Editorial: Playstation 5, 6 meses depois. Já vale a pena entrar na nova geração?
Hoje, 19 de maio, completam-se 6 meses desde que o Playstation 5 foi lançado oficialmente no Brasil. Como estou com o meu desde o lançamento — e o console meio que virou raridade por falta de componentes — acho válido fazer um retrospecto sobre como foi esse período… para o bem, e para o mal.
Uma nova geração de videogames sempre é motivo de muita empolgação para quem é fã da 10ª arte. Mesmo sabendo dos riscos envolvidos em adquirir um produto no lançamento — ser um early adopter pode trazer surpresas desagradáveis –, não consegui me segurar: estava no hype e como tinha uma grana guardada, adquiri meu PS5 dois dias antes no dia em que ele foi lançado em nosso país.
Por um lado, isso foi bom: a escassez dos consoles da geração nas principais redes de varejo é um fenômeno bizarro. Sem os semicondutores e componentes necessários para fabricarem os aparelhos, Sony e Microsoft simplesmente não estão conseguindo suprir a demanda, em um problema que já dura meses — e ainda deve continuar ao longo do ano.
Isso não vale só para o Brasil — e nem se aplica somente ao mundo dos videogames: automóveis e diversos outros aparelhos eletrônicos também passaram por problemas de distribuição semelhantes em várias partes do mundo. A falta desses componentes é mais uma das consequências da pandemia, que afetou a fabricação e a distribuição de diversos tipos de mercadorias ao redor do globo.
A escassez, obviamente, faz com que os espertinhos apareçam, vendendo consoles por preços muito mais altos do que os valores sugeridos pelas marcas — que, convenhamos, já são bem caros. Não é difícil encontrar consoles em marketplaces custando mais de 6 mil reais. E, novamente, isso não é um problema exclusivo do Brasil.
O fato é que, vendo por esse lado, fico feliz de ter garantido meu PS5 no lançamento: se não tivesse pego o console pelo preço justo (aka o valor de mercado sugerido pela Sony), eu estaria até hoje curioso para mexer no console, sentir o DualSense nas minhas mãos… enfim, seria um caso de FOMO agudo.
Antes que você me julgue, sim, eu sei que, em tempos de pandemia, ficar ansioso por “falta de videogame” é muito #firstworldproblems, mas, né? Quando estamos presos em casa, videogames são, mais do que nunca, um escapismo muito bem-vindo. E, em minha defesa, como jornalista de games, eu tenho o argumento de que, para mim, o PS5 é uma ferramenta de trabalho: eu preciso dele para trabalhar.
Ah, e antes que me chamem de Sonysta, tenho um Xbox Series S aqui, também, ok? E um Nintendo Switch. E até um PC gamer relativamente decente. Como eu disse, “ferramentas de trabalho”. Pois é, é assim que eu me engano. 😛
O que teve para jogar de bom nesses 6 meses?
Não muita coisa, para falar a verdade: tanto o PS5 quanto o Xbox Series chegaram às prateleiras com um número bastante modesto de títulos exclusivos. Houve, é claro, muitos jogos cross-gen, bem como títulos que receberam versões melhoradas para os novos consoles. Mas, em se tratando de exclusivos MESMO, houve pouco movimento até agora.
Por exclusivos, quero dizer “jogos que você SÓ pode jogar no PS5“. Ou seja, títulos como Spider-Man: Miles Morales, Godfall ou Odwworld Soulstorm não entram nessa lista, uma vez que também saíram para outras plataformas.
Na prática, em 6 meses de vida, o PS5 recebeu apenas 4 jogos realmente exclusivos:
- Astro’s Playroom
- Demon’s Souls
- Destruction AllStars
- Returnal
Vale destacar ainda que um desses jogos já vem instalado no console (Astro’s Playroom) e outro foi lançado já “de graça” para assinantes PS Plus (Destruction AllStars). Vendo por esse lado, qualquer dono de PS5 que assina a PS Plus já teve a chance de experimentar metade da nem tão vasta biblioteca de exclusivos do console sem ter que pagar pelos títulos!
