Depois do Fim: Vamos conversar sobre a tragédia de Cyberpunk 2077
Cyberpunk 2077 foi lançado há pouco mais de 1 mês, no dia 10 de dezembro de 2020, após 8 longos anos de espera. E no mesmo dia de seu lançamento, o hype monstruoso que se construiu com o tempo foi simplesmente despedaçado. Cyberpunk 2077 foi lançado em péssimo estado.
E após toda a onda de raiva e animosidade, e após muita coisa ter acontecido em relação ao game e a seus responsáveis, ou resumidamente, após todo o hype negativo ter passado, é hora de fazermos uma análise fria não sobre o game, pois nós já publicamos um Preview e um Review completos, mas analisar toda a sua situação e história. De seu anúncio, produção, lançamento e decepção. E faremos isso usando uma das grandes características do game como parâmetro: O próprio Johnny Silverhand.
Então sente-se, ajuste o seu dispositivo de Neuro Dança, e vamos bater um longo papo.
O início de tudo
Em 2012, a CD Projekt Red, estúdio famoso pela adaptação da série The Witcher nos video games, anunciou Cyberpunk 2077, uma nova interação do clássico RPG de mesa dos anos 80, com apenas um pequeno trailer revelando seu logo. E em 2013, a produtora apresentou ao mundo o primeiro trailer cinemático do game, que mostrava uma mulher ciborgue ajoelhada na rua, cercada de vários corpos mutilados e sendo alvejada por vários policiais atirando. O trailer terminava com a mensagem “Coming: When it’s ready”. Ou “Chegando: Quando estiver pronto”, em tradução literal.
No mesmo ano de 2013 a produtora também anunciou The Witcher III: Wild Hunt, o terceiro e último capítulo da história do bruxo Geralt de Rivia. The Witcher III foi lançado apenas dois anos depois, em 2015, tornando-se Game of The Year daquele ano e sendo altamente premiado e cultuado. Com isso, as expectativas por Cyberpunk 2077 estavam ainda maiores. Mas… nada novo sobre o game era divulgado. E o estúdio reforçava a mensagem de que lançaria o game “quando estiver pronto”.
A longa espera
Anos se passaram e somente em 2018 que o game finalmente ressurgiu. Durante a E3 2018 um novo teaser do game foi divulgado, com uma mensagem no início que dizia que estávamos vendo cenas diretamente de sua engine. Mas, nenhuma data de lançamento foi mostrada. E logo após isso, silêncio novamente.
Somente em 2019 que o game enfim atingiu sua reta final e iniciou a contagem regressiva para seu lançamento. Durante a E3 2019, o ator Keanu Reeves subiu ao palco na conferência da Microsoft para apresentar um novo trailer, revelando que ele estaria no game, interpretando o personagem Johnny Silverhand. E enfim uma data de lançamento foi revelada: 16 de abril de 2020. Apenas alguns meses até o game mais esperado da década ser lançado!
A partir daí, certamente você se lembra bem o que aconteceu… Adiamentos, adiamentos e mais adiamentos. E além disso, a nova geração de consoles estava chegando, com o Playstation 5 e Xbox Series X chegando no mês de novembro. A CD Projekt Red foi adiando o game com a promessa de consertar alguns erros para que seu lançamento fosse perfeito, reiterando a todo momento que a nova geração não estava interferindo em sua produção. Garantindo que o que vimos todo esse tempo seria jogando no lançamento, no Playstation 4, Xbox One e nos PCs. E após longos meses, uma data final foi estabelecida: 10 de dezembro de 2020.
Veículos midiáticos e influenciadores digitais tiveram acesso ao game antecipadamente (infelizmente nós da Arkade só recebemos uma cópia no dia de seu lançamento, não pudemos jogá-lo antes disso). Todo o público estava hypado, todo mundo queria saber a opinião de quem estava jogando, o que a galera mais privilegiada tinha achado? O embargo do game venceu no dia 7 de dezembro, e quem pode jogar antecipadamente recebeu cópias para PC, que funcionam da forma que deveria, apesar de já mostrar muitos bugs, mostrando que o hype parecia ser justificado. As notas iniciais do gam já começaram altas.
Mas quando o dia 10 de dezembro chegou e o mundo teve acesso às versões de console… foi como se uma bomba tivesse explodido em Night City.
