L.A. Noire (PS3, X360) Review: Investigações realistas com ar retrô
A Rockstar Games alcançou o status que tem hoje, de ser uma das melhores desenvolvedoras de jogos, muito graças a seus games “fora-da-lei”: Grand Theft Auto, Bully, Red Dead Redemption, Manhunt, Max Payne, etc. Todos estes jogos, de uma forma ou de outra, faziam o jogador abandonar sua (suposta) boa índole para encarnar um criminoso, um “valentão”, um fora-da-lei. Por isso, é de se espantar que o novo lançamento da empresa, L.A. Noire, produzido em parceria com a Team Bondi, seja sobre um policial incorruptível e honesto.
O protagonista da vez é Cole Phelps, um herói da Segunda Guerra Mundial que começa sua carreira na polícia de Los Angeles em 1947, na patrulha. Phelps, um homem honesto, trabalhador e sempre disposto a fazer o seu melhor, rapidamente começa a crescer profissionalmente e ficar famoso por toda Los Angeles. Isto atrai atenção positiva e negativa: não só os olhos dos policiais mais experientes se voltarão para você, como também chama a atenção dos criminosos mais poderosos de Hollywood.
Assim que você coloca o disco para rodar, uma coisa fica aparente: L.A. Noire não é um jogo comum. O motivo? Antes de mais nada, a beleza gráfica do jogo. Ele pode não ser o jogo mais belo já feito, mas a Team Bondi e a Rockstar não pouparam esforços para fazê-lo o jogo mais fidedigno e realista já desenvolvido. Não bastasse apenas a Los Angeles dos anos 40 recriada com fidelidade e embalada por hits de jazz, L.A. Noire ainda traz o MotionScan, uma tecnologia criada para o jogo que utiliza 32 câmeras para captar até os menores movimentos do rosto dos atores.
A MotionScan, desenvolvida pela empresa Depth Analysis, se mostra uma verdadeira revolução para o jogo. Chega a ser assustador observar os personagens do game quase idênticos a suas versões de carne e osso. Se em Red Dead Redemption os personagens já eram eximiamente modelados, as desenvolvedoras elevaram o nível ainda mais desta vez, trazendo atores de verdade para atuarem e dublarem os personagens.
Mas este progresso todo não é apenas para tornar L.A. Noire um jogo mais bonito. Esta nova tecnologia é fundamental para a jogabilidade do game. Como você encarna um detetive, a maior parte do jogo é passada interrogando suspeitos, vítimas e testemunhas.
Durante os interrogatórios, é importante não somente escutar o que os personagens falam, mas prestar muita atenção aos gestos e à linguagem corporal dos interrogados. Em alguns casos, é fácil detectar mentiras apenas pelas expressões faciais, mas alguns personagens mentem muito bem, e conseguem enganar até mesmo o jogador mais experiente.
Em cada interrogatório, o jogador possui três opções: acreditar no testemunho, duvidar, ou acusar a pessoa de mentira. Dependendo da sua escolha, a pessoa irá lhe contar a verdade por completo, dizer uma parte da verdade ou lhe esconder informações por completo. Para lhe ajudar, você pode utilizar as anotações realizadas no fiel caderno de Phelps, ou então gastar um ponto de intuição, capaz de remover uma opção ou lhe mostrar o que outros jogadores escolheram, em um sistema que sincroniza online as escolhas de outros jogadores naquela situação específica.
Se você acha que L.A Noire se resume a interrogatórios e investigações, está enganado: o game apresenta ainda alguns momentos de ação e tiroteio. No entanto, estes momentos são bem mais pontuais que em outros jogos. Por exemplo, você só pode sacar sua arma nas situações apropriadas. Isto acontece porque ao final de cada caso você é avaliado, não pela pontaria certeira ou pela destreza no volante, mas por sua capacidade de detectar mentiras e descobrir a verdade.
Ao longo do jogo, Phelps passará por cinco delegacias diferentes, totalizando 21 missões na história principal. O número parece pequeno e até é, se levarmos em conta que o jogo é muito mais linear que GTA IV ou Red Dead Redemption. Felizmente, o tempo de jogo pode ser aumentado com os DLCs e os casos aleatórios que são anunciados pelo rádio da polícia.
O game conta com 40 crimes de rua que você pode completar se quiser, e geralmente eles não lhe darão muito trabalho. O jogo ainda apresenta 95 carros diferentes da época para você liberar, 30 pontos turísticos de Los Angeles, 50 rolos de filmes e mais 13 jornais que revelam a história por trás do jogo.
Uma coisa que pode desagradar quem é fã do estilo sandbox típico dos games da Rockstar é a linearidade forçada do jogo. Não existe a possibilidade de ficar apenas passeando pelas ruas de Los Angeles como nos outros jogos (apesar desta opção estar disponível no menu principal, dentro de Cases), o que faz com que o jogo perca em fator replay. Você pode, se quiser, ficar apenas dirigindo pela cidade antes de chegar ao seu destino, mas não há muito o que se fazer, o que torna a experiência um pouco sem sentido. Uma possibilidade é revisitar as missões que você tenha ido mal para tentar um desempenho melhor.
L.A. Noire é, sem dúvida, um jogo inovador, tanto pela tecnologia MotionScan quanto pela jogabilidade, voltada à sua percepção e intuição e não à sua rapidez para apertar um botão. Este pode ser o começo de uma franquia frutífera para a Team Bondi e a Rockstar, mas talvez valha a pena as empresas trazerem mais dos elementos que fizeram as aventuras de Niko Bellic e John Marston dois dos maiores jogos da última década. Mesmo assim, L.A. Noire é um game bem acima da média, e deve ser experimentado sem moderação.
http://www.youtube.com/watch?v=uPVrWimcBl8
Este review foi publicado originalmente na revista Arkade número 24. Não deixe de conferir também nossos segundos pensamentos sobre o game e sua revolucionária tecnologia MotionScan.