Magic: The Gathering – o trading card game mais famoso do mundo
Entrevista – Paulo Vitor Damo da Rosa
Para algumas pessoas, jogar Magic deixou de ser apenas um passatempo para virar uma profissão. Este é o caso de Paulo Vitor Damo da Rosa, gaúcho de 22 anos que joga MTG profissionalmente desde 2006 e que ganhou o Pro Tour realizado entre os dias 28 e 30 de maio em San Juan, Porto Rico. A Arkade conversou com Paulo sobre sua história com o jogo, seus títulos e sua vida além do Magic.
Quando e como você começou a jogar Magic: The Gathering profissionalmente?
O meu primeiro Pro Tour foi em 2003, mas o jogo se tornou mesmo uma profissão a partir de 2006, que foi quando eles começaram a pagar a passagem para quem ganhasse os classificatórios, então eu pude jogar todos os torneios da temporada e consegui vários benefícios para as temporadas seguintes.
Conte-nos um pouco sobre como foi o Pro Tour de San Juan, no qual você se sagrou campeão mundial.
O Pro Tour foi uma experiência legal, tanto pelo campeonato como pela viagem. Eu não conhecia Porto Rico, então eu me juntei com outros dez amigos, dos Estados Unidos, República Tcheca e Eslováquia, e nós alugamos uma casa enorme para passar os dias antes do Pro Tour, pra conhecer o lugar e treinar pro campeonato. O campeonato em si foi bem interessante, porque nós tínhamos um baralho muito bom, mas eu perdi as primeiras duas partidas, então comecei bem desanimado. Depois tive que ganhar 13 das 14 seguintes, e consegui entrar no top 8, que é eliminatória simples. Na primeira rodada eu tive que jogar contra um dos que dividiu a casa comigo (3 dos 8 primeiros eram de lá) e foi a partida mais difícil, além de ser a que eu fiquei mais nervoso porque eu historicamente sempre perdia nessa parte, mas no final consegui ganhar de 3-2. A semi-final foi mais tranquila e eu ganhei de 3-1 e a final foi difícil, mas acabei ganhando do meu oponente francês por 3-2. Foi ótimo, um senso de dever cumprido, todo mundo te dando parabéns e dizendo que foi merecido, até agora não acredito que eu ganhei.
Quais as principais diferenças entre o campeonato brasileiro de MTG e torneios internacionais como o Pro Tour?
Olha, as principais diferenças são que os internacionais são muito mais difíceis e o prêmio é muito maior. O campeonato brasileiro, que é o maior campeonato nacional (na verdade é praticamente o único campeonato grande nacional, os outros são só classificatórios para os internacionais), tem sempre em torno de 100 pessoas – os Pro Tours geralmente tem 400 e os Grand Prix chegam a 2000, então só pelos números já seria mais difícil ir bem, mas no geral os jogadores são melhores e as pessoas se preparam muito mais. Nos internacionais também tem toda aquela coisa de dormir mal por causa do fuso horário, jetlag, a comida ser diferente, etc.
Qual é a sua cor ou baralho preferidos? E qual cor ou baralho você menos gosta de enfrentar?
Olha, não tenho muito isso de preferidos, gosto de qualquer baralho que seja bom e consistente. O baralho que eu mais gostei nos últimos tempos foi o “UB Faeries“, que é um baralho azul e preto que não é nem de controle nem agressivo, mas se adapta ao que a situação exige, porque ele é muito versátil. Ele é bem difícil de jogar, porque você sempre começa na defensiva mas chega um momento que tem que partir pra cima, e é crítico você saber identificar esse momento. Depois de jogar bastante com ele eu me aperfeiçoei nisso, e descobri que ele também é um baralho bem recompensador, porque é difícil de jogar contra, já que todas as mágicas, até as criaturas, podem ser jogadas no turno do oponente, então ele precisa deduzir o que você pode ter para poder jogar em volta. Em San Juan o formato era diferente, meu baralho era verde, vermelho e azul, por exemplo. Geralmente o baralho que eu menos gosto de enfrentar é um que seja exatamente igual ao meu, ou muito parecido, então vai mudando de torneio pra torneio.
Você poderia citar uma ou duas cartas que você tem como suas preferidas?
Eu gosto bastante de Mistbind Clique, porque é muito difícil de jogar com e contra. Também gosto muito de Fact or Fiction, mas essa eu não tenho muitas oportunidades de usar porque hoje em dia ela não é mais tão boa.
Depois de dois títulos de campeão brasileiro, seis Top-8 e um título no Pro Tour com apenas 22 anos, você é tido até mesmo pela Wizards of the Coast como um dos jogadores mais promissores de Magic. O que você acha disso?
Sinceramente, acho o máximo. É muito estimulante você saber que todo o seu esforço está se refletindo em resultados, faz você se esforçar mais e é legal saber que eu sou muito bom em alguma coisa e que tem gente que valoriza e reconhece isso.
Para você, quanto de Magic é habilidade e quanto é pura sorte?
Olha, é difícil quantificar; as vezes o oponente tem muita sorte e não tem o que você fazer, mas em muitos dos casos a pessoa precisa ter sorte porque jogou errado, se jogasse perfeitamente não precisaria, ou então o oponente só teve a chance de ter sorte porque você não jogou bem. Em um campeonato, você pode perder várias rodadas, então a sorte fica um pouco diluída, e geralmente as mesmas pessoas estão sempre indo bem, então acho que a habilidade conta bem mais.
Além do jogo de cartas, Magic também possui versões em videogames. O que você pensa sobre estes games?
Não gosto muito das versões em videogame, porque elas geralmente são muito limitadas nas cartas que você pode usar e ainda não existe uma inteligência artificial que consiga imitar um bom jogador. Antigamente existia um jogo chamado Shandalar que era quase que um RPG, você saía derrotando monstros e encontrando tesouros (no caso cartas pro seu baralho), esse era bem legal mas é bem ultrapassado e a inteligência artificial era péssima.
Além de Magic, você joga outros tipos de jogos? Quais são os seus favoritos?
Jogo, sempre joguei um monte de jogos. No momento eu jogo bridge, que é um outro jogo de cartas, e Defense of the Ancients de vez em quando, embora já tenha jogado bem mais, além de truco na faculdade e esse tipo de coisa. Já joguei bastante Diablo II também.
Para encerrar, você teria alguma mensagem para os jogadores iniciantes em Magic que pensam em disputar torneios como você?
Olha, pra ficar bom não tem jeito, tem que jogar muito. Acho que a pessoa precisa ir participando de campeonatos, mesmo que não tenha muita chance, porque senão ela nunca vai se acostumar. Boas opções se você não tem uma loja por perto ou amigos que joguem, são o Magic Online e o Magic Workstation, que são programas que deixam você jogar pela internet. Também é importante ler artigos dos jogadores bons, e estar sempre atento ao que está acontecendo, às coberturas dos campeonatos importantes e às novas cartas lançadas.
Esta matéria foi publicada originalmente na edição 13 da Revista Arkade.
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