Clássicos: Test Drive (PC) – O avô de Need for Speed e Gran Turismo

27 de março de 2011

Clássicos: Test Drive (PC)  - O avô de Need for Speed e Gran Turismo

Olá leitores do Arkade. Convido vocês a embarcar comigo em uma viagem no tempo até 1987, ano em que a Accolade (hoje Atari Games) lança o primeirríssimo Test Drive.

O leitor mais atento e informado quanto à história dos jogos de corrida pode se perguntar: “e quanto aos jogos mais antigos, como Enduro ou Grand Prix, do Atari 2600? “. Pois bem, o fato é que escolhi começar já por Test Drive por dois fatores: primeiramente, Test Drive foi um dos poucos jogos de corrida da época a originar uma série que dura até hoje. Além disso, Test Drive trouxe uma característica inovadora para a época: visão onboard (ou “câmera do motorista”, como costumávamos chamá-la).

Mas vamos com calma. Há um longo (ou ao menos importante) caminho antes de podermos apreciar o jogo em toda sua glória. Primeiro, no melhor estilo “Matrix“, o jogo lhe oferece duas possíveis escolhas: jogar com o teclado ou com um joystick.

Os comandos são basicamente os mesmos no teclado e no joystick: seta/joystick/direcional para cima/frente acelera, para baixo/trás freia, direita e esquerda fazem as curvas. A única diferença nos botões é que, enquanto no teclado são necessários dois botões distintos para subir ou descer as marchas, no joystick essa função fica a cargo de um único botão. Apertou enquanto acelera, a marcha sobe. Apertou freando, a marcha desce.

Apesar de terem comandos praticamente idênticos, teclado e joystick apresentam características que influenciam a jogabilidade de forma crítica.

Clássicos: Test Drive (PC)  - O avô de Need for Speed e Gran Turismo

Explico: o sistema operacional da época, o MS-DOS, não era muito bom em reconhecer duas teclas pressionadas simultaneamente. Ou seja, se escolher jogar pelo teclado, o nível de perícia e treino necessários para vencer o jogo sobe consideravelmente. Isso porque todos os carros do jogo vem com transmissão manual, o que significa, por exemplo, que para subir as marchas, você deve, obrigatoriamente, “tirar o pé” do acelerador, tornando a experiência um pouco mais real.

Além disso, durante as curvas, é fácil esquecer dessa limitação e tentar continuar freando enquanto gira o volante, o que pode levá-lo a uma trágica colisão com uma caminhão que vem no sentido oposto, ou acelerando, o que o levará a ficar eternamente andando a 20 milhas por hora sem se dar conta. (sim, milhas, numa época em que “globalização” era apenas um sonho dos economistas, o pessoal da Accolade decidiu por favorecer seus compatriotas, usando o sistema de medidas adotado por lá).

Escolhendo o joystick, a coisa fica um pouco mais fácil, pois é possível trocar marchas e fazer curvas sem ter que soltar o acelerador ou o freio. Desse modo, a jogabilidade fica um pouco mais fluida e te libera para curtir os outros aspectos do game, dos quais falarei mais adiante. Só é necessário se lembrar do botão único para troca de marchas.

Passado o dilema do método de controle, somos apresentados à tela de seleção de carros, que traz informações detalhadas das possíveis escolhas, como esta que você vê abaixo:

Clássicos: Test Drive (PC)  - O avô de Need for Speed e Gran Turismo

Escolhido o carro, finalmente chega a parte mais divertida: cair na estrada. Você é colocado em uma pista estreita à beira de um penhasco, e tem que usar toda sua habilidade para desviar dos outros carros enquanto evita uma queda catastrófica. Ao menos esse é o espírito, já que, talvez pela tecnologia disponível na época, talvez por estética, os programadores se viram obrigados a substituir todo tipo de acidente por um genérico pára-brisas trincado.

E esse é o momento onde se separam os meninos dos homens. Isso porque, como mencionado anteriormente, a mudança de marchas é completamente manual. Assim sendo, seu carro começa o jogo em ponto morto e, se você acelerar demais sem engatar a primeira marcha, seu motor “explode” sem dó nem piedade. Isso mesmo, “explode”, pois na verdade tudo o que se vê quando isso ocorre é o mesmo pára-brisas trincado, sem maiores explicações. É um detalhe que não chega a atrapalhar a experiência a ponto de torná-la desagradável, adiciona inclusive um irresistível charme retrô ao jogo. Entretanto, jogadores inexperientes ou impacientes podem acabar desistindo do jogo após três ou quatro tentativas frustradas de fazer o carro andar.

Clássicos: Test Drive (PC)  - O avô de Need for Speed e Gran Turismo

Uma vez em movimento, o jogo se mostra uma experiência agradabilíssima, principalmente se você não se incomodar com os efeitos sonoros típicos da época (que para os mais velhos trazem nostálgicas memórias de infância). Aliás, o som é outra parte do jogo que contribui ainda mais para a imersão: sendo os carros disponíveis esportivos puro-sangue, não há rádio nem outras firulas que possam distraí-lo da estrada. Além do carro em si, seu único companheiro é o aparelho detector de radar, que apita e pisca sempre que há um radar por perto. Nessas ocasiões, é necessário reduzir a velocidade até o limite indicado nas placas às margens da pista antes que o dispositivo pare de apitar, ou uma viatura policial começará a lhe perseguir.

É nesse ponto que perícia e atenção são fundamentais, por dois motivos: geralmente, quando o aparelho começa a apitar, todas as placas que indicam a velocidade máxima do trecho já ficaram para trás, portanto vale a pena estar sempre de olho nelas para não ser surpreendido por uma viatura policial no retrovisor. Além disso, não é raro (principalmente nos níveis mais avançados) os radares aparecerem na hora em que estamos entrando numa curva fechada, a 120 MPH, tentando ultrapassar um carro mais lento e desviando de um caminhão na contra-mão. Coloque aí aquelas limtações do DOS que eu mencionei anteriormente, e temos um desafio dos mais complexos (e divertidos) da história dos games.

Clássicos: Test Drive (PC)  - O avô de Need for Speed e Gran Turismo

Caso a viatura apareça, o jogo lhe dá duas opções: ou você tenta fugir da polícia (o que não é especialmente difícil se você for capaz de manter a velocidade em torno de 130 MPH), ou se entregar, reduzindo a velocidade e permitindo que a viatura te ultrapasse, freando em seguida para não acertá-la em cheio. Enquanto fugir pode parecer a melhor escolha, e geralmente é, há momentos em que é mais vantajoso se entregar, pois a única punição pela multa é ficar com o carro parado por alguns segundos. Isso se aplica a momentos em que estamos na última “vida” (são cinco, que se renovam ao fim de cada estágio) em um trecho onde é difícil manter uma boa velocidade ou quando a viatura já está na nossa frente, pois ela ficará lá até o carro parar ou até batermos nela.

Ao fim de cada estágio, o carro para automaticamente em um posto de gasolina, onde o frentista lhe elogia ou perturba de acordo com a sua velocidade média no trecho anterior, contabiliza seus pontos de acordo com o tempo gasto para completar o trecho e lhe dá dicas sobre o jogo, te liberando em seguida para mais algumas milhas de asfalto.

Em resumo, podemos dizer que Test Drive é um daqueles clássicos que resistiram bravamente ao tempo, se mostrando bastante divertido mesmo nos dias atuais. É um jogo imperdível para os fãs de jogos antigos, bem como para os apreciadores de jogos de corrida. Se a franquia Test Drive está aí até hoje, isso se deve em muito às suas raízes. E, como pudemos ver, são raízes bem fortes.

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