Heróis do Mundo Nerd Especial Dream Team – Hironobu Sakaguchi
Para encerrar a série de homenagens aos integrantes do Dream Team, chega à hora de falar de um dos nomes mais importantes do time, o gênio Hironobu Sakaguchi, criador da maior saga de RPGs de toda a história: Final Fantasy.
É evidente que quando Chrono Trigger foi criado, muito se pensava no significado que a série Final Fantasy havia adquirido, é como se o jogo fosse feito somente porque poderia contar com elementos que jamais estariam na série que já era sucesso na Square.
Hironobu nasceu em 25 de novembro de 1962 na cidade de Hitashi, Japão. Durante a juventude, se formou na Mito Senior High School e foi estudar engenharia elétrica na Universidade Nacional de Yokohama. No entanto, ele não chegou a concluir o curso, saiu da universidade em 1983 e já começou a trabalhar na Square, que na época era subsidiaria de uma companhia de eletricidade chamada Den-Yu-Sha.
Em 1984, Sakaguchi criou seu primeiro jogo, The Death Trap, onde ele cuidou tanto do design quanto da história. O título teve uma sequência no ano seguinte, Will – The Death Trap 2, que também foi o segundo trabalho tanto da empresa quanto do artista. Nenhum destes jogos fez muito sucesso.
Logo depois, Sakaguchi conheceu Nobuo Uematsu e juntos fizeram os títulos King’s Knight e Cruise Chaser Blassty, que também foram jogos mal-sucedidos. Toda esta gama de fracassos iniciais acabou fazendo parte da própria história da empresa. Tanto é que, em 1986, a Square se desvinculou da Den-Yu-Sha e passou a ser uma empresa independente.
Em 1987, a Square estava falindo. Nesta época, Hironobu criou quatro títulos, incluindo Highway Star e 3D World Runner. Novamente, seus trabalhos resultaram em fracasso.
A situação da empresa e do próprio Sakaguchi ia de mal a pior. Era hora do tudo ou nada. A Square daria um último tiro antes de fechar suas portas em definitivo. Este último tiro, porém, foi o que salvou a empresa e a carreira de Sakaguchi: em dezembro de 1987, foi lançada a última esperança da Square; Final Fantasy.
Reza a lenda que o nome da saga – que foi criado para competir com Dragon Quest da rival Enix – era uma alusão a situação que Sakaguchi e a própria Square viviam na época, pois Final Fantasy era para ser de fato o último jogo deles. No entanto, o título vendeu impressionantes 400.000 cópias, o que não só tirou a Square do buraco, como também a transformou em uma das maiores companhias de games do Japão.
Na realidade, Sakaguchi já tinha a vontade de fazer um RPG desde muito antes, mas seu superior Masashi Miyamoto (fundador da Square) não acreditava no sucesso do gênero. Foi apenas com a ascensão de Dragon Quest que a empresa decidiu produzir o jogo, e muito do que se viu no título foi inspirado na franquia concorrente.
Hironobu Sakaguchi convidou então dois colegas para ajudar no projeto, os quais na época se referiam como o A-Team, estes eram Koishi Ishii e Akitoshi Kawazu. Kawazu foi o responsável pelas batalhas e pelas sequências, e buscou inspiração no RPG de mesa Dungeons & Dragons e no jogo Wizardry. Fraquezas e poderes elementais ainda não existiam no Japão, foi Kawazu quem introduziu estes elementos ao que hoje é o J-RPG.
A história do jogo foi criada por Sakaguchi e serviu de inspiração para Kenji Tarada escrever o texto de cenário, mas o artista ainda não sabia qual desenhista chamar para fazer os desenhos dos personagens. Ishii então sugeriu Yoshitaka Amano para o trabalho, mas Hironobu recusou por jamais ter ouvido falar no artista (lembre que estamos falando de meados a década de 80).
Porém, um dia Sakaguchi levou para Ishii uma revista onde em uma determinada seção havia desenhos cujo estilo artístico lhe interessava muito. O colega revelou que aqueles desenhos haviam todos sido feitos por ninguém menos que Amano, que foi logo chamado para trabalhar no projeto.
Como já trabalhava há tempos na empresa, Nobuo Uematsu foi chamado para compor as músicas deste novo game. O programador contratado foi o iraniano-americano Nassir Gebelli, junto com Kiyoshi Yoshii e Ken Narita. Quando o projeto começou a mostrar que tinha futuro, o amigo de longa data de Sakaguchi, Hiromichi Tanaka, junto com seu B-Team, passou a auxiliar no projeto. A situação critica na empresa fez com que todos se esforçassem ao máximo.
