Cine Arkade: A verdadeira mensagem de Whiplash: Em Busca da Perfeição

24 de janeiro de 2015

Cine Arkade: A verdadeira mensagem de Whiplash: Em Busca da Perfeição

Vamos discutir qual foi a verdadeira intenção que Damien Chazelle tinha por trás de Whiplash: Em Busca da Perfeição. Tudo isso e muito mais na Cine Arkade!

Não há outra combinação de palavras mais nociva do que “bom trabalho”.

Whiplash: Em Busca da Perfeição é um dos filmes mais intensos lançados recentemente: a veloz e tortuosa jornada de Andrew Neiman e de seu impiedoso professor, Terence Fletcher, ao sucesso técnico é violento, vigoroso e assim como o nome do filme dá a entender, é uma chicotada em forma de longa-metragem.

Porém, muitas pessoas criticaram a mensagem que Whiplash entrega no conceito de atingir a perfeição técnica de ser o maior baterista de jazz de todos os tempos. O maior problema que as pessoas apontam é como o filme procura vangloriar a tortura física e psicológica, além do incessante trabalho de repetir até melhorar, como a única forma de ser o melhor. Mas será que esta é a verdadeira mensagem por trás de Whiplash?

A história de Whiplash, escrita e dirigida por Damien Chazelle, é simples em sua fundação e não procura se aprofundar na psique de seu protagonista, Andrew Neiman, interpretado por Miles Teller (de Footloose e Divergente), o mesmo vale para o professor que o importuna, Terence Fletcher, vivido pelo excelente ator J.K. Simmons (conhecido pelo icônico J.J. Jameson e por ser a voz de Cave Johnson).

Cine Arkade: A verdadeira mensagem de Whiplash: Em Busca da Perfeição

A falta deste olhar microscópico nos personagens é sacrificada intencionalmente para deixar Whiplash o mais enxuto possível; ele é um filme veloz pelos eventos que não param: em um momento você vê o protagonista entrando na sala comandada por Fletcher e rapidamente vemos a sua evolução baseada em sangue, suor e lágrimas, literalmente.

Whiplash acumula a tensão como se fosse um filme de terror, só que no lugar do assassino temos um final climático que engloba todos os elementos em uma única cena. Você se prende desde o começo, assiste a jornada de Andrew, a tortura de Fletcher e tudo que está em volta, e assim, num piscar de olhos você está na ato final do filme com as palmas de suas mãos suadas, com os olhos vidrados na tela e impressionado pelo excelente desfecho.

Porém, Whiplash teve a sua porção de pessoas que simplesmente não gostaram pela falta “alma” na música que Andrew toca, isto por ele aparentemente trocar a paixão pela técnica e pelo incessante e frio treinamento. Mas o que muitos deixaram de notar é que Andrew já teve essa paixão desde pequeno: assim como o próprio ator que o interpreta, ele estava na bateria desde pequeno e é um desserviço ao filme argumentar que Andrew não tinha paixão pelo que fazia.

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A maioria das pessoas separam a parte técnica da emocional, mas o treino árduo é uma das únicas formas que te fazem ser o melhor naquilo que faz. No caso do nosso protagonista, Andrew tem essa paixão , mas o que ele precisava é um incentivo para empurrá-lo até o fim, seja este um incentivo positivo ou negativo.

Fletcher então entra em cena como o perverso e cruel professor que é exatamente o que Andrew precisava para atingir a tal “perfeição”. O personagem de J.K. Simmons é convicto e persistente em seu método e de lá saem algumas frases memoráveis, que ilustram muito bem a dura personalidade do maestro.

Ele faz de tudo para levar seus alunos até o ponto mais extremo, o arsenal em suas mãos vai desde mentir descaradamente, até a golpes físicos e emocionais em seus alunos, e o mais interessante é que Fletcher vê esta ideia como um método válido de ensino.

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Assim temos a segunda maior crítica, que debate a inconsistência por trás de um conto que Fletcher explica como um exemplo de motivação negativa que deu certo. Ele repete esta história umas três vezes durante o filme, e como o saxofonista Charlie Parker quase recebeu um prato em sua cabeça (das mãos do baterista Jo Jones) pelo mal trabalho que estava fazendo, e por isso Parker foi para casa e treinou até ser o melhor saxofonista possível. A história real é um pouco menos agressiva, com Jones acertando o instrumento no pé de Parker em uma forma quase acidental.

Mas, Fletcher como um personagem cruel que utiliza todos os artifícios possíveis ao seu favor, não arrumaria algum jeito de distorcer esta história para justificar o seu método para os alunos? Dada a personalidade grosseira e combativa dele, isso soa bem provável.

O que eu quero dizer é que a imprecisão desta história pode ter sido proposital, afinal, estamos vendo um indivíduo que faz uso de métodos que, no mínimo, podem considerados questionáveis para qualquer pessoa que tenha bom senso, então não me surpreenderia se ele estivesse mentindo para agregar mais valor à sua forma tão brutal de lecionar.

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E Whiplash, ele tem alma?

É exatamente esta questão que o cineasta Damien Chazelle levanta em Whiplash: como um professor que incentiva os seus alunos e maneiras tão questionáveis pode ter algum amor, sequer algum interesse, naquela forma de arte? E seu discípulo, ele está correto em se submeter a toda esta tortura para atingir o seu objetivo?

Particularmente, acho que paixão por um formato de arte e o sofrimento físico e emocional estão relacionados o bastante para formar um relacionamento de amor e ódio. Sim, os métodos de Fletcher são questionáveis e com certeza existem formas mais “saudáveis” de incentivo, no entanto, sua visão é válida e esta tortura, tanto a de Fletcher quanto de Andrew em sua flagelação, formam um simbolismo por trás da verdadeira arte e de todo o caminho tortuoso que ambos trilham para criá-la.

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O desafio por trás de ser o “melhor de todos os tempos” é quase impossível, mas se no fim das contas são as dificuldades que nos fazem melhores e fazem a jornada valer a pena, que seja. O emocionante final do filme deixa claro que a jornada foi árdua, mas deu resultado.

Então sim, Whiplash tem alma, paixão, sofrimento e ainda simboliza uma jornada que poucos têm coragem de traçar, mas que sem dúvida se torna uma experiência inesquecível e recompensadora para aqueles que conseguem.

Henrique Gonçalves

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