Seu lançamento desastroso
Cyberpunk 2077 foi lançado nos PCs, no Playstation 4, Xbox One e Google Stadia. Quem jogou no PC, encontrou um game incrível, com um visual de cair o queixo. Quem jogou nos consoles encontrou um produto indescritivelmente problemático.
Um game carregado de bugs de todos os tipos: NPCs que aparecem e desaparecem, cenários e modelos que não carregam, funcionalidades quebradas ou que não funcionam direito e crashes a todo momento sem qualquer razão aparente. Isso tudo, além de muitos outros problemas diversos. O estado das versões de console estava tão péssimo que era inacreditável conceber que haviam sido lançados.
O problema foi tão grande que a Playstation Store e a Microsoft Store tiveram que oferecer reembolso para os jogadores insatisfeitos. E não apenas isso, o game foi removido da PS Store e até este momento não pode ser comprado digitalmente na loja! Após isso, uma verdadeira avalanche de problemas pegou a CD Projekt Red de jeito, de uma forma tão forte que ficava até mesmo difícil interpretar todas as notícias que víamos diariamente.
E o problema não foi apenas técnico, mas ético. Pois a CD Projekt Red deliberadamente escondeu as versões de console do público. Lembre-se que todas as apresentações do game mostravam ou a versão de PC, ou as versões de Playstation 5 e Xbox Series X em modo de retrocompatibilidade. Quando finalmente mostraram as versões de Playstation 4 e Xbox One, foram em cenas bem curtas sem nenhuma ação. Assim, tudo parecia estar excelente. Mas, a CD Projekt Red lançou um produto ruim nos consoles da geração passada, tendo plena consciência disso.
Como que a mesma CD Projekt Red de The Witcher 3 havia feito algo tão quebrado assim? Como aquele anúncio que prometia tanta coisa chegou entregando somente parte do que se esperava? Quem é o culpado disso tudo?
O Mundo Corpe e a cultura do hype
A primeira reação do público a tudo isso foi um choque imenso, seguido dos memes, passando para a raiva e ódio contra a produtora para só então, após um longo tempo, as pessoas tentarem entender de quem era a culpa. Pessoalmente, cheguei a ver muita gente culpar os consoles pelo estado do game. Aquela velha briga de “os consoles barram o desenvolvimento dos games”.
Mas não foi esse o problema. Não inteiramente. No Playstation 5 e Xbox Series X, os jogadores podiam jogar as mesmas versões de Playstation 4 e Xbox One, via retrocompatibilidade. E nos consoles da geração nova, o game roda muito bem, mas não tão bem quanto no PC.
“Mas espera aí, isso aí só prova que os consoles são os culpados!” – Superficialmente sim. Mas isso não é a verdade. E a verdade só foi descoberta dias depois do lançamento. Com a CD Projekt Red sofrendo uma enorme retaliação pelo lançamento desastroso, vários relatos anônimos passaram a surgir na internet. Eles diziam que faltou dinheiro pro projeto, que faltou tempo, que muita coisa foi cortada e etc.
Mas como assim? O game foi anunciado em 2012! Como faltou tempo se eles tiveram OITO ANOS para trabalhar no game? E é aqui que o verdadeiro culpado se revela. E ele não está somente na CD Projekt Red, mas sim naqueles que mandam no estúdio, a CD Projekt, companhia mãe e a real dona de tudo.
Começando por partes: Cyberpunk 2077 foi anunciado em 2012, mas sua produção só foi iniciada em 2016, quatro anos depois, e quatro anos antes de seu lançamento em 2020. E apenas para colocar em perspectiva, The Witcher III: Wild Hunt teve sua produção iniciada em 2011, sendo anunciado em 2013 e lançado em 2015. Quatro anos também, mas a cadeia de eventos foi bem diferente.
A pré-produção de Cyberpunk 2077 começou somente após o término da produção da DLC Blood & Wine de The Witcher III, e desde então tornou-se o foco do estúdio, com pequenos grupos dedicados na manutenção do RPG de Geralt e no card game Gwent, além de Thronebreaker, lançado em 2018.
Não se sabe exatamente como foi o desenvolvimento do game, mas vários rumores foram surgindo recentemente. O que se sabe de fato é que muitos recursos, como Wallrunning, customização de veículos, NPCs e polícia com IA avançada, fast travel com trens e carros voadores foram removidos durante a produção. Esses recursos foram inclusive comentados pela própria CD Projekt Red (no caso do Wallrunning, por exemplo). Mas muitos outros rumores surgiram posteriormente.