No inicio, apenas 200 mil cópias de Final Fantasy foram distribuídas, mas Hironobu implorou para que mais 200 mil fossem lançadas. Na época a Square acertava com a revista Family Computer para que ela avaliasse o jogo, mas não foi o que aconteceu.
No entanto, a crescente Famitsu fez uma ampla cobertura sobre o título, que graças ao apoio da mídia, acabou se tornando um grande sucesso. Imediatamente uma sequência começou a ser feita. Assim se originou a onda de sucesso provocada pela série Final Fantasy, que hoje conta com 14 jogos na linha principal, 2 MMOs, duas séries de anime, dois filmes em CG e uma cada vez maior lista de spin-offs.
Muita coisa mudou na vida de Sakaguchi desde o início da saga Final Fantasy: após o lançamento de Final Fantasy IV em 1992, ele se tornou vice-presidente executivo da Square. Final Fantasy V foi o último título da série que ele dirigiu, se tornando produtor para os jogos que viriam a seguir. Em 1995, ele se tornou o presidente da filial americana da Square.
Antes disso, em 1992, Sakaguchi começou o esboço para a criação de Chrono Trigger, durante uma viagem para estudar computação gráfica nos Estados Unidos com os amigos Yuji Horii e Akira Toriyama. Empolgados, eles queriam fazer algo totalmente inédito no mundo dos games.
Após estudarem por mais de um ano qual seria o melhor jeito de produzir o jogo, Kazuhiko Aoki entrou em contato se oferecendo para ser o produtor. Como você bem sabe, esta parceria deu origem a um dos RPGs mais amados de todos os tempos. Abaixo, temos a imagem do personagem Gato, uma das criações exclusivas de Sakaguchi para Chrono Trigger.
Inicialmente, a Square pensou em lançar o projeto como parte da série Secret of Mana, então à princípio o jogo era chamado de Maru Island. Na época, a Nintendo planejava lançar um periférico com suporte a CDs, algo como um concorrente para o Sega CD, e o projeto foi inicialmente feito para ser lançado para este periférico.
No entanto, a Nintendo cancelou o projeto, o que obrigou a Square a mudar os rumos do projeto, produzindo-o para o formato do Super Nintendo. Nesta época o game adquiriu identidade e ganhou seu título definitivo, Chrono Trigger. Apesar do trabalho principal ter sido feito pelos membros do Dream Team, vários outros funcionários tiveram uma participação importante no desenvolvimento do jogo, como Yasuhika Kamata, o programador que se inspirou no filme Alien para escolher a iluminação e a paleta de cores do jogo.
A temática da viagem no tempo veio de uma ideia de Yuji Horii, que era fã de ficções sobre o gênero. Sakaguchi foi o responsável pelo sistema geral do jogo, além de colaborar com elementos menores e ajudar Akira a criar a impressão de que era uma história dele contada pelo conceituado mangaka. Yasunori Mitsuda compôs a maioria das músicas, mas acabou sendo substituído por Nobuo Uematsu.
Chrono Trigger foi um jogo que ficou muito tempo em desenvolvimento. Mesmo depois de pronto, o jogo teve seu lançamento atrasado em quase um ano por questões mercadológicas. Neste intervalo, a Square demonstrou versões alpha do game em vários festivais da V-Jump, e mandou eventualmente versões beta para as revistas avaliarem.
Um documento contendo elementos cancelados do jogo tornou-se público em novembro de 1994. Ele continha várias informações que chamaram a atenção dos leitores, como por exemplo, a existência de uma dungeon inédita chamada Singing Mountain, além de várias músicas e locações não utilizadas. Havia até mesmo um parágrafo que dizia que os memoráveis bosses Slash e Flea foram respectivamente batizados como Wierner e Ketchappa durante a produção.
O jogo foi lançado em março de 1995, permitindo que Sakaguchi voltasse a trabalhar com Final Fantasy VII, que estava sendo produzido paralelamente. Nesta época, ele ainda trabalhou em três outros títulos que foram muito importantes para a Square: Front Mission – Gun Hazard, Romancing Saga 3 e Seiken Desentsu 3.
