Deus Ex Human Revolution (PC, PS3, X360) review: um grande game
Todo gamer que se preza sabe que é muito perigoso criar muita expectativa em relação a um game. Que o digam os fãs de Duke Nukem, que recentemente quebraram a cara após mais de uma década de espera. Deus Ex é outra franquia que passou muito tempo na geladeira – o segundo game foi lançado em 2003 – e gerou um hype muito grande com seus trailers. Felizmente, ao contrário do supracitado Duke, em Deus Ex: Human Revolution a espera é muito bem recompensada por um game imersivo e empolgante que alia uma boa história à uma jogabilidade extremamente versátil.
A história do game se passa no ano 2027, uma época onde a humanidade está passando por uma revolução biotecnológica: utilizando próteses cibernéticas, a ciência está não apenas salvando vidas, como também criando super-humanos. Pessoas saudáveis estão se submetendo à modificações para ficarem com mais força, mais velocidade, visão de raio-x e muitos outros “superpoderes”.
Neste novo mundo, você assume o papel de Adam Jensen, chefe de segurança da Sarif Industries, empresa de biotecnologia que está dando passos largos neste processo de otimização da raça humana. Logicamente existem os revolucionários extremistas que são contra este tipo de procedimento, e realizam um brutal ataque à sede da Sarif, onde nosso protagonista é mortalmente ferido.
Jensen sobrevive, mas paga um alto preço: sua vida agora depende dos diversos enxertos cibernéticos que foram ligados ao seu corpo. Com seu novo corpo, Adam deve investigar quem está por trás do ataque que quase lhe tirou a vida. Esta busca é apenas a ponta do iceberg de uma trama muito bem trabalhada que envolve corrupção, jogos de interesses, espionagem industrial e muitas conspirações.
Como a narrativa do game é muito bem desenvolvida e repleta de reviravoltas, não vamos falar muito dela para evitar spoilers. Mas, se você é um gamer que curte uma boa história, Deus Ex: Human Revolution é item obrigatório em sua coleção. E se você espera algo mais de um game do que “apenas” um grande enredo, fique tranquilo, pois Deus Ex 3 oferece isso e muito mais.
O mundo deste novo Deus Ex é muito bem construído. Embora algumas cidades as vezes pareçam um tanto pequenas, o nível de imersão que elas proporcionam é grande graças a elementos que criam uma ambientação poderosa: programas de TV, jornais, e-mails, cartazes, estabelecimentos: tudo contribui para colocar o jogador neste futuro que é dominado pela tecnologia e pelos conflitos ideológicos.
Porém, o fato de apresentar uma boa ambientação não faz de Deus Ex 3 um jogo tecnicamente perfeito: embora apresente belos gráficos e uma paleta de cores vibrante – que foge dos padrões de cinza e azul dos games do gênero – o design de alguns personagens é um pouco estranho (com cabeças desproporcionais ao restante do corpo), e muitos cenários internos apresentam um visual bonito, porém genérico. Constatamos quedas de framerate e até mesmo algumas travadas rápidas enquanto o game carrega um novo cenário. O som cumpre bem seu papel com suas explosões poderosas, tiros convincentes, e ruídos que chamam a atenção dos inimigos. As músicas combinam com o clima do game bem como as dublagens, embora algumas poucas vozes pareçam inadequadas para certos personagens.
Felizmente, os problemas mencionados acima não conseguem ofuscar completamente o brilho de Deus Ex 3, que oferece muita diversão com seu sistema de jogo diferenciado, que se adequa ao estilo do jogador e torna o jogo uma experiência singular para cada um. Você é quem decide se Jensen irá se tornar um matador brutal ou um guerreiro silencioso que se esgueira pelas sombras. E o jogo te dá todas as ferramentas para que você personalize-o da maneira que achar melhor: enxergar através das paredes, mais velocidade, maior resistência a tiros, golpes físicos mais poderosos… o leque de habilidades destraváveis é enorme.
Este sistema de customização é muito interessante, pois permite que o jogador desenvolva somente as habilidades que julga essenciais. A bem utilizada mecânica de jogo que mistura momentos em primeira e em terceira pessoa contribuem muito com o sucesso desta jogabilidade maleável.
Mesmo sendo sempre possível entrar pela porta da frente metendo bala em todo mundo, este definitivamente não é o meio mais legal de se passar por este jogo. Ao simples toque de um botão a câmera se afasta e seu personagem busca cobertura em terceira pessoa. Aí você pode acordar o Solid Snake que existe em você e buscar passagens secundárias, espreitar os arredores para passar despercebido e dar cabo dos inimigos de maneira rápida e silenciosa. Estando coberto, pode-se ainda trocar tiros de um jeito que lembra o sistema de cobertura de Gears of War ou Mass Effect.
A liberdade de controle que o game oferece ao jogador é tão grande que você pode até mesmo escolher se simplesmente deixa um adversário inconsciente ou mata-o sem dó. Com um sistema de takedowns acrobáticos no melhor estilo Batman: Arkham Asylum, apertar o botão rapidamente gera uma pancada não letal; mantê-lo apertado faz com que a bela animação do golpe receba umas lâminas e uma generosa esguichada de sangue. Diferente do Homem-Morcego porém, Jensen não deve abusar deste recurso, pois há uma barra específica que é consumida por este tipo de ataque.
Esta versatilidade é o grande trunfo deste Deus Ex 3, pois permite que o game se adapte ao perfil de diferentes tipos de jogadores, e não o contrário. Independente do perfil do jogador, a inteligência artifical geralmente garante um bom desafio, com soldados que buscam cobertura caso você abra fogo, ou abandonem sua ronda para inspecionar os arredores, caso desconfiem que você está escondido em algum canto.
Para manter o jogador ocupado, Deus Ex 3 ainda possui outra carta na manga: pode-se gastar muitas horas em busca de redes de terminais que podem ser hackeadas em mini-games que garantem um ganho extra de XP e outros benefícios. Com um pouco de raciocínio lógico e paciência, o jogador vai descobrir que estes hacks podem render boas habilidades extras, como a capacidade de controlar robôs e turrets inimigos.
Fecham o pacote os momentos onde você deve conversar com um inimigo em alguma situação de risco – existem até upgrades que permitem que você vislumbre os índices de feromônios do bandido para saber como ele está reagindo às suas palavras. As expressões faciais não são boas o suficiente para deixar este sistema tão profundo quanto em L.A. Noire, mas o fato destas discussões geralmente envolverem a vida de reféns inocentes adiciona uma boa dose de adrenalina nestes momentos.
O tempo de campanha e o fator replay do jogo dependem bastante do estilo de cada jogador: os apressadinhos podem terminar o jogo em 10 ou 15 horas, mas quem resolver vasculhar as cidades em busca de sidequests e redes para hackear poderá facilmente se perder em mais de 30 horas de jogo. E se você chegou ao final atirando em todo mundo, tente jogar novamente em modo stealth: será uma experiência completamente diferente.
Deus Ex: Human Revolution é definitivamente um jogo que merece sua atenção. Aliando uma grande história (que consegue soar atual, se trocarmos os dilemas éticos dos implantes cibernéticos pelos das pesquisas com células-tronco) à uma jogabilidade eficaz e flexível, o game não só honra o nome da cultuada franquia Deus Ex, como também se firma como uma dos grandes games da atual geração.
Este review foi originalmente publicado na edição 27 da revista Arkade.