Melhores do Ano Arkade 2022: The Chant
Quando se trata de jogos (ou mesmo produções em outras mídias, como filmes, séries e literatura), o gênero de terror é aquele onde procuro saber o menos possível antes de me envolver com uma obra para poder me surpreender e vivenciar a experiência como de fato ela foi idealizada. Melhor ainda se eu nem souber que aquilo existe até já estar envolvido, algo bastante raro nos dias de hoje onde a informação nos persegue mesmo quando não a desejamos, mas que vez ou outra acontece. Foi assim com The Chant pra mim.
Configurada como uma produção independente e, portanto, sem grandes holofotes da grande mídia, o jogo chegou já na reta final do ano pouco antes do último episódio da temporada de The Dark Pictures Antology, grande lançamento da época do Halloween e, quietinho, conseguiu chamar a minha atenção por tratar de temáticas típicas com uma abordagem até então pouco explorada em produções do gênero, tais como o cultismo, o fanatismo religioso e a perturbação sobrenatural. Na análise completa do jogo, falamos um pouco mais sobre esses temas e seu papel nesta nova onda de jogos de horror pela qual passamos.
No lugar do combate físico e armas de fogo (como nos clássicos Resident Evil, Silent Hill ou Alone in the Dark) ou da impotência parcial ou total (como em Alien Isolation, Fatal Frame e Outlast), o game nos dá algumas ferramentas mais voltadas ao campo místico, como patuás e outros artifícios naturais, para enfrentar perigos desta e de outras dimensões. A forma como isso é incorporado na narrativa é interessante e muito bem justificada, evitando assim o velho (e nem tão bom assim) migué de encontrar espingardas, metralhadoras e muita munição em qualquer gaveta de casebres abandonados.
Ainda que não seja exatamente uma trama original, ela também tem seus méritos em lidar bem com eventos e condições externas e internas da personagem, brincando com a noção de realidade e de devaneio onde até mesmo nós, jogadores, ficamos com dúvidas sobre estar presenciando algo que está mesmo acontecendo ou uma viagem psicodélica da nossa heroína. O trabalho com cores e a emulação de uma infinidade de distorções da realidade é um grande acerto que no envolve, que nos engaja.
Com um tom que lembra obras como Midsommar e A Vila e referências claras a figuras controversas da história norte-americana, como Charles Manson, The Chant não é uma produção gananciosa e sabe bem onde quer chegar. Ainda que inevitavelmente caia em alguns clichês do gênero, como jump scares e uma progressão segmentada em níveis de acesso, ele consegue ir além, nos guiando em uma jornada de redenção mental e auto-flagelo espiritual onde nem tudo o que nossa protagonista encontra é o que queria, mas acaba se mostrando aquilo que ela precisava.