Como eu não sou sou masoquista fã de Souls-likes, acabei nunca jogando o remake de Demon’s Souls. E o Returnal, embora me fascine, exige muito tempo, sorte e comprometimento — saiba mais na minha análise.
Então, sendo bem honesto contigo, até o momento o melhor exclusivo de Playstation 5 que eu joguei foi Astro’s Playroom, jogo que, em muitos aspectos, é basicamente uma tech demo criada para demonstrar o potencial do console — e, mais especificamente, do controle DualSense.
Sério que você só jogou isso?
Claro que não! Apesar do baixo número de exclusivos, estou jogando diversas outro jogos nele, incluindo títulos multiplataforma e cross-gen, como Assassin’s Creed Valhalla, Immortals Fenyx Rising, Haven e o maravilhoso It Takes Two.
Também tenho aproveitado as versões atualizadas dos jogos que exigiam demais do meu bom e velho PS4 Pro. É maravilhoso revisitar coisas como The Avengers, Destiny 2 ou Control Ultimate Edition com novos recursos, rodando sem que o console pareça que vai levantar voo de tanto barulho que o cooler produz. Aliás, aí vai uma boa notícia: depois de 6 meses de uso, o Playstation 5 continua extremamente silencioso.
Além disso, mesmo jogos que não receberam versões realmente aprimoradas — como Days Gone, Ratchet & Clank, Ghost of Tsushima e God of War — conseguem rodar melhor se instalados no PS5, alcançando taxas de resolução e framerate mais altas.
Fora isso, com meu HD externo plugado no PS5, também rodo meus jogos de PS4 no novo console sem nenhum problema. Minha biblioteca digital da geração passada continua firme e forte, o que é especialmente prático para curtir jogos que ficaram “pela metade” na geração passada — como Horizon Zero Dawn, que estou revisitando, ou mesmo Overwatch, que ainda é um vício relativamente constante.
E os recursos da nova geração?
Aparecem aqui e ali, mas ainda é tudo muito disperso. Diversos jogos já aplicam o famoso ray tracing, mas geralmente você precisa desativar o recurso de quiser uma jogatina mais fluida, com foco nos 60fps — e possibilidade de chegar até os 120fps em certos títulos. O normal é que, com ray tracing ativado, o jogo se mantenha na casa dos 30fps.
A exceção, por enquanto, é o ótimo Spider-Man: Miles Morales, que dá um jeito de rodar a 60fps com ray tracing ativado, fazendo algumas concessões para conseguir manter a estabilidade (foram reduzidas a qualidade de reflexos e a densidade de pessoas na rua, por exemplo). Sacrifícios que parecem pequenos diante da qualidade do resultado.
E as telas de loading, ainda existem? Sim e não. A “magia” do SSD mostrou seu valor especialmente em Spider-Man: Miles Morales, que não tem loading nenhum. Nem as incríveis artes das telas de loading aparecem na versão PS5 do jogo. Até gravei um vídeo para ilustrar, demonstrando o jogo abrindo a partir do menu principal e o fast travel. É bem impressionante, olha só:
Returnal também faz um bom trabalho em começar cada run de forma quase instantânea. Jogos como Control Ultimate Edition, The Avengers e a coletânea Nioh contam com tempos de carregamento drasticamente reduzidos — mas as telas de loading ainda estão lá.
O áudio 3D é outra novidade que está sendo implementada aos poucos — e demanda headphones compatíveis para ser apreciada. Novamente, Returnal é um jogo que faz um ótimo uso do recurso, e isso contribui bastante com a imersão e a sensação de perigo hostil que o mundo do jogo quer transmitir.
Dizem por aí que Resident Evil Village também potencializa sua imersão fazendo um bom uso do áudio 3D, mas esse eu não pude testar ainda para conferir. Quem jogou e escreveu nossa análise foi o Renan.
E o DualSense?
Na minha opinião, o DualSense continua sendo a novidade mais interessante do Playstation 5, ainda que poucos jogos tenham aproveitado todo seu potencial em termos de imersão e feedback tátil.