Crunch excessivo (trabalhar muito além de sua carga horária), versões do game inteiramente descartadas, o mapa de Night City sendo recriado e modificado inúmeras vezes, muita coisa é dita ter acontecido. Segundo rumores, o desenvolvimento do game atingia diversos problemas em que uma ideia que funcionava muito bem no papel não funcionava na prática. Algo bem comum na produção de qualquer game. Há ainda rumores de que a participação de Keanu Reeves causou muitas alterações no projeto, pois, dizem, o ator gostou tanto de interpretar Johnny Silverhand que pediu mais tempo de exposição ao estúdio, que reescreveu muita coisa do roteiro para encaixar ainda mais Silverhand na história.
E segundo várias notícias, que de acordo a mídia internacional são legítimas, vários desenvolvedores comentaram, anonimamente, que houve muita pressão para o game ser lançado o mais rápido possível. O orçamento foi se tornando mais apertado e o tempo ainda mais. E os desenvolvedores não tiveram escolha: Ou cortavam recursos e poliam o que dava a tempo do lançamento, ou não lançavam nada, pois adiar o game pelo tempo necessário para atingir a experiência prometida seria impossível.
E não apenas isso, mas a própria CD Projekt Red admitiu publicamente que não deu a devida atenção à versão da geração passada de consoles. Focando somente nas versões de PC e da nova geração. É por isso que a mesma versão de jogo roda bem no PS5/Series X e roda de maneira péssima no PS4/XOne, é porque essas versões foram negligenciadas.
Isso levantou a questão: Como a Sony e Microsoft deixaram o game ser lançado em suas plataformas nesse estado? E isso foi respondido: Segundo reportagens lançadas após o lançamento, foi dito que as duas empresas sabiam dos problemas do game, até certo ponto. E o aceitaram em suas plataformas pois houve a promessa de que o game seria consertado pouco após seu lançamento. Mas a reação negativa foi tão esmagadora que as empresas tiveram que agir de imediato.
E piorando tudo, as versões da nova geração, de Playstation 5 e Xbox Series X sequer foram lançadas! Elas estão prometidas para chegar em 2021, mas sem data marcada. Com isso, o estúdio enfrenta mais dilemas: Eles precisam consertar o game agora (e prometeram duas grandes atualizações para janeiro e outra para fevereiro) e precisam terminar as versões para a nova geração. Isso que é uma sinuca de bico!
E então, quem é o culpado dessa sequência de desastres? Como já dito, foi a CD Projekt, a companhia mãe. A CD Projekt anunciou Cyberpunk 2077 em 2012, mas o game só começou a ser produzido em 2016. E isso aconteceu por conta da perigosa cultura do hype.
A cultura do hype não é apenas algo dos fãs, da galera que fica tão ansiosa por um lançamento que fala dele a todo momento e compra seus produtos em pré-venda. Há o lado empresarial por trás disso. E o lado corporativo. Por que a CD Projekt anunciou o game tão cedo? Porque queria começar a arrecadação para o projeto desde cedo. Isso é a cultura do hype.
Com esse anúncio prematuro, a empresa atraiu a atenção de vários investidores que injetaram dinheiro na produção do game. Era uma aposta, é claro, mas a CD Projekt Red tinha um bom nome. E com The Witcher III, se tornou a produtora mais adorada pelo público gamer, praticamente sinônimo de qualidade e confiança. E que fique claro, a CD Projekt Red merece totalmente esses elogios. O mesmo não se pode dizer da CD Projekt.
Após o lançamento desastroso, esses mesmos investidores, que perderam muito dinheiro, abriram um processo coletivo contra a CD Projekt, alegando, entre outras coisas, que a empresa mentiu para eles por todo esse tempo, mentindo sobre o projeto, sobre o que seria lançado, o que estava sendo feito e etc. E nesse exato momento, a CD Projekt está preparando sua defesa contra esse processo. E no meio do fogo cruzado fica a CD Projekt Red e seus desenvolvedores, que foram alvo de todo o hate vindo do público.
