Dez jogos que fazem vinte anos em 2023
Ontem falei sobre como dez anos podem passar voando, pois “ainda ontem” estávamos jogando The Last of Us ou o reboot de Tomb Raider, além de acompanharmos os lançamentos de PlayStation 4 e Xbox One, que inaugurariam uma nova geração de consoles, que contam com jogadores curtindo seus games até hoje, dez anos depois.
Mas e se voltarmos mais dez anos no tempo, e relembrarmos o que era sucesso entre os videogames em 2003? Neste ano, eu tinha 17 anos, estava terminando o ensino médio e cursava técnico em administração no Paula Souza, escola técnica conhecida pela galera de São Paulo. Frequentava Lan Houses como todo mundo naquele tempo, mas não tinha um PlayStation 2, GameCube ou Xbox (além de não ter PC). Jogava meus games no primeiro PlayStation ainda, enquanto acompanhava as novidades que via em casas de amigos, nas famosas revistas, que naquela época, tinha a EGM Brasil como “carro-chefe” do setor.
E em um ano que marcava a consolidação da geração “128-bits”, muita coisa boa apareceu e fez a cabeça de quem jogava videogame naquela época. Vamos, assim, relembrar juntos dez destes games. Não os melhores, mas dez jogos que com certeza quem viveu aqueles dias curtiu jogá-los e aproveitou bem todos eles em seus videogames preferidos. E, se quiser continuar a lista, contando sobre o seu game preferido, fique a vontade para comentar.
True Crime: Streets of LA
Esse envelheceu mal, mas eu gosto dele ainda assim. Em dias nos quais GTA III arrebatou o mundo dos games com a sua proposta única de oferecer liberdade em gameplay, diversos games quiseram surfar na onda, trazendo uma ou mais ideias do já clássico da Rockstar. Entre eles, a série True Crime. Aqui, o jogador controla Nicholas Kang, um policial do tipo “casca-grossa” que não tem pudor nenhum em quebrar tudo para eliminar o crime da cidade.
Com uma aventura que mistura o mundo aberto que era novidade na época com filmes policiais como Máquina Mortífera ou Duro de Matar, o jogo fazia o caminho inverso de GTA: ao invés de ser perseguido pela polícia, você era a polícia, o que te permitia perseguir bandidos pela rua e prendê-los, e, com a aura asiática do jogo, também era possível treinar artes marciais e usá-las em suas missões, em combates que lembravam todos os filmes de pancadaria asiáticos disponíveis até então. Inclusive, Sleeping Dogs, excelente game, é “filho” dessa aventura.
Não é brilhante, não é tão lembrado hoje, mas na época gostei muito e cheguei a terminá-lo algumas vezes quando tive meu GameCube e, depois, o meu PS2. Para quem gosta de jogos com mundo aberto, vale a pena no mínimo conhecê-lo.
Enter the Matrix
Outro jogo que não foi tão bem recebido na época, mas que eu gostei bastante. Diria que ele foi ousado demais em suas ideias, não conseguindo entregar metade do que se propôs, ainda mais querendo ser uma parte complementar canônica da trilogia Matrix que, naqueles dias, eram os “donos do hype”, quando essa palavra nem existia por aqui. Tanto é que, mesmo sem ser considerado um grande jogo, vendeu cinco milhões de cópias, um número que é muito bom para aqueles dias.
O jogo tinha uma hora de vídeo original, dirigidas pelos próprios Wachowskis, comprovando que o game era mesmo um capítulo canônico da trilogia. O game, inclusive, foi lançado no mesmo dia de Matrix Reloaded, em 15 de maio de 2003. Ao invés de Neo (que ganharia um jogo próprio mais tarde), em Enter the Matrix você é Niobe ou Ghost, que precisam resolver outros problemas ao mesmo tempo em que Matrix Reloaded acontece. Os personagens tem os mesmos recursos dos filmes à disposição, o que inclui as artes marciais, uso de armas e controle de câmera.
E outra coisa legal era a possibilidade de “hackear” o game, destravando segredos em um sistema operacional que lembrava o DOS e tinha toda a aura do game. Pessoalmente, eu acho que o jogo teve o mesmo problema de Cyberpunk 2077: queria muito em hardwares que simplesmente não poderiam entregar suas ideias. Mas ainda assim, agradou muita gente, incluindo este que vos fala.
