Cinema: confira nossa resenha do filme Contágio
A maioria dos filmes ou seriados que trata de algum tipo de epidemia ou contaminação nos mostra o mundo depois que a tal doença já se espalhou e dizimou boa parte da população. The Walking Dead é assim, Eu Sou a Lenda e Extermínio, também. Uma das coisas bacanas deste Contágio é que, desta vez, acompanhamos o “durante” de uma epidemia global, do primeiro infectado até os milhões de mortos. E o realismo com que o filme retrata o pânico generalizado de uma situação destas é bem perturbador.
Embora este tipo de história geralmente esteja mais próxima das obras de ficção científica, não se engane: Contágio é basicamente um drama. E não, não há zumbis no filme. A trama acompanha diversos personagens ao mesmo tempo, mostrando como eles se comportam diante de uma pandemia, que começa já nos primeiros minutos de filme, sem nenhuma enrolação desnecessária.
A ideia é bacana pois mostra desde o renomado médico que representa a Organização Mundial da Saúde – Dr. Ellis Cheever, vivido por Laurence Fishburne – e sua equipe que busca uma vacina para a doença misteriosa até o cidadão comum, Mitch Emhoff, um pai de família desesperado (Matt Damon) que perdeu a esposa (Gwyneth Paltrow) em questão de dias e agora luta para proteger a filha da doença.
Há muita política envolvida também, com discursos sendo cuidadosamente preparados para não alarmar os cidadãos, e coisas do tipo. O clima de conspiração também é constante, com o blogueiro/jornalista investigativo Alan Krumwiede (interpretado por Jude Law) conspirando contra o governo e as indústrias farmacêuticas, incitando o uso de remédios homeopáticos e se tornando uma celebridade na internet.
A edição do filme vai se alternando entre estes e vários outros personagens, o que deixa o andamento da história bem dinâmico e interessante. Mas o principal triunfo do roteiro é sem dúvida a forma como ele retrata o caos que assola a humanidade quando ela se depara com uma pandemia tão poderosa. O que começa com um caso isolado na Ásia cruza o oceano e em questão de semanas já matou 2,5 milhões de pessoas.
Em certo ponto uma enfermaria improvisada sequer tem sacos mortuários para “empacotar” tantos mortos. Pessoas afoitas por uma suposta cura homeopática perdem a razão e pisoteiam-se para ver quem consegue uma dose. Tenso.
Os paranóicos certamente sairão do cinema em pânico, evitando contato com outras pessoas e andando de ônibus sem se segurar nas barras de apoio. Sugerimos que você não seja tão exagerado, mas é fato que o filme mostra um panorama bem perturbador de como a humanidade está despreparada para agir em um caso tão extremo.
Contágio mostra várias metrópoles do mundo e sempre deixa claro ao espectador quantos dias se passaram desde que a doença começou a se espalhar. Este artifício é muito bom para percebermos como, em pouquíssimo tempo, as pessoas comuns podem perder a razão devido ao medo.
Enfermeiros entram em greve para não ficarem expostos, lixeiros param de trabalhar para não entrar em contato com material infectado, escolas fecham, lojas, farmácias (e casas) são arrombadas e saqueadas, médicos e cientistas influentes são sequestrados por quem se acha no direito de “furar a fila” na hora em que a cura for descoberta.
Este caos todo é filmado sem muitas firulas pelo diretor, Steven Soderbergh . Sabendo do elenco estrelado que tem em mãos, o diretor não usa de cortes rápidos, deixando que os planos se alonguem para expressar as emoções de cada um. Alguns planos-detalhe de pessoas tocando em maçanetas, botões de elevador ou simplesmente se cumprimentando evidenciam a rapidez com que a doença se espalha.
A única coia estranha é que alguns personagens que tiveram um papel fundamental no início da trama simplesmente desaparecem no decorrer do filme. O Dr. Ian Sussman, por exemplo (interpretado por Elliott Gould), é o sujeito que dá o pontapé inicial no desenvolvimento de uma vacina. Depois de acompanharmos seu trabalho por boa parte do filme, ele simplesmente some, sequer sendo mencionado. Talvez tenham feito isso para diminuir a minutagem do filme na sala de edição, mas não se pode negar que fica meio bizarro no conjunto da obra.
Em resumo, Contágio é um filme que faz muito bem aquilo à que se propõe. Sua história é densa, mas não a ponto de se tornar excessivamente complicada e todos os seus (diversos) personagens principais são relevantes, cada um do seu jeito.
Sem efeitos especiais mirabolantes ou grandes cenas de ação, o filme consegue prender a atenção do espectador pelo que realmente importa: seu roteiro. Salvo alguns sumiços misteriosos de alguns personagens, Contágio é uma ótima pedida para os fãs de um bom drama, especialmente se acompanhado por uma boa dose de conspiração.
Contágio estreia em todo o Brasil nesta sexta-feira, dia 28 de outubro.