O público e Johnny Silverhand
A reação do público em relação ao lançamento de Cyberpunk 2077 foi, no mínimo, infeliz. Não falo dos memes, da insatisfação, reviews negativos ou pedidos de reembolso. Falo sobre a agressividade excessiva de muita gente.
Como Gilson Peres fala em seu Preview, parece que a cada dois anos algo semelhante acontece: Watch Dogs, No Man’s Sky, Cyberpunk 2077. Grandes promessas que passam longe do prometido. A insatisfação é justificada? Sim. As notas baixas foram exageradas? Não. A raiva do público e os ataques aos seus desenvolvedores foi certa? Não, de forma alguma.
Eu joguei ao longo de todo o mês de dezembro, após seu lançamento. E ainda jogo atualmente. E enquanto jogava e via as notícias sobre o game, notei uma grande semelhança, uma assustadoramente grande semelhança. Trata-se da reação do público em comparação com o personagem Johnny Silverhand.
Não vou entrar em spoilers, mas preciso contar um pouco da história do personagem. Johnny Silverhand era um ”Rockerboy”, uma das classes do RPG de mesa Cyberpunk 2020, e dentro desse universo, uma pessoa que luta contra as corporações através da música. Johnny era uma pessoa muito extrema, seu desejo era literalmente destruir os “corpes”. E ele não media esforços para fazer isso. Ele matava, ele explodia, ele fazia o que achasse que deveria.
Para Johnny, as coisas eram oito ou oitenta e tudo relacionado a corporações merecia ser destruído. Ele não matava inocentes, mas se inocentes morressem como consequência de seus atos, paciência, pelo menos morreram por uma boa causa. Essa caraterística de Johnny é altamente explorada durante todo o game, entre os diálogos entre ele e o/a protagonista V, entre seus antigos companheiros de 2020 e entre tudo sobre a história em si.
Johnny incentiva V a seguir o caminho mais destrutivo, mas evolui junto com V, de acordo com seus diálogos. E essa dualidade é o ponto central da narrativa. O que o jogador vai decidir? Seguir o que deseja, entrando na pele de V? Ou seguir o que Johnny quer? (Isso sem contar os caminhos alternativos, o game manda muito bem em oferecer muitas opções)
E no mundo real, o comportamento do público me lembrava do Johnny. Antes que você diga que eu estou fazendo uma comparação muito extrema e sem sentido, deixe-me desde já explicar que não me refiro a violência física e aos atos extremos (que infelizmente ocorreram, com desenvolvedores denunciando até ameaças de internautas), mas sim com a característica de “querer ver o circo pegar fogo”.
Quando Cyberpunk 2077 foi lançado, o pessoal que trabalha na CD Projekt Red foi massacrado por críticas e xingamentos. Desmerecendo seus trabalhos, foram hostilizados nas redes sociais, entre outras coisas, pra falar só o que de menos pior aconteceu. O imediatismo da crítica geral chegou a quase espiralar fora de controle. E esses desenvolvedores merecem tanto esse ódio?
Em parte, eles têm culpa, pois foi o trabalho deles que foi lançado da maneira que vimos. Porém, lembre-se que esses desenvolvedores são funcionários de uma empresa, com prazos e ordens para cumprir. Já vimos esses casos tantas vezes que me surpreendo quando vejo que o público ainda não compreende esse problema. Que não entendem que sempre há alguém dando ordens por trás de tudo.
DLCs, microtransações, conteúdo cortado para ser vendido separadamente, downgrades e a própria cultura do hype. É o lado empresarial que dita tudo. Isso, obviamente, não se aplica a todo mundo. E definitivamente não falo isso para passar pano para ninguém. Mas no caso de Cyberpunk 2077, já está muito mais do que claro que esse definitivamente foi o caso.
A CD Projekt anunciou o game muito cedo. O projeto começou bem, mas conforme crescia, a CD Projekt Red via que não estava chegando onde queria e muitas versões do game foram descartadas, com o projeto tendo que ser começado de novo do zero, até chegar no ponto em que chegamos. E o game foi lançado do jeito que estava: Ótimo no PC, péssimo nos consoles, e com muitos recursos cortados para atingir o prazo.
