Mais de 500 funcionários da Ubisoft publicam carta contra o estúdio após o caso da Activision Blizzard
O processo movido pelo estado da Califórnia contra a Activision Blizzard repercutiu com muita força dentro da companhia. Com mais de 2500 funcionários assinando uma carta aberta condenando a gerência da companhia por não agir para impedir casos de assédio e abusos. Além de protestarem após o CEO Bobby Kotick se desculpar, mas apenas em resposta a greve que ocorreu há alguns dias.
E o caso repercutiu até mesmo dentro da Ubisoft, com mais de 500 funcionários e ex-funcionários publicando uma carta em solidariedade as vítimas da Activision Blizzard e criticando duramente a Ubisoft por sua falta de ação após casos de assédio semelhantes terem sido denunciados em 2020.
Ano passado, vieram a tona várias denúncias de muitos nomes importantes dentro da Ubisoft envolvidos em casos de abuso sexual. Na ocasião, o CEO do estúdio, Yves Guillemot, comentou que tomaria as medidas necessárias para colocar um fim nisso. Mas segundo a carta aberta, isso não foi exatamente o que aconteceu.
Confira abaixo o conteúdo completo da extensa carta (tradução livre):
Para os trabalhadores da Activision Blizzard,
Nós os ouvimos e queremos declarar em alto e bom som nossa solidariedade com vocês. Desde a última semana, a indústria de games mais uma vez foi bombardeada por revelações que há muito tempo são conhecidas por muitos de nós. Revelações que há um ano muitos ouviram em relação à Ubisoft. Está claro, dada a frequência desses relatos, que há uma cultura de comportamentos abusivos muito difundida e profundamente enraizada dentro desta indústria. Já não deveria ser surpresa para ninguém: empregados, executivos jornalistas, ou fãs que esses atos hediondos ainda continuam. Chegou a hora de parar de ficarem chocados. Nós devemos exigir pela tomada de ações reais para impedir isso. Aqueles responsáveis devem ser responsabilizados por suas ações.
Nós acreditamos em vocês, nós estamos a seu lado e damos nosso apoio a vocês.
Para a gerência da Ubisoft,
Nós, assinantes deste abaixo-assinado, estamos fartos. Já faz cerca de um ano desde que as primeiras revelações de discriminação sistemática, assédios e bullying dentro da Ubisoft vieram a público. Naquela época, vocês agiram surpresos ao ouvir sobre esses atos acontecendo dentro de sua própria companhia e nós lhes demos o benefício da dúvida. No entanto, nós não vimos nada mais do que um ano de belas palavras, promessas vazias, e uma inabilidade ou falta de vontade de remover os abusadores conhecidos. Nós não acreditamos mais em seu compromisso de resolver esses problemas até o seu núcleo. Vocês precisam fazer mais.
Isso não significa mais sessões de treinamento que são ignoradas pelas pessoas que mais necessitam delas, e isso não significa mais garantias ou belas palavras. Isso significa ações reais e de impacto. A única forma de corrigir algo tão enraizado é remover os pilares que são complacentes com isso, seja ao tomar parte ativa ou ao dar apoio a isso.
Isso não é apenas uma questão de processo, grupos de foco, gerenciamento de relações públicas ou educação. Isso é uma questão de vidas de pessoas, suas saúdes mentais e físicas. Ao escolher o lucro acima de nossa segurança vocês estão literalmente brincando com nossas vidas. Nós não deveríamos ter que escolher entre nosso trabalho e nossa segurança.
Nós ficamos e assistimos enquanto vocês demitiam somente os abusadores mais públicos. Vocês deixaram o resto pedir demissão ou pior, os promoveram, moveram-os de estúdio em estúdio, equipe em equipe, dando a eles segunda chance atrás de segunda chance sem qualquer repercussão. Esse ciclo precisa parar. Nós, os empregados em conjunto da Ubisoft, exigimos um lugar na mesa quando chegar a hora de decidir como seguir adiante a partir daqui. Os abusadores precisam ser removidos da companhia, junto daqueles que foram complacentes ou propositalmente ignorantes das ações de outros. Como gerência, é seu papel ver esses atos acontecendo e tomar uma atitude. Ignorância não é uma desculpa, não para a lei e com certeza não nos olhos de seus empregados.
Nós precisamos de mudanças fundamentalmente reais, dentro da Ubisoft, dentro da Activision Blizzard, e por toda a indústria.
Para este fim, nós propomos que a Activision Blizzard, a Ubisoft e outras distribuidoras e desenvolvedoras líderes da indústria colaborem e concordem em um conjunto de regras e processos para lidar com relatos desses abusos. A colaboração deve envolver fortemente empregados em posições fora da gerência e representantes de sindicatos. Isso é essencial para garantir que aqueles que foram diretamente afetados por esses comportamentos guiem a mudança.
A Ubisoft publicou uma resposta a essa carta, em que diz que leva a carta e as acusações muito a sério. Mencionando, sem entrar em detalhes, que desde o ano passado tem agido para criar um ambiente de trabalho seguro para seus empregados.
A declaração ainda comenta que: “A Ubisoft fez mudanças significantes que buscam criar um ambiente de trabalho seguro e inclusivo para todos, e ainda há trabalho a ser feito“.
A resposta não foi bem aceita, pois assim como no caso da Activision Blizzard, não aborda o assunto levantado em detalhes, como as alegações dos funcionários de que muito pouco foi feito neste último ano, com punições reais apenas sendo aplicadas aos funcionários envolvidos nos maiores escândalos, enquanto outros não sofreram nenhuma ou poucas consequências.
Infelizmente, como a carta deixa bem claro, essa situação não é algo novo e de forma ainda mais triste está num ponto que já deixa de ser algo chocante, por serem constantes em diversas empresas. As mudanças precisam acontecer e precisam acontecer já.
Esses casos da Activision Blizzard e da Ubisoft escalaram-se até o ponto de total insustentabilidade e revolta. Vale lembrar que outras companhias, como a Riot Games, já estiveram envolvidos em casos semelhantes no passado. E com o estado crítico da situação atual, é bem possível que ainda mais funcionários venham a público denunciar outros terríveis casos que precisam ser abordados.
(Via: Eurogamer)