Editorial: Forza no Playstation e o que podemos esperar da Microsoft e do conceito de “jogo exclusivo” no futuro

1 de fevereiro de 2025
Editorial: Forza no Playstation e o que podemos esperar da Microsoft e do conceito de "jogo exclusivo" no futuro

Obviamente, você que não mora em um bunker isolado do universo ficou sabendo sobre o bombástico (mas não inesperado) anúncio de um jogo Forza pelo primeira vez em um console Playstation. Ainda que a forma de publicização tenha sido tímida — um anúncio em post da conta do jogo no X e no site oficial do game, e não em um evento ou algo do tipo — a repercussão foi tão grandiosa quanto o significado disso para a comunidade gamer e para a indústria do entretenimento como um todo.

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Não é o primeiro jogo a compor o ecossistema Microsoft / XBox a chegar em plataformas concorrentes, claro. Em 2024, a disponibilização do pacote Hi-Fi Rush, Sea of Thieves, Pentiment e Grounded já prenunciava um movimento de flexibilização do conceito de exclusividade em consoles pelo lado verde da força.

Soma-se a isso a manutenção de jogos originalmente multiplaforma como tal, desde as polêmicas da aquisição bilionária da Bethesda e da Actvision Blizzard pela Microsoft, a exemplo de CoD, Diablo e Doom, o que provavelmente será replicado no vindouro The Elder Scrolls VI.

Nos últimos meses, a confirmação de que Indiana Jones e o Grande Círculo chegará ao console atual da Sony também se mostrou a reafirmação de uma expansão do princípio que parece ser a tônica da gigante norte-americana de que tudo é um XBox. Rumores do possível lançamento de outros títulos até agora exclusivos como Hellblade 2 e Starfield (sempre considerando o mercado de consoles domésticos) reatroalimentam essa percepção geral de abertura e ampliação de alcance de produtos first party da Microsoft.

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Considerando todos esses movimentos e indícios, porque Forza Horizon 5, jogo de grande sucesso entre público e crítica lançado em 2021, gerou tanto burburinho ao ser apresentado para a “concorrência”? Simples: mais do que uma ação que certamente vai ampliar os lucros com um produto consagrado, há todo o aspecto simbólico por ser um dos três grandes pilares de identidade da marca XBox a deixar a bolha para figurar em outro sistema, algo que os fãs mais ardorosos da marca podem ver como uma traição.

Para os mais antigos de nós, isso tudo é análogo à chegada de Sonic aos consoles da Nintendo sobretudo depois de toda a guerra de consoles que houve no anos 1990 — e era muito mais divertida do que o mimimi tóxico atual. É uma quebra de paradigma que mexe com o nosso imaginário, inclusive daqueles que não estão envolvidos com a disputa de quinta série do tipo “o meu é melhor que o seu” que só faz sentido em um mundo onde tudo é motivo para tretinha de rede social.

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Algo assim era impensável nos anos 1990

Mais do que o antagonismo bobo, há aqui uma manifestação prática e pouco reticente de reposicionamento de marca. A Microsoft, que entrou de vez no mercado dos videogames domésticos e ocupou, dentro da percepção coletiva, uma lacuna deixada pela SEGA, agora dá o primeiro passo mais sólido na quebra dessa lógica que ela herdou, onde a identidade de uma plataforma era basicamente a soma entre hardware e softwares próprios.

Entendendo o mercado

Podemos olhar para isso e buscar compreender de vários pontos de vista diferentes. O primeiro e menos criativo deles seria o de que, reconhecendo formalmente uma derrota antecipada nesta geração no que se refere a hardware, Phil Spencer e seu time estariam sendo forçados a ter o mesmo destino da própria SEGA, deixando de lado o mercado de hardware para se tornar uma empresa exclusivamente dedicada a software.

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Esta narrativa sedutora sobretudo para haters e fanboys é tão óbvia quanto simplória porque compara duas situações totalmente diferentes no tempo e na indústria. Se é fato de que todas as prévias e deduções de veículos importantes dão conta de que o XBox Series S|X está vendendo menos unidades do que seus concorrentes mais diretos, como o PS5 e até mesmo o Nintendo Switch, também é lugar comum perceber que o Gamepass, principal serviço de games por assinatura do mercado, mesmo com todas as mudanças recentes em planos e valores, continua estável e, não raro, em crescimento.

Uma rápida conferida nas estatísticas de vendas e de repercussão de jogos em 2024 comprova que a Microsoft está se posicionando no cenário atual como a maior e mais robusta publisher do mundo, não só pela quantidade de jogos, mas também pelos investimentos que fez para ter mais jogos sob seu domínio. Se não podia produzir seus próprios games, ela foi lá e comprou quem pudesse fazê-los — incluindo gigantes como Bethesda e Activision Blizaard.

