Começou Assim: Maze War, o primeiro FPS de todos os tempos
Quando falamos de FPS, vários games surgem na nossa mente. Temos os atuais sucessos Call of Duty e Battlefield, passando por franquias como Bioshock e Metro, até clássicos absolutos, que vão de Medal of Honor, até Doom, Quake e Wolfenstein 3D.
Mas a história deste gênero é bem mais antiga do que se parece. Começou em 1973, quando videogame ainda era uma palavra “obscura”. Assim, hoje nós iremos conhecer a história do primeiro game que trouxe visão em primeira pessoa em todos os tempos: Maze War.
Nos anos 70, essa conversa de videogame era muito diferente da qual estamos acostumados hoje. A Atari era quem ditava as tendências, enquanto aventureiros de todo o mundo buscavam explorar o que, apesar de ser considerado desde aqueles tempos como o futuro, ainda era uma aposta, que poderia dar muito certo, ou muito errado.
O primeiro FPS da história
Maze foi desenvolvido pelo trio Steve Colley, Greg Thompson e Howard Palmer para o computador Imlac PDS-1. Foi desenvolvido entre a metade de 1972 e o primeiro trimestre de 1973, onde recebeu elementos de shooter e se tornou jogável na ARPANET entre várias universidades.
ARPANET é a sigla de Advanced Research Projects Agency Network, ou Rede da Agência de Pesquisas em Projetos Avançados, e era uma rede de computadores criada para transmitir dados sigilosos militares e interligar redes de pesquisas pelos EUA, incluindo universidades. Foi o “pai” da Internet.
Dentro das possibilidades do game, os jogadores andam por um labirinto, podendo se mover para trás ou para a frente, virando para a direita ou para a esquerda em 90 graus, espiando pelos cantos pelas portas. Se você já jogou Phantasy Star no Master System, é basicamente a mesma coisa.
Assim como aconteceria posteriormente em Quake Arena, CS:GO ou, mais recentemente, em Valorant, os jogadores procuravam uns aos outros no labirinto, ganhando pontos ao atirar em outros jogadores, mas perdendo ao tomar tiros. Um jeito diferente de “matar e morrer” que seria, inclusive, uma boa ideia em games atuais.
Assim como aqueles jogos que circulavam os computadores da adolescência da maioria dos que estão por aqui lendo esta matéria, versões diferentes atingiam as universidades, inclusive uma com modo de trapaça onde o jogador, passando pelo servidor, poderia ver as posições dos outros jogadores. Outra versão permitia derrubar uma parede, permitindo atravessá-las. E até um pato foi colocado no game como “decoração”.
Entre os recursos do game, havia a perspectiva 3D em primeira pessoa, com o efeito de andar no campo de jogo, com as paredes do labirinto dando a perspectiva de visão em primeira pessoa. Também permitia que jogadores personalizassem seus personagens. Contava com um editor de níveis, permitindo alterar o design dos cenários, e ainda permitia jogo em rede, sendo o primeiro game, senão o primeiro, a permitir que jogadores jogassem um contra o outro na mesma rede em máquinas diferentes.
E ainda existia, décadas antes dos games atuais, um modo espectador, para assistir as partidas sem estar participando delas.
Steve Colley escreveu o game no Centro de Pesquisa Ames da NASA na Califórnia. Ele escreveu um programa para navegar em labirintos em visão de primeira pessoa. Colley se uniu com Greg Thompson e Howard Palmer e transformou seu programa no Maze War que conhecemos, também na NASA.
Colley afirmou, em certa ocasião, que o seu projeto inicial era popular, mas enjoava rápido. Assim, seus colegas de desenvolvimento tiveram a ideia de colocar pessoas no labirinto. Para tal, conectaram dois computadores Imlacs usando portas seriais para enviar dados de um para o outro, pois eles não estavam ligados em rede. O resultado foi satisfatório e logo em seguida surgiu a ideia de atirar uns nos outros.
Um legado que chegou primeiro aos RPGs
Embora seja muito simples associar os games em primeira pessoa aos FPSs atuais, naqueles tempos o legado de Maze War foi um pouco diferente. Quem encontrou espaço para este tipo de visão e imersão foram os RPGs. Ultima e Wizardry foram alguns dos games que popularizaram o estilo. E até Phantasy Star, que contava com um gameplay tradicional, oferecia labirintos para explorar, também em visão de primeira pessoa.
O game original ganhou outras versões, como Snipes, de 1982, o MazeWars+ de 1987 para o Apple Macintosh, já totalmente em 3D com jogo em rede. E o Super Maze Wars, de 1993, que também era distribuído em computadores Macintosh. Computadores NeXT, aparelhos Palm, e até dispositivos iOS também contaram com versões do game.
Seus criadores aproveitaram a experiência. Steve Colley faria posteriormente as primeiras versões do Mars Rover para a NASA, onde sua experiência com perspectiva 3D se mostraram úteis. Greg Thompson atuou em diversas empresa como a nCUBE, Cisco e Huawei, e atualmente é mentor do i-GATE Innovation Hub em Livermore CA. Enquanto Howard Palmer se tornou Engenheiro Sênior na Netscape, Arquiteto Chefe da Resonate e atualmente é desenvolvedor de software na Universidade de Stanford.
Dos RPGs, dois games revolucionariam um gênero, ao popularizar esta perspectiva em forma de game de tiro em primeira pessoa: Wolfenstein 3D e Doom, entre os anos de 1992 e 1993. A partir daí, o tiroteio em primeira pessoa foi evoluindo, passando pelos sucessos de GoldenEye 007 e Medal of Honor, pelo fenômeno cultural de Call of Duty, e até hoje, com os games multiplayer que rendem torneios pelo mundo.