Hironobu Sakaguchi trabalhou com todos os games dá série Final Fantasy até o IX (para quem considera esses os únicos Final Fantasy bons, aí está a explicação); mas durante essa época ele trabalhou com vários outros projetos que também provaram ser grandes sucessos da Square. Dentre eles se podemos citar Final Fantasy Tatics (1997), Tobal 2 (1997), Bushido Blade 1 e 2 (respectivamente 1997 e 1998), além de Parasite Eve 1 e 2 (1998 e 1999 respectivamente), Brave Fencer Musashi (1998) e o aclamado Xenogears (1998).
Pode se dizer que 1999 foi o ano que mais demandou o trabalho de Sakaguchi, pois ele trabalhou em nada menos que 8 jogos, alguns deles muito famosos. Estão entre eles Final Fantasy VIII, Chocobo Racing e Legend of Mana. Como se isso não fosse o bastante, ele ainda assumiu o post de produtor executivo da sequência de Chrono Trigger; Chrono Cross, game que nem contou com participação direta do Dream Team.
Em 2000, Sakaguchi criou o seu último Final Fantasy, o IX, que acabou se tornando seu trabalho favorito na série. No ano seguinte, ele dirigiu o primeiro filme derivado da franquia: Final Fantasy – The Spirits Within, que apesar de não ser ruim, não tinha “a cara” de Final Fantasy, e acabou se tornando um grande fracasso comercial, fazendo a Square perder mais de 90 milhões de dólares.
Esta nova crise fez com que o artista fundasse uma empresa própria, a Mistwalker, mas ele a deixou quietinha, e continuou a colaborar com os futuros lançamentos da série Final Fantasy, embora agora o grosso da série estivesse sob a responsabilidade de Tetsuya Nomura. Nesta época, Sakaguchi colaborou com títulos importantes, como Final Fantasy X e Kingdom Hearts.
Três anos após Final Fantasy IX, Hironobu Sakaguchi decidiu deixar de vez seu posto de vice-presidente e saiu da Square. Este evento acabou agravando ainda mais a crise da empresa, que ainda não estava totalmente estabilizada de sua recente união com a antiga rival Enix, ocorrida na mesma época.
Sakaguchi começou as atividades da Mistwalker oficialmente em 2004, quando começou a receber suporte da Microsoft para financiamento. No ano seguinte, foi anunciado que as duas empresas fariam dois jogos de RPG. Foi assim que nasceu a série Blue Dragon, de 2006, saga que Sakaguchi queria que fosse a franquia principal da Mistwalker.
Nesta nova empreitada, o artista viu a oportunidade de colocar em prática tudo aquilo que ele não pode pôr nos Final Fantasy. Por conta disso, Blue Dragon teve diversas sequências e ganhou até mesmo um anime. Porém é óbvio que Blue Dragon jamais alcançou o sucesso que seu antigo trabalho conseguiu.
Em 2007 Sakaguchi criou os bons Last Odissey (Xbox 360) e Ash: Archaic Sealed Heat (NDS). Um outro projeto, Cry On, acabou sendo cancelado. Então em 2010 ele começou a trabalhar com The Last Story, que desde o inicio foi muito acreditado tanto pelo artista quanto pela própria empresa. O título foi lançado para Wii em 2011, sendo confirmado o maior sucesso da Mistwalker, o que reforça ainda mais a tese de que Hironobu tende a se dar bem com jogos que parecem ser os “últimos” de alguma forma.
No ano passado, Sakaguchi acabou fazendo trabalhos menores, entre eles os títulos Blade Guardian (iOS) e Party Wave (Android/iOS). Atualmente ele reside na ilha de Honolulu, no Havaí, onde pode cuidar de perto da filial que a Mistwalker tem naquela região e se dedicar a uma de suas paixões: o surf!
Contar a história de Hironobu Sakaguchi propícia a oportunidade de comentar a história do desenvolvimento de jogos como Chrono Trigger e Final Fantasy, que se tornaram títulos infinitamente importantes para a cultura gamer no mundo inteiro. O artista é conhecido por criar e/ou participar da criação de títulos que vendem milhões de cópias, o que o torna um dos maiores heróis do mundo nerd que já passou por esta coluna.
E assim se encerra a série de homenagens ao Dream Team que nos honrou com este grandioso título que é Chrono Trigger. Fica aqui nossa esperança de que algum dia eles se reúnam de novo para fazer um jogo tão bom quanto este clássico.
Nós da Arkade esperamos que você tenha gostado desta pequena série de homenagens, e fica aqui a promessa de uma edição super especial no mês que vem, quando nossa coluna “Heróis do Mundo Nerd” comemora seu primeiro aniversário!