Um fato em relação a produção do game é que não houve tempo suficiente para o estúdio atingir a visão que tinha do projeto. Se o estúdio tivesse mais tempo, certamente teríamos um game muito melhor, mas isso descartaria a geração passada por completo. Mas o problema de tudo é que Cyberpunk 2077 foi anunciado cedo demais. Se o game não tivesse sido anunciado em 2012, se tivesse sido anunciado em 2016 por exemplo, quando a produção realmente começou, certamente as coisas poderiam ter sido diferentes.
Foram 8 anos de espera e 4 de produção. E tudo isso embalado em um hype tão grande, mas tão grande que a decepção foi colossal. Não só os jogadores ficaram extremamente desapontados, afinal o que foi prometido era quase como uma ideia realmente futurista, mas os investidores que colocaram dinheiro na produção do game abriram um processo contra a CD Projekt! Nem mesmo No Man’s Sky passou por isso!
Não vou, no entanto, demonizar essa prática de anúncio prematuro. Apesar de sim, essa ser uma prática muito controversa e que muitas vezes se provou ruim (vide muitos crowdfundings por aí, como Mighty No. 9 e Star Citizen). E afinal, se tudo tivesse dado certo, não estaríamos batendo esse papo agora, estaríamos? Por outro lado, não vou fingir que o que aconteceu foi meramente uma “infelicidade”. Todo o caso é surreal e realmente revoltante: Arrecadação de dinheiro antecipada, pré-vendas que literalmente pagaram os custos do game antes mesmo de seu lançamento. E uma terrível mentira para todos sobre o real estado do game.
Não recebemos o que foi prometido, nem nos consoles, nem no PC. Mas quem jogou nos PCs recebeu pelo menos um produto finalizado, apesar de incompleto. Quem jogou nos consoles recebeu basicamente um beta test, para só daqui algum tempo realmente poder receber a mesma versão que chegou nos PCs. O problema é, será que o público vai querer voltar para Night City após tudo isso?
A culpa existe, o game foi lançado num estado deplorável. O trabalho não foi suficiente e foi negligenciado. Tudo isso graças a ações de má fé daqueles ditando ordens por trás de tudo isso. E a cultura do hype foi o primeiro e o maior erro de todos. Pessoalmente eu me solidarizo com os desenvolvedores do game, pois pelo o que as notícias contam, eles meramente seguiram ordens. Mas as empresas, essas erram muito feito.
Johnny Silverhand odiava as corporações e todos que tinham algum envolvimento com elas. E durante todo o game vemos que os “Corpes” realmente são pessoas desalmadas que não se importam com nada. Mas vemos poucos exemplos de “Corpes” que ainda possuem humanidade. O que quero dizer com isso é, sim, denuncie quem realmente tem culpa, mas tome cuidado para que a explosão não afete quem não teve escolha na situação.
O futuro de Cyberpunk 2077
E por fim, chega a pergunta que todos querem saber, mas ninguém consegue prever a resposta: Como será o futuro de Cyberpunk 2077? Nesse exato momento tudo relacionado ao game está em seu ponto mais baixo: Financeiramente, em respeito e confiança do público e em trabalho. Dá pra dizer que os responsáveis pelo game estão como naquele trailer de 2013, ajoelhados na rua no meio de um tiroteio.
O estúdio segue trabalhando em todas atualizações para corrigir erros e entregar a experiência prometida nos consoles da geração passada. Enquanto trabalham para lançar as versões da nova geração. E mesmo nisso estão surgindo mais rumores e problemas.
Segundo alguns rumores, a CD Projekt Red estaria planejando um renascimento para o game, ao estilo No Man’s Sky, planejando lançar, por volta de junho, uma nova versão do game contendo muitos dos conteúdos que foram cortados. Se isso se confirmar, será realmente incrível! Afinal é o que todos esperam! Mas um balde de água fria foi jogado pela própria CD Projekt.
A empresa nunca comenta sobre rumores publicamente, mas apareceu no Twitter para comentar que esse “renascimento” é falso. A empresa não entrou em detalhes sobre nada, simplesmente disse que os rumores são falsos. Mas o que ela realmente quis dizer? Que não houve conteúdo cortado, que não teremos esse renascimento, com atualizações adicionando novos recursos? Isso não ficou claro.
Normally we don't comment on rumors but this time we wanted to make an exception as this story is simply not true.https://t.co/JuOTY2qJbM
— Cyberpunk 2077 (@CyberpunkGame) January 6, 2021
No entanto, o game realmente precisa desse renascimento. Recentemente saíram notícias de que o game perdeu 79% de sua base de jogadores na Steam. Isso significa que uma parcela gigantesca de todas as pessoas que compraram o game já o abandonaram e não estão jogando mais.