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E levou “de brinde” algumas das maiores franquias da história dos games

Se este movimento é um plano de longo prazo sendo implementado, uma resposta improvisada que considera os resultados dos últimos 3 ou 4 anos, ou um misto entre ambas as situações, é difícil cravar, porque esta dimensão macro das grandes corporações é cada vez mais difícil acessar, mas isso importa muito pouco no final das contas.

O futuro do Xbox

O que realmente nos traz perspectivas do futuro, portanto, é um olhar sobre as transformações que serão desencadeadas daqui para frente. E o cenário adiante parece interessante como há muito tempo não víamos. Não é questão de pensar SE Halo, Gears e outras propriedades genuinamente “caixistas” vão chegar a outras plataformas, mas QUANDO vão chegar. No ritmo atual, não deve demorar muito.

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Além disso, na contagem regressiva para a chegada do Nintendo Switch 2, que ao que tudo indica terá potencial técnico para se equiparar a um meio termo entre o XBox One X e o XBox Series S, a plataforma estará, em tese, pronta para receber os grandes lançamentos mais recentes cross-plataforma, e portanto terá condições de rodar uma Halo Master Chief Collection, por exemplo, ou mesmo ter um app dedicado do Gamepass

Considerando as projeções mais conservadoras, o novo híbrido da Big N deve vender como água nos próximos anos — talvez superando PS5 e XBox Series, consoles que, por uma série de fatores, fazem parte de uma geração um tanto irregular, afetada pela pandemia, claro, mas também pela crise de uma indústria que teve péssimas ideias mercadológicas e sofre com jogos que custam caro demais e demoram tempo demais para ficarem prontos.

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Neste cenário, não há lugar melhor para quem pretende expandir o alcance de seus produtos já atestados e validados do uma plataforma nova — especialmente pela força que ela terá em mercados tradicionalmente complicados para o XBox, como o Japão. Não seria de se surpreender que este mesmo Forza Horizon 5 figure entre o catálogo do Switch 2, assim como outros da família XBox.

Isso tudo significa que a Microsoft entregou os pontos e está abandonando o mercado de hardware, deixando-o para uma dicotomia como há décadas atrás? Duvido muito. Porque este movimento que estamos presenciando não é o do fim do XBox, mas sim um movimento alinhado com o que se tornou o slogan atual da marca: tudo é um XBox.

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Ao invés do término, uma pulverização endêmica, uma digitalização de uma plataforma que deixa de ser um dispositivo físico para ser, efetivamente, digital. Mais do que nunca, a marca Xbox deve passar a ser atribuída a um ecossistema, não só a um console. Um ecossistema que estará no Xbox, claro, mas também na TV, no celular, no notebook… e nos consoles “rivais”.

Haverá uma próxima geração de consoles XBox? Arrisco a dizer que sim. Porque, se por um lado o grande produto da empresa é a sua presença em qualquer lugar, por outro ela não pode ficar refém das decisões de outras gigantes. Ela não pode ficar esperando um pretenso PS6 fazer sucesso ou da Nintendo continuar tendo poder de fogo para rodar seus conteúdos premium, muito menos de consolistas migrarem para a plataforma PC.

Ter um dispositivo dedicado é a garantia de que todo mundo que quiser poderá continuar jogando XBox, inclusive em um XBox, com todas as vantagens da assinatura do serviço Gamepass ao invés da aquisição individual de cada jogo.

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Então o que vem a seguir? A Sony vai fazer o mesmo movimento com seus exclusivos? Creio que ainda não. Primeiro por uma visão diferente de mercado, mas também por saber que tem uma imagem a zelar. Claro que, essa abertura já está ocorrendo, e não é de hoje: praticamente todos os grandes exclusivos da Sony já saem para PC, um cenário dominado por um sistema operacional que é, adivinha de quem? Da Microsoft

Mas e a médio e longo prazo? Arrisco dizer que esta realidade começa a se tornar mais possível, quiçá provável. Já temos alguns ensaios nessa direção com, por exemplo, a marca Horizon na Nintendo. Não esqueçamos ainda que a franquia MLB The Show, que aqui no Brasil é irrelevante mas que tem um alcance bem potente na América do Norte é de estúdio first party Sony (a San Diego Studio) e que está, já há algumas edições, nos consoles XBox (e no Switch também). 

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É de se imaginar que, aos poucos, o conceito de exclusividade acabe perdendo a relevância histórica que marcou os últimos 30 anos desta indústria vital. Quem sabe o último bastião desta lógica tradicionalista seja justamente uma das protagonistas da “console war” de décadas atrás: a Nintendo. Protecionista que só, ela parece determinada a manter seus jogos exclusivos nas suas plataformas — ainda que a pirataria constantemente estrague esses planos (e ela já tenha levado franquias clássicas, como Mario e Pokémon, para os smartphones).

E você, o que acha de toda essa treta? Você gostou de saber que Forza está chegando ao Playstation? Quer vê-lo também no Switch 2? Se sente traído pela sua marca favorita? Qual o próximo jogo da concorrência você gostaria de jogar no seu console?

Paulo Roberto Montanaro

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