Lollipop Chainsaw (PS3, X360) review: carnificina de zumbis purpurinada

24 de junho de 2012

Lollipop Chainsaw (PS3, X360) review: carnificina de zumbis purpurinada

Embora muita gente já esteja cansada de zumbis, as empresas continuam apostando neles. Algumas acertam, outras erram, e há aquelas que ficam no meio termo. A Grasshopper se encaixa neste terceiro grupo, pois seu Lollipop Chainsaw não é nem de longe um game revolucionário, mas sem dúvida cativa por ser divertido, estiloso e “rebelde” como poucos.

A trama do game acompanha Juliet, uma jovem cheerleader que acorda em seu aniversário de 18 anos esperando uma dia de festa… até descobrir que uma praga zumbi dominou seu colégio, transformando todos os seus amigos em devoradores de cérebros.

Felizmente, Juliet é parte de uma longa linhagem de matadores de zumbi (?!) e já está devidamente preparada para lidar com este tipo de situação: armada com um par de pom-pons, uma enorme serra elétrica e toda sua elasticidade de cheerleader, a garota vai abrir caminho na marra entre os mortos, enquanto salva alguns de seus colegas e tenta entender o que está acontecendo.

Não é uma grande história, nem poderia ser: a graça de Lollipop Chainsaw está no fato dele nunca se levar a sério. O roteiro é bobo, as situações são forçadas, a violência é exagerada, o sexismo é absurdo… mas tudo isso contribui para que o game tenha identidade. Ele é quase como um beat ‘em up dos anos 90: não importa a história, simpesmente desça a porrada em todo mundo e pronto.

Lollipop Chainsaw (PS3, X360) review: carnificina de zumbis purpurinada

É mais ou menos como um filme de Quentin Tarantino: você sabe que muito do que está vendo beira o ridículo de tão exagerado, mas a maneira como estes absurdos se conectam é muito legal. Lollipop Chainsaw é assim: uma sucessão de absurdos, maniqueísmos, piadas e “escrotices” que, somados, até dão certo, embora cansem depois de algum tempo.

O visual estilizado do game se afasta do clima sombrio e sangrento dos demais games de zumbis. Lollipop Chainsaw é colorido (até demais!), os inimigos mortos explodem em glitter e purpurina, ou emanam arco-íris de seus pescoços cortados. O fato de tudo isso ser mostrado em um visual cel-shaded só enriquece o visual.

Lollipop Chainsaw (PS3, X360) review: carnificina de zumbis purpurinada

Para quebrar o clima purpurinado, o game é bem malcriado: temos palavrões (em inglês, claro), que  aparecem em letras garrafais durante as cutscenes, ou no formato das onomatopeias de histórias em quadrinhos. Dependendo da sua idade, talvez não seja uma boa ideia deixar sua mãe te ver jogando Lollipop Chainsaw, caso o inglês dela seja bom, pois este é definitivamente um jogo bem boca-suja, todo mundo solta comentários e xingamentos bem pesados.

Neste mar de psicodelia de baixo calão, a trilha sonora se destaca: ela completamente roqueira e conta com músicas muito legais, que conseguem te deixar bem no clima do jogo. O sempre criativo (e até um pouco maluco) Suda 51 deixou a criatividade fluir, e conseguiu manter a identidade do jogo até na trilha sonora, que é daquelas que dá vontade de colocar para tocar no MP3, de tão legal.

As dublagens também são ótimas em sua maioria, e conferem muita personalidade aos personagens. Juliet pode até soar meio chata depois de um tempo (ela é dublada por Tara Strong, que emprestou sua voz para a sexy porém irritante Harley Quinn nos últimos games do Batman), mas o elenco de apoio, especialmente seu namorado (ou melhor, a cabeça de seu namorado), Nick, se destaca, pois solta comentários carregados de sarcasmo que vão te fazer rolar de rir.

Lollipop Chainsaw (PS3, X360) review: carnificina de zumbis purpurinada

Infelizmente, nem só de acertos é feito Lollipop Chainsaw: seu tom festivo, pulsante e malcriado pode acabar irritando depois de algumas horas de jogo. Sabe aquela piada que é repetida muitas vezes e acaba perdendo a graça? Pois é, é mais ou menos o que acontece aqui. O pessoal da Grasshopper não se ligou que “menos é mais”, e acabou levando a brincadeira um pouco mais longe do que devia. Toda a purpurina, a malcriação e a psicodelia acabam ficando cansativos.

Outro problema do game está em sua mecânica de jogo: embora conte com armas bem incomuns e suas habilidades atléticas, Juliet não possui a fluidez que deveria. Seus ataques primários não se conectam de maneira suave para formar combos, o que torna os combates um tanto travados.

Na segunda metade do game você até habilita alguns combos “de verdade”, mas são todos baseados em sequências de comandos pré-definidos pelo jogo. Faltou aquele “tempero” de jogos como God of War ou Devil May Cry, que permitem que você pegue os ataques comuns e misture-os como quiser, para criar seu próprio combo.

Lollipop Chainsaw (PS3, X360) review: carnificina de zumbis purpurinada

As animações um pouco desajeitadas tornam isso ainda mais evidente: parece que mesmo com toda sua elasticidade e agilidade, Juliet é um pouco desengonçada. E isso não é uma piada do jogo, ela parece desengonçada simplesmente porque as animações do game não são boas.

A câmera também não ajuda na hora da pancadaria: muitas vezes a câmera irá se colocar em um lugar que visa te dar um ângulo privilegiado da matança (ou da calcinha de Juliet), mas que te deixa perdido no meio da ação.

Em se tratando de inimigos, temos altos e baixos: a maior parte deles é essencialmente igual (zumbis…), mas os chefes são extremamente criativos, passando de zumbis roqueiros até outros hippies que parecem saídos diretamente dos anos 70. Há criatividade, mas o arquétipo de zumbi não permitiu muita variação na maior parte do tempo.

Para os fãs de zumbis e terror, temos muitas referências e “easter-eggs“: o nome da escola, San Romero, já é uma óbvia homenagem ao “especilaista” em zumbis George Romero, que dirigiu os mais importantes filmes de zumbi do cinema.

Lollipop Chainsaw (PS3, X360) review: carnificina de zumbis purpurinada

A falta de modos de jogo online ou algo do tipo tornam Lollipop Chainsaw um jogo sem grandes atrativos para novas partidas. Você destrava diversas roupas alternativas para Juliet (algumas bem minimalistas, como esta da imagem acima), mas para muitos este tipo de recurso pode não justificar outras partidas.

Em resumo, Lollipop Chainsaw é aquele tipo de jogo “ame ou odeie”: muita gente sem dúvida irá achá-lo ótimo, mas isso é  mais pelo seu estilo do que pelo jogo em si. Se no quesito jogabilidade ele decepciona, não se pode negar que em termos de visual, trilha sonora e rebeldia, ele dá um show sangrento e purpurinado como poucos.

 

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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