Cyberpunk 2077 é sim um game excelente, mesmo com seu conteúdo cortado e mesmo com todos os inúmeros problemas que possui. Quando o game funciona, o que temos é uma aventura imersiva e divertida. Esse é um game que merece ser jogado, mas está claro que não hoje.
Toda a situação fez até com que o cofundador da CD Projekt Red, Marcin Iwinski, lançasse um vídeo em que pede desculpas publicamente pelo péssimo estado das versões de console, além de dar uma breve explicação interna sobre o que aconteceu. Segundo ele, e como já se sabe, o foco da produção era a versão de PC. E conforme essa versão evoluía, as mudanças eram então adaptadas às versões de console. Segundo ele, apesar da dificuldade de adaptar um game do escopo de Cyberpunk 2077 para a geração anterior ser grande, o trabalho fluía bem e os testes do game mostravam que tudo estava correndo bem. Mas, o game foi lançado e ficou evidente que o trabalho não foi suficiente.
E uma coisa que ele fez questão de deixar claro, e foi o ponto que quis levantar nesse artigo, é que a culpa do estado em que o game foi lançado foi da alta cúpula da CD Projekt Red e da CD Projekt, não dos desenvolvedores que trabalharam no game. Pois, como ele mesmo deixa claro, a decisão de lançar o game do jeito que estava foi dele e da equipe de liderança dentro do estúdio.
Ele ainda divulgou o roadmap para as correções que virão no game este ano. O plano inicial era lançar DLCs gratuitas logo após seu lançamento, mas sabemos que isso não foi possível. E daqui 9 dias (o vídeo foi postado ontem), uma nova atualização será lançada, com outras atualizações, grandes e pequenas, sendo lançadas nas semanas seguintes. Após o game ter enfim sido corrigido, as DLCs gratuitas serão lançadas (seu conteúdo não foi comentado).
Já sobre as versões para Playstation 5 e Xbox Series X, infelizmente elas irão demorar um pouco. Iwinski comentou que o estúdio está planejando lançá-las na segunda metade de 2021. Ou seja, só daqui, no mínimo, seis meses até que elas enfim sejam lançadas.
Esse vídeo foi algo realmente necessário, para o público e principalmente para o estúdio, que se comprometeu a corrigir esse terrível erro. Mas infelizmente o dano já está feito e a imagem de sua produtora está no fundo do poço. Mas há esperança. Esperança que as prometidas atualizações realmente entreguem o que prometeram, não só as correções necessárias, mas transformem o game no que ele tem capacidade de ser, mas hoje, não é.
Obviamente é triste ver uma situação dessas e tenha certeza de que tudo isso não vai ser esquecido tão cedo. A CD Projekt Red precisará trabalhar muito, muito mesmo para tentar recuperar a confiança do público. Diariamente demonizamos vários estúdios que vivem repetindo práticas altamente questionáveis e abertamente gananciosas (e que fique claro, muitos estúdios merecem essa desconfiança do público), mas o ideal seria que sequer precisássemos fazer isso. O que todos querem, como jogadores, é se divertir, mas para isso precisamos ser respeitados.
Esse caso torna-se então uma lição para todos nós. Para o público, que precisa conter-se no próprio hype. Não digo que você não deve ficar empolgado e contar os dias para um lançamento, na verdade, é legal fazer isso. Mas saiba respeitar seu dinheiro, não deixe que o hype ofusque a realidade do que você irá receber. Permita-se ser surpreendido. E uma lição principalmente para as produtoras: A confiança do público é o que vai levá-las adiante. É dela que sai o dinheiro usado para comprar seus jogos. E sem confiança e sem respeitar o público, mesmo o maior dos estúdios sofrerá. E mesmo que pareça que quem está no topo da hierarquia não dê a mínima pra isso, eles sentirão.
É você quem decide o que vai jogar. E é você quem decide se vai ou não gostar de um game. Não aceite menos do que é prometido e exija sempre o melhor! Mas, não seja um Johnny Silverhand, que age em extremos e de imediato. Tenha paciência, quando a situação pedir. Reclame quando a situação pedir. Mas no final de tudo, que você possa se divertir!