Melhores do Ano Arkade 2020: The Last of Us Part II
Polêmico. Pesado. Intenso. Difícil de digerir. The Last of Us Part II foi eleito o GOTY 2020 no The Game Awards, e é claro que não ia ficar de fora da nossa lista de Melhores do Ano!
Como eu já disse mais de uma vez aqui, eu não sou um cara de multiplayer competitivo. Aprecio videogames pela sua capacidade de contar histórias de um jeito que filmes e livros não podem: de forma ativa, interativa. A participação do jogador é fundamental para que as coisas aconteçam.
E, no que tange a arte de “contar histórias em videogames”, poucas empresas são tão boas quanto a Naughty Dog. Corajosa, a empresa pegou o caminho mais difícil nesta sequência: ela não quis contar uma história bonitinha e previsível — que certamente seria mais bem recebida pelos fãs. Ela foi fundo em uma trama que tem ódio e vingança como seus principais temas, ainda que passeie por outros sentimentos com delicadeza ímpar.
The Last of Us Part II mata Joel, um dos personagens mais queridos da última década, já nas primeiras horas de jogo. Pior: o jogo nos “obriga” a jogar praticamente metade da campanha com Abby, a assassina de Joel. Este é um jogo que tem duas metades e duas protagonistas, faces opostas de uma mesma moeda: Ellie e Abby.
O que gerou revolta em muitos jogadores logo se mostra como uma manobra narrativa pouco explorada nos videogames: The Last of Us Part II subverte o tradicional conceito de “mocinhos e bandidos”. Aqui não há nem um nem outro, há grupos com interesses distintos lutando para sobreviver. E quanto mais conhecemos Abby, mais vemos que ela não é um monstro. Ellie, por outro lado, chega ao fundo do poço em sua busca por vingança, ainda que o desfecho do game demonstre que restou um fiapo de humanidade na personagem.
The Last of Us Part II apresenta uma jornada longa e cruel em que não há espaço para um final feliz clichê. É um mundo cruel, que obrigas as pessoas a fazerem coisas cruéis. Jogar com Abby me fez mal, mas eu não terminei o jogo odiando-a. Sua jornada afinal, tem um tom de redenção, enquanto a de Ellie é só ladeira abaixo. Escrevi um longo “Depois do Fim” (com spoilers) sobre o jogo, se quiser saber mais sobre a história do game e minha opinião sobre ela, recomendo a leitura.
Indo além de sua excelente narrativa, The Last of Us Part II é um jogo que eleva o patamar dos jogos de ação e sobrevivência. As mecânicas do primeiro jogo foram polidas e lapidadas ao máximo, e a presença de cães farejadores e novos tipos de infectados são elementos que tiram o jogador da zona de conforto o tempo todo. Não há como ficar confortável neste jogo.
Somado a isso, temos a qualidade técnica e audiovisual do título, que é impecável. A Naughty Dog é caprichosa demais, e entregou uma obra-prima que encanta olhos e ouvidos. A dublagem brasileira também se destaca, e nós inclusive batemos um ótimo papo com Luiza Caspary, a voz da Ellie no Brasil, sobre seu trabalho no jogo.
The Last of Us Part II, tal qual as melhores obras de arte, desperta reações nas pessoas. Uns amam, outros odeiam, mas é impossível passar indiferente pela experiência que o jogo entrega. Uma experiência única, devastadora e dolorosa, que mexe com nossos sentimentos e nos faz pensar. Uma experiência digna de estar entre os melhores do ano.
Leia aqui nossa análise sem spoilers do jogo. E repito a recomendação para nossa matéria especial “Depois do Fim“, com spoilers e uma discussão mais aprofundada do jogo.