Astro’s Playroom ainda reina absoluto neste quesito, utilizando o feedback háptico, os gatilhos adaptáveis e todos os demais recursos do controle com maestria. A forma como o controle fica granuloso, áspero ou grudento nas mãos do jogador ainda é surpreendente. Todos que experimentaram o jogo no meu PS5 (bem pouca gente, por conta da pandemia) ficaram maravilhados.
Returnal vem logo em seguida: “sentir” a chuva no controle, logo no início do jogo já demonstra como eles se preocuparam com os detalhes. A forma diferenciada como ele faz uso da resistência dos gatilhos também é bem interessante. O jogo vira e mexe nos surpreende com efeitos, barulhinhos e feedbacks inesperados, que ajudam a construir o clima de tensão.
Uma coisa que eu notei, porém, é que essa imersão toda tem um preço: como há muitos motorzinhos e rotores sendo ativados simultaneamente/alternadamente no DualSense, ele faz bem mais barulho do que um controle “normal”. Jogando de headphones a gente nem repara nisso, mas, se estiver jogando sem fones — ou se sua namorada estiver lendo ao seu lado enquanto você joga de fones (true story) — vai perceber que muitas vezes o controle parece um marimbondo zangado zunindo e vibrando na sua mão!
Outro ponto: como eu falei no meu artigo de primeiras impressões, lá na semana de lançamento do PS5, parte da magia do DualSense está no som. Por ter um alto falante integrado, ele emite diversos barulhinhos que enriquecem a experiência — em Astro’s Playroom, principalmente. Porém, jogando de fone, tudo isso se perde. Embora um par de headphones contribua com a imersão, parece que, em certos casos, jogar sem fones de ouvido entrega uma experiência muito mais lúdica e interessante.
Ah, e também devemos ressaltar que, por ser um recurso exclusivo do PS5, somente os exclusivos da Sony devem realmente tirar proveito dos recursos do DualSense. Não vejo as third parties investindo tempo (e dinheiro) para explorar o potencial do controle muito profundamente, simplesmente porque vai ser algo que só uma parcela do público vai ter acesso — quem joga em outra plataforma ou no PC não vai poder desfrutar.
Ah, e mais um ponto importante: sei que já estão rolando casos de “drift” nos analógicos do DualSense, mas até agora isso não aconteceu comigo. Talvez eu tenha sorte — ou talvez seja porque eu comprei meu PS5 com dois controles, então estou sempre alternando entre eles. ¯\_(ツ)_/¯
Vale a pena comprar um PS5 atualmente?
Considerando a dificuldade em achar um PS5 para comprar, talvez essa resposta nem seja relevante. Simplesmente faltam consoles à venda para suprir a demanda dos jogadores.
Porém, se você está muito ansioso, sofrendo de FOMO ou algo do tipo, o que eu tenho para te dizer é: tenha calma. O PS5 é um console incrível, com um controle ainda mais incrível… mas ainda não temos muito o que jogar nele, nem jogos que façam um bom uso de todo seu potencial.
Como vimos, só 4 jogos não podem ser encontrados em nenhuma outra plataforma. Ou seja, a grande maioria do que já saiu para o PS5 é multiplataforma e/ou cross-gen: você pode jogar no PC, no PS4, no Xbox e até no Switch, em alguns casos.
Não me arrependo de ter comprado o PS5 — pelos motivos que ressaltei no início deste artigo — mas, até o momento, ele passa muito mais tempo como um “gigante adormecido”, esperando o momento (e o jogo) que realmente irá despertá-lo e aproveitar ao máximo suas capacidades.
Mês que vem teremos a versão melhorada de Final Fantasy VII Remake (com direito a DLC exclusivo da nova geração) e Ratchet & Clank Rift Apart. Deathloop não é 100% exclusivo, mas chega em setembro. Horizon Forbidden West também é prometido ainda para 2021 — embora eu tenha minhas dúvidas que ele saia ainda esse ano. E ainda vai ter God of War Ragnarok em algum momento, claro!
De qualquer modo, o fato é: tem jogos muito promissores vindo aí. Quem sabe um deles não é o jogo que tornará o Playstation 5 um console realmente imperdível?
Até lá, relaxe, e curta os games que você já tem em casa: a nova geração ainda está engatinhando. Você ainda não está perdendo nada de mais. 😉