Cinema: resenha do filme O Espetacular Homem-Aranha
Na próxima sexta-feira, chega aos cinemas O Espetacular Homem-Aranha, filme que traz um novo elenco, um novo diretor e uma “história que nunca foi contada” sobre um dos super-heróis mais famosos do mundo. Mas será que O Espetacular Homem-Aranha é um filme tão diferente dos que já vimos? O Aranha precisava deste reboot? Já conferimos o filme, e vamos te contar nossas impressões na sequência!
Antes de mais nada, devemos lembrar que o primeiro filme da trilogia “antiga” do Homem-Aranha foi lançado há apenas 10 anos, em maio de 2002. Pode parecer muito tempo, mas não é: quem assistiu ao filme certamente ainda consegue se lembrar de boa parte dele. A picada de aranha radioativa, a morte do tio Ben, a frustração de Peter por se sentir responsável pela morte do tio, Norman Osborn sucumbindo à loucura do Duende Verde… tudo isso ainda está fresco na memória dos fãs do Aranha que assistiram ao filme de 2002.
Este é, sem dúvida, o fantasma que irá assombrar este O Espetacular Homem-Aranha: ele sem dúvida é um bom filme, mas nós já conhecemos a origem do herói, e ser apresentado à ela novamente tão cedo não é algo tão necessário, mesmo que ela esteja ligeiramente diferente.
A história começa mostrando o pequeno Peter sendo deixado pelos pais na casa de seus tios, Ben (Martin Sheen) e May Parker (Sally Field, que parece meio nova para o papel), sem obter grandes explicações, Peter (um esforçado Andrew Garfield com alguns trejeitos estranhos) cresce, e se torna pouco diferente do Peter da trilogia “antiga”: o novo Peter é até descolado, andando de skate pelos corredores do colégio e ostentando um topete cuidadosamente desarrumado.
Os trailers dizem que veremos “a história nunca antes contada“, mas isso não é 100% verdade. O drama familiar envolvendo os pais de Peter– que parece forte nos primeiros minutos do filme – logo é deixado para trás, embora o pai dele continue sendo mencionado no decorrer da película. A tal “história nunca antes contada” deve ficar mesmo é para o próximo filme, que com certeza vai sair em alguns anos, pois fica um gancho enorme para uma continuação (dica: tem cena secreta durante os créditos finais).
Fora os pais de Peter, a história que temos aqui é muito semelhante à do filme de 2002: Peter é picado por uma aranha (que neste caso, não é radioativa), ganha superpoderes e começa a se divertir com eles até perceber (na marra) que “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”. Curiosamente, esta frase que é tão importante na formação de caráter de Peter Parker e do Homem-Aranha, não é dita no filme!
O tio Ben do novo filme parte dessa para a melhor em uma situação diferente, mas a ideia é a mesma. O vilão – que neste filme é o Dr. Curt Connors/Lagarto (Rhys Ifans, cumprindo seu papel) – até possui suas diferenças ao Norman Osborn/Duende Verde que vimos em 2002, mas ainda assim a psique perturbada e a sede pelo poder acabam tornando-os parecidos. Talvez porque, como já disse, o filme de 2002 ainda esteja muito fresco na cabeça dos fãs.
Além disso, a história do Lagarto dos quadrinhos é muito mais complexa. Ao mesmo tempo que anseia curar seu corpo com experiências genéticas, ele teme que seus experimentos o deixem fora de controle quando ele estiver com sua família. No filme, a família Connors sequer é mencionada, ou seja, boa parte da profundidade do vilão foi deixada de lado.
O Dr. Connors trabalhou com o pai de Peter, e é por conta disso que o rapaz se aproxima dele. Coincidentemente, o Dr. Connors trabalha na Oscorp de Norman Osborn (que é apenas citado), e sua estagiária é ninguém menos que Gwen Stacy (muito bem interpretada por Emma Stone), o que deixa tudo “amarradinho” de maneira um pouco forçada: parece que a vida de Peter é (com o perdão do trocadilho) uma grande teia, com seus amigos, familiares e inimigos precisando ter, obrigatoriamente, uma relação entre eles.
Convenhamos, a vida da gente não é assim tão “delimitada”: conhecemos pessoas que não tem nada a ver umas com as outras no trabalho, no colégio e em casa, então, não entendo este esforço em deixar tudo tão redondinho no cinema. Qual seria o problema se Gwen e o Dr. Connors jamais tivessem se visto em uma cidade tão grande quanto Nova York?
