Made in Heaven: o último disco do Queen que foi parar na jaqueta de Claire Redfield e na série Resident Evil
O Queen é uma das bandas mais importantes da história da música. O quarteto inglês formado por Freedie Mercury, Brian May, John Deacon e Roger Taylor marcou época, com inúmeros clássicos lançados em mais de 20 anos de atividade. Todos os elementos, incluindo Freddie Mercury, fazem a banda ser única, com seu som sendo reconhecido por qualquer um, mesmo de longe.
A banda é imortal, mesmo sem lançar algo novo há décadas. Após o falecimento de Freddie, em 1991, o Queen não teve mais as mesmas atividades de antes, não lançando nenhum trabalho como os que haviam produzido com o vocalista em vida. Mas seguiu em atividade, em projetos como a união com Paul Rodgers do Free e Bad Company ou Adam Lambert, revivendo suas músicas, que se tornaram eternas na vida de seus milhões de fãs.
Um grupo como o Queen tem, de fato, inúmeros fãs, sejam eles do mundo real, ou até mesmo no virtual. Caso de Shinji Mikami, o criador de Resident Evil, que resolveu expressar a sua paixão pela banda em sua obra, através de elementos envolvendo os Redfield. Chris e Claire, os irmãos Redfield que se envolvem com as tramas do game de forma bem profunda, carregam referências a um álbum em específico da banda, o Made in Heaven.
O disco foi lançado em 1995, quatro anos após a morte de Freddie Mercury. O “céu” no nome vem repleto de significado, pois além de ser o nome de uma música, também faz referência ao talento único do cantor, considerado por muitos como a maior voz da música de todos os tempos. A música Made in Heaven, por sua vez, fala sobre aceitar o destino que aparece pra você e seguir em frente, mesmo em meio às dificuldades.
A primeira parte da canção diz o seguinte:
Pegando carona com o destino
Disposto a fazer o meu papel
Vivendo com memórias dolorosas
Amando com todo o meu coração
Uma realidade que tem tudo a ver com o que conhecemos sobre Freddie, mas que também se encaixa perfeitamente bem com os irmãos Redfield. Ele, como um item desbloqueável no primeiro game, e ela como o seu traje principal em sua aventura de estreia.
Os dois possuem jaquetas com uma arte com uma mulher com asas de anjo, pronta para soltar uma bomba do céu, com a famosa inscrição “Made in Heaven”, o que combina com a ideia de personagens mais conectados ao mundo dos motociclistas e, com isso, também ao rock. Claire e Chris poderiam sim, tranquilamente, ouvir as músicas do Queen. Inclusive juntos, quando mais novos. E o amor pela banda poderia ser outro elo de conexão entre ambos.
Voltando ao disco, ele tem uma importância única, pois é o décimo quinto e último álbum de estúdio do Queen. Como forma de homenagear Mercury, May, Deacon e Taylor pegaram vocais gravados por Freddie em outras oportunidades, e gravaram novas músicas, com novos arranjos, ou adequando os sons entre a gravação original e o trabalho do trio. Conta com a excelência que o Queen sempre lidou com a sua música, e trouxe novos clássicos póstumos, que honraram o legado do cantor.
Made in Heaven está presente na jaqueta de Claire, e fica à mostra para o jogador por boa parte da aventura em Resident Evil 2 (incluindo o remake, seja no traje atualizado ou na releitura do original), quando a câmera permite ver o desenho. Mas Shinji Mikami adorava tanto o álbum e a banda, que incluiria outros detalhes em jogos posteriores. Em CODE: Veronica, a personagem usa uma outra jaqueta, desta vez com a música Let Me Live, a terceira faixa do disco e, curiosamente, a que vem a seguir de Made in Heaven.
A letra fala de sofrimento, mas também de alguém com quem você sempre pode contar, como uma irmã que parte para o desconhecido para buscar seu irmão.
Mikami continuou dando “sequência” ao álbum, ao colocar Mother Love no braço de Billy Coen, em Resident Evil 0. Apesar da história do game nos levar a acontecimentos antes do primeiro game, o jogo foi lançado em 2002, dois anos após CODE: Veronica.
A letra fala de alguém solitário, sem esperanças, buscando um lugar seguro, como o útero de sua mãe. Fica bem claro que as referências ao Queen não são apenas estéticas, com as músicas explicando bem o sentimento dos personagens em suas respectivas histórias.
Curiosamente, It’s a Beautiful Day, a primeira faixa do disco, não aparece em nenhuma referência. Será que é porque em Resident Evil, os dias “não são bonitos”?
De qualquer forma, Mikami não ficaria na Capcom por muito tempo mais, tendo apenas mais um game Resident Evil para participar: o seu quarto capítulo. Mas ainda houve tempo para uma última pequena referência à banda.
Desta vez, era a frase My Life Has Been Saved que apareceria na tela de inventário de Leon. Mais uma vez, o criador da série dava sequência ao disco, com a quinta faixa do álbum, composta por John Deacon, encerrando o álbum, ao menos em Resident Evil.
Seguindo esta tendência, talvez pudéssemos ter I Was Born to Love You em Resident Evil 5 e Heaven for Everyone em Resident Evil 6, mas Mikami já estava envolvido em outros projetos, e distante da série que ajudou a construir e consolidar como uma das maiores do videogame.
De qualquer forma, a união entre Queen e Resident Evil trouxeram um elo interessante entre músicas e games. Era, de alguma forma, Freddie Mercury e seus amigos, através de suas letras, ditando o ritmo, rumo, personalidade e sentimento de seus personagens, mesmo sem imaginar que estavam fazendo isso, enquanto compunham suas canções. O que trouxe um interessante resultado:
Um disco póstumo da mais alta qualidade, que honrou o legado de Freddie Mercury, e ainda ajudou, mesmo que de forma indireta, a construir parte de uma das franquias mais interessantes, e queridas, do mundo dos videogames.