Dois anos de Vanguard: usuários devem temer software anti-cheat?

28 de novembro de 2022
Dois anos de Vanguard: usuários devem temer software anti-cheat?

Os jogos online evoluíram drasticamente nas últimas décadas: dos primeiros experimentos com modens em consoles como o Dreamcast, hoje é quase impossível utilizar uma plataforma moderna sem conexão constante com a internet. Essa conectividade permitiu que novas experiências surgissem, como os jogos de battle royale e diversos tipos de modos cooperativos online.

No entanto, não seria surpreendente afirmar que a verdadeira categoria de jogo online que transformou nossa indústria foram os esportes eletrônicos, jogos extremamente competitivos e que movimentam equipes milionárias, torcidas em todo o mundo, e até mesmo destaque em canais tradicionais de esporte.

Diante de um cenário tão competitivo, os jogos online buscam ferramentas cada vez mais avançadas para acabar de vez com trapaças, tal como os Jogos Olímpicos precisam tomar medidas contra o doping. E em 2020, o gigante Valorant introduziu o sistema anti-cheat da Riot Games, o Vanguard, gerando uma série de polêmicas entre jogadores e mídia especializada. Agora, dois anos depois, o que podemos aprender com esse episódio? Confira.

Para que serve o anti-cheat?

Um investimento gigantesco em desenvolvimento e um grande esforço de relações públicas não seria feito sem justificativa, e portanto, existem bons motivos para a criação de um software como o Vanguard e, atualmente, rivais similares em outros jogos. Ao contrário da ideia inicial de alguns jogadores, o software anti-cheat não protege o usuário contra invasões de sua conta, e não fornece autenticação de duas etapas ou segurança contra o esquecimento de senha – problema comum no Brasil, como mostra a ExpressVPN – então, qual é sua finalidade?

O programa anti-cheat, como o nome sugere, possui o objetivo de identificar de antemão e durante as partidas qualquer tentativa de modificar, alterar, hackear ou danificar os dados do jogo e as informações enviadas ao servidor. No exemplo de um FPS competitivo como o Valorant ou CS:GO encontramos uma série de trapaças como programas que simulam o mouse do jogador e miram automaticamente, vida infinita, manipulação da rede de internet para causar latência em outros jogadores, visão através das paredes, entre outras trapaças extremamente anti-competitivas. Um software anti-cheat tem a missão de impedir que tudo isso seja possível.

Como funciona um anti-cheat moderno como o Vanguard?

Antigamente, medidas como verificar a integridade dos arquivos antes da inicialização do jogo ou monitorar o mouse do usuário eram suficientes para impedir as trapaças – mas como jogos como Call of Duty Black Ops e o popular Team Fortress 2 exemplificam com maestria, métodos modernos de trapaça são capazes de rapidamente dominar esse tipo de defesa.

Por isso, a nova geração de software como o Vanguard anti-cheat tomam medidas drásticas para realizar sua tarefa: ao instalar o programa, ele toma controle da máquina com o mesmo nível de privilégios que o kernel – isto é, uma camada abaixo do próprio sistema operacional do computador – isso significa que o anti-cheat é capaz de monitorar todos os componentes do sistema, todos os drivers de dispositivos conectados, cada pacote de rede, os dados sendo lidos ou escritos no disco rígido, e qualquer outra informação que um administrador poderia obter. Além disso, se torna quase impossível que um programa de terceiros seja capaz de interceptar ou desligar o processo do anti-cheat na memória.

Um nível tão profundo de controle sob a máquina permite que o programa evite até mesmo os mecanismos modernos de trapaça, como drivers falsos que simulam mouse e teclado, controladores de vídeo que adicionam transparência aos modelos 3D do jogo, e manipulações na placa de rede.

Anti-cheat vale a pena? Há riscos associados ao seu uso?

Se pensarmos exclusivamente sob a lógica do jogo competitivo – sim, o uso do anti-cheat é eficiente. Embora exista uma corrida de gato e rato constante que impeça um jogo de possuir literalmente zero trapaceiros, as métricas até 2022 mostram que o Valorant continua relativamente livre de trapaças e que a grande maioria dos jogadores não precisa enfrentar trapaceiros em seu cotidiano dentro do jogo. Essa experiência é um alívio para jogadores acostumados com jogos online mais antigos, dominados por trapaças.

A contrapartida é que tal nível extremamente profundo de acesso à máquina do usuário é um verdadeiro pesadelo para a privacidade e segurança. O programa não possui seu código aberto para o público, e portanto, poderia a qualquer momento trair a confiança dos usuários e bisbilhotar arquivos pessoais, interferir em processos críticos para a segurança, copiar as teclas pressionadas pelo teclado, entre outros ataques. Mesmo que a empresa seja confiável, falhas de segurança poderiam ser exploradas por hackers para atacar usuários que possuam o programa em sua máquina – algo que já ocorreu antes em outras soluções semelhantes.

Problemas de desempenho e controle pessoal do computador também já foram relatados, com máquinas se tornando lentas após o uso do Vanguard ou até mesmo programas inocentes como monitores de temperatura do computador sendo bloqueados pelo software.

Em 2022 os resultados do uso do anti-cheat são inegáveis, e essa realidade provavelmente nos acompanhará para sempre nos jogos online. No entanto, é fundamental que usuários saibam o que estão instalando em suas máquinas e cobrem maior transparência das empresas responsáveis.

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