Sei que com todas estas comparações e fundamentos você deve estar preocupado que o filme seja uma porcaria, mas fique tranquilo, não é. Embora o “pano de fundo” seja basicamente o mesmo que já conhecemos, temos boas inovações aqui: o andamento do filme como um todo é muito bom, dos dramas às cenas de ação e os momentos engraçados. O Aranha está com uma pegada mais divertida e fanfarrona, e os lançadores de teia, embora não recebam muita atenção, são bem legais.
O diretor Marc Webb (sem mais trocadilhos com teia, por favor) mostra que possui uma mão boa para este tipo de filme, mesmo sem muita experiência (embora tenha dirigido dezenas de videoclipes, em se tratando de cinema, antes do Aranha Marc dirigiu apenas a comédia romântica 500 Dias Com Ela).
As cenas de ação merecem destaque, pois estão incríveis: o filme entrega a maior parte delas à noite, então temos toda uma iluminação bacana, e o Aranha deste filme está muito mais acrobático, usando e abusando de piruetas, poses bacanas e malabarismos, o que deixa tudo com mais cara de história em quadrinhos. As cenas “em primeira pessoa” também são interessantes e muito bem feitas.
O vilão Lagarto está com um visual bacana, mas quem é fá dos gibis vai perceber que seu visual foi bem alterado. Ele não tem mais aquela cara pontiaguda reptiliana, e seu visual de jaleco só parece estar lá para dizer “olha, esta é uma referência ao visual dos quadrinhos”, pois ele geralmente arranca-o em poucos segundos e prefere andar peladão.
Já a Gwen Stacy é sem dúvida a melhor novidade deste novo filme. Nada contra a Mary Jane, mas quem conhece o Aranha sabe que a Gwen foi o seu primeiro amor, e aqui vemos os primeiros passos do relacionamento deles, e a Gwen do filme é muito parecida com a Gwen dos quadrinhos, tanto em aparência quanto em personalidade. Muito do que acontece com ela, sua família e o Aranha também se mantém relativamente fiel aos gibis, o que é outro ponto positivo.
Por fim, vale dizer que o 3D do filme é competente: não chega perto de Avatar, mas oferece uma boa profundidade sem apelar para aqueles recursos manjados de “jogar coisas na cara do espectador”. Curiosamente, as cenas em que o 3D é mais marcante são as cenas com Peter Parker, não com Homem-Aranha (leia-se as cenas com diálogos e história, não com ação e pancadaria).
Não há dúvida que grandes franquias serão feitas e refeitas enquanto gerarem lucro aos envolvidos. Novas gerações precisam ser reapresentadas aos personagens que amamos, para que eles permaneçam vivos na cultura pop e no imaginário das pessoas. O Batman que o diga, pois já o vimos ir e vir, “começar” (Batman Begins, 2005) e “retornar” (Batman Returns, 2002) diversas vezes nos cinemas.
Mas, houve uma janela maior entre uma série e outra (salvo algumas exceções). Em se tratando de Homem-Aranha, o tempo foi curto, ainda não estamos falando de “novas gerações” que precisam conhecer a origem do personagem. Uma criança que nasceu nos últimos 10 anos pode perfeitamente ter assistido (e gostado) dos filmes da trilogia “antiga” (pelo menos dos dois primeiros, pois o terceiro filme é muito ruim), visto que eles ainda são muito atuais.
Nada contra refazer um filme que foi rodado há 30, 50 anos, para melhorá-lo com recursos tecnológicos que não existiam na época (desde que bem feito, claro). Mas no caso de O Espetacular Homem-Aranha, ainda não houve um salto tecnológico tão grande, a história é muito parecida com a anterior e todo mundo já conhece a origem do personagem.
O Espetacular Homem-Aranha é um filme muito bom, com um bom elenco e efeitos especiais de primeira. Mas a história não é inovadora, e deixa umas sensação de que este filme tenta ser um reboot, mas parece mais um remake do Homem-Aranha de 2002. Temos um novo vilão e outras diferenças, mas a história é essencialmente a mesma. O que não seria um problema, se a “antiga” trilogia do Aranha não fosse tão recente.
http://youtu.be/AL-r5pdxHwU
O Espetacular Homem-Aranha estreia em todo o Brasil nesta sexta-feira, dia 6 de julho, com cópias em 2D e 3D.
P.S. já pensou se esta moda de reboots apressados pega? Só para você ter noção, o primeiro filme do Harry Potter é mais antigo que o primeiro do Homem-Aranha! Imagina se a Warner resolvesse dar um reboot na série por ela já estar “velha”?