Dead Island (PC, PS3, X360) review – RPG, FPS e terror em um só game
Com um único vídeo de pouco mais de três minutos, a polonesa Techland conseguiu uma façanha que muitos grandes estúdios de cinema não conseguem: criar uma expectativa monstruosa por um título sem divulgar quase nada sobre ele. Todos que viram o belo e dramático trailer da garotinha zumbi atirada pela janela ficaram ligados no jogo, sedentos para jogar um game apresentado de maneira tão épica. Agora Dead Island já está entre nós e embora não mantenha nem de longe o clima dramático e emocional do trailer, é sem dúvida um ótimo game de zumbis para se jogar com os amigos.
Antes de mais nada, esqueça as comparações com Left 4 Dead. Embora a temática e o modo multiplayer soem familiares, Dead Island é mais RPG e menos FPS. Se tivéssemos que compará-lo com algum outro game, seria com Fallout ou com Borderlands, não com Left 4 Dead. E isso é uma coisa boa, afinal, todos nós sabemos que de FPS genéricos o mercado já está cheio, mas RPGs com cara de FPS não são tantos assim.
A premissa de Dead Island é bem simples: uma ilha que deveria ser o paraíso se transforma em inferno quando uma epidemia zumbi assola o lugar. No papel de um sobrevivente, você deve fazer o óbvio: sobreviver, enquanto vasculha a ilha para encontrar ferramentas que auxiliem sua jornada e desvendar os mistérios por trás daquela infestação de mortos-vivos.
Ao iniciar um novo game, você pode escolher entre quatro personagens, cada um com uma habilidade específica que é quase uma classe: Xian Mei é uma ex-policial especialista com lâminas, já Purna é uma segurança que adora armas de fogo. O rapper Sam B é o mais forte e justamente por isso se vira melhor com bastões e armas de impacto. Por fim temos Logan, um jogador de futebol americano que prefere armas de arremesso.
Como eles andam em grupo, a narrativa não vai mudar muito independente do personagem que você escolher. A mudança mais drástica está mesmo na jogabilidade, afinal além das afinidades com diferentes tipos de armas, cada personagem possui sutis diferenças em atributos como força e velocidade. Com três árvores de habilidades diferentes – divididas em Fury, Combat e Survival – cada personagem conta ainda com uma habilidade especial – chamada Rage – que é única e passível de upgrades.
O clima de tensão no game é constante – afinal, você é um turista em uma ilha infestada de zumbis, não um super soldado – e é difícil você se sentir realmente seguro, pois os inimigos podem surgir de diversos lugares. E quando falamos em inimigos, não nos referimos apenas aos zumbis, pois em diversas ocasiões você terá de enfrentar também humanos, que estão aproveitando a situação para saquear a ilha, e soldados, que estão tentando conter a zumbizada e não parecem ser espertos o bastante para diferenciar um zumbi de um ser humano normal.
Ainda assim os zumbis são a maioria e os combates contra eles serão constantes mas – ao contrário de Left 4 Dead – isto não é a espinha dorsal do game. Dead Island é muito mais uma experiência de sobrevivência e fugir pode ser a melhor opção em diversos momentos. O ambiente nada propício para uma infestação de zumbis deixa tudo mais emocionante, pois você poucas vezes dará a sorte de encontrar uma escopeta calibre 12 dando sopa no chão.
Como já é bem sabido, em Dead Island você precisará se virar na maior parte do tempo com bastões, pás, facas de cozinha, extintores de incêndio e outras armas que são inusitadas, mas condizentes com o local onde o game se passa. Depois de certo ponto você até descola armas de fogo com mais facilidade, mas o grosso do jogo você deve encarar “no muque”, tendo de se manter ligado tanto nastamina do seu personagem – que é gasta para correr, mas também para desferir golpes – e no nível de degradação das suas armas, afinal, elas não duram para sempre, e ficar desarmado por muito tempo é praticamente pedir para ter seu cérebro devorado pelos zumbis.
Felizmente, em uma mecânica semelhante à de Dead Rising 2, é possível modificar e customizar armas, o que as torna mais fortes, aumenta sua durabilidade e pode até mesmo causar status negativos nos oponentes. E algumas destas modificações são bem criativas: você pode, por exemplo, passar uma erva venenosa na lâmina de uma katana, o que deixará os zumbis atingidos vomitando as tripas até a morte. Machetes eletrificados, bastões de beisebol com pregos, facas explosivas, coquetéis molotov… as opções são vastas, desde que você tenha algum dinheiro (dólares virtuais, que são encontrados pela ilha) e as ferramentas certas.