The Simpsons: Hit & Run
Falei do fenômeno que GTA III foi com True Crime, e um outro exemplo interessante aconteceu com Simpsons Hit & Run. O universo caótico de Simpsons caiu como uma luva no “formato GTA“, com a sua violência mais “divertida” garantindo que passasse no “conselho das mães que não deixavam seus filhos jogarem os jogos violentos do diabo”. Era bem mais simples do que o jogo da Rockstar, mas nem por isso menos divertido.
Para o fã dos Simpsons, havia uma tonelada de referências ao seriado, o que envolve aquele carro que o Homer fez para mandar seu irmão empresário para debaixo da ponte, o traje de “super-gordo” quando o patriarca Simpson resolveu ganhar peso a mais para trabalhar de casa, ou “a escada que leva para lugar nenhum”, no centro da cidade. As missões eram típicas de jogos de dirigir da época, com pouca ação fora dos veículos, mas o simples fato de contar com os roteiristas do desenho fez dele um game cultuado. Até hoje, inclusive.
Need for Speed: Underground
Se Need for Speed já era uma série estabelecida e querida pelos jogadores nos anos 90, foi em 2003 que ela foi catapultada para uma das franquias de corridas mais importantes de todos os tempos. O culpado? Underground, que aproveitou o momento “Velozes e Furiosos” de carros tunados com neon e atitude, levando este espírito de corridas nas ruas da cidade para um game extremamente competente.
Sairiam de cena os “carrões” de Porsche, Ferrari ou Lamborghini, e entravam no lugar carros “dos sonhos” da geração 2000 como Golf, Peugeot 206, Honda Civic e outros carros mais acessíveis, mas que poderiam ser personalizados, tanto por dentro quanto por fora, para disputarem as famosas corridas no meio da rua. Underground foi o pontapé inicial de uma tendência de sucessos que a EA lançou por anos, até se perder com lançamentos esquisitos, embora atualmente eles estejam se reencontrando, ainda mais agora que a Codemasters faz parte de seu universo, e poderá ajudar em novos jogos.
Prince of Persia: The Sands of Time
Nós nem imaginávamos que Prince of Persia, mesmo que sem querer, iria “evoluir” e se tornar no Assassin’s Creed que conhecemos hoje, porém em 2003 já estávamos mais do que satisfeitos com o divertido The Sands of Time, uma nova forma proposta pela Ubisoft para jogarmos Prince of Persia. Inclusive, o game é uma sequência do jogo de 1989, criado por Jordan Mechner.
O jogo, inclusive, fez com que toda uma nova geração conhecesse o jogo original, ao ser um grande sucesso. Ele trouxe a essência do jogo original, mas expandiu tudo, para um jogo em 3D extremamente competente. A ideia de inserir as areias do tempo, trouxe também uma narrativa interessante para o jogo, já que em 2003, os jogos estavam ampliando os potenciais narrativos para os games, deixando-os um pouco mais cinematográficos. Era um caminho sem volta.
Splinter Cell
2003 também foi o ano em que Solid Snake ganhou um concorrente de peso. O mundo conhecia Sam Fisher, que em tempos de 24 Horas, trouxe uma trama mais “pés no chão”, onde, no lugar de seres com dons especiais, inteligências artificiais ultra-avançadas, tecnologias do século XXII e soldados clonados, éramos levados para missões “Top Secret” em embaixadas e bases militares, sempre guiando o agente da NSA em seus objetivos, usando do silêncio e do escuro para avançar.
Splinter Cell chegou, na verdade, em 2002, mas apenas para Xbox. Porém foi em 2003 que o jogo realmente recebeu os holofotes devidos, por ter recebido ports para todos os sistemas da época, além de versões para Game Boy Advance e até o N-Gage, aquele celular “gamer” da Nokia que todo mundo queria na época e hoje quase ninguém lembra que ele existiu.
Metal Gear Solid já tinha ensinado os jogadores a curtir um game de ação de moda furtiva, o que fez com que Splinter Cell trouxesse algo de novo: o fato de explorar o escuro ao seu favor, apagando luzes e atraindo inimigos para serem abatidos sem saberem o que está acontecendo. Outra coisa interessante era o “medidor de barulho”, que obrigava o jogador a ser o mais discreto possível. E, embora não tenhamos algo novo com Sam Fisher há dez anos, o personagem ainda é popular, tanto que o jogo original vai ganhar remake.
