adaptar o livro Travelling to Infinity: My Life with Stephen, onde a escritora Jane Wilde Hawking conta a sua experiência como a primeira esposa de um dos físicos teóricos mais famosos de todos os tempos.
A experiência contada por Jane é importante porque ela estava ao lado do cientista durante a rápida deterioração causada pela doença chamada Esclerose Lateral Amiotrófica, a Doença de Lou Gehrig, recentemente conhecida como “aquela doença que fez várias pessoas jogarem um balde de água gelada na cabeça”. Além disso, Jane é uma personagem crucial para mostrar o outro lado da moeda, das pessoas que viveram ao lado de Stephen e sofreram com ele por conta da doença.
O filme conta com um elenco interessante que faz um bom trabalho; com destaque para as estrelas do filme — o casal Hawking, com Eddie Redmayne interpretando Stephen e Felicity Jones como sua esposa, Jane. Os coadjuvantes também são bem interpretados mas não chegam a destacar tanto quanto o casal, com a única exceção do personagem Jonathan Jones, interpretado por Charlie Cox, que aparece na segunda parte do filme e agrega muito mais ao enredo.
Considero A Teoria de Tudo como um longa metragem que beira os filmes motivacionais. Sabe aquelas histórias de superação onde o protagonista conseguiu batalhar até o final e chega ao ápice da vitória? O que temos aqui é basicamente isso, focando muito mais na visão de Stephen Hawking e na sua forma de lidar com a doença do que a mídia nos mostrou.
Isto não quer dizer que o filme ilustra sua condição como um simples obstáculo que foi superado como se fosse nada. Ele foca tanto em Stephen quanto em sua esposa, mas pega um pouco level ao apresentar todas as dificuldades que eles devem ter superado juntos enquanto a doença avançava.
E isso é o que me incomoda em A Teoria de Tudo, ele tende a ser esperançoso demais na maioria dos momentos e mostra pouco da verdadeira luta, seja em sua parte física ou emocional. Sem entrar em spoilers, existe uma cena envolvendo Jane e sua ambição pessoal que é totalmente destruída indiretamente pela condição de Stephen, e eu adoraria ver este tema ser mais aprofundado no filme, mas isso é deixado de lado.
O que eu quero dizer é que a doença de Lou Gehrig é um protagonista tão imponente quanto os próprios personagens, ela serve como uma dificuldade impossível de ultrapassar que acrescenta mais corpo ao filme, que mostra o objetivo verdadeiro deste casal, especialmente com Stephen Hawking e suas descobertas científicas que quebraram paradigmas e a luta de Jane Wilde Hawking em ajudar a família e conviver com a condição de seu marido.
Um ponto positivo em A Teoria de Tudo é justamente a forma em que a física e a ciência são retratadas no filme, sendo fiel e enigmático ao mostrar todos os motivos de interesse e da paixão que Stephen tem pelos temas para o espectador.
A ciência, assim como a sua deficiência e o relacionamento amoroso, evoluem no decorrer do filme e estes três elementos são cruciais para o desenvolvimento. Sua condição piora, assim como os sentimentos conflitantes entre a sua paixão pela ciência e seu amor por Jane, e Eddie Redmayne faz um trabalho magistral ao mostrar a rápida deterioração física de Hawking, piorando até chegar ao Stephen Hawking que conhecemos hoje em dia.
A performance de Redmayne merece ser verdadeiramente louvada, assim como a de Felicity, com atuações que estão entre os grandes papéis vistos nestes últimos anos. Existe uma separação entre os sentimentos de amor que Jane tem com Stephen que vão aumentando de acordo a sua condição, porém, este mesmo amor entra em um embate com a dificuldade e todos os sacrifícios que Jane precisa fazer para estar ao lado de seu marido. Na prática, A Teoria de Tudo é um filme tanto sobre a história de Stephen Hawking quanto a de Jane Wilde Hawking.
A direção de James Marsh também merece elogios, o filme é majestoso, com tomadas de arrancar suspiros ao mostrar toda a beleza e imponência da cidade de Cambridge, na Inglaterra, nos anos 60. Estética que fica evidente pela produção do filme, desde as roupas, o linguajar e toda classe e pompa que foram sintetizados na película.
A Teoria de Tudo mescla uma história de amor e um conto de superação em um único filme, enquanto deixa pouco espaço para mostrar o problema verdadeiro por trás de uma doença tão devastadora como a de Lou Gehrig. No entanto, a intenção de produzir um filme que faça as pessoas se sentirem bem é proposital e “maquia” um pouco a vida de Stephen Hawking, que é sem dúvida um caso extremamente especial que merece admiração e respeito.
Particularmente, adoraria ver A Teoria de Tudo abordar o tema de uma forma mais agressiva, mas isto não muda o fato que temos um filme interessante, bem dirigido e com ótimas atuações de Eddie Redmayne e Felicity Jones, criando uma história que vale a pena assistir quando se procura uma experiência reconfortante.
A Teoria de Tudo estreia em todo Brasil no dia 29 de Janeiro.