InFamous 2 (PS3) Review: com grandes poderes, vêm grandes games
O primeiro InFamous, lançado em meados de 2009, foi bem avaliado pela crítica (média 8,6 no Game Rankings) e muito bem recebido pelo público. Afinal, controlar um cara super-poderoso em um game muito bem executado de ação e aventura no melhor estilo sandbox é sempre satisfatório, certo?
Dois anos depois, a Sucker Punch entrega InFamous 2, e os fãs podem ficar tranquilos, pois o game consegue manter tudo o que era bom em seu antecessor, e de quebra ainda traz boas inovações para a série, embora escorregue em alguns pontos fundamentais.
Quem não jogou o primeiro game, atenção para os spoilers, pois InFamous 2 é a continuação direta da trama, e já de início coloca Cole, o protagonista, contra “a Besta”, uma entidade maligna que ele estava predestinado a enfrentar, e que derrota-o bem facilmente.
A luta contra um monstro gigante já nos primeiros minutos de jogo é bem empolgante – nos moldes da série God of War – e serve para mostrar ao jogador o quanto Cole ainda é fraco, e tem muito o que aprender. Em busca de maneiras para se fortalecer, ele deixa Empire City para trás e viaja para New Marais, a enorme cidade onde o novo game se desenrola.
Se é poder que ele quer, é poder o que ele vai encontrar por lá. No primeiro game, o único dom de Cole era o controle da eletricidade, mas desta vez ele poderá controlar também o fogo e o gelo, o que desencadeia uma grande variedade de novos golpes e habilidades. Outra boa novidade é a amp, a arma do protagonista, que é uma espécie de bastão eletrificado que torna os combates corpo-a-corpo – bastante criticados no game anterior – bem mais dinâmicos e divertidos.
Quem jogou o primeiro InFamous não terá problemas em se virar no novo game, visto que Cole já começa o jogo com boa parte de suas habilidades elétricas aprendidas. Conforme você for desbloqueando novos poderes, verá que eles são facilmente incorporados à jogabilidade, permitindo até mesmo a fusão de habilidades diferentes.
Cada tipo de poder vem acompanhado de um karma, que pode ser bom ou mal, dependendo de suas escolhas. Desta vez os caminhos do bem ou do mal vêm acompanhado de duas garotas, Kuo e Nix. Elas agem como a consciência de Cole, instigando-o a seguir o caminho que julgam certo.
Se descrita aqui a ideia já não funciona muito bem, na prática menos ainda, afinal, Cole já é bem grandinho para fazer suas próprias escolhas. Além de desnecessário, este recurso não é bem aproveitado, pois você pode simplesmente ignorar ambas e fazer as coisas do seu jeito. Logo, a única vantagem em dar ouvido às moças é angariar mais pontos de karma bom/mau para fazer upgrade em seus poderes de fogo e gelo.
A mecânica do game segue a mesma linha do título anterior, ou seja, você é livre para passear pela cidade e fazer o que bem entender, cumprindo missões e realizando side quests variadas. Esta liberdade toda é uma verdadeira faca de dois gumes para o game: não se pode negar que é bem legal ficar praticando parkour elétrico pela cidade, coletando sharps – orbes que lhe concedem XP e novos poderes – e buscando missões secundárias, mas isso faz com que a narrativa, a Besta, e toda a suposta grandiosidade do roteiro, acabem em segundo plano.
A campanha principal de InFamous 2 pode tomar mais de 15 horas da sua vida, mas isso depende do seu nível de envolvimento com o game. Sempre há o que fazer em New Marais, e embora a maior parte das missões secundárias envolva pegar o bandido X, salvar a pessoa Y ou desarmar uma bomba qualquer, estes eventos aleatórios tomam muito tempo se você se deixar levar pelo heroísmo.
Vale ressaltar que a nova cidade – uma cópia digital de New Orleans – é enorme, e muito bem construída graficamente. Os pedestres NPCs reagirão à sua passagem de acordo com seus atos e as ruas estão apinhadas de pessoas e carros indo e vindo. Os sons típicos de uma grande metrópole estão sempre presentes, tornando New Marais uma cidade bastante original. Há até uma região destruída e alagada que faz alusão à tragédia que ocorreu na cidade verdadeira com a passagem do furacão Katrina, em 2005.
Conforme mais jogadores forem comprando o game, muita coisa nova deve aparecer para fazer na cidade, visto que o game apresenta um interessante sistema de criação de missões, chamado de User Generated Content (conteúdo gerado pelos usuários). Com ele, qualquer jogador que tenha uma cópia do jogo e uma conta na PSN poderá criar e compartilhar suas missões com o mundo ao melhor estilo Little Big Planet.
O diferencial é que estas missões não ficam em um canto separado no menu do game, mas podem ser integradas ao mapa da cidade, juntamente com as missões principais e secundárias oficiais do game. Com isso, ao cumprir a missão criada por outro jogador (que fica destacada com um ícone verde no mapa), você pode dar uma nota para ela, para que outros jogadores saibam se vale a pena jogá-la ou não. Esta foi uma ótima sacada da Sucker Punch, e certamente vai deixar os aficcionados ocupados por muito tempo, além de aumentar bastante o fator replay do game.
Um problema que existia no primeiro game e infelizmente continua presente neste é a câmera. Especialmente nas batalhas, ela não decide para onde quer ir, e ao invés de se manter nas costas de Cole fica indo para lá e para cá, acompanhando cinematograficamente o movimento dos golpes executados. Como desta vez temos alguns monstros gigantes para derrubar, as coisas podem ficar meio caóticas de vez em quando.
Mesmo não sendo de nenhum super-herói licenciado dos quadrinhos, InFamous 2 é com certeza o melhor game de super-herói estilo sandbox do mercado. Embora crie toda uma história épica sem se preocupar muito com ela, o jogo ofererece um alto grau de diversão justamente pelo excesso de liberdade que concede ao jogador. Se você estava ansioso para voltar a ser “o cara”, surfar pela rede elétrica e eletrocutar uns sujeitos malvados (ou uns inocentes) em uma cidade enorme e vibrante, InFamous 2 foi feito para você.
Este review foi originalmente publicado na edição 24 da revista Arkade.