The Legend of Zelda: Wind Waker
Quem viveu 2003, e já era fã de Zelda (ou da Nintendo), vai se lembrar da expectativa que cercava a chegada de Wind Waker. Independente de qualquer coisa, o game já possuía uma missão muito grande: dar sequência à franquia, após Ocarina of Time e Majora’s Mask, games considerados por muitos, como os melhores da série. Wind Waker trouxe boas evoluções dos seus antecessores e um “algo a mais”: um visual muito mais colorido e cartunsco, lembrando até os clássicos contemporâneos do Cartoon Network.
Mas apesar de algumas poucas semelhanças, mantendo a qualidade dos games de Nintendo 64, a ideia de levar toda a aventura para um ambiente marítimo, com ilhas e até um barquinho à disposição de Link, tornaram a aventura única, e, para muitos, chegou a superar os seus games antecessores. Era um game incrível, que fez muita gente explorar suas ilhas na busca dos famosos corações da série, assim como seus segredos.
Viewtiful Joe
Em 2003, os arcades já tinham sido substituídos por Lan Houses, e gêneros como o Beat ‘em Up já eram tratados como “coisas do passado”. Mesmo assim, a Capcom, em uma era criativa que provavelmente nunca mais existirá, trouxe Viewtiful Joe, parte daquela “Capcom Five”, iniciativa que trouxe jogos diferenciados com envolvimento direto de Shinji Mikami, o de Resident Evil.
Este game usava e abusava da tendência do Cel Shading, trazendo uma “aura” de desenho animado antigo, em um herói que tem bom carisma, e usava trajes inspiradas nos famosos tokusatsus japoneses. Para somar uma boa mistura, o game conta com ação que lembra muito os jogos de luta da companhia, como Street Fighter ou os jogos com a Marvel, sendo um “último respiro” do Beat ‘em Up por parte da Capcom, agradando muito na época.
Star Wars: Knights of the Old Republic
Antes de Mass Effect e Dragon Age, a Bioware já contava com prestígio entre os jogadores, por causa de um povo de uma galáxia tão, tão distante. Star Wars: Knights of the Old Republic é aclamado até hoje, por conseguir levar o formato do RPG de Star Wars da Wizards aos games. Além das possibilidades de combate que lembram muito o jogo de mesa, o game ainda permitia fazer o jogador se alinhar para os dois lados da Força, baseados em suas ações e diálogos.
Star Wars KOTOR oferecia uma riqueza de possibilidades única em seu tempo, com a cereja do bolo sendo a “permissão” de fazer o jogador ir para o lado bom da Força, ao agir com nobreza e generosidade, ou ir para o lado negro da Força, ao agir com violência e egoísmo. O personagem muda seu visual de acordo com as escolhas do jogador, e para a época, isso foi algo revolucionário. Por isso, se você adora Mass Effect, agradeça muito a KOTOR, que deu o pontapé inicial para as ambições da Bioware.
Call of Duty
Tudo tem um começo, e 2003 foi o ano em que Call of Duty deu os seus primeiros tiros em uma franquia que é tão poderosa que, 20 anos depois, se tornou motivo de argumento para a Sony não querer que a Activision, dona da franquia, seja incorporada pela Microsoft, no famoso caso de 70 bilhões de dólares. O curioso é que a série nasceu como resposta para a concorrência, pois na época, quem mandava nos FPSs de console era a série Medal of Honor, da EA.
Assim, o primeiro CoD surgiu propondo o mesmo que a concorrente, ou seja, batalhas da Segunda Guerra Mundial. Mas engana-se quem pensa que a Activision fez apenas um clone do rival. Na verdade, o game trouxe muita novidade, que somou positivamente no gênero, ao trazer eventos de maior escala, em teatros britânicos, americanos e soviéticos. Além disso, os soldados aliados ajudavam o jogador nas missões, respondendo ao conflito e amplificando o gênero para jogos de grandes batalhas, ao invés do foco do ‘lobo solitário’, comum até então.
O game em si não é tão lembrado hoje, mas a franquia é uma das mais poderosas dos games hoje, duas décadas depois, vendendo sempre milhares de cópias e gerando cifras bilionárias a cada lançamento. Ainda mais depois do impacto causado por Modern Warfare em 2007, e pela evolução de seus games nestes 20 anos.