Mass Effect Legendary Edition: voltando à Normandy, 13 anos depois
Sim, estamos com uma das remasterizações mais aguardadas da geração em mãos desde a data de lançamento. Mass Effect Legendary Edition, versão que reúne a trilogia original da geração PS3/XBox360 e as DLCs da franquia desenvolvida pela Bioware (em seus tempos de glória), que só estava disponível para essa geração pelo Game Pass do Xbox via retrocompatibilidade, ganhou uma revisão para encher os olhos de todos nós.
Antes de mais naa, acho que vale um adendo: este texto ainda não é a nossa análise, mas sim um primeiro olhar, um primeiro sentimento. Afinal, é uma trilogia de respeito, e mesmo jogando intensamente, não chegamos ao fim da jornada.
Isso não significa, porém, que já não tenhamos sobre o que falar. Logo de cara, há uma pequena decepção, algo que foi bastante noticiado por aqui: esse versão, tal como os originais, não conta com suporte ao nosso bom e velho português brasileiro, nem na dublagem, nem mesmo nas legendas e menus.
Uma pena, sobretudo para quem tem um pouco mais de dificuldade com o idioma inglês, por dois motivos: o primeiro deles, mais prático, é porque a franquia, principalmente em seu primeiro título, não tem aquelas facilidades óbvias do objetivo ficar piscando no mapa o tempo todo, então é importante entender, dentro do escopo das missões secundárias e das principais, o que fazer, onde ir e com quem falar.
O segundo, claro, está relacionado ao entendimento da história, das relações e motivações de personagens, das escolhas de diálogo e das sutilezas de construção do mundo. Pessoalmente, me viro melhor agora do que me virava em 2008, e ainda que tenha compreendido bem o que estava fazendo na época, sinto-me mais confortável já conhecendo a narrativa. Mas ainda assim, muita coisa pode se perder na tradução, e seria ótimo se pelo menos as legendas estivessem devidamente localizadas para o Brasil, principalmente porque Bioware e EA têm feito trabalhos excelentes nesse quesito há muito tempo para produções de todos os escopos.
Feito o destaque, não há dúvidas de que voltar a esse universo é algo simplesmente indescritível. Confesso que das marcas mais tradicionais da Bioware, Dragon Age sempre me cativou mais e Inquisition continua sendo um dos meus jogos favoritos da geração passada. Assumo também que não sou dos maiores detratores de Mass Effect Andromeda, já que só fui me aventurar no game alguns meses depois do seu lançamento, o que me deu vantagens em relação a quem presenciou alguns dos problemas que marcaram seu lançamento.
Ainda assim, enquanto Mass Effect, sinto que faltou algo, aquele tempero sci-fi diferenciado da trilogia original. Meu receio era que isso era muito mais um resquício nostálgico do que uma avaliação mais objetiva.
Porém, os minutos iniciais do primeiro Mass Effect, devidamente atualizado visualmente, já me mostraram que há sim algo que torna as aventuras de Sheppard instigantes e especiais. Agora, conhecendo a trama principal e as sub-tramas mais importantes, bem como a personalidade de cada NPC da equipe da já lendária nave Normandy, algumas decisões acabam até se tornando mais viciadas, uma vez que já é possível prever algumas consequências. Nem todas, claro, porque não esgotei cada uma delas no Playstation 3 e mesmo as que escolhi, não lembro assim, com facilidade.
Então chegamos à versão de 2021, jogando com uma Sheppard mulher (diferente da minha tentativa ridícula de criar um avatar parecido comigo na primeira vez) e assumindo uma personalidade mais carrancuda, é interessante perceber que a complexidade narrativa do jogo sempre esteve a frente do seu tempo.
Ainda que as escolhas e consequências, hoje no pós-Telltale, Dontnod e Quantic Dream, não sejam algo inovador, continuam funcionando e oferecem camadas interessantes na construção da história da protagonista e do seu grupo. Esse é, talvez, o aspecto mais inalterado da versão remasterizada e, mesmo assim, se sustenta bem, muito bem.
Já os aspectos visuais ganharam um bom upgrade, e tal como na remasterização da trilogia Uncharted, o salto visto no primeiro game da série é mais evidente que nos demais. Houve uma preocupação em nivelar, por cima, gráficos, ambientes e principalmente modelos dos personagens, que se não chegam ao nível do que pode ser visto em grandes games mais atuais, conseguem fugir do incômodo de bonecos animados fazendo expressões bem bizarras da versão original. Alguns olhares ainda são engraçados, há movimentos são mais robóticos, mas no geral, há mais suavidade gráfica, aliada ao esplendor do 4K rodando a lisos 60fps no PS5, enquanto no PS4, há a possibilidade de escolher entre priorizar um ou outro aspecto.
Há melhorias ainda na ambiência, na vegetação e até no comportamento de partículas, como líquidos, fogo e poeira. A iluminação parece mais natural e as texturas estão muito agradáveis. O trabalho gráfico não é tão evidente assim no segundo e no terceiro capítulos, que já eram mais avançados originalmente, mas por outro lado, o tempo de carregamento é algo que muda muito a experiência, principalmente em níveis desenhados com muitos elevadores, artifício tradicional para disfarçar momentos de loading dentro de fases. Sim, os intermináveis elevadores continuam lá e cansam para os padrões atuais, mas ao menos demoram muito menos e alguns podem até ser pulados. Somados à praticidade da viagem rápida, tudo é dinâmico e quase imediato na nova geração.
As mecânicas de combate e a organização de menus e submenus, por sua vez, receberam também seus refinamentos para ficarem mais coerentes entre os três jogos, mas não tanto assim. Os inimigos ainda não sentem impacto de tiros, a movimentação e os comandos são mapeados de uma forma pouco usual e a listagem de equipamentos é truncada e pouco prática. Não espere uma transformação tão grande na interface, portanto, já que essa nunca pareceu ser a intenção. Nem mesmo a inteligência artificial parece ter ganhado qualquer melhoria significativa e não é raro ver inimigos e aliados se comportando de forma, digamos, curiosa.
Enfim, talvez eu tenha me empolgado neste texto inicial e alguns destes tópicos certamente voltarão na análise completa a ser publicada em alguns dias aqui no site, mas de modo geral, se você é fã de longa data de Mass Effect ou se não teve a oportunidade de aproveitá-lo na época de seu lançamento, esta Mass Effect Legendary Edition é uma recomendação quase obrigatória. Ainda que não traga adições especialmente diferentes em termos de história ou de missões, é a melhor forma possível de se jogar uma das mais importantes e relevantes trilogias de todos os tempos. E isso não é pouca coisa.