Falando nisso, dinheiro é uma parte essencial de Dead Island, pois quase tudo o que você faz precisa dele: a customização de armas, a compra de novos equipamentos nas “lojas clandestinas”, até morrer custa dinheiro! Isso faz com que a exploração em busca de loots seja uma parte importante do jogo. Felizmente, lugar para vasculhar é o que não falta, pois além da ilha ser enorme, ela conta com diversos ambientes, desde matas selvagens, passando por belas praias até o luxuoso resort que hospedava os turistas.
Embora os gráficos de todos estes ambientes sejam bonitos, jogando a versão para PC do game encontramos alguns problemas impossíveis de serem ignorados: alguns golpes parecem robóticos e desajeitados, texturas aparecem conforme você se aproxima e/ou demoram para carregar, os braços do seu personagem atravessam portas ao abrí-las e em diversos casos você está olhando para uma arma no chão mas não pode pegá-la por algum bug bizarro que a deixou “colada” no cenário, isso quando ela simplesmente não é “engolida” pelo solo e desaparece sem motivo algum.
O visual dos personagens é bem detalhado, mas nas diversas cutscenes você perceberá que os movimentos e expressões faciais tanto dos protagonistas quanto dos NPCs são bem artificiais. Alguns até tem boas histórias para lhe contar, mas a maioria deles é simplesmente um estereótipo de personalidade unidimensional que só quer lhe passar alguma quest enquanto se mantém na segurança de uma safehouse, o que pode desagradar os mais exigentes por realismo, mas certamente vai agradar quem não tem paciência de passar muito tempo conversando com os NPCs.
Algumas das sidequests que os NPCs lhe passam são absurdas, mas cabe a você a opção de completá-las ou não. Convenhamos, tudo o que você mais quer no meio de um holocausto zumbi é devolver o sorriso ao rosto de uma garotinha recuperando seu ursinho de pelúcia perdido, não é? A parte boa é que estas sidequests são divertidas e desafiadoras, e enquanto você cumpre um objetivo pode acabar se dando bem ao topar com alguma nova arma ou com uma grana esquecida dentro de uma mala aberta.
Mesmo não tendo o mesmo apelo emocional daquele primeiro trailer, esta eterna necessidade de ajudar os outros sobreviventes cria uma imersão muito forte: mesmo que eles possuam rostos robóticos e falas artificiais, você vai querer ajudar aqueles pobres coitados simplesmente para amenizar um pouco o sofrimento deles no meio daquele inferno. Este é um grande ponto positivo do game, ele consegue te carregar para aquela realidade de maneira muito bem-sucedida. Aqui na redação da Arkade temos um companheiro que deixou Deus Ex 3 de lado para continuar se aventurando em Dead Island!
Logicamente, jogar com três amigos no modo cooperativo online deixa tudo mais legal, pois se aventurar ao lado de companheiros humanos torna a experiência ainda mais orgânica. E mesmo se algum amigo utilizar o mesmo personagem que você, o sistema de evolução personalizado pode deixar personagens iguais com habilidades bem diferentes. É fácil entrar e sair de partidas online graças ao sistema de balanceamento de níveis que evita que jogadores muito fracos entrem na partida de outros mais evoluídos e vice-versa.
Resumindo, Dead Island é um RPG em primeira pessoa com zumbis. Isso é bom? Depende do que você espera do game. Se quer algo mais voltado para o tiroteio e para a ação, talvez seja melhor continuar com Left 4 Dead. Mas quem busca uma nova forma de se aventurar por um holocausto zumbi, tendo de realmente sobreviver sem se dar ao luxo de encontrar metralhadoras em cada caixa, definitivamente vai se divertir muito pelas mais de 20 horas de jogo que a campanha oferece.
Faltou um pouco de capricho da Techland para a finalização do game, mas os bugs não desmerecem os pontos positivos do game. Desafiador, visceral e imersivo, Dead Island é possivelmente a experiência mais realista de um holocausto zumbi que nós, reles mortais (que não somos guerrilheiros, atiradores de elite ou membros do S.T.A.R.S.) poderemos experimentar. Com a vantagem que neste caso a morte não significa o fim, apenas uma perda de dinheiro.
http://youtu.be/0_KBtOVx-x0
Este review foi originalmente publicado na edição 27 